-Continuando, acho que agora é minha vez de fazer uma pergunta. - Cedric não tinha dito nada por um tempo, deixando eu me concentrar em minha comida, e eu também não insisti em quebrar o silêncio. Eu estava tão feliz com aquela sopa enlatada que queria me concentrar cada segundo nos sabores dela na minha língua, mesmo estando com ela meio dormente da forma que previ que ficaria, ainda assim eu sentia como se aquele prato fosse um dos mais gostosos que eu havia comido em toda a minha vida. Sabe quando a comida não chega ter só sabor de comida, mas tem junto um sabor de memória? Era isso que estava acontecendo. Aquela sopa tinha gosto de afeto, lembranças e cuidado. Eu tinha certeza que, não importa o que acontecesse, as situações em que eu me metesse, pra onde eu iria ou todos os pratos diferentes que eu poderia saborear depois de hoje, eu sempre me lembraria do gosto desse, e nada teria comparação.-Nada disso, espera um pouco ai…e quanto ao resto da minha pergunta? Você simplesmente
Sim. É verdadeNaquele momento, acho que Cedric interpretou errado a pergunta que eu tinha feito. Seu olhar foi mais do que um pesar. Havia medo. Acho que ele pensou que eu queria saber a resposta pra jogar a culpa nele. Talvez tenha pensado que eu fosse odiá-lo depois dela, mas não era por isso que eu tinha perguntado. Veja bem, não importa o que eu tenha ouvido, não importa as histórias que me haviam contado. Absolutamente nada disso importava, pois de alguma forma muito estranha, eu confiava nele. Não foi ELE que me sequestrou, então não tinha como eu colocar a culpa NELE. Agora, se eu realmente desse de cara com um daqueles que realmente eram responsáveis pela situação lamentável que eu passei meus últimos dias, eu com certeza daria um chute bem dado entre as pernas antes de fazer qualquer pergunta.Agora, minha verdadeira intenção de ter perguntado isso para ele, era saber se um palhaço que só eu podia ver, havia realmente me contado uma história que realmente havia acontecid
Bom, eu consegui evitar todos esses assuntos que pra mim eram tão terríveis, nos próximos dois dias que se passaram. Não foi difícil ignorar todo o mundo exterior e começar a chafurdar na realidade que existia apenas dentro daquela casa. No primeiro momento, eu não tinha nem sequer olhado onde estávamos, já que se só a claridade dentro da casa era o suficiente para fazer minhas córneas virarem geleia, não me arrisquei a olhar diretamente para as janelas, pelo menos nos primeiros momentos da manhã que acordei nessa casa. Mas depois? O que eu vi do lado de fora não me surpreendeu tanto assim. Árvores nos cercavam em todas as direções da casa. Digo que não me surpreendeu, pois todo o lugar já me dava um ar de cabana na floresta, com os móveis de madeira e as cores mais escuras. Parecia extremamente confortável de se morar ali. Mas não é porque eu estava isolada em uma cabana na floresta com um suposto lobisomem extremamente bonito, ignorando todo o meu passado, presente e provável fut
Feridas abertas e expostas que iam de um rosado a um vermelho vivo, e depois ao preto, como se a minha carne que estivesse apodrecendo de dentro pra fora. Eu já sabia que eram essas feridas as responsáveis por esse cheiro tão detestável. Sinto meu coração acelerado de pavor e o suor frio que provavelmente também encharcar meu corpo de verdade, começar a sair dos meus poros. Ou pelo menos das partes da minha pele que ainda tinham poros. Tento gritar, mas tudo que eu sinto é aquele arranhar clássico na garganta, dolorido, mas sem que som nenhum saia. Como se a voz arranhasse todo o caminho pra passar, mas desaparecesse antes de conseguir sair. O clássico de gritar e não conseguir, presente em tantos filmes de terror e principalmente, presente nos maiores momentos de pânico que temos. Eu até podia achar que esse tipo de coisa de gritar sem som não existia, que tinha sido uma invenção dos escritores de terror para assustar criancinhas, mas isso já tinha acontecido uma vez comigo, quando
Estávamos no sofá. Cedric estava de olhos fechados, deitado com a cabeça encostada em minhas pernas. Eu estava lendo um livro qualquer que tinha encontrado no andar de baixo dentro de algum armário cheio de poeira. Pra minha grande felicidade, não era sobre qualquer rato ou outro tipo de animal que agora eu com certeza achava irritante, mas sim sobre uma garota que acaba sendo transportada durante um passeio no museu para uma terra mágica, onde uma rainha amaldiçoada a persegue sem cansar, enquanto ela tenta voltar para casa na companhia de um dragão negro que pode se tranformar em humano. Me perguntava se podia ser mais feliz se essa fosse a minha história ao invés da que acabei vivendo, mas quando olho para Cedric dormindo tão tranquilamente enquanto eu passava minha mão livre em seus cabelos rebeldes, resolvi parar me lamentar e chorar sobre o leite derramado. Decidi tomar a melhor lição do mundo que todo e qualquer livro de fantasia consegue nos trazer: A de ter coragem. -Cedric
-Eu respondo isso em um minuto, assim que você me responder a minha pergunta. -Vá em frente então. -Você falou a verdade com aquela história sobre companheiros?-Sim, cada palavra que eu disse é a verdade.Ele me responde muito rápido. Eu estava pensando que ele precisaria pelo menos de um tempo antes de confirmar uma coisa que parece tão importante em sua realidade, mas não. Ele foi direto. -Mas como…você pode ter certeza? - Ele sorri, de uma forma confortável. Como se eu fosse uma criança perguntando uma coisa óbvia. -Ode…eu tenho certeza. Isso é um tipo de coisa que se tem certeza no momento que acontece. Mas não se preocupe com isso agora, pois se fosse pra te preocupar eu teria puxado esse assunto desde muito tempo atrás, mas é você quem manda aqui e eu só te sigo.-Tudo bem…é só que, eu mal consigo pensar direito.-Então não pense. -Ele se espreguiça e relaxa de novo deitado nas minhas pernas, fechando os olhos mais uma vez. - Só deixe acontecer. -Você fala como se fosse fá
E depois disso, ele me dá um beijo carinhoso na testa e parte. Eu vejo ele sair correndo por entre as árvores até desaparecer. Fico um tempo apenas processando o que tinha sido tudo isso. Eu deveria me sentir mal pro Bridget e o provável destino que eu incubi a ela? Eu seria uma pessoa tão ruim assim se não sentisse nem um bocado de remorso? Pois eu não sentia. Eu fiquei tempo demais ali fora, olhando para as árvores balançarem contra o vento, até que comecei a sentir o tempo ir mudando e começar a esfriar. Quando sinto um vento gelado bater bem no meio da minha espinha, decido entrar e trancar a porta. AA frase “cabeça vazia, oficina do diabo.” Não existe à toa. Então consciente disso, eu fiz o que grande parte das pessoas fazem no meu lugar, quando estão com as cabeças confusas e completamente perdidas no que fazer a seguir e precisam ocupar o tempo da melhor forma possível. A minha primeira opção era fazer um bolo, mas como eu não tinha os ingredientes, eu fui arrumar a casa.
E aquela bola de neve, aquela que tão arduamente eu tentei manter no lugar, parada, estava agora rolando morro abaixo e se transformando em uma avalanche muito mais rápido do que eu pensei que aconteceria, quase rápido demais pros meus olhos acompanharem, eu diria. Quando eu olhei diretamente pro meu braço, não havia nada. A pele estava impecável. Mas quando eu olhava para a escada e via só aquela linha de sangue pegajoso e gosmento, e uma mancha desse mesmo sangue grudada no degrau de madeira,eu soube que eu jamais conseguiria impedir aquela avalanche que estava vindo. Era tudo demais pra mim. Eu me levanto das escadas e sigo para o quarto segurando meu braço como se realmente eu pudesse sentir a ferida aberta, e ela estivesse pingando sangue por todo o meu o meu caminho até o quarto. Quando eu já chego no quarto, começo a perder o conhecimento de onde eu estava, minha cabeça não queria mais lembrar. Talvez até quem eu era, era uma informação que eu não conseguia mais lembrar a não