“Eu pulei do penhasco e me joguei ao mar, deixando a dor da decepção apagar todo o meu passado. Eu só queria esquecer aquela traição, mesmo que isso custasse a minha vida, os meus sonhos e por fim, a minha identidade. “
Foi assim que tudo começou… Eu dirigia feliz, havia fechado um grande negócio! Com a venda daquela mansão milionária, finalmente poderia trocar o carro do meu marido. Diogo se queixava sempre que, enquanto não chegasse a tão sonhada promoção na exportadora em que trabalhava, teria que se conformar com o seu carro, que não trocava há três anos. De repente, por ironia do destino, o surpreendo dirigindo quase do meu lado. O farol fechou e ele estava tão ansioso, impaciente, olhando para frente que não me viu. Meu coração disparou de felicidade e eu o segui, ele dirigia rápido e eu desviava dos carros para alcançá-lo, cheguei a gritar o seu nome, mas ele não me ouviu. Para mim, era muita sorte não precisar chegar em casa para lhe contar do meu grande feito, me sentia orgulhosa por poder ajudar o meu maridinho querido! Quando o carro dele entrou no estacionamento de um luxuoso bar à beira mar, eu franzi a testa curiosa. O que ele estaria fazendo fora da empresa naquele horário? Foi aí que acendeu uma luzinha. Diogo não costumava fazer trabalhos externos, não se encontrava com clientes ou coisa parecida. Eu também entrei no estacionamento com a boca seca de nervoso. Tola, eu pensei que ele estivesse voltando mais cedo para casa. Será que eu sabia realmente qual era o horário de trabalho dele? Eram tantas reuniões, chegava muitas vezes tarde, e eu já estava na cama, cansada depois de um dia de trabalho. Bem, vamos ao que interessa, eu desci do carro e caminhei atrás dele em passos indecisos. Ele entrou no estabelecimento, procurando ansioso por alguém. Cath, minha irmã mais nova, veio ao seu encontro com os olhos brilhando de emoção. Os dois se cumprimentaram com um caloroso beijo, daqueles que só os amantes, da classe: “romances proibidos” são capazes de se dar ao luxo em público. Fiquei tão desorientada que só acertei o caminho do toalete. Fui abordada na porta por um garçom muito simpático. — Senhora, me desculpe, mas esse é o toalete masculino— ele disse sem jeito. Os meus olhos estavam inundados de lágrimas e apenas lhe respondi: — Me desculpe, por favor! Olhando, vez ou outra para os traidores que se beijavam constantemente numa mesa, saí desorientada na direção de um penhasco. O rapaz me seguiu e segurou o meu braço. — O que pretende fazer, senhora? Eu me sentei no chão de mato rasteiro, depois de olhar para a felicidade de Cath, sem acreditar, pois eles pareciam se odiarem desde sempre! Era nisso que eu acreditava, pelo menos! Lembranças vinham à mente. Desde pequena ela atrapalhava o meu namoro com Diogo! Meu Deus, eu não conseguia reagir. O rapaz olhou para a direção dos meus olhos e ficou curioso: — A senhora os conhece? Eles vem sempre aqui! Eu neguei com a cabeça e comecei a tossir nervosa. O rapaz ficou apavorado. — Vou lhe buscar um copo com água, fique calma, volto num minuto! Quando ele deu as costas, sem pensar muito, eu me levantei e decidi que acabaria com a minha vida ali, para sempre! Eu simplesmente, pulei do penhasco e caí no mar. Eu queria deixar de ser a melhor esposa do mundo, a mais apaixonada, e nascer novamente. As ondas me arrastaram com violência e eu não tive reação a princípio, até que o medo tomou conta de mim. Comecei a nadar incansavelmente. Cheguei numa área onde as águas eram mais calmas, e respirei aliviada, me deixando levar pelas lembranças do meu passado. Meus pais deveriam saber de tudo e me deixaram casar mesmo assim. Nem sei se os teria dado ouvidos, talvez eles tivessem tentado, mas nunca deveriam ter desistido. Acho que a superproteção pela minha irmã mais nova falou mais alto. Eu boiava apenas, flutuava na intenção de descansar o corpo, depois das braçadas que fui obrigada a dar para sair do mar revolto. Olhei em volta, sabia que estava distante do bar onde deixei meu marido com a minha irmã. Eu não queria mais vê-los, eu os odiava! As águas já me levavam na direção de uma propriedade particular, onde morava um ser tão lindo que parecia de outro mundo. De fato, era um mundo distante do meu, cheio de luxos, etiquetas, bem diferente do meu passado, apagado pelas águas que agora me arrastavam com violência para o meu novo destino. Minha bolsa ficou para trás e não foi só ela, meu dedo anelar esquerdo também estava livre, mas nesse momento eu ainda não tinha consciência disso.Enquanto as águas me arrastavam, eu refletia sobre tudo o que estava me acontecendo. Cath ainda ia fazer dezenove anos, enquanto eu já tinha quase vinte e seis. Desde criança, ela estava sempre entre nós. Já nesse tempo, Diogo não a suportava! Queria pegar na minha mão, mas ela dizia que iria contar para os meus pais. Quando eu tinha só treze aninhos ele me beijou, escondido no jardim, e ela fez um escândalo! Saiu correndo e contou aos gritos. — Que criança insuportável!— Diogo exclamou e saiu correndo para a sua casa, que ficava no mesmo quarteirão. Eu até achei graça da situação, pois Cath tinha só seis anos e eu achava que se tratava de ciúmes da irmã, apesar que me deu muito trabalho aquela atitude infantil. Meus pais me achavam nova demais para namorar e eu quase levei uma surra! Demorou mais de três anos para os meus pais aceitarem o nosso namoro! Eles davam ordens para que Cath ficasse sempre por perto. Ela não desgrudava de mim, parecia não suportar o Diogo. A
Comecei a afogar de repente. As águas me abraçaram e o mar começou a me puxar, sem que eu estivesse mais no controle. Foi um desespero muito grande, eu comecei a gritar por socorro, quando avistei uma enorme propriedade sobre um penhasco, era uma mansão gigantesca! Minha experiência como corretora de imóveis, me dizia que a casa era habitada por alguém muito poderoso, e eu comecei a gritar por socorro, me debatendo nas águas. De repente, consegui chamar atenção, muitos homens pularam para o mar e vieram na minha direção. Eu não conseguia ver, nem ouvir, em meio ao meu desespero, mas havia uma figura que me observava ao longe, gritando para os seus homens. — Tragam-na, depressa homens! Andem logo com isso! O relógio do seu pulso se chocava contra a parede de pedra que cercava a casa. — Tem que salvá-la!— ele continuou a gritar. De repente, eu fui puxada por braços fortes e pensei que já estava perdendo os sentidos. “ Meu Deus, eu preciso viver!” — dizia em pensame
Um homem forte, com a camisa molhada, deu um passo à frente, saindo do meio dos outros que também haviam pulado na água para me salvar. — O que pretende fazer, senhor? O todo poderoso suspirou, ainda segurando meus ombros. — Vou ficar com ela, levem-na para o meu quarto! — O quê!— parecia mesmo absurdo, o homem, que se destacava dentre os demais subordinados, não estava errado. Dois homens responderam ao sinal do patrão e avançaram para me colocar nos braços. Um foi na frente, abrindo portas, afastando cortinas, enquanto o outro ofegava me levando nos braços para o meu destino. Depois de subir uma escada de pedra, que dava para um corredor, onde o som das ondas do mar parecia mais próximo, enfim chegamos. — O que acha que o patrão pretende?— um perguntou para outro, depois de me deitar no leito. — Não sei, tomá-la como sua amante, talvez! Eu gelei e fingi estar adormecida. — Fala como se o patrão fosse um bandido, um mafioso
Alencar ficou indignado. — Eles estão escolhendo uma esposa da sua linguagem, que não atrapalhe os negócios! Matteo esbravejou. — Eu a escolhi, Alencar, e está decidido! O homem, suspirou resignado, já conhecia o patrão. Quando ele queria uma coisa, tinha que ser do jeito dele, e agora não seria diferente. Sem saber que o meu destino já estava selado, eu observava curiosa o visitante sair e subir na lancha novamente. Olhei para minhas roupas úmidas e suspirei. Desolada comecei a questionar a minha loucura de se passar por uma desmemoriada, era quase a morte. Não sa ia onde estava pisando e isso me deixava completamente insegura. — O que será esse lugar? Onde será que me meti? Quem é esse ser, dono de tudo isso? Será que se esconde? Ele tem um leve sotaque italiano, quando fica alterado, parece estar na própria Itália! Na verdade, eu ainda não sabia, mas Matteo era herdeiro de uma grande multinacional com sede no Rio de Janeiro. Ultimamente os negócios estavam mais
Me segurei no vão da porta, desolada. — Quem é Antonieta? Mais uma vez, a mulher sorriu misteriosamente. — İsso não é importante. Eu não tinha mais perguntas, deixei que ela se fosse. Agora eu sabia que pelo menos uma pessoa sabia da minha farsa. Restava só matar a fome. Estava decidida, aceitaria a proposta do todo poderoso Matteo Basso Spinelli, seria Antonieta, deixaria de ser Cinthia para sempre. Enquanto isso, Diogo suava muito diante do seu superior, o assessor do ceo da empresa onde trabalhava. Ele esperava ansioso por aquela promoção. Alencar o olhava atento, enquanto lhe falava: — Você passa a ocupar um cargo importante agora, Diogo. Com o afastamento do senhor Matteo, vou precisar do seu apoio, será meu assessor. Diogo suspirou aliviado e sorriu para Alencar. Ele saiu da empresa e voltou a ficar tenso. Cath o esperava na frente do prédio. Ele parou o carro e ela entrou rapidamente. — Deu certo?— ela quis sab
Giglio se colocou ao seu lado, falando malicioso, discretamente com as mãos a frente do corpo: — Acho que o senhor devia mandá-la descer, precisa investigar melhor, o diálogo é a melhor saída. Matteo virou-se rapidamente surpreso. — Farei isso. Chame Antonietta! A mulher chegou rapidamente e recebeu ordem para me dizer para descer. — Ele quer vê-la, senhora! Engoli em seco. — Não sei se quero ser mais uma Antonietta. — Diga isso a ele, talvez possa voltar para a vida da qual está fugindo. Fiquei paralisada. — Está bem— concordei plenamente. O que fazer, não tinha coragem de enfrentar minha dor! Ajeitei a alça do vestido longo, de cor azul claro, eu parecia vestida de mar, coisa assim. — A senhora está linda!— Antonietta disse sorrindo, parada na porta. Eu olhei surpresa e sorri. — Achei isso aqui pendurado no armário. Caiu bem em mim, já é um começo. — Ela também era linda!— Antonietta disse isso e saiu em passos largos. Fiquei pensativa. — Ela
Eu não pensava em vingança ainda, apenas queria desesperadamente acreditar que podia ser outra pessoa, num outro mundo, onde não existisse traição, mentira! Bem, a mentira era eu mesma. Não dava para voltar atrás, estava muito envolvida com tudo o que estava acontecendo de novo na minha vida. Eu só queria acreditar que nunca mais ouviria falar em Diogo Valente, sobretudo, Cath e também os meus pais. — Antonietta!— Ele me trouxe de volta. — Não gosto desse nome, imagino que não se pareça comigo!— falei, encarando seriamente meu anfitrião. A princípio ele se assustou com a minha ousadia, depois sorriu descansando a sua taça na mesa e inclinou-se, enquanto falava: — Tem uma ideia melhor? Lembra-se do próprio nome? Fiquei inquieta, e não encontrei resposta. Ele sorriu vitorioso e suspirou, voltando a falar: — Pelo visto não tem interesse algum em descobrir quem é de verdade. Ergui meus olhos, surpresa. Enfim, a própria Antonieta me salvou. — Ela tem razão, senhor!
Ele se afastou e me deixou desesperada. Comecei a chorar baixinho. Tudo o que não queria era ser encontrada. Não suportaria ter que saber de Diogo e Cath. Nem me importava com os meus pais, eu os odiava também. Doía muito! Matteo passou apressado e Antonieta o abordou. — Então senhor, ela disse sim? Ele estava nervoso, preocupado. — Espero que a ideia que me sugeriu dê certo, porque não tenho mais como voltar atrás. Se ela me der um não, terei que devolvê-la para a sua vida, onde eu não existo! Ele se foi e Antonieta ficou preocupada. Ela correu para me encontrar. Ao vê-la, corri para os seus braços, desabafando a minha dor. — Não deixe que ele me devolva, por favor, não deixe! Eu não quero voltar! Antonieta me conduziu até o seu quarto, tentando me acalmar. — Precisa aceitar a proposta dele. Não sei o que lhe trouxe aqui, mas sei que te machucaram muito. Não posso te ajudar se não aceitar casar-se com ele. — Eu já so