Alencar ficou indignado.

— Eles estão escolhendo uma esposa da sua linguagem, que não atrapalhe os negócios!

Matteo esbravejou.

— Eu a escolhi, Alencar, e está decidido!

O homem, suspirou resignado, já conhecia o patrão. Quando ele queria uma coisa, tinha que ser do jeito dele, e agora não seria diferente.

Sem saber que o meu destino já estava selado, eu observava curiosa o visitante sair e subir na lancha novamente.

Olhei para minhas roupas úmidas e suspirei. Desolada comecei a questionar a minha loucura de se passar por uma desmemoriada, era quase a morte. Não sa ia onde estava pisando e isso me deixava completamente insegura.

— O que será esse lugar? Onde será que me meti? Quem é esse ser, dono de tudo isso? Será que se esconde? Ele tem um leve sotaque italiano, quando fica alterado, parece estar na própria Itália!

Na verdade, eu ainda não sabia, mas Matteo era herdeiro de uma grande multinacional com sede no Rio de Janeiro. Ultimamente os negócios estavam mais fortes no país de origem dos seus pais e ele acabou por ficar morando sozinho no Brasil.

A família Spinelli chegou ao Brasil há quase um século e cresceram rapidamente no ramo de café, e depois de soja. Viraram os maiores exportadores do país. Ficaram tão ricos que perderam a liberdade de andar tranquilamente em galerias, shoppings e festas sem a companhia de inúmeros seguranças!

Matteo nasceu no Brasil, seus pais chegaram ainda pequenos, mas a tradição italiana sempre se manteve forte em sua família. Os negócios se expandiram para fora do país, mais direcionados para a Itália nos últimos anos, então o casal Spinelli se mudou para lá, onde se achavam confortável.

Como estavam idosos para manter os negócios por lá, decidiram que o filho deveria seguir seus passos. Matteo devia se casar e assumir as empresas no lugar dos pais na Itália.

***

Recebi a visita do meu anfitrião bem mais tarde. Confesso que estava faminta. Eu pensava que não teria visto nenhuma criada circulando por ali.

Ele trouxe uma bandeja bastante sortida. Frutos do mar, frutas cortadas e salada colorida. Também tinha uma taça de suco de laranja. Como ele parecia desajeitado, fui ajudá-lo na porta.

— Me desculpe, não levo muito jeito com essas coisas!— ele disse sem jeito, me entregando a bandeja.

— Não tem criadas neste lugar? — ousei perguntar.

Ele paralisou surpreso.

— Sim, Antonieta e outras mais!

Descansei a bandeja numa mesa de canto e voltei fazendo um verdadeiro interrogatório.

— Quem é você de verdade? Por que se esconde? Esse lugar é misterioso, por que não posso ver as criadas? Não é você quem cozinha, é? Aquele homem não trouxe nada nas mãos! Eu o vi descer da lancha!

Matteo apenas acompanhou com o olhar os movimentos dos meus braços e mãos que gesticulavam na direção da porta que dava para a sacada.

— Vai conhecer Antonietta em breve, prometo— sua voz saiu calma.

Eu o encarei ofegante.

— É impressão minha, ou pretende me manter prisioneira neste lugar?

Ele se aproximou e me empurrou contra a parede.

— Quem é você? Eu deveria querer saber.

— Ninguém!— respondi subitamente.

Ele olhou para os meus lábios e sorriu malicioso.

— Não tem marido, família, ninguém?

Meneei a cabeça assustada, um medo de ser beijada por aquele estranho tão sedutor.

— Vou te dar um nome— ele disse, mediante à minha exitação.

— O quê!

Ele me beijou. Eu o empurrei. A respiração ofegante insistia em tentar me trair.

— Me desculpe, por favor, eu não tive a intenção!— ele andou nervoso pelo quarto.

— Não lhe pertenço!— eu gritei, lembrando da conversa entre os seguranças.

Matteo estava apavorado.

— Por favor, fique!

Ele se ajoelhou aos meus pés.

— O que quer de mim?— eu estava assustada.

— Deixe-me te dar uma identidade.

Fiquei incrédula olhando aquele ser incrivelmente lindo.

— Não se lembra da sua vida, não é?– Ele falava sem parar e não percebia como eu estava à ponto de me entregar.

Fiquei confusa, assustada, ele me surpreendeu:

— Eu só preciso de uma esposa.

Eu? Esposa daquele homem perigoso? Sim, ele era muito perigoso! Ele tinha um cheiro de macho, um poder de sedução, capaz de tirar meu fôlego, minha dignidade!

Mas eu estava tentada a aceitar. Não pretendia voltar a ser Cinthia Valente, ou mesmo Barros, meu nome de solteira. Eu odiava todos que conheciam minha antiga identidade.

Matteo levantou-se de repente, trazendo consigo toda a sua elegância, e porque não, a sua soberba?

— Vou levá-la para Itália e consolar os meus pais, ficaremos um tempo por lá.

Minha boca não fechava de jeito nenhum. Estava em choque. Eu me joguei ao mar e caí na boca do leão. O que fazer, não havia muita saída.

— Pense, gostaria de chamá-la por outro nome, mas só tenho Antonieta como opção.

Ele saiu e eu fiquei segurando o peito, incrédula.

— Antonieta, eu? Oh não!

Corri à procura de um espelho e me pus a falar com meu próprio reflexo.

— Você é Cinthia! Oh meu Deus, Cinthia!

O desespero tomou conta de mim, eu realmente estava deixando de existir.

— Senhora!— uma voz me trouxe de volta.

Me virei subitamente.

— Você é Antonieta?— eu quis saber.

Ela se curvou submissa.

— Não, a senhora é Antonieta agora.

Fiquei sem palavras.

— Você abriu mão da sua identidade?— Minha voz tremia.

— Foi por uma boa causa, senhora.

— Por uma boa grana, você quer dizer!— rebati seca.

— Também, senhora.

Eu fiquei séria, intrigada.

— Ele lhe mandou aqui, não foi?

A mulher morena, magra, de postura impecável, sorriu serena.

— Eu já sei qual é a sua resposta.

— Sabe?— Me surpreendi.

Ela sorriu misteriosa e se retirou. Eu corri até a porta, ela seguia tranquilamente pelo corredor.

— Você sabe, não é?— A interroguei desesperada.

Ela virou-se sorrindo.

— Também não me chamo Antonieta. Cheguei aqui fugindo de mim, como fez você!

“O pavor tomou conta de mim! Onde eu estava me metendo? Que lugar era aquele? Será mesmo que eu encontraria ali a salvação para os meus problemas? E Matteo, seria um príncipe, cercado de mistério? 

        Vamos conferir as emoções dessa história intrigante?