— Eu sei de toda a verdade. Meu pai...— Seu pai mentiu, Emma.— Você não ouse desonrar a memória do meu pai! — aponto para ela, cheia de fúria. — Quem você pensa que é, para falar assim dele?— Ei, gente! — Ryan se aproxima, preocupado. — Não é para ser assim. Não briguem.— Ryan, nos deixe a sós.— Mamãe, eu não vou...— Vai. — ela diz, olhando nos olhos dele. — Eu quero falar com a Emma sozinha. — Ryan não parece querer sair. — Filho, eu estou bem. Juro. Preciso ter essa conversa com a sua irmã.Com muita resistência, Ryan concorda e vai para a cozinha. Permaneço em pé e com os braços cruzados, enquanto Ingrid se senta novamente na poltrona.— Não vai se sentar?— Estou bem assim.Ela ri.— Você e Ryan...— Somos iguaizinhos. Eu já sei. Agora pula para a parte em que você vai encher a memória do meu pai de mentiras.— Não é nenhuma mentira o que vou dizer.Continuo com os braços cruzados, esperando que ela diga o que tanto quer dizer.— Eu fui embora, porque descobri que seu pai ti
[MESES DEPOIS]— O doutor Al-Madini não tem agenda para essa semana. — murmuro, olhando a tabela no computador. — Somente para daqui um mês. Posso agendar? — a mulher do outro lado da linha confirma. — Ok. Marcado para as duas da tarde. Tenha um bom dia.Desligo o telefone e me empurro para longe daquela tela de computador.Há meses, quando Ryan disse que tinha uma entrevista para mim, a última coisa que me imaginei fazendo novamente, seria atender ligações. Ainda mais para um massoterapeuta árabe, que mal fala a mesma língua que eu. Mas era o que me fazia sentir útil e me ajudava a pagar os mimos que gostava de me dar.Meu celular toca e o nome de Ryan brilha na tela. Já eram cinco da tarde e aquela ligação significava que ele estava do lado de fora, a minha espera.— Estou saindo. — digo, arrumando tudo no lugar, visto que só voltava na segunda. — Um minuto.— Quer fazer alguma coisa hoje? Um bar? Balada?Torço o nariz e rio ao mesmo tempo. Ryan era filhinho da mamãe e não saia quas
— O que está vendo? — Ryan pergunta, aparecendo de repente.— É o John.— John? O seu John?— Ele não é mais o meu John. — respondo, com a tristeza na voz. — Olha. Parece que ele é o detetive principal.Ryan força a vista e me olha.— É impressão minha ou ele está olhando para cá? Torno a olhar para a praia, apenas para sentir meu coração parar. John olhava para onde estávamos e apontava, enquanto falava com pessoas ao seu lado.Quando percebo que ele está caminhando para sair dali, entro em desespero e puxo Ryan para a sala.— ELE ESTÁ VINDO PARA CÁ. — grito.— O que vai fazer?Não penso muito, começo a subir as escadas e apenas paro porque Ryan me chamou.— Eu vou me esconder. — digo, quando ele pergunta para onde estou indo. — John não conhece você. Se ele perguntar... enfim, eu não moro aqui e você nem sabe quem sou eu!Antes que ele perguntasse qualquer coisa mais, corro para o meu quarto e me enfio dentro do armário. Permaneço ali sentada, abraçada a minhas pernas, pelo que par
[John]— Nossa, que lugar quente. — resmungo, tentando abafar a blusa abotoada que usava. — Nós não podíamos ter feito essa cena dentro de um estúdio?— Podíamos, Davies. Mas para que faríamos isso, se temos esse paraíso a céu aberto, para deixar tudo mais realista?Dou de ombros e caminho até o lugar que seria gravado a próxima cena. Depois de três dias gravando em lugares diferentes, a cena da praia seria a última da primeira temporada.Enquanto gravamos, algumas pessoas observavam de seus decks. Minha parceira de cena, Melanie, aponta para uma criança que acenava de um deles. Quando aceno para a criança, observo as pessoas que estavam no deck ao lado.— Emma? — ofego, tentando enxergar melhor. — Ei, Mel... você vê aqueles dois ali? — aponto. — A mulher tem cabelo cacheado?Ela aperta a vista e afirma com a cabeça.— É. Tem um cara e... sim. A mulher tem cabelo cachea... JOHN, AONDE VAI?Eu não espero mais um minuto sequer. Vejo que as duas pessoas que estavam na sacada saem, mas co
[Emma]Quando chego em casa, solto o ar que estava prendendo desde que havia visto John no bar. Ao mesmo tempo em que o encontrar era tudo o que eu mais desejava secretamente, aquilo era apavorante. Nós magoamos um ao outro e não foi uma coisa fácil de superar.— Já voltou, filha? — Ingrid pergunta, fazendo com que eu a perceba sentada em sua poltrona de sempre. — Achei que você e Ryan voltaria mais tarde.— É... eu tive... tive um probleminha.Ela tomba a cabeça e bebe um pouco da água que tinha ali.— Quer conversar?Eu queria subir e me enfiar embaixo das cobertas como sempre, mas sentia que precisava despejar tudo o que havia dentro do meu coração.— Meu ex está aqui. — digo, me sentando no sofá a sua frente. — O ator.— Era ele gravando na praia?— Sim. Ele apareceu no bar e... tudo explodiu. Minha cabeça, minha sanidade, meu coração...Com certa dificuldade, Ingrid deixa sua poltrona e se senta ao meu lado. Ela me puxa para deitar-se em seu ombro e eu o faço.— Posso dizer o que
— Ir para Seattle? — pisco algumas vezes, ainda tentando processar. — Eu moro aqui, John.— Eu entendo que sua família está aqui, mas... e nós? Eu moro lá, meu trabalho é lá.— Eu sei, John. Eu sei. E eu me estabeleci aqui. — suspiro. — Não pretendo ir embora. Não estava nos meus planos.— Mas pode estar, não é?Encaro John e seu semblante esperançoso. Era nítido o amor que ainda acontecia entre nós, mas a última coisa que eu queria no momento, era meter os pés pelas mãos e fazer tudo desandar.— Vamos com calma, tudo bem? — peço, me aproximando dele. Passo meus braços pelo seu pescoço e brinco com seu cabelo. — Eu amo você, mas vamos devagar. Nós ainda precisamos conversar direito e... decidir quais serão nossos próximos passos.— Você quer ter próximos passos comigo?Eu adorava quando ele bancava o homem bobo apaixonado e fazia essas perguntas ainda mais bobas. Era sua melhor versão.— Eu quero o mundo com você, John Christopher Davies. Mas eu quero com cautela. Nós não podemos nos
A grande maioria dos dias em Malibu, eram quentes e ensolarados. Raramente uma chuva caia, deixando tudo cinza e frio.No meio do caminho para encontrar John, uma forte e pesada chuva cai. Ele liga dois minutos depois e eu já até imagino o assunto que vai tratar.— Pensei que não chovesse aqui. — ele diz, assim que o atendo.— Chove. Uma vez no ano, mas chove.— E precisava chover justamente no último dia de gravação na praia? Cancelaram tudo! Agora estão comprando as passagens para voltarmos a Seattle hoje.Me mexo desconfortavelmente no banco do Uber. Eu sabia que era o último dia de gravações, mas não que iriam embora de repente.— Onde você está? — ele pergunta, visto que não respondi sua última fala.— No carro. Estava indo encontrar você.— Não está mais? O que mudou?— Você. Indo embora agora.— Ah. — John solta uma risada. Aquilo era música para os meus ouvidos. — Não vou embora agora. Nem sei se eles vão conseguir comprar as passagens para hoje.— Entendi...— Vem. — sussurra
A chuva caia pesadamente do lado de fora da janela, enquanto eu e John ficávamos aninhados um ao outro, na cama desfeita por mais uma transa.O celular dele apita e depois de ver a mensagem que havia chegado, John solta o aparelho, suspira e me aperta contra si.— As passagens chegaram. O voo está marcado para as cinco da tarde.— Ah. — murmuro, com a tristeza me corroendo. — Então eu devo ir embora? Imagino que tenha muita coisa para arrumar.John me aperta ainda mais contra seu peito e beija meu cabelo desgrenhado.— Você não vai a lugar nenhum. A não ser que seja na sua casa para fazer as malas e vir comigo.— Não posso, John. — suspiro e me sento, olhando-o. — Quando morei em Seattle era sem cabeça e fazia o que me desse na telha, mas..., mas agora não posso mais fazer isso. Tenho um emprego sério, tem o Ryan, a...— Sua mãe, eu sei.— É. — brinco com o pouco pelo que John tinha no peito, deitando-me ali em seguida. — Não posso simplesmente ir. Preciso de um tempo.— Tudo bem, amo