Jeniffer havia conseguido com muito esforço, tirar um pouco de dinheiro do pai, ela e a mãe estavam sem se alimentar desde a hora do almoço, pretendia comprar pão e leite pra fazerem um lanche antes de dormir, quando Gusmão, seu senhorio, apareceu…
- Pensei que você e a moribunda da sua mãe já estavam mortas faz tempo, cadê meu dinheiro?
- Sr. Gusmão, só me dê mais uma semana, eu juro que arrumo o dinheiro pra lhe pagar.
- Promessa de morto de fome não vale um tostão furado, por que não deixa de ser orgulhosa, já disse que perdoo dois meses de aluguel se deixar eu me divertir com o seu corpo sempre que eu quiser – Jennifer apenas se afasta, se encolhendo em um canto onde outras casas de madeira se encontravam.
Estava em um beco deserto e escuro com um homem perigoso, a quem boa parte da vizinhança humilde devia dinheiro, se gritasse ninguém sairia em seu socorro.
- Tá passando fome porque quer, prefere ficar o dia inteiro embaixo de sol tentando vender essas rosas murchas, do que ganhar dinheiro de verdade, bota teu corpinho na minha mão que te mostro quanto dinheiro conseguimos fazer com ele, lógico, depois que eu for o primeiro... – estava perigosamente perto, os dentes escuros, o hálito fétido, a pança enorme pressionando o corpo de Jeniffer contra a parede, o cabelo ralo e seboso penteado pra trás, sem falar as verrugas. Sem sombra de dúvidas, era um homem medonho, mas sua aparência nem se compara em feiura, com sua alma asquerosa.
- Quer saber? Tô cansado de esperar, me faz o pagamento agora, se não, ponho as duas no olho da rua ainda essa noite, ou você acha que eu não sei, que sua mãe tá lá dentro do barraco escondida?
- Não, por favor!
- Já sabe o que tem que fazer, é só ficar quietinha e me deixar terminar – Jeniffer se debate mas é facilmente contida pelo homem com o triplo do seu tamanho.
Até que uma voz surge, estremecendo os barracos frágeis ao redor.
Espero estar enganado... mas parece que você está tentando violentar a minha noiva.
- Senhor Leon! – O homem diz soltando a moça imediatamente e caindo de joelhos aos pés de Leon.
Jeniffer também escorrega de bunda no chão, depois que Gusmão que a sacudia, a liberou sem aviso prévio.
- Eu não, eu não sabia, senhor.
- Claro que não sabia, porque se soubesse e mesmo assim tivesse se atrevido, você nem estaria mais respirando.
- Com certeza, senhor, com certeza, eu sinto muito.
- Não me peça desculpas, peça a senhorita.
- Claro! Jeniffer, digo, senhora Jeniffer, perdão, perdão senhora Jeniffer, eu não sabia, eu juro que eu não sabia.
Jeniffer não tinha nenhuma reação, apenas observava assustada o homem que a segundos atrás parecia tão forte, agora chorando de soluçar aos seus pés como uma criança assustada.
- Você aceita as desculpas dele? E se eu fosse você – Leon diz olhando pra Gusmão – Rezava pra ela aceitar.
- Senhora Jeniffer, por favor!
- Eu... eu aceito – o homem respira aliviado.
- Mas com uma condição. Que você passe esses barracos pros nomes dessas pessoas, elas já viviam aqui antes de você, tomou o terreno delas, e cobra aluguéis abusivos de casas que elas mesmas construíram, sem oferecer nenhum tipo de benefício.
- Mas...
- É pegar ou largar – diz Leon sacando a arma e colocando no centro da testa de Gusmão que se tremia inteiro.
- Eu aceito! Aceito!
- Ótimo, tem uma semana pra regularizar toda a papelada, meu pessoal vai voltar pra se certificar que a ordem da senhorita foi cumprida.
- Sim senhor!
- Agora some da minha frente, não quero nunca mais te ver de novo, porque se a gente se reencontrar, eu vou ser a última coisa que você verá.
O homem sai correndo em disparada, Jeniffer continuava no chão ainda sem acreditar no que tinha visto, até conhecer Leon, Gusmão tinha sido o homem mais assustador que ela já tinha conhecido.
Leon estende a mão grande em sua direção, e quando Jeniffer aceita, um arrepio lhe corre a espinha. Tinha o visto apenas uma vez, e já estava perdidamente apaixonada pelo maior gangster da Europa, e em algumas horas, ele seria seu marido.
DOZE HORAS ANTES...
O dia havia sido fraco, das cinquenta flores que Jeniffer havia levado a praça pra vender, não tinha saído nem dez, justamente quando mais precisava de dinheiro. A um mês havia descoberto, que a mãe estava gravemente doente, moravam na área mais pobre da cidade, em uma casinha de madeira. Viviam como fugitivas, o pai de Jeniffer, Victor, havia se casado novamente, e sua madrasta, Eva, colocou sua cabeça à prêmio nas ruas, desde então viviam de canto em canto sem registro, tentando apagar seus rastros pelo caminho.
Assim que abriu o pedaço de madeira que servia como porta, tomou um susto quando viu o pequeno cômodo que fazia de sala/quarto e cozinha, tomado por homens vestindo preto, e Victor no centro deles. Instintivamente seu olhar foi pra parede falsa ao fundo, construiu um pequeno quarto pra proteger a mãe que a essa altura mal tinha forças pra sair da cama, enquanto ela estivesse fora, trabalhando.
- Jennifer, minha filha, quanto tempo.
- O que você quer?
- Não precisa ter medo, eu só vim conversar.
- Eu nunca vou te dizer o paradeiro da minha mãe.
- Sei perfeitamente onde sua mãe esta – ele diz discretamente inclinando o rosto pra trás na direção da parede falsa.
Nessa hora parecia que o coração de Jeniffer ia sair pela boca, ele se volta pra ela.
- Não vim por ela, eu vim por você.
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- Eu só preciso me casar com o homem que o senhor escolheu, pra ter o dinheiro do tratamento da minha mãe e a sua esposa parar de me perseguir?
- Exatamente, sinceramente na situação em que vocês estão, não pensei que teria dificuldade em te convencer.
- E quem é esse homem?
- O nome dele é Marco De Leon, e se aceitar, vai conhecê-lo ainda essa noite e em dois dias vocês se casam.
- Dois dias?!
- Deve ser o suficiente pra organizar toda a cerimônia.
- Se esse homem é tão poderoso, poderia ter a mulher que quisesse, por que justo eu?
- Sei que estive em falta com você durante todos esses anos, mas como seu pai, é minha obrigação te arrumar um bom casamento.
- Conversa, alguma vantagem você vai ter nisso tudo.
- A questão é que você não tem escolha, além da doença da sua mãe, sei que fez inúmeras dívidas com comida e remédios que você não pode quitar, sem dizer que agora que Eva sabe do seu paradeiro, quanto tempo acha que vai levar pra ela vir atrás de vocês de novo? E quando isso acontecer, nós dois sabemos muito bem o que ela vai fazer.
Um frio corre pela espinha de Jeniffer que sentindo as forças lhe faltarem, desaba na cadeira com os olhos cheios de lágrimas.
- Vocês são dois cretinos miseráveis, vocês se merecem!
- É pegar ou largar.
Agora Jeniffer estava sentada em um carro de luxo, indo de encontro ao seu futuro marido, seu pai havia lhe dado alguns poucos minutos pra jogar uma água no corpo e colocar a melhor roupa que tivesse, era um vestido florido meio largo que havia ganho de Natal da igreja, era simples, não estava devidamente ajustado as suas curvas, mas a estampa era bonita e a cor realçava seus olhos, não tinha dinheiro pra maquiagem mas todos sempre elogiaram sua beleza natural, amarrou o cabelo um pouco ressecado em um coque alto e colocou brincos de bijuteria em formato de pérola. Nem se lembrava de quando havia se arrumado pela última vez, sempre dando prioridade a trabalhar muito pra trazer o máximo que conseguisse pra casa, o carro para bruscamente a tirando de seus devaneios. - Chegamos – Victor diz quando a porta do lado de Jeniffer se abre, e ela sai se deparando com a fachada de um motel. Ela dá um passo pra trás, mas o pai a puxa pelo braço a arrastando pra dentro do local. Chegando lá dep
Finalmente chegou o dia da cerimônia. Não teve mais notícias de Leon desde a noite no beco, e por incrível que pareça estava com saudades dele, ansiosa pra encontrá-lo novamente, e dessa vez seriam marido e mulher, dividiriam a mesma casa, e a mesma cama...Ao pensar nisso, Jeniffer sentia um misto de medo e excitação. Ficou mais tranquila quando foi informada que alguém viria algumas horas antes da cerimônia, trazendo seu vestido e pra lhe ajudar a se arrumar, já que não tinha a menor ideia do que deveria fazer. Jeniffer saía do banho quando o barulho da porta se abrindo a deteve.- Pode colocar o vestido sobre a cama, e saia!Só havia ouvido aquela voz uma única vez, mais seria eternamente incapaz de esquecer. Eva, sua madrasta, estava agora no recinto, os longos e lisos cabelos negros, os olhos verdes frios, a expressão dura, havia mudado bem pouco ao longo de todos esses anos, apenas parecendo ainda mais cruel que da última vez, quando Jen era apenas uma criança.- Muito bem! –
Eles iriam de carro até a outra ponta da propriedade onde se encontrava a entrada principal, assim que a porta do veículo se fechou, a voz intensa de Leon cobriu o espaço.- Quando chegarmos, exijo que tire esse vestido ridículo!- E o que devo colocar?- E eu que sei? Só tira essa monstruosidade da minha frente, me recuso a cumprimentar qualquer pessoa que eu conheça com você do meu lado usando isso. Vou descer na entrada principal, você entra pelos fundos, algum funcionário vai te levar até o andar dos quartos, lá com certeza vai achar algo melhor, nem que seja um lençol. Você ficará no quarto, não quero lembrar da sua existência até a hora da valsa e depois o bolo, assim podemos acabar de vez com essa palhaçada – o carro para, e Leon sai sem olhar pra trás, batendo com violência a porta atrás de si.Jeniffer se encolhe instintivamente com seu ato tão agressivo, e seca rapidamente as lágrimas que já teimavam a descer descontroladas dos seus olhos.Ao entrar pelos fundos, se deparou
A voz da cerimonialista preenche o ambiente de repente, tirando Jen dos seus pensamentos.- Senhoras e senhores, é a hora da valsa dos noivos, e em seguida partiremos pra cortar o bolo.Após uma salva de palmas, o salão vai se esvaziando formando um círculo. Leon caminha até o centro de onde Jen não havia se retirado. Pensava que agora sim ela lembrava a moça que o deixou inquieto quando se conheceram. Em compensação Jeniffer estava desgostosa demais pra esboçar qualquer reação.- Melhorou – ele diz passando a mão pela sua cintura, e aproximando seu corpo do dela.Por mais magoada que estivesse, Jen não resistia a presença dele, e se via desmanchar ao menor toque, ou calor que emanava do seu corpo quando estavam tão próximos. A música começa, nunca tinha dançado com alguém na vida, e não tinha a menor ideia do que fazer, sem falar no sapato apertado que foi obrigada por Eva, a usar. Sem querer ela pisa no seu pé, voltando seu olhar pro dele assustada, os dois se encaram por um momento
Maria percebendo que Jennifer não desceu pra tomar seu café, decide levar uma bandeja até ela. Ao chegar no quarto se depara com a jovem em prantos sob a cama, e se aproxima devagar.- O que houve dona Jeniffer? Jen apenas se ergue, e da um abraço apertado na mulher sem dizer uma única palavra. A senhora aceita permanecendo com ela assim por alguns minutos.- Dona Jeniffer do céu. O que que aconteceu?- Aquela Zara, foi no meu quarto ontem. Vestindo só a camisa dele, veio me pedir proteção, disse que eles usaram todas.- Que mulherzinha descarada! E a senhora fez o quê?- Bati com a porta na cara dela.- Fez muito bem, quem essa mulher pensa que é, pra destratar a senhora desse jeito? - A Zara é a mulher que ele ama, sem falar que ela combina muito mais com ele do que eu, além de eles trabalharem juntos, ela sabe se vestir, se maquiar e dançar. Ele nunca deve ter se envergonhado com ela do lado.- Mas no fim, não foi com ela que ele se casou, foi com a senhora.- Hoje eu descobri
Vera deixa Jeniffer sob os cuidados de seus profissionais, só retornando algumas horas depois.- Jen, querida, esse é o meu amigo Luigi, ele é consultor de estilo das maiores socialites e celebridades do continente.- Foi com ele que você dançou a valsa no dia do meu casamento – reconheceu Jeniffer ao ver novamente aquele rosto.- Estou até emocionado, de uma senhora do seu calibre ter se recordado de um humilde servo como eu – responde Luigi colocando uma mão contra o próprio peito de forma exagerada.- Não sei nem o que responder, com tantos elogios.- Pois se acostume, porque quando você sair dessa sala, será a mulher mais linda e elegante de todo globo – disse Vera.- Trouxe umas roupas do ateliê. Coisa básica, só pro dia a dia mesmo, e umas duas ou três peças mais chiques, pra se algo de interessante acontecer durante a semana – Luigi comenta colocando as sacolas que segurava em cima de uma mesa, e tirando item por item, de um look mais
Estava com raiva de si mesmo, por se sentir caindo por vontade própria em uma armadilha. Mas sem se dar conta, já estava rendido a pele macia e cheirosa de Jennifer. Parecia uma boneca de porcelana de tão linda e delicada. E era sua. Podia tê-la quando quisesse. Nesse momento se amaldiçoava por não ter a tomado antes. Por mais raiva que sentisse, algo precioso assim não poderia ser desprezado. Misturado a isso, sons que escapavam dos seus lábios de forma involuntária, enquanto viajavam juntos em puro êxtase a caminho do ápice. ficaram alguns instantes com as testas unidas, enquanto tanto suas respirações, quanto as batidas dos seus corações, voltavam a normalidade. Estava feito! Agora podia voltar pra vida que havia escolhido.Quando se afasta, sente o corpo dela estremecer. Evita olhá-la nos olhos, mas percebe quando desce da penteadeira d