Eles iriam de carro até a outra ponta da propriedade onde se encontrava a entrada principal, assim que a porta do veículo se fechou, a voz intensa de Leon cobriu o espaço.
- Quando chegarmos, exijo que tire esse vestido ridículo!
- E o que devo colocar?
- E eu que sei? Só tira essa monstruosidade da minha frente, me recuso a cumprimentar qualquer pessoa que eu conheça com você do meu lado usando isso. Vou descer na entrada principal, você entra pelos fundos, algum funcionário vai te levar até o andar dos quartos, lá com certeza vai achar algo melhor, nem que seja um lençol. Você ficará no quarto, não quero lembrar da sua existência até a hora da valsa e depois o bolo, assim podemos acabar de vez com essa palhaçada – o carro para, e Leon sai sem olhar pra trás, batendo com violência a porta atrás de si.
Jeniffer se encolhe instintivamente com seu ato tão agressivo, e seca rapidamente as lágrimas que já teimavam a descer descontroladas dos seus olhos.
Ao entrar pelos fundos, se deparou com uma cozinha a todo vapor pra dar conta de centenas de convidados. Jeniffer nunca tinha estado naquela casa antes, não conhecia ninguém e nem tinha a menor ideia de pra onde ir, apesar de vestida como um bolo, todos ao redor pareciam ignorar sua presença. Nunca havia se sentido tão insignificante e sozinha em toda sua vida.
- A senhora deve ser a dona Jeniffer, prazer, me chamo Maria, sou a copeira da casa, em que posso ajudar? – diz uma senhora baixinha com um sorriso amável no rosto.
- Teria algum lugar onde eu pudesse ficar até a valsa?
- A senhora vai deixar de aproveitar sua própria festa?
- Eu não estou me sentindo muito bem.
- Entendi, vem comigo, vou te levar no andar dos quartos.
Chegando no andar superior, havia um corredor ricamente decorado com várias portas, mas todo o luxo havia perdido o seu brilho.
- O seu Leon não chegou a dizer se vocês iam mudar pro quarto dele, ou pra outra suíte, por isso não preparamos nada.
- No quarto dele não, por favor, ele pode se zangar.
- Como que a esposa não tem permissão pra entrar no quarto do marido?
- Talvez eu não devesse te contar, mas vai ficar difícil de me ajudar sem saber, esse meu casamento com o Leon, é um tipo de acordo...
- Um casamento por conveniência! Eu sei, os empregados sempre sabem de tudo.
- Sendo assim ele não tem nenhuma consideração por mim, eu até achei que tivesse, mas eu estava enganada, é só mais um negócio, e eu sou uma mera moeda de troca – Jeniffer confessa, agora se deixando tomar por toda tristeza, angústia e desesperança que a rondavam já a algum tempo.
- Não fica assim dona Jeniffer, eu vou ajudar a senhora, vamos, sei exatamente onde a senhora vai ficar.
Maria levou Jen a um cômodo um pouco mais distante dos demais, mais precisamente a última porta no corredor, o tamanha era mediano, os móveis mais modestos e um pequeno banheiro.
- Me sinto até mais a vontade em um lugar mais simples.
- Eu sei que a senhora vai ficar bem aqui.
- Obrigado por tudo Maria, eu nem sei o que seria de mim sem a sua ajuda.
- Vou estar sempre às ordens, o que precisar, é só pedir.
- Precisava trocar de roupa, mas não trouxe nada comigo.
Maria coça o queixo pensativa por uns instantes – já sei! Aguarde uns instantinhos por favor.
Depois que Maria sai, Jen da uma boa olhada ao redor, até dar de cara com seu reflexo em um espelho de penteadeira, aquela maquiagem forte agora um pouco borrada pelo tanto de choro, Jeniffer decide ir ao banheiro e colocar o rosto embaixo da pia de água corrente, ela esfrega a pele com sabão de um jeito meio desajeitado formando um borrão de cores escuras.
Não deveria ter sido tão fraca e se sujeitando a mais uma armadilha cruel da madrasta. Quando Maria voltou Jeniffer sai do banheiro com o cabelo desfeito, a maquiagem borrada, e o rosto vermelho de tanto esfregar.
- Isso, não ficou bom não, hein, dona Jeniffer.
- Pior do que estava, não pode ficar
- Eu não tenho mais idade pra usar maquiagem, mas conheço umas meninas que trabalham aqui que com certeza vão poder te ajudar, deixa que do seu cabelo eu cuido, e quanto ao vestido, a um tempo atrás uma sirigaita passou a noite aqui atrás do seu Leon, ela manchou o vestido caro e achou que não tinha mais jeito, me mandou jogar no lixo mas não tive coragem, consegui tirar a mancha e guardei, hoje ele ah de servir.
Era um vestido longo de alças finas, na cor pérola.
- Ele é lindo!
Meia hora depois, Jen tinha agora uma maquiagem leve no rosto, o cabelo novamente em um coque discreto, e o vestido meio colado ao corpo, melhor ajustado as suas curvas.
- A senhora tá a coisa mais linda! Parece uma princesa, seu Leon vai ficar doido quando te ver.
- Você acha?
- Qualquer homem seria louco de ignorar a senhora, e o seu Leon não tem nada de louco. As meninas avisaram que está perto da hora da valsa, se eu fosse a senhora, já ficava pelo salão, vai chamar muito mais a atenção se alguém tiver que vir até aqui te buscar.
Jeniffer da um longo suspiro ainda incerta se conseguiria encarar todas aquelas pessoas novamente.
- A senhora consegue, eu vou estar do seu lado mesmo de longe, pro o que precisar.
Jen desce a escadaria em caracol que decorava a entrada principal. Se chamava atenção, não saberia, pois manteve a cabeça baixa durante todo percurso, agora só precisava dançar a valsa e cortar o bolo pra todo esse pesadelo chegar ao fim.
- Senhora De Leon? Me chamo Vera, sou amiga da família, tenho um centro de Beleza na capital, esse é o meu cartão, venha nos fazer uma visita qualquer dia – uma mulher de meia idade, loira de cabelo curto e pele bronzeada dizia.
Jeniffer só soube agradecer, e pegando o cartão, seguiu até outro salão bastante cheio, homens de Black tie e mulheres elegantes ocupavam praticamente todos os espaços, por sorte nem sinal de Eva ou Victor, mais tarde teria que entrar em contato pra se certificar de que tinham cumprido a sua parte no acordo.
Caminhando um pouco mais, pode ver uma animada roda em torno de uma mesa, o vestido vermelho da morena da cerimônia se destacava entre vários homens de terno que a cercavam, um deles se levanta da cadeira, vai até ela e colocando a mão em sua cintura, sussurra algo no seu ouvido, que j**a a cabeça pra trás em uma gargalhada.
Ao homem erguer a cabeça, Jen se depara com os olhos verdes intensos de Leon, que muda sua postura no mesmo instante a reconhecendo, a mulher percebe e vira o corpo em sua direção, nos seus lábios um sorriso vitorioso. Quem era aquela mulher? E qual seria a relação dela com o seu marido? Leon teria tido coragem de levar a amante pro próprio casamento?
A voz da cerimonialista preenche o ambiente de repente, tirando Jen dos seus pensamentos.- Senhoras e senhores, é a hora da valsa dos noivos, e em seguida partiremos pra cortar o bolo.Após uma salva de palmas, o salão vai se esvaziando formando um círculo. Leon caminha até o centro de onde Jen não havia se retirado. Pensava que agora sim ela lembrava a moça que o deixou inquieto quando se conheceram. Em compensação Jeniffer estava desgostosa demais pra esboçar qualquer reação.- Melhorou – ele diz passando a mão pela sua cintura, e aproximando seu corpo do dela.Por mais magoada que estivesse, Jen não resistia a presença dele, e se via desmanchar ao menor toque, ou calor que emanava do seu corpo quando estavam tão próximos. A música começa, nunca tinha dançado com alguém na vida, e não tinha a menor ideia do que fazer, sem falar no sapato apertado que foi obrigada por Eva, a usar. Sem querer ela pisa no seu pé, voltando seu olhar pro dele assustada, os dois se encaram por um momento
Maria percebendo que Jennifer não desceu pra tomar seu café, decide levar uma bandeja até ela. Ao chegar no quarto se depara com a jovem em prantos sob a cama, e se aproxima devagar.- O que houve dona Jeniffer? Jen apenas se ergue, e da um abraço apertado na mulher sem dizer uma única palavra. A senhora aceita permanecendo com ela assim por alguns minutos.- Dona Jeniffer do céu. O que que aconteceu?- Aquela Zara, foi no meu quarto ontem. Vestindo só a camisa dele, veio me pedir proteção, disse que eles usaram todas.- Que mulherzinha descarada! E a senhora fez o quê?- Bati com a porta na cara dela.- Fez muito bem, quem essa mulher pensa que é, pra destratar a senhora desse jeito? - A Zara é a mulher que ele ama, sem falar que ela combina muito mais com ele do que eu, além de eles trabalharem juntos, ela sabe se vestir, se maquiar e dançar. Ele nunca deve ter se envergonhado com ela do lado.- Mas no fim, não foi com ela que ele se casou, foi com a senhora.- Hoje eu descobri
Vera deixa Jeniffer sob os cuidados de seus profissionais, só retornando algumas horas depois.- Jen, querida, esse é o meu amigo Luigi, ele é consultor de estilo das maiores socialites e celebridades do continente.- Foi com ele que você dançou a valsa no dia do meu casamento – reconheceu Jeniffer ao ver novamente aquele rosto.- Estou até emocionado, de uma senhora do seu calibre ter se recordado de um humilde servo como eu – responde Luigi colocando uma mão contra o próprio peito de forma exagerada.- Não sei nem o que responder, com tantos elogios.- Pois se acostume, porque quando você sair dessa sala, será a mulher mais linda e elegante de todo globo – disse Vera.- Trouxe umas roupas do ateliê. Coisa básica, só pro dia a dia mesmo, e umas duas ou três peças mais chiques, pra se algo de interessante acontecer durante a semana – Luigi comenta colocando as sacolas que segurava em cima de uma mesa, e tirando item por item, de um look mais
Estava com raiva de si mesmo, por se sentir caindo por vontade própria em uma armadilha. Mas sem se dar conta, já estava rendido a pele macia e cheirosa de Jennifer. Parecia uma boneca de porcelana de tão linda e delicada. E era sua. Podia tê-la quando quisesse. Nesse momento se amaldiçoava por não ter a tomado antes. Por mais raiva que sentisse, algo precioso assim não poderia ser desprezado. Misturado a isso, sons que escapavam dos seus lábios de forma involuntária, enquanto viajavam juntos em puro êxtase a caminho do ápice. ficaram alguns instantes com as testas unidas, enquanto tanto suas respirações, quanto as batidas dos seus corações, voltavam a normalidade. Estava feito! Agora podia voltar pra vida que havia escolhido.Quando se afasta, sente o corpo dela estremecer. Evita olhá-la nos olhos, mas percebe quando desce da penteadeira d
Lhe oferecendo o braço, ambos saem juntos até o carro. Lá fora alguns homens mau encarados os aguardavam em seus ternos pretos, dois deles abrem as portas do banco de trás, pra que o casal possa entrar. Depois saíram, com um carro atrás fazendo a cobertura.O motivo do jantar deixava Jeniffer nervosa, e sempre que isso acontecia, ela acariciava a aliança em seu dedo, observando o lado de fora pela janela com uma expressão de preocupação. Leon mexia no celular, mas pode ver pelo espelho retrovisor o movimento da esposa, e instintivamente colocou uma mão sobre a sua, como um claro gesto de apoio, mesmo sem mudar sua postura, ou tirar os olhos do aparelho. Sentir o calor das mãos dele sobre a sua, pegou Jen de surpresa. Ela sorriu pro marido, mesmo sabendo que com o rosto baixo, não poderia lhe ver.O carro estacionou em um belo restaur
Jeniffer sente o golpe.No início, Leon parecia odiá-la. Depois tiveram relações, onde ele a fez crer, que talvez tivesse algum sentimento por ela. Pra no segundo seguinte, afirmar que aquele ato teria sido um erro. Agora a chama pra jantar, tem gestos românticos e de afeto, pra no fim, resumir tudo isso a uma simples ordem do seu pai.Jen sente os olhos enchendo de lágrimas. Mas se obrigou a vida toda, a não demonstrar fraqueza em público.- Preciso ir ao banheiro.- Fique a vontade – assim que tem a permissão dele, sai em disparada ao toalete.Jeniffer entra na primeira cabine desocupada, se tranca e desaba de chorar. Antes ele tivesse pedido o divórcio sem nenhuma palavra se quer.Agora teria de lidar com o fato, de que qualquer ato que ele tivesse com relação a ela, seria por pura obrigação.<
POV JENIFFERJen saiu do quarto seguindo o som alto que vinha da área externa, ela para próximo a Maria, e de frente pra uma janela que dava pra piscina.- Aquela maldita Zara de novo. E seu bando de arruaceiros – Maria falava enquanto tirava a poeira de alguns móveis – Pensei que com o senhor Leon casando, essa farra ia acabar.Zara e algumas outras pessoas pareciam fazer uma festa na casa de Leon. Tanto ela quanto as outras moças, se exibiam em biquínis minúsculos, colocando a música em altíssimo volume, sujaram toda região da piscina de latas de cerveja, e outras coisas.- Talvez eu possa pedir pra ela baixar um pouco o volume, e se comportar melhor.- Faz isso não, dona Jeniffer. Essa mulher é baixa! Não tem um pingo de educação. Nem vale a pena se rebaixar.Jen vai pra outra sala o
POV LEON- Pode dizer...Uma vez a sós em seu escritório, Leon observava Xavier diante de sua mesa com os braços cruzados, e a expressão indecifrável de sempre. - Não sei ao que o senhor se refere – o motorista responde com um leve ar de interrogação.- Diga – Leon insiste mantendo a postura imponente de sempre, sem nunca desviar o olhar.Xavier faz mistério por alguns minutos até proferir aquela famigerada frase – Eu te avisei.- Sei disso! – Leon confirma bufando – Já que se acha tão mais esperto. No meu lugar, o que faria para sair dessa enrascada?- Provavelmente iria tentar subir o mais alto, e o mais rápido possível na hierarquia da organização. Para que me concedam o divórcio sem sacrificar o cargo.- Mas pedir o divórcio logo após entrar, não seria o mesmo que admitir que só me casei, para ocupar a posição?- E o Sr. Acha realmente, que eles não sabem disso?- Mas não seria eu, a dar a eles a certeza.- É a única opção viável no seu caso. Isso considerando que até lá, o Sr. Ai