Finalmente chegou o dia da cerimônia. Não teve mais notícias de Leon desde a noite no beco, e por incrível que pareça estava com saudades dele, ansiosa pra encontrá-lo novamente, e dessa vez seriam marido e mulher, dividiriam a mesma casa, e a mesma cama...
Ao pensar nisso, Jeniffer sentia um misto de medo e excitação. Ficou mais tranquila quando foi informada que alguém viria algumas horas antes da cerimônia, trazendo seu vestido e pra lhe ajudar a se arrumar, já que não tinha a menor ideia do que deveria fazer. Jeniffer saía do banho quando o barulho da porta se abrindo a deteve.
- Pode colocar o vestido sobre a cama, e saia!
Só havia ouvido aquela voz uma única vez, mais seria eternamente incapaz de esquecer. Eva, sua madrasta, estava agora no recinto, os longos e lisos cabelos negros, os olhos verdes frios, a expressão dura, havia mudado bem pouco ao longo de todos esses anos, apenas parecendo ainda mais cruel que da última vez, quando Jen era apenas uma criança.
- Muito bem! – ela diz batendo palmas – Vamos começar, cadê aquela infeliz?
- Fale baixo, e se ela estiver no banheiro?
- Pouco me importa.
- Tem certeza que vai querer que a sua enteada se case com isso? Esse vestido é pavoroso!
- Ainda é mais do que aquela bastarda merece.
- O Sr. Victor disse, que queria a menina bem vestida.
- Qualquer coisa digo que é a última moda em Paris, os homens não entendem nada mesmo dessas coisas – Eva sorria maliciosamente – Quero uma maquiagem bem forte, bem carregada, e um penteado muito espalhafatoso.
- Mas desse jeito, essa menina vai entrar na cerimônia feito uma palhaça!
- Apenas faça o que eu mandei, sem questionar.
- Sim senhora, aqui estão os sapatos 36/37.
- Peça um número menor.
- Mas corre o risco de não caber.
- Pois ela que esprema os dedos, já estamos fazendo muito oferecendo a vestimenta.
Eva sai do quarto, enquanto Jen mantinha a mão sobre a boca pra não ser descoberta, e os olhos arregalados cheios de lágrimas. Ela respira fundo algumas vezes até tomar coragem e sair do banheiro. Uma mulher que devia trabalhar com Eva, organizava algumas maquiagens em uma mesa, levando um susto ao ver Jeniffer saindo do banheiro com o rosto bem vermelho, provavelmente de alguém que havia chorado bastante. Não deveria estar surpresa com a madrasta tentando arruinar seu casamento, afinal foi só o que a mulher soube fazer desde que entrou na sua vida.
- Querida, eu sinto muito – disse a mulher provavelmente comovida com seu estado.
- Tudo bem, apenas faça o que ela mandou.
- Tem certeza?
- Não quero que perca seu emprego por minha causa, e se não for isso, ela vai pensar em outra maneira de tentar me prejudicar.
Ao se ver pronta pra casar, mesmo naquelas condições, foi impossível não se emocionar, e de certa forma se entristecer, por não ter sua mãe ao seu lado, sabia que não seria a união mais tradicional do mundo, mas continuava sendo uma união, e o correto seria ter pelo menos alguém que gostasse dela presente.
Porém Jeniffer sabia que estava pior do que sozinha, mas sim cercada de pessoas que a odiavam e fariam qualquer coisa pra vê-la pelas costas.
No meio disso tudo, tinha Leon, seu futuro marido, e o homem por quem suspeitava estar apaixonada. Talvez ele fosse capaz de trazer algum alívio, afinal depois de tantos anos lutando pra sobreviver praticamente sozinha, finalmente teria um companheiro pra dividir os dias difíceis dessa jornada.
Tanto a cerimônia quanto a festa, seriam na casa em que eles iriam morar a partir daquele momento, ao adentrar a mansão que foi um presente de casamento do futuro sogro, Andreas, Jennifer ficou chocada, tudo era tão lindo, tão grandioso, tão chique, parecia cenário de novela ou série de TV, e tudo aquilo seria seu.
Mal podia acreditar, a mansão estava lotada das pessoas mais ricas e poderosas do país.
Jeniffer foi levada até o jardim, onde em um altar decorado com rosas, Leon já a aguardava em um terno cinza escuro, camisa branca e sapatos pretos, de dia ele parecia ainda maior e mais forte, os cabelos bem escuros penteados pra trás. Ao seus olhos se cruzarem seu coração começa a bater mais rápido e as pernas bambearem.
Alguém que provavelmente organizava a cerimônia lhe entrega um buquê, que ela agarra apesar das mãos trêmulas. Seu pai aparece do seu lado de repente lhe oferecendo o braço, ele sorri. A marcha nupcial começa a tocar e ambos caminham lentamente em direção ao altar.
- Mas que porcaria de vestido é esse que você tá usando? E essa maquiagem? Esse é o seu casamento e não uma festa rave – ele sussurra sem deixar de sorrir e acenar pros convidados ilustres.
Desde que Jen foi notada pelos presentes, diversos cochichos e risadas tomaram conta do ambiente, mas a presença de Leon a poucos passos de distância, de certa forma lhe davam a coragem necessária pra enfrentar mais aquela humilhação preparada por Eva, de cabeça erguida.
- Agradeça a sua esposa, ela foi responsável por cada detalhe.
- Maldição!
Leon tinha uma sobrancelha erguida ao ver Jeniffer ser entregue por Victor, estava nítido na sua expressão que havia desaprovado a escolha da futura esposa, mesmo assim se manteve ao lado dela, em frente ao mestre da cerimônia que já começava seu sermão. Ver a decepção no rosto de Leon quase fez Jen desabar, ele era a última pessoa a quem ela queria decepcionar.
- Muito bem, agora é a hora dos votos – avisa o mestre de cerimônias.
Jeniffer se dá conta que não tinha preparado nada, nem a menor ideia do que dizer diante de todas aquelas pessoas que já tiveram uma péssima primeira impressão sua. O desespero toma conta com força.
- Eu, Marco De Leon, te prometo ser fiel, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença até que a morte nos separe – dito isso ele pede sua mão que uma vez entregue, coloca uma aliança.
Sua voz era grave e imponente, seu olhar fixo e penetrante, aquele tipo de expressão de quem é quase impossível desviar. As palavras saíram de Jean quase que naturalmente.
- Eu, Jeniffer Montana, te prometo ser fiel, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença... E que nem a morte nos separe.
A expressão de Leon mudou ligeiramente ao ouvir essas últimas palavras. Pra um homem na sua posição, saber ocultar as verdadeiras emoções, era caso de vida ou morte. Aquela frase bateu tão forte, que o fez vacilar todo seu auto controle, mesmo que por meros segundos.
- Pelo poder investido a mim, eu vos declaro, marido e mulher. Pode beijar a noiva.
Todos ao redor agora estavam de pé e batendo palmas. Os dois ainda se encaravam em silêncio, Leon se aproxima de vagar, com sua aura naturalmente imponente, e naquele momento parecia que só os dois existiam. Ao Jeniffer sentir o contato dos lábios quentes e firmes dele contra sua pele fria, foi impossível não estremecer. Aos poucos o beijo vai se intensificando a medida que Leon enlaça sua cintura, aproximando o corpo de Jen ao seu. Até que uma tosse teatral do mestre de cerimônias, interrompe a conexão de ambos.
- Deixem alguma coisa pra lua de mel.
Leon rapidamente se recompõe. E se voltando pro público presente cruzam a passarela que dividia as cadeiras enfileiradas, sendo bombardeados por uma chuva de arroz vinda de todos os lados, nesse momento era impossível não sorrir, diante de tanta alegria demonstrada por todos presentes. Todos, menos uma. Jen a notou no caminho de volta, uma mulher jovem de cabelos escuros e volumosos e um vestido provocante vermelho. Algo no jeito de olhar daquela mulher, lhe causou calafrios.
Eles iriam de carro até a outra ponta da propriedade onde se encontrava a entrada principal, assim que a porta do veículo se fechou, a voz intensa de Leon cobriu o espaço.- Quando chegarmos, exijo que tire esse vestido ridículo!- E o que devo colocar?- E eu que sei? Só tira essa monstruosidade da minha frente, me recuso a cumprimentar qualquer pessoa que eu conheça com você do meu lado usando isso. Vou descer na entrada principal, você entra pelos fundos, algum funcionário vai te levar até o andar dos quartos, lá com certeza vai achar algo melhor, nem que seja um lençol. Você ficará no quarto, não quero lembrar da sua existência até a hora da valsa e depois o bolo, assim podemos acabar de vez com essa palhaçada – o carro para, e Leon sai sem olhar pra trás, batendo com violência a porta atrás de si.Jeniffer se encolhe instintivamente com seu ato tão agressivo, e seca rapidamente as lágrimas que já teimavam a descer descontroladas dos seus olhos.Ao entrar pelos fundos, se deparou
A voz da cerimonialista preenche o ambiente de repente, tirando Jen dos seus pensamentos.- Senhoras e senhores, é a hora da valsa dos noivos, e em seguida partiremos pra cortar o bolo.Após uma salva de palmas, o salão vai se esvaziando formando um círculo. Leon caminha até o centro de onde Jen não havia se retirado. Pensava que agora sim ela lembrava a moça que o deixou inquieto quando se conheceram. Em compensação Jeniffer estava desgostosa demais pra esboçar qualquer reação.- Melhorou – ele diz passando a mão pela sua cintura, e aproximando seu corpo do dela.Por mais magoada que estivesse, Jen não resistia a presença dele, e se via desmanchar ao menor toque, ou calor que emanava do seu corpo quando estavam tão próximos. A música começa, nunca tinha dançado com alguém na vida, e não tinha a menor ideia do que fazer, sem falar no sapato apertado que foi obrigada por Eva, a usar. Sem querer ela pisa no seu pé, voltando seu olhar pro dele assustada, os dois se encaram por um momento
Maria percebendo que Jennifer não desceu pra tomar seu café, decide levar uma bandeja até ela. Ao chegar no quarto se depara com a jovem em prantos sob a cama, e se aproxima devagar.- O que houve dona Jeniffer? Jen apenas se ergue, e da um abraço apertado na mulher sem dizer uma única palavra. A senhora aceita permanecendo com ela assim por alguns minutos.- Dona Jeniffer do céu. O que que aconteceu?- Aquela Zara, foi no meu quarto ontem. Vestindo só a camisa dele, veio me pedir proteção, disse que eles usaram todas.- Que mulherzinha descarada! E a senhora fez o quê?- Bati com a porta na cara dela.- Fez muito bem, quem essa mulher pensa que é, pra destratar a senhora desse jeito? - A Zara é a mulher que ele ama, sem falar que ela combina muito mais com ele do que eu, além de eles trabalharem juntos, ela sabe se vestir, se maquiar e dançar. Ele nunca deve ter se envergonhado com ela do lado.- Mas no fim, não foi com ela que ele se casou, foi com a senhora.- Hoje eu descobri
Vera deixa Jeniffer sob os cuidados de seus profissionais, só retornando algumas horas depois.- Jen, querida, esse é o meu amigo Luigi, ele é consultor de estilo das maiores socialites e celebridades do continente.- Foi com ele que você dançou a valsa no dia do meu casamento – reconheceu Jeniffer ao ver novamente aquele rosto.- Estou até emocionado, de uma senhora do seu calibre ter se recordado de um humilde servo como eu – responde Luigi colocando uma mão contra o próprio peito de forma exagerada.- Não sei nem o que responder, com tantos elogios.- Pois se acostume, porque quando você sair dessa sala, será a mulher mais linda e elegante de todo globo – disse Vera.- Trouxe umas roupas do ateliê. Coisa básica, só pro dia a dia mesmo, e umas duas ou três peças mais chiques, pra se algo de interessante acontecer durante a semana – Luigi comenta colocando as sacolas que segurava em cima de uma mesa, e tirando item por item, de um look mais
Estava com raiva de si mesmo, por se sentir caindo por vontade própria em uma armadilha. Mas sem se dar conta, já estava rendido a pele macia e cheirosa de Jennifer. Parecia uma boneca de porcelana de tão linda e delicada. E era sua. Podia tê-la quando quisesse. Nesse momento se amaldiçoava por não ter a tomado antes. Por mais raiva que sentisse, algo precioso assim não poderia ser desprezado. Misturado a isso, sons que escapavam dos seus lábios de forma involuntária, enquanto viajavam juntos em puro êxtase a caminho do ápice. ficaram alguns instantes com as testas unidas, enquanto tanto suas respirações, quanto as batidas dos seus corações, voltavam a normalidade. Estava feito! Agora podia voltar pra vida que havia escolhido.Quando se afasta, sente o corpo dela estremecer. Evita olhá-la nos olhos, mas percebe quando desce da penteadeira d
Jeniffer havia conseguido com muito esforço, tirar um pouco de dinheiro do pai, ela e a mãe estavam sem se alimentar desde a hora do almoço, pretendia comprar pão e leite pra fazerem um lanche antes de dormir, quando Gusmão, seu senhorio, apareceu…- Pensei que você e a moribunda da sua mãe já estavam mortas faz tempo, cadê meu dinheiro?- Sr. Gusmão, só me dê mais uma semana, eu juro que arrumo o dinheiro pra lhe pagar.- Promessa de morto de fome não vale um tostão furado, por que não deixa de ser orgulhosa, já disse que perdoo dois meses de aluguel se deixar eu me divertir com o seu corpo sempre que eu quiser – Jennifer apenas se afasta, se encolhendo em um canto onde outras casas de madeira se encontravam.Estava em um beco deserto e escuro com um homem perigoso, a quem boa parte da vizinhança humilde devia dinheiro, se gritasse ninguém sairia em seu socorro.- Tá passando fome porque quer, prefere ficar o dia inteiro embaixo de sol tentando vender essas rosas murchas, do que ga
Agora Jeniffer estava sentada em um carro de luxo, indo de encontro ao seu futuro marido, seu pai havia lhe dado alguns poucos minutos pra jogar uma água no corpo e colocar a melhor roupa que tivesse, era um vestido florido meio largo que havia ganho de Natal da igreja, era simples, não estava devidamente ajustado as suas curvas, mas a estampa era bonita e a cor realçava seus olhos, não tinha dinheiro pra maquiagem mas todos sempre elogiaram sua beleza natural, amarrou o cabelo um pouco ressecado em um coque alto e colocou brincos de bijuteria em formato de pérola. Nem se lembrava de quando havia se arrumado pela última vez, sempre dando prioridade a trabalhar muito pra trazer o máximo que conseguisse pra casa, o carro para bruscamente a tirando de seus devaneios. - Chegamos – Victor diz quando a porta do lado de Jeniffer se abre, e ela sai se deparando com a fachada de um motel. Ela dá um passo pra trás, mas o pai a puxa pelo braço a arrastando pra dentro do local. Chegando lá dep