A voz da cerimonialista preenche o ambiente de repente, tirando Jen dos seus pensamentos.
- Senhoras e senhores, é a hora da valsa dos noivos, e em seguida partiremos pra cortar o bolo.
Após uma salva de palmas, o salão vai se esvaziando formando um círculo. Leon caminha até o centro de onde Jen não havia se retirado. Pensava que agora sim ela lembrava a moça que o deixou inquieto quando se conheceram. Em compensação Jeniffer estava desgostosa demais pra esboçar qualquer reação.
- Melhorou – ele diz passando a mão pela sua cintura, e aproximando seu corpo do dela.
Por mais magoada que estivesse, Jen não resistia a presença dele, e se via desmanchar ao menor toque, ou calor que emanava do seu corpo quando estavam tão próximos. A música começa, nunca tinha dançado com alguém na vida, e não tinha a menor ideia do que fazer, sem falar no sapato apertado que foi obrigada por Eva, a usar. Sem querer ela pisa no seu pé, voltando seu olhar pro dele assustada, os dois se encaram por um momento, ele não parecia bravo, mas depois desvia o olhar e resmunga.
- Você não consegue fazer nada direito! E parece estar disposta a me envergonhar até nas coisas mais simples, não sei qual o seu jogo, mas não conte comigo pra fazer parte dele – Leon diz a largando no salão as vistas de todos. A música ainda não havia terminado, fazendo com que sua atitude brusca chamasse a atenção de todos, alguns cochichavam, outros riam.
Leon volta pro mesmo grupinho de antes, e é recebido mais uma vez pela morena de vermelho, que cobria a boca pra abafar uma gargalhada.
Vera e um outro homem são os primeiros a entrar na pista de dança, o que incentiva outros casais a fazer o mesmo, ela e Jeniffer trocam olhares de cumplicidade enquanto a jovem ia pra um canto isolado do salão, onde podia observar tudo ao seu redor. Não tirava os olhos da mesa onde Leon, a morena de vermelho e outros que pareciam seus amigos estavam. A mulher não perdia qualquer oportunidade em colocar suas mãos sobre o corpo de Leon, sorrir e cochichar no ouvido dele, sabia que era observada e estava fazendo questão de se exibir, pouco se importando com os demais presentes.
Assim que a primeira fatia de bolo é cortada, Jen a entrega ao agora marido e sussurra em seu ouvido.
- Cumpri a minha parte. Certifique-se de que o Victor vai cumprir a dele – depois de dizer isso ela simplesmente se retira, ignorando todos os demais em direção ao quarto.
Pode parecer uma afronta, mas na realidade sentia que o corpo não era capaz de suportar um mísero segundo se quer a mais. Já no quarto, a primeira coisa que faz é se livrar dos sapatos apertados, vendo os pés contorcidos e roxos, foi impossível não chorar.
Algum tempo depois, Maria reaparece.
- E então dona Jeniffer? Como foi? Seu Leon gostou da produção que fizemos na senhora?
- Maria, você trabalha aqui faz muito tempo?
- Quase vinte anos.
- Quem é a morena, que tá o tempo todo rondando o Leon?
- Aquela ali, é a Zara, ela trabalha com seu Leon.
- Só isso?
- A senhora vai acabar sabendo de qualquer forma, todo mundo achava que era com ela que o seu Leon ia casar. Ela era filha do melhor amigo do seu Andreas, quando ele foi morto, ela passou a morar na casa dos De Leon, eles cresceram juntos, começaram a namorar na adolescência e estão juntos até hoje, digo, até o seu Leon se casar com a senhora.
- Entendi – Jen diz com uma expressão de dor.
Foi um golpe muito forte se dar conta de que o coração de Leon pertencia a outra pessoa, apesar de isso explicar parte do seu comportamento. Afinal, ele abriu mão da mulher que ama por conta desse acordo.
- Não se preocupe com isso, dona Jeniffer. Agora que a senhora é a esposa legítima, essa história do seu Leon com essa Zara, não deve durar muito.
Depois de um longo banho, Jen colocou um dos shorts velhos e uma blusa qualquer pra tentar dormir, até que batidas insistentes a fizeram pular da cama. Será que Leon havia se arrependido da forma como a tratou, e estaria atrás dela a fim de pedir desculpas? Ou até mesmo consumar o casamento? A ideia lhe deixava nervosa e ao mesmo tempo eufórica. Ao abrir a porta um pouco mais animada, leva um susto ao se deparar com Zara. Reconheceu a camisa de Leon, que no corpo dela mais parecia um vestido, também deu pra perceber que era a única coisa que usava.
- Desculpe incomodar, é que Leon e eu, esgotamos todo o estoque de proteção, queria saber se você tem alguma – Zara dizia do jeito mais inocente.
Jeniffer apenas lhe b**e com força a porta na cara, o que não afetou Zara em nada, que sai gargalhando pelo corredor. Será que seria capaz de sofrer pelo resto da vida, esse tipo de humilhação?
POV LEON
Na manhã seguinte, Leon acorda com Zara despida ao seu lado. Não conseguia se lembrar de nada depois que partiram o bolo, pois havia virado qualquer copo que estivesse a sua disposição. Segue em direção a sala de jantar onde Andreas já o aguardava, o pai estar a sua espera logo cedo, era sempre sinônimo de más notícias.
- Pelo visto a lua de mel foi boa.
- O que que o senhor quer?
- Esse mau humor todo não é o que se espera de um recém casado.
- Vai insistir nessa gracinha? Vou tomar meu café em outro lugar.
- Só vim me certificar de que correu tudo bem, a última vez que te vi ontem, você parecia bem alterado. Cadê a moça?
- Quem?
- Sua esposa!
- Como eu vou saber?
- Vocês não passaram a noite juntos?
- O acordo era pra eu me casar. Já estou casado, o que mais que o senhor quer?
- Quero um casamento que não possa ser anulado! O fato de você se recusar a consumar sua união, pode nos custar muito caro.
- E como alguém poderia saber?
- Eu simplesmente me recuso, a correr esse risco...
POV JENIFFER
Jen mal pregou o olho a noite toda, teve pesadelos terríveis, com Victor, Eva, Zara, e até mesmo Leon. Depois de cansar de ficar na cama, decidiu tomar um banho, pegar outra das poucas peças simples que trouxe consigo, e buscar algo pra comer, quando ouviu vozes alteradas vindo da sala de jantar.
- Você se esqueceu que pagamos 500 milhões de euros, por essa noiva?!
- Não vale nem menos da metade disso...
Jeniffer coloca a mão contra a boca pra não ser ouvida. Seu pai lhe vendeu por 500 milhões de euros?! Nem ela achava que valia tanto, mas ouvir Leon dizer era incrivelmente doloroso. Jen volta pro quarto arrasada, havia perdido o apetite.
POV LEON
- Não fale besteira! – Andreas continuava – Um sobrenome como o dos Montana não tem preço.
- Pois pra mim, não vale nem meio centavo, o senhor deveria ter me ouvido e buscado a aprovação do conselho de outras formas.
- Não existe outra forma, no passado era mais comum famílias sem nome, darem um bom dote em troca de um sobrenome de prestígio, já que mulheres não são aceitas como membros da alta cúpula...
- Eu conheço essa história, o senhor já me contou ela um milhão de vezes.
- E vou contar mais um bilhão, se for necessário pra você entender, você precisa consumar esse casamento o mais rápido possível. E quanto a lua de mel?
- Não tem lua de mel!
- Trabalhe de casa durante alguns dias, na empresa vamos dizer que você tirou uma licença pra curtir sua lua de mel, o concelho não é bobo, se suspeitarem que tudo não passa de uma armação, estamos perdidos.
Maria percebendo que Jennifer não desceu pra tomar seu café, decide levar uma bandeja até ela. Ao chegar no quarto se depara com a jovem em prantos sob a cama, e se aproxima devagar.- O que houve dona Jeniffer? Jen apenas se ergue, e da um abraço apertado na mulher sem dizer uma única palavra. A senhora aceita permanecendo com ela assim por alguns minutos.- Dona Jeniffer do céu. O que que aconteceu?- Aquela Zara, foi no meu quarto ontem. Vestindo só a camisa dele, veio me pedir proteção, disse que eles usaram todas.- Que mulherzinha descarada! E a senhora fez o quê?- Bati com a porta na cara dela.- Fez muito bem, quem essa mulher pensa que é, pra destratar a senhora desse jeito? - A Zara é a mulher que ele ama, sem falar que ela combina muito mais com ele do que eu, além de eles trabalharem juntos, ela sabe se vestir, se maquiar e dançar. Ele nunca deve ter se envergonhado com ela do lado.- Mas no fim, não foi com ela que ele se casou, foi com a senhora.- Hoje eu descobri
Vera deixa Jeniffer sob os cuidados de seus profissionais, só retornando algumas horas depois.- Jen, querida, esse é o meu amigo Luigi, ele é consultor de estilo das maiores socialites e celebridades do continente.- Foi com ele que você dançou a valsa no dia do meu casamento – reconheceu Jeniffer ao ver novamente aquele rosto.- Estou até emocionado, de uma senhora do seu calibre ter se recordado de um humilde servo como eu – responde Luigi colocando uma mão contra o próprio peito de forma exagerada.- Não sei nem o que responder, com tantos elogios.- Pois se acostume, porque quando você sair dessa sala, será a mulher mais linda e elegante de todo globo – disse Vera.- Trouxe umas roupas do ateliê. Coisa básica, só pro dia a dia mesmo, e umas duas ou três peças mais chiques, pra se algo de interessante acontecer durante a semana – Luigi comenta colocando as sacolas que segurava em cima de uma mesa, e tirando item por item, de um look mais
Estava com raiva de si mesmo, por se sentir caindo por vontade própria em uma armadilha. Mas sem se dar conta, já estava rendido a pele macia e cheirosa de Jennifer. Parecia uma boneca de porcelana de tão linda e delicada. E era sua. Podia tê-la quando quisesse. Nesse momento se amaldiçoava por não ter a tomado antes. Por mais raiva que sentisse, algo precioso assim não poderia ser desprezado. Misturado a isso, sons que escapavam dos seus lábios de forma involuntária, enquanto viajavam juntos em puro êxtase a caminho do ápice. ficaram alguns instantes com as testas unidas, enquanto tanto suas respirações, quanto as batidas dos seus corações, voltavam a normalidade. Estava feito! Agora podia voltar pra vida que havia escolhido.Quando se afasta, sente o corpo dela estremecer. Evita olhá-la nos olhos, mas percebe quando desce da penteadeira d
Jeniffer havia conseguido com muito esforço, tirar um pouco de dinheiro do pai, ela e a mãe estavam sem se alimentar desde a hora do almoço, pretendia comprar pão e leite pra fazerem um lanche antes de dormir, quando Gusmão, seu senhorio, apareceu…- Pensei que você e a moribunda da sua mãe já estavam mortas faz tempo, cadê meu dinheiro?- Sr. Gusmão, só me dê mais uma semana, eu juro que arrumo o dinheiro pra lhe pagar.- Promessa de morto de fome não vale um tostão furado, por que não deixa de ser orgulhosa, já disse que perdoo dois meses de aluguel se deixar eu me divertir com o seu corpo sempre que eu quiser – Jennifer apenas se afasta, se encolhendo em um canto onde outras casas de madeira se encontravam.Estava em um beco deserto e escuro com um homem perigoso, a quem boa parte da vizinhança humilde devia dinheiro, se gritasse ninguém sairia em seu socorro.- Tá passando fome porque quer, prefere ficar o dia inteiro embaixo de sol tentando vender essas rosas murchas, do que ga
Agora Jeniffer estava sentada em um carro de luxo, indo de encontro ao seu futuro marido, seu pai havia lhe dado alguns poucos minutos pra jogar uma água no corpo e colocar a melhor roupa que tivesse, era um vestido florido meio largo que havia ganho de Natal da igreja, era simples, não estava devidamente ajustado as suas curvas, mas a estampa era bonita e a cor realçava seus olhos, não tinha dinheiro pra maquiagem mas todos sempre elogiaram sua beleza natural, amarrou o cabelo um pouco ressecado em um coque alto e colocou brincos de bijuteria em formato de pérola. Nem se lembrava de quando havia se arrumado pela última vez, sempre dando prioridade a trabalhar muito pra trazer o máximo que conseguisse pra casa, o carro para bruscamente a tirando de seus devaneios. - Chegamos – Victor diz quando a porta do lado de Jeniffer se abre, e ela sai se deparando com a fachada de um motel. Ela dá um passo pra trás, mas o pai a puxa pelo braço a arrastando pra dentro do local. Chegando lá dep
Finalmente chegou o dia da cerimônia. Não teve mais notícias de Leon desde a noite no beco, e por incrível que pareça estava com saudades dele, ansiosa pra encontrá-lo novamente, e dessa vez seriam marido e mulher, dividiriam a mesma casa, e a mesma cama...Ao pensar nisso, Jeniffer sentia um misto de medo e excitação. Ficou mais tranquila quando foi informada que alguém viria algumas horas antes da cerimônia, trazendo seu vestido e pra lhe ajudar a se arrumar, já que não tinha a menor ideia do que deveria fazer. Jeniffer saía do banho quando o barulho da porta se abrindo a deteve.- Pode colocar o vestido sobre a cama, e saia!Só havia ouvido aquela voz uma única vez, mais seria eternamente incapaz de esquecer. Eva, sua madrasta, estava agora no recinto, os longos e lisos cabelos negros, os olhos verdes frios, a expressão dura, havia mudado bem pouco ao longo de todos esses anos, apenas parecendo ainda mais cruel que da última vez, quando Jen era apenas uma criança.- Muito bem! –
Eles iriam de carro até a outra ponta da propriedade onde se encontrava a entrada principal, assim que a porta do veículo se fechou, a voz intensa de Leon cobriu o espaço.- Quando chegarmos, exijo que tire esse vestido ridículo!- E o que devo colocar?- E eu que sei? Só tira essa monstruosidade da minha frente, me recuso a cumprimentar qualquer pessoa que eu conheça com você do meu lado usando isso. Vou descer na entrada principal, você entra pelos fundos, algum funcionário vai te levar até o andar dos quartos, lá com certeza vai achar algo melhor, nem que seja um lençol. Você ficará no quarto, não quero lembrar da sua existência até a hora da valsa e depois o bolo, assim podemos acabar de vez com essa palhaçada – o carro para, e Leon sai sem olhar pra trás, batendo com violência a porta atrás de si.Jeniffer se encolhe instintivamente com seu ato tão agressivo, e seca rapidamente as lágrimas que já teimavam a descer descontroladas dos seus olhos.Ao entrar pelos fundos, se deparou