— Nós também atrasamos, então o almoço acabou por ser um jantar. No entanto, ainda assim, você continua atrasado. — Júlio eleva um pouco a voz para sobressair na roda em que se encontra.
— 35 à 40 minutos. — simplesmente digo, me concentrando melhor na curva que preciso fazer.
— Espero que sim. Ela não sabe que você vem.
— Como assim? — confusão me enruga a testa.
— Não sabe que é você quem vem. Eu não disse quem eram meus dois convidados.
— Porquê?
— Ela vai gostar. — faz uma pausa e parece beber algo — Não demora.
— Está bem. Até já.
Chamada OFF
Ao fim da chamada, suspiro com a forte necessidade de aliviar meu cansado. Exausto, meio sujo, manchado de suor e com alguns calos na mão é como me encontro. O dia foi cansativo. Largo o telefone na perna e exercito meus dedos, abrindo e fechando, para estourar as bolhas de ar em seus nós. Aproveito para estalar o pescoço e a espinha, sem deixar de prestar a devida atenção ao volante.
Olho para as horas no painel e faço uma rápida mensuração do tempo que preciso para me aprontar, e concluo que não é muito. O tempo que prometi ao Júlio me parece suficiente.Na tarde de sexta-feira, recebi uma de suas rápidas ligações. Ambos movimentados pelo trabalho, decidimos falar de forma breve sobre o encontro na casa de Judite. Trocamos apenas a data, o local e promessas de nenhum atraso, que, aparentemente, ambos descumprimos.
Encerro o exercício da mão e a levo para minha barba, penteando os fios duros enquanto formo em minha cabeça a sua atual imagem.
Judite. Faz muito tempo que não ouço nem digo seu nome, ou que o pensamento estúpido de que tem sabor de nome de uma jóia não me atinge. Mas agora as lembranças vêem. Embora estejam desfocadas, me levam até aquela menina de olhos gordos e marrons saltando através de um rosto docemente redondo. O par de incisivos laterais opondo-se a fileira perfeita, lindamente tortos num charme de menina. Seus detalhes eram brandos, mas juntos eram um combo perfeito para os sentidos, incluindo seu constante estado de alegría e a delicadeza de sua voz.
Meu polegar é detido pela memoração da pinta preta em seu lábio superior, por onde o passava antes de beijá-la escondido de nossos conhecidos.Não posso conter um sorriso, que mantenho quando meu telefone volta a tocar e preciso atender. É minha mãe.Chamada ON
— Dadi. — coloco no viva voz e ergo o telefone à altura da boca.
— Boa noite, tudo bem? — sua voz se arrasta pelo carro. Acaba de acordar.
— Um pouco cansado, mas bem. E aí?
— Eu estou bem, tirando o problema que te falei hoje cedo.
— Nenhuma notícia boa ainda?
— Não. Meus negócios ainda continuam comprometidos.
— Eles irão se responsabilizar pelos danos? — piso lentamente no travão diante dos semáforos — Deveriam. Foram negligentes. — mordisco o canto dos lábios enquanto a escuto:
— Espero que sim. Não me dizem coisa com coisa e já tenho clientes a cobrarem suas encomendas. Por sorte, agora, pela incerteza, não cobrei nenhum adiantamento. Mas vou ver se resolvo. Como foi lá?
— Cansativo, mas consegui colocar tudo em ordem. Fui fazer alguns arranjos, plantar algumas coisas e negociar mais um terreno. — finalmente faço o ângulo para estar de frente para o portão da minha casa e dou três batidas na buzina para que este seja aberto.
— Mais um? — sei que tem um vinco em sua testa.
— Sim. — me distraio com o portão que é aberto. Ao mesmo tempo que entro, baixo o vidro da minha porta — Pensei em terrenos como uma boa forma de guardar meu dinheiro. Então, quantos mais eu conseguir, melhor.
— Faz sentido. Só liguei para saber como estavas, preciso procurar algo para fazer.
— Está bem. Se cuida.
— Você também. E espero que venha me visitar. Não te vejo faz muito tempo, acha isso normal?
Penso em lembrar que se passaram somente duas semanas, mas seria uma escolha não muito sensata da minha parte, então decido guardar para mim e responder:
— Vou fazer isso, Dadi. Tchau. — já com o carro estacionado, giro a chave na ignição e o motor para de roncar.
— Tchau.
Chamada OFF
Desço do banco e o alívio de poder me esticar é vívido em meus músculos. Volto a girar a chave quando decido deixar o motor ligado enquanto me preparo para sair de novo.
— Boa noite! — os faróis iluminam o homem que me cumprimenta.
Respondo-o e peço que faça uma rápida limpeza no meu carro, instruindo. Findo, corro para dentro de casa e me desfaço da camisa a medida que me aproximo do meu quarto. Minhas espectativas me distraem dos movimentos das minhas mãos e pés, que me levam até a frente do espelho quadrado da casa de banho, com apenas um box e uma gilete entre os dedos.
Beiro a entusiasmado. Percebo isso através das sobrancelhas altas e os assobios que faço enquanto acerto a barba. Bato com a gilete na pia e molho os lábios com o resultado. Meu cronômetro mental não para, o que me faz apressar o banho e a escolha de roupa que se segue. Um par escuro de calças, um blusão simples e um par de sapatilhas me pareceram adequados. Como acessórios, um relógio e o costumeiro fio médio de prata. Por fim, aplico perfume por partes estratégicas e sigo o caminho de volta para o carro enquanto passo um pente pela barba e cabelo.
— Terminou? — pergunto no mesmo instante em que organiza o último tapete dentro do carro.
— Sim.
— Obrigado. — entro no carro sem rodeios e deixo recado — Minha sobrinha estará aqui por volta das 21 e pouco. Vem com alguns amigos, então deixei as portas destrancadas. — enfio o pente no porta-luvas, fecho a porta e me preparo para sair — Eu estarei de volta no em pouco tempo, mas preciso que fique atento neles até eu voltar.
— Vou fazer isso. — com um pano, limpa suas mãos.
— Certo. Peço que abra o portão. — começo a manobrar.
O relógio em meu pulso marca 19 para as 20. Afundo no banco para conduzir melhor, então, no momento seguinte, um dilema emerge na minha cabeça sobre qual escolha seria melhor entre duas garrafas de álcool bom.
♠
Me aproximo da pequena roda na varanda da casa simples e bem organizada de Judite. Meus olhos vagam ansiosos para ver o que o tempo fez com ela, razão pela qual procuro pelo seu rosto na pequena aglomeração, mas não acho. A recepção de Júlio me abranda. Fica de pé para apertar minha mão e dar um abraço fraternal.
— Finalmente chegou. — seu tom não é tão alto quanto esperava, como se quisesse manter minha chegada em sigilo.
— Desculpem pelo atraso. Acabei por me perder nos afazeres e passei da hora.
— Acho que não tem problema. Não perdeu lá muita coisa. — reconheço a dona da voz, que me analisa com curiosidade e espanto fundidos.
Trás em mãos uma bandeja de cervejas e copos, e quando se aproxima para me cumprimentar, percebo o quão crescida está. Seu nome me escapa, mas sei que não tem mais de 4 letras. Aproveito a duração do cumprimento para tentar me lembrar, mas não consigo.
— Quase não te reconhecia. — exibindo uma expressão surpresa, comento — Espero que estejam todos bem. — me dirijo a meia dúzia de pessoas que se encontram distribuídas pela varanda.
— Igualmente. — respondem, cada um no seu tempo.
Todos parecem usar tons mais baixos, como se tivessem combinado, o que me deixa com um pequeno ponto de interrogação ao pé da tempora, mas depois lembro do que Júlio me disse na última chamada.
— Judy está na cozinha. É só seguir o corredor, segunda porta a sua direita. — sua irmã instrui como se lesse minha mente e soubesse que já ia perguntar.
— Obrigado. — dou uma batida leve em suas costas e passo pela porta.
O corredor está logo à minha esquerda. Percorro o com passos silenciosos, mas meio rápidos. Passando a primeira porta fechada a direita, encontro a segunda, a qual atravesso e me deparo com Judite de costas. Suas costas são chacoalhadas pelo movimento brusco e barulhento de suas mãos. Murmura qualquer praga para a dificuldade de tal coisa, e eu ouço tudo em silêncio. Espero que ela vire no seu tempo e me note aqui, mas meu perfume me trai.
Para seu afazer, levanta a cabeça e seu inalar é quase audível. Então ela se vira em busca da fonte.— Olá. — vibra de susto como primeiro impacto, mas o sorriso largo que embala seus lábios depois me contagia.
— Ah, não é possível! — guarda a faca, cobre seu rosto e tenho quase certeza que se segura para não saltitar. — Lionel...— baixa as mãos para que possa me ver abrir os braços.
Espero que venha até mim, fique na ponta dos pés e me abrace o mais apertado que consegue. Me curvo para envolver meus braços em volta dela, que treme pelos risos alegres. Nossos corpos balançam. Sinto seu coração acelerado contra meu peito e sua bochecha macia pressionada contra meu pescoço.
— Não é possivel...— suas palavras são abafadas pelo meu pescoço todas as vezes que as repete, tomada pelo mais puro êxtase. Leva um tempo para desfazer o abraço, e tudo o que eu faço diante de cada reação sua é sorrir.
Calorosa não seria suficiente para descrever sua recepção.
— Estás a tremer.
— Eu sei. — empurra para fora, junto com ar, e se desfaz do aperto — Não esperava, de verdade. — sacode as mãos. Em seus olhos há um brilho cintilante de menina — Jesus, que surpresa agradável. — dá um passo para trás.
— Nunca me senti tão bem recebido na minha vida.
— Meu Deus! Você está com a voz tão grave que parece um rugido. A cozinha toda vibra. — ri — E muito mais alto. Este abraço foi um exercício e tanto. — sem parar de rir, se aproxima e segura minha mão livre.
— O tempo não levou os exageros. — ergo as sobrancelhas para reforçar minha constatação.
— Não é nenhum exagero. — franze o nariz — Como você está? — leva uma das mãos que segura a minha para o peito.
— Estou bem e você me parece ótima.
— Realmente estou. — confirma. Seu olhar é vetrine da satisfação, mas seus olhos crescem e ela bate na própria testa como se tivesse finalmente ligado todos pontos — Por isso que Júlio não me disse.
Nos mantemos em silêncio, os dois submersos no luxo do clima de nosso reencontro. É uma fartura de sensações que saceia o coração. Pelos céus! Judite está Divina. Cinco palmos acima do que coloquei como espectativa. Se passaram mais de 9 anos desde a última vez que nos vimos, e, agora, entre várias coisas mudadas em sua aparência, o que mais me chama a atenção é a mancha preta no mesmo lugar de sempre, tal como sempre esteve. A marca mais bonita e autentica que tem. Os movimentos de sua boca moldam sua forma quando preenche o silêncio:
— Ah, me desculpa. — sacode sua cabeça e limpa sua testa com o pulso — Com tudo isto acabei por não perceber que trás algo. Quer que eu gele?
— Comprei para ti. — entrego e me sinto na obrigação de explicar — Sabia que tinha que levar algo, mas não sabia o quê. Acabei por comprar isso.
— Literalmente não precisava. — recebe, espreita a sacola e me olha de novo — Dei uma pausa do álcool, mas muito obrigada. — seu sorriso minimiza, escondendo seus dentes.
— Deu uma pausa?
— Sim. Precisei me afastar um pouco do álcool, mas vou guardar. Talvez beba em alguma ocasião especial. — faz uma pausa — Obrigada.
— Disponha.
— Então...— suspira e gira os olhos pela cozinha —...como já está aqui, acho que já podemos comer. Está tudo pronto. Só vou guardar o vinho e podemos ir.
Enquanto fala, vai de costar até uma garrafeira em formato de caixa que acompanha os armários encima de sua cabeça. Se estica para guardar, depois indica a saída da cozinha.
— Já agora, porquê se atrasou? Era parte do plano? — chasquea sua última pergunta com um riso.
— Mas qual plano?
— Não vai me convencer que não houve um plano por detrás dessa surpresa aqui. — gira seu dedo no ar e balança negativamente a cabeça.
— Não exactamente. Na verdade, tive um dia meio chato, por isso não pude chegar a tempo. — seus olhos estão em mim quando responde:
— Meu Deus!
— O que foi? — franzo o cenho em desentendimento.
— Eu falei da voz e da altura, nem tinha notado a barba. — faz uma pausa enquanto suspira — Se permite, você está um preto dos bons. — gargalho de sua sinceridade e ela se vira -— Júlio, eu quase tive um infarto. — é a primeira coisa que diz quando surge na varanda.
— Então valeu a pena. — ergue sua garrafa de cerveja num brinde solitário.
— Valeu muito a pena. É bom poder vos ver de novo.
Tinha 16 anos, quando, pela primeira vez, a vi soprar a vela acesa em seu aniversário. Coincidentemente, o décimo sexto dia do penúltimo mês daquele ano, novembro. Ao som da cantiga que seus convidados entoavam fervorosamente, Judite tinha seu enorme bolo erguido à altura do rosto, usando-o como protecção contra meu olhar deslumbrado. Nossos olhos se cruzaram rapidamente. Estava tímida, embora não tenha sabido se era por minha causa ou pela atenção que sofria.Foi a primeira vez que olhei para ela com olhos diferentes, longe de nossos amigos em comum. Diferente de só mais uma amiga. A baixinha tinha o pulso à mil. Podia ver pela pulsação na base de seu pescoço brilhante por conta dos pequeninos discos de purpurina.Um pouco igual ao que acontece agora. Uma pancada de déjà vu me atinge quando Judite surge na varanda com um bolo gelado em mãos. Cobre metade do seu rosto. Todos olhares deliciam-se com a visão do doce, mas o meu é detido pela dança de seus lábios num
Meu cérebro desperta para um dia muito quente, e minhas têmporas bombam de tal forma que me fazem amarrotar a testa e me negar a abrir os olhos. Rolo para o outro lado da cama, onde um grosso fio de luz me aquece as costas nuas.— Ah, não! — choramingo, irritada que finalmente tenho que acordar.Arrastando-me até estar sentada na cama, afago a pele aquecida, sonolenta e irritada com tanta pancada de luz. Bocejo e me livro do calor do lençol para sair da cama.Meu quarto está um forno. Preciso de um banho gelado para desfrutar dos efeitos do choque térmico. Deve ser início da tarde. 11 e quaisquer minutos, meu relógio biológico chuta. Só então percebo que dormi muito mais tempo do que imaginava que era possível. Ao tropeçar em duas embalagens vazias de sumo, solto um riso manhoso e coço meus olhos ardentes. Estou como se tivesse sido envolta por uma ressaca das boas, quando não passa de um cansaço quase injustificável
Estou no meio de uma longa serpente de carros que fura o horizonte da autoestrada, em todas as suas faixas. A impaciência me faz contorcer os dedos dos pés e beber pelo menos 2 goles de água a cada 5 minutos. Faz mais de meia hora que entrei neste congestionamento, tentando me convencer que ainda posso chegar cedo, quando estou exactamente meia hora atrasada. Frustrada, bato na buzina e suspiro. Mais uma segunda-feira de atraso.Bebo mais um gole de água gelada e baixo meu vidro, através do qual uma rajada fria penetra. Sobre nossas cabeças, o céu está bem nublado. Hoje vai chover. O cheiro da chuva que vem é forte, o que, de alguma forma, me satisfaz. Gosto deste cheiro.A fila se move um metro para frente e eu sigo. Um guarda-chuva vermelho, com metade do nome do partido no poder exposto, no carro a minha frente, me chama atenção para uma coisa: esqueci o meu guarda-chuva. De onde estaciono o carro até onde trabalho é uma dis
— Nelo, voltas ainda nesta semana? — ofegante, meu irmão pergunta.— Vai depender, mas provavelmente sim. — coloco minha toalha na sacola preta e calço meus chinelos — Porquê? Está difícil a gestão por aqui? — o observo saltitar para manter o nível de adrenalina em seu corpo.— Nem por isso. Só que quando estás aqui não preciso me encarregar dos dois primeiros grupos sozinho. Ficamos por combinar os dias em que virias dar um auxílio, mas não disseste mais nada.— Esqueci. — tamborilo o dedo na têmpora — Estou dentro de uma correria que não tem me dado muito tempo livre, mas vou avaliar melhor meu programa semanal, depois digo algo antes deste sábado. — alcanço minha garrafa de água e sugo alguns goles.— Aguardo. — para de saltitar e coloca suas mãos na cintura para ajudar a controlar sua respiração — A propósito, como foi?— Como foi o quê? — confuso, pergunto ainda com a boca
— Vamos abrir uma garrafa de vinho? — Cléo sorri exageradamente e pede, assim que entro na cozinha, com uma garrafa de Cadão Douro na mão.— Vinho? — alinho minha camisete — Não. Devolve isso. Não vou te deixar beber no meio da semana.— Só uma taça, Lio. — estende a garrafa na minha direcção — pode gerir a garrafa, se quiser.Pego a garrafa e finjo ler o rótulo por um tempo, só para que ela se vire e eu tenha espaço de devolver a garrafa.— Desde quando você toma vinho?— Depende. — vira de costas e fica na ponta dos pés para alcançar duas taças no armário, então me viro, devolvo a garrafa a garrafeira da sala e volto.— Depende de quê?— De quem pergunta. — quando termina de lavar as taças, se vira e olha para minhas mãos vazias — Eu já devia saber. — suspira e deixa seus ombros caírem.— D
Eu sempre tive algo com coisas coloridas, tal como a capa deste livro que tenho em mãos. Sou tão fascinada por um bom festival de cores, que sinto uma estranha vontade de comer. O mesmo já chegou a acontecer com coisas muito fofas e com pessoas muito queridas. Minha mãe teria um depoimento de pelo menos meia hora para dar, só pelos braços trincados que teve quando eu era mais nova. Consigo me conter melhor, agora, mas os padrões coloridos da capa deste livro são realmente lindos.Distraída, raspo a unha pelo canto dobrado dela. É antigo, do mesmo tempo que o li pela terceira e última vez. Molho os lábios ao som da vibração da máquina impressora, mas desperto do meu momento com o anúncio de um colega.— Estamos de saída. — para reforçar, o grupo que se recolhe junto a ele acena.— Até segunda. Bom final de semana.— Até. Obrigada e igualmente. — coloco minhas mãos sobre
Numa tentativa falha de assobiar, minha irmã sopra o ar quando tem o vislumbre de minha aparência. Segura minha mão e me faz girar na ponta dos pés. Não acho que esteja tão bonita, mas minha irmã é assim.Tudo o que visto hoje é tirado do meu antigo guarda-roupa. Escolhi um vestido da Polo, de algodão, simples e cinzento. Tem três botões que rasgam ao meio a gola "V". São pretos, cor que carregam também todas as bainhas. As mangas são curtas e ele escorre pelo meu corpo até um pouco acima dos joelhos. O facto deste vestido estar um pouco mais apertado do que costumava estar me faz ter certeza que aumentei uns quilos, embora isso não comprometa nem um pouco minha imagem. Meu cabelo cumprido está preso num coque alto, firme e crespo. Como acessórios, dois pequenos brincos minúsculos em cada orelha, meu costumeiro laço e antiga pulseira felpuda, tudo rosa. Calço sapatos pretos a condizer. Para finalizar, caprichei no cheiro e marquei os
Nem as grossas paredes do clube conseguem conter o barulho alto da música. Através dos vidros é possível ver que está quase lotado e que o ânimo grita nas pessoas presentes, com a mesma intensidade do som. Embora não me sinta humorado o suficiente para ambientes do gênero, a baixinha do outro lado do carro consegue me contagiar.— Jesus, Lionel! — estica seus lábios num sorriso entusiasmado — Aqui tem Karaoke! — seus olhos brilham tanto que posso jurar que quase chora de tanta alegria.Está um pouco gelado aqui fora, então um casaco jeans justo cobre a parte de cima de seu corpo. Dá quatro passos lentos para frente enquanto espera que eu tranque as portas do carro e me junte a ela. Parece uma criança encantada com a existência de seu mundo de fantasias, e gosto do facto de não se esforçar para esconder o quão pequena se sente diante de uma chance de cantar, não importa em quais circunstâncias está prestes a