Mergulho os dedos no pote de água e o sacudo por cima do tecido da minha camisa. O tecido azul ganha pequenas manchas mais escuras, das quais um vapor sensual sai quando passo o ferro de engomar. O barulho da porta puxa meus olhos, então ela revela minha irmã, Yara, que pergunta:
— Como foi ontem? — se j**a na cama e me olha fixamente.
— Muito bom. Fazia muito tempo que não tinha saídas do tipo. — coço a garganta irritada com duas compressões.
Levanto a camisa e ergo sob a luz para achar alguma linha torta por tornar inexistente.
— Corrigindo: fazia muito tempo que não saía. — gira em seus dedos uma das pulseiras que escapou de meu pulso.
— Sim, é verdade. De qualquer forma, foi diferente. — aprumo os lábios e espalho mais gotas de água pela gola da minha camisa.
— E essa voz?
— Karaoke. — coloco o ferro de engoma
Um mês e meio depois — Olá! — comprimento-o. Desfila até mim, seus ombros numa dança condizente com suas longas e grossas pernas cobertas até a metade por um par de calções escuros. Uma camisete colorida agarra-se firmemente ao seu torso, um pedaço de sua tatuagem espreitando através do arco da gola. Sua postura move ares a ser favor.Sua voz reverbera pelo interior de meu ser quando retribui o comprimento. — Olá. — depois de três semanas, ouço-o desrespeitar a acentuação de tal palavra. Com sua aproximação, saio do carro e ergo os braços quando nossos corpos se chocam num abraço de boas-vindas. Mantenho-me na ponta dos pés, os ol
Sinto dedos cutucarem persistentemente meu ombro. Quando me viro, vejo Cléo. Sinto o cheiro do salgado mordido em sua outra mão e vejo seus lábios oleosos se moverem quando diz:— Preciso das chaves do teu carro.— Para quê? — rasgo a embalagem de 6 cervejas e as organizo na primeira caixa térmica.— Está mal estacionado. Vem mais carros. — coloca o que sobrou do salgado sobre a língua e mastiga.— Vou estacionar quando terminar aqui.— Eu estaciono. Me dá as chaves. — estende sua mão.Tateio todos os bolsos até meus dedos baterem no molho de chaves. Entrego-o sem falar mais nada e volto a fazer meu trabalho quando ela se distancia. Afundo mais e mais garrafas de álcool pelas três caixas térmicas grandes enquanto oriento meu trabalhador, que divide-se entre limpar a piscina e organizar algumas cadeiras. Quando os dois terminamos, posic
— Estamos todos aqui? — de frente para seu bolo e seus convidados, perguntou.— Estamos! — as vozes de alguns de seus amigos se uniram em resposta.— Ótimo! Papito, aproxima, porfavor? — levantou os dois braços e fez um gesto que nem o de uma criança ansiosa para abraçar seu pai.Meu jardim estava com uma aglomeração considerável. O número de pessoas dançava em torno de 28 à 32. Maior parte eram amigos dela, o resto se dividia em primos próximos, eu, seu pai, gêmea de sua mãe e Judite, que fugia dos meus olhos. Enquanto meu irmão exibia sua postura, virei a cabeça para procurar por ela, mas não achei em nenhum lugar que pudesse ver.Franzi o cenho em interrogação, devolvendo minha atenção aos dois na frente.— Bem, pessoal, eu acho que é agora que se canta, nem?Todos começaram, no momento seguinte, com a cantiga. Minha sobrinha estava agarrada ao braço
A festa ainda bombava nas nossas costas, quando a aniversariante me acompanhava até meu carro com uma tigela de bolo na mão. Cléo vestia um vestido azul-escuro de veludo, alça fina, não muito justo, com um "V" profundo na parte de trás e que bailava no meio de suas coxas. Minha opinião levou-a a calçar sandálias de salto raso e optar pelas mexas soltas à altura de sua cintura. Estava bonita e radiante. Falava sem parar e era, sem dúvidas, uma mulher que dispensava a falta de assunto.- Tens mesmo que ir? Logo agora que a festa realmente vai começar? - lançou algumas tranças finas para trás de seu ombro.- Tenho. Já está tarde.- Tem alguma coisa para fazer amanhã? - parou de frente para mim e me observou abrir a porta do carro.- A questão não é essa... - quando ia me justificar, a voz alta de Lionel chegou até nós.- Cléo, não lhe deixa entrar nesse carro! - seu indicador estava em nós qua
— Você deve estar exausta. — Cléo falou, de frente para mim, enquanto secava o prato em sua mão.— Um pouco. — franzi o nariz — Mas tenho a tarde toda para dormir.— Acho que agora ele vai te deixar ir para casa. — riu — Lio é confuso.— Pois é. Já esperava aquela reação dele. — terminei de empilhar os pratos e lavei as mãos.— Estou com uma ressaca das boas. Meu Deus! — suspirou, seguindo até o prato de sopa sobre a mesa que repousava.— Imagino que não sejas a única. — me aproximei e me sentei.— Lio também exagerou. Estou a espera do momento em que vai entrar por aquela porta e exclamar por algo gelado e de limão.— Como assim?— É assim mesmo. Depois de exagerar no Uísque, só um líquido de limão e bem gelado é que cura o mau humor dele.— Espero que tenha. — esfreguei as mãos sobre minhas coxas e sorri para ela, que esvaziava a
Quarta-feiraContraí meu peito enquanto caminhava pelo corredor azul, acompanhado pelo eco dos meus passos, em direcção a porta no final do mesmo. Dela escapava o som abafado da música que as vozes masculinas cantavam. Pude ouvir melhor quando entrei nela e vi uma roda larga no centro.— Mestre! — um deles gritou por cima do canto assim que me viu, sem deixar de bater suas palmas.Larguei minha pasta próximo a parede, descalcei meus pés e me aproximei da roda com os olhos atentos nos dois dentro dela. Faziam movimentos calmos e bem elaborados, fazendo com que tendesse mais para uma dança do que uma luta. Apesar de algumas falhas, pude ver que desde a última aula, tinham melhorado imenso.— Calma, Mauro! — gritei para o mais novo entre os dois — Isso! — depois que fe
— Olá! — ornamentou sua saudação com um sorriso largo, depois de ter aberto a porta para mim.— Tudo bem?— Pode-se dizer que sim, aí? Pode entrar. — arrastou seu corpo para o lado para me dar passagem.Assim que atravessei a porta, deixando-a para trás, um aroma de dar água na boca invadiu meu olfato, enquanto apreciava a pequena sala diante de mim.Eu e Judite decidimos que nos juntariamos para um jantar rápido na casa dela, depois que nossos expedientes encerrassem. Pensamos que seria melhor e mais prático, tendo em conta que não ia interferir tanto no último dia laboral de ambos.— Estou bem. — me virei para vê-la fechar a porta e olhar para mim.— Seja bem-vindo, mais uma vez. — esfregou suas mãos nas laterais de duas coxas — Fica avontade. — me acomp
— Pronto. — invadi a sala, flagrando-o atento a TV — Podemos ir jantar?— Podemos. — se levantou e passou a me acompanhar até a cozinha.— Demorei?— Não muito.— Ainda bem. Sinta-se avontade. — indiquei a mesa e ele assentiu antes de se sentar.— O cheiro aqui está de dar água na boca. — ouvi dizer por trás de mim, enquanto desligava as panelas para começar a servir.— Confia que o sabor compensa.— Não tenho dúvidas. — soltou alguns risos roucos — Há uns 11 anos duvidaria, mas agora não.— Estou ligeiramente ofendida. — me virei, plantei as mãos na cintura e ri — Mas é verdade. Eu não era lá essas coisas, na cozinha.— O que mudou isso?— Não sei. — alcancei duas travessas e colheres para servir — As coisas simplesmente foram mudando.— Bom saber.— Como vão as coisas