capítulo 2
As palavras de Orfeu caíram como uma bomba no salão de casamento.

O murmúrio dos convidados explodiu em caos.

Ninguém conseguia acreditar no que havia acabado de acontecer.

Eu interrompi minha própria cerimônia para deixá-lo salvar outra mulher…

E agora, ele queria me substituir?

Até mesmo Vera Garcia, sua mãe, que nunca aprovou nosso casamento, franziu o cenho em desgosto.

— Isso é um absurdo! — Sua voz ecoou firme.

— Orfeu, casamento não é brincadeira! Como pode simplesmente trocar a noiva no último minuto?

Damarco Garcia, seu pai, também não parecia satisfeito.

Mas ele não disse nada.

O olhar calculista denunciava que já fazia seus próprios planos.

Orfeu parecia incomodado. Sabia que estava me envergonhando publicamente.

Olhou para mim, culpado.

— Eu sei que isso é injusto com você, Mirabel… Mas eu juro que vou te compensar.

O salão ferveu ainda mais.

Muitos me lançavam olhares de pena.

Outros, de escárnio.

Para alguns, eu era a tola que fingiu ser compreensiva e agora sofria as consequências.

Mas, para mim, nada disso importava.

Mantive uma expressão impecável, de uma mulher humilhada, mas disposta a preservar a dignidade da família Garcia.

Com os olhos úmidos, respondi, minha voz carregada de emoção:

— Não tem problema.

— Desde o momento em que escolhi salvar Srta. Rafaela, decidi que os sentimentos dela viriam em primeiro lugar.

Rafaela não gostou nada disso.

Ela imediatamente se irritou.

— Salvar? Quem me salvou foi Orfeu. Se ele não tivesse aceitado se casar comigo, eu teria pulado mesmo assim! O que você tem a ver com isso?

O salão ficou em silêncio.

E então, os olhares começaram a mudar.

As pessoas começaram a falar por mim.

Afinal, foi minha generosidade que fez Orfeu ir atrás dela.

Foi por minha causa que ela sequer teve uma chance de ser salva.

Só agora Rafaela percebeu isso.

Seu rosto ficou visivelmente desconfortável.

Mas ela logo se recuperou, jogando os cabelos para trás com um sorriso soberbo.

— Mas no fim das contas…

— Se Orfeu não quisesse me salvar, ninguém o convenceria.

— Ele veio porque queria. Porque no fundo, meu lugar ainda é no coração dele.

Orfeu explodiu.

A irritação que ele tentava conter desabou de uma vez.

— Rafaela!

Seus olhos brilharam em fúria.

— Se não fosse pela relação entre nossas famílias, eu não teria movido um dedo por você!

— Mirabel já passou por humilhação demais por sua causa.

— Se você continuar tentando nos separar, então pode voltar para a cobertura e terminar o que começou!

O salão ficou em choque.

Afinal, Orfeu nunca tinha falado assim com Rafaela antes.

Rafaela arregalou os olhos, ferida.

Seus lábios tremiam, como se tivesse mais a dizer.

Mas olhou ao redor, e não viu ninguém para defendê-la.

Ninguém se manifestou a seu favor.

Engolindo em seco, baixou a cabeça, murmurando baixinho:

— Desculpa, Orfeu.

— Eu… eu só te amo demais.

E então, suspirou, derrotada.

— Se Mirabel já aceitou ceder o casamento…

— Melhor começarmos logo.

— Não podemos deixar os convidados esperando.

Orfeu ainda hesitou. Olhou para mim.

Mas tudo que fiz foi sorrir suavemente.

Sem drama.

Apenas me virei, saindo do palco com uma postura impecável.

E segui para o camarim.

Hora de trocar de roupa.

Ainda não tinha chegado ao camarim quando a música da recepção começou a tocar.

Rafaela já estava fazendo sua declaração apaixonada.

Continuei retirando minha maquiagem, trocando de roupa, me despindo de tudo que restava daquela cerimônia ridícula.

Até que alguém entrou apressado.

— Srta. Mirabel! Venha rápido! Está tendo uma briga na recepção!

Meu coração parou por um instante.

Sem pensar, me apressei até o salão.

E então vi a cena.

Orfeu tinha Eurico no chão, socando-o sem piedade.

Rafaela estava ao lado, com o vestido sujo de suco, gritando histericamente:

— Acaba com esse desgraçado! Ensina pra ele o lugar dele!

Meu sangue ferveu.

Corri em direção a Orfeu, tentando puxá-lo para longe de Eurico.

— Orfeu, larga ele! Agora!

Eurico levantou o olhar, os olhos vermelhos de raiva e dor.

— Tia…

Minha respiração travou.

Ele era o único parente que minha irmã me deixou.

Na outra vida, ele foi a fraqueza que Orfeu usou para me manter presa.

E no fim, Eurico, consumido pela culpa e desespero, pulou de um prédio.

Morreu sozinho.

E eu… eu morri pouco depois dele.

Agora, vendo-o vivo diante de mim, meus olhos se encheram de lágrimas.

Mas Orfeu não parou.

Me ignorou completamente.

E com um movimento brusco, me empurrou para o lado.

Eu caí no chão com força, sentindo uma pontada aguda no baixo ventre.

Meu corpo gelou.

Meu estômago revirou.

Então me lembrei…

Na outra vida, nessa época… eu já estava grávida.

Orfeu só parou ao me ver no chão.

Por um momento, a violência em seus olhos se dissipou.

Correu até mim, tentando me ajudar a levantar.

Mas, com os olhos ardendo de lágrimas e fúria, o empurrei para longe.

No mesmo instante, Eurico se lançou para me amparar.

— Tia, você está bem?

Seu rosto estava cheio de preocupação. Engoli a dor, abraçando-o.

— Estou bem…

Mas era mentira.

A dor em meu ventre se intensificava.

E eu sabia o que isso significava.

Eu estava perdendo o bebê.

Isso era exatamente o que eu queria.

Me desculpe, pequeno…

Mas eu não traria você para um mundo sem amor.

Muito menos com o sangue sujo desse homem correndo em suas veias.
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