ENRICO
Montamos uma operação de guerra, somos trinta homens bem armados, este resgate vai muito além de salvar meu filho, existem muitas crianças sendo escravizadas nessa mina, que o poder público local, para seu benefício próprio, finge não existir.
Trabalhar em minas de carvão não é crime, apesar de o carvão ser um assassino silencioso, é um trabalho legal. Muitas famílias se sustentam trabalhando em minas espalhadas pelo mundo. No Brasil, a Bahia é campeã na extração de carvão e lenha, porém, o que ainda infelizmente ocorre é o trabalho escravo, em sua maioria, em minas clandestinas.
Crianças que com permissão ou não de suas famílias perdem sua infância e saúde trabalhando dia após dia. Paramos a alguns poucos metros do nosso alvo, para traçar nos
ENRICODepois de limpas e medicadas, ligamos para as autoridades, não podemos ficar para ver o resultado, pois o que fizemos foi ilegal, porém, mantivemos contato com o advogado que contratamos para nos manter informados. Antes de dispensar os homens, entreguei ao Claudio, que é o líder, uma mala de dinheiro contendo dois milhões, sendo quinhentos mil dele, e o restante para pagar os homens em partes iguais. Quando viemos para o Brasil, trouxemos muito dinheiro, pois sabíamos que iríamos precisar.Com tudo acertado, seguimos para buscar a Nina, queria a pegar no caminho, mas Enzo achou melhor resolver as coisas primeiro, antes de dar a notícia a ela. Enfim, quando chegamos à casa da dona Rita já é noite, do lado de fora da casa há uma grande mesa improvisada, a fizeram com uma porta, nela uma bela refeição nos aguarda. Em volta da mesa há algumas tocha
NINAAs lágrimas jorram, meu rosto está uma confusão. Cabelo grudado, coriza, dor e muito sofrimento. A cada dia que passa é um ensinamento e posso dizer que ultimamente tenho aprendido vários. O mais importante de todos é que devemos pensar muito, antes de tomar qualquer atitude. Agir com raiva, medo, mágoa ou sem pensar, nos traz consequências, algumas irreversíveis.Em silêncio, observo o movimento da rua, enquanto o carro se movimenta, o clima aqui dentro é de tristeza e decepção. Pietro dirige devagar, pois neste vilarejo as pessoas transitam de um lado para o outro, não há sinalização e elas atravessam na frente dos carros. De repente, sou fisgada por um par de olhos azuis, no momento exato que o carro passa em uma lombada.É ele, só pode ser ele.— PARE O CARRO — grito.Pietro se assusta
NINADepois daquela tarde em que encontramos nosso filho, fizemos exame de DNA para comprovar o que, para nós dois, estava definido, Luca é nosso filho, o resultado não foi diferente. Ficamos mais uma semana na Bahia, antes de voltar para casa, meus irmãos retornaram antes por causa dos compromissos com as famiglias que são de suas responsabilidades.Perla me ligava todos os dias, ela não via a hora de conhecer o mini Enrico, era assim que meus irmãos o chamavam.Na Bahia, em Salvador para ser mais exata, tem uma delegacia que faz trabalho voltado à pessoas desaparecidas. Em todo o país existem várias instituições que também fazem esse trabalho.Claudio nos indicou o projeto que tem como tema Basta Crianças Desaparecidas, que faz parte da organização sem fins lucrativos chamada de Desaparecidos Do Brasil, que ajuda na busca de cria
NINA - TRÊS ANOS DEPOISSentada no sofá da área externa da nossa casa, observo meus filhos brincando com o pai. A cada ano que passa, meu malvado fica mais lindo. Seu corpo forte, sua pele clara, seus olhos azuis e seu cabelo loiro completam um conjunto de dar água na boca. Seus braços expostos exibem suas tatuagens, as quais muitas vezes percorro seus traços com meus dedos.Sua aparência dura, firme, sua seriedade e dureza na voz só se suavizam no trato com nossos filhos.Observando-os, minha vida vem à mente, em flashes, me lembro de quando eu ainda era uma garotinha, uma garotinha boba e apaixonada pelo primo. Enrico.Que, aos quinze anos, deu seu primeiro beijo e foi o melhor de todos, pois foi no garoto que era apaixonada, desde sempre. Aos dezoito anos se tornou mulher com esse garoto, que foi seu primeiro em tudo. Primeira paixão, primeiro amor, primeiro beijo e
ENRICO— Pai, joga a bola — Rico diz, segurando sua irmã pelo braço. Minha princesa Giane não sabe nem andar direito e já quer correr.Nina, Rico e eu passamos toda a gestação escolhendo o nome da minha garotinha, meus pais e toda família davam palpites, mas eu saberia quando chegasse a hora certa. Rico a chamava de irmãzinha; Nina, de meu bebê; e eu, minha garotinha. Era incrível, toda vez que ela ouvia minha voz, se mexia, dando vários chutes na barriga. Durante a gravidez minha diabinha ficou insaciável, chegou ao ponto de eu ter que executar alguns maledetto mais rápido, para atender as necessidades sexuais da minha mulher.— Meus filhos nem parecem que são meus, só querem saber do pai — minha mulher diz, chorando.Me seguro para não rir, suas emoções estão afloradas por causa da grav
ENRICOAmor, o que é amor?Um sentimento que nos torna fraco, nos tira toda a nossa capacidade de raciocínio. Nos faz agir como verdadeiros idiotas.Amei e fui fraco, fui ingênuo. Perdi tudo. Perdi a vida que tinha. Perdi minha casa. Perdi aqueles que pensei ser minha família, aqueles que pensei que me amavam.Amor! Não serve para nada. Dinheiro e poder sempre prevalecem.Minha mãe sempre me dizia: ⸻ você é um bom ragazzo Enrico, nunca perca isso. Apesar da feiura do mundo em que vivemos, sempre seja esse bom homem que você é.Bom homem! Sempre fui um monstro. Ele apenas estava adormecido, por causa dela.De que adiantou ser um bom homem para ela e para aqueles que eu considerava os meus? Fui humilhado e expulso sem ter o direito de me defender, sem ao menos saber o que realmente estava acontecendo. Todos a minha volta, todos que um dia disseram
ENRICOFui criado em meio à escuridão. Tudo à minha volta sempre foi negro, sombrio, cheirava a morte. Ainda pequeno, aprendi que um Ferri não chora feito mulherzinha. Que um Ferri domina e não é dominado. Que homens que servem a famiglia Mancinni, protegem os seus, se necessário for, com a própria vida.Aos dez anos, a tortura e a morte me foram apresentadas.Fui ao porão da minha casa pegar minhas armas de brinquedo, eu tinha várias delas. Como disse, meu mundo sempre foi escuro, esse era o tipo de presente que ganhava em meu aniversário e datas comemorativas. Junto com o presente, sempre vinha uma constatação. "Um dia você vai ter uma de verdade".Ao chegar no porão, vi um homem sentado em uma cadeira, ele estava amarrado e sendo torturado pelo meu pai. Aquela imagem não me deu medo. Uma criança "normal" teria fugido, mas
NINAPerla não compareceu à faculdade, ela tem um evento para ir com seu marido, segundo ela, seu plano é ser a mulher mais bonita desse evento. Encomendou seu vestido em Nova York para não passar pelo constrangimento de ter outra pessoa vestida como ela, e claro, arrasar.Saio da faculdade, distraída, olho em volta e meu motorista não está, acho estranho não ter nenhum soldado me aguardando. Meus olhos me levam para o outro lado da rua, em que um sedan preto está estacionado. A porta de trás se abre, um homem alto e loiro, vestido em um elegante terno e de óculos escuros saí do carro e se põe de pé, encostado nele.Não consigo tirar meus olhos dele, há algo familiar, algo nele além de sua forma máscula e sua beleza que me remete à familiaridade. Seus braços estão cruzados. Mesmo de óculos escuros