NINA
Tem horas que sinto o Enrico tão distante, não reconheço mais nele o homem que sempre fui apaixonada. Desde que disse sim, que aceitei namorar com ele, foram poucas as vezes que nos vimos. Ele sempre está viajando, envolvido com as coisas da máfia. Meus irmãos confiam nele e o tem em alta consideração, por isso, o delegam muitos trabalhos.
Faz um mês que ele voltou, hoje ele me ligou e disse que, assim que chegar, vai conversar com Lorenzo sobre a gente. Não sei como meu irmão vai reagir quando ele souber que Enrico me fez mulher quando eu tinha dezoito anos. Não acho necessário que ele conte sobre o nosso relacionamento antes de sua partida, mas ele quer tudo em pratos limpos. Acabei concordando, se não concordasse ele contaria do mesmo jeito. Enrico não é mais aquele homem que cedia a todos meus caprichos. Ele se tornou um homem mais duro, mais sério, de poucas palavras.
Enrico mal me toca. Nossos beijos são rápidos, sem entrega, ao menos, da parte dele. O indaguei por que ele está agindo assim, ele me disse que não acha certo agir como antes, que ele não quer mais problema com a minha família. Depois que nos casarmos, podemos continuar de onde paramos, que se ele avançar o sinal, não vai resistir.
Entendo seu ponto, mesmo sendo adultos e não mais dois adolescentes, o entendo. Foi duro demais tudo que ele passou, foi obrigado a mudar de país, viver longe das pessoas que amava, tudo por causa de uma armação. Também sofri, também senti saudade. Enrico foi meu primeiro e único homem, sonhei por diversas vezes o ter em meus braços. Sentir seu corpo sobre o meu.
Quando meu pai disse que já estava na hora de ter compromisso, de se casar, senti como se estivesse o traindo. Fui para o Brasil, onde conheci Carla. Desde então, nenhum outro homem tocou em meu corpo.
Quando descobri que Enrico é o famoso Cruel, que tantos homens temem, cheguei a duvidar se é realmente com esse tipo de homem que quero me casar. Não que eu não conviva com homens maus diariamente, apesar de não me envolver com a máfia, sou filha e irmã de homens que, ao mesmo tempo são amorosos comigo, são homens que têm sangue em suas mãos.
Meu irmão Pietro é o pior dos três, ele pensa com a arma. Lorenzo, muitas vezes, segura sua fúria. Enzo sempre foi mais leve, brincalhão. Matar para ele era pura diversão, mas depois do que aconteceu e ele precisou fazer, seu humor se tornou negro. Ele está mais parecido com Pietro.
Lorenzo sempre foi o cabeça, o articulador, aquele que age com firmeza, mas com sabedoria. Ele herdou isso do meu pai. Meu irmão se tornou um Don adorado por todos, ele e a Perla fazem uma boa dupla.
Estou ansiosa aguardando Enrico que entrou há mais de uma hora no escritório para falar com meu irmão.
— Calma, Nina, vai dar tudo certo. Lorenzo pode ficar chateado, achar que foi traído, mas ele gosta do Enrico, como irmão. Se,, por acaso, ele não concordar, faço greve de sexo
— Só você, Perla, para me fazer rir.
— Senta aqui, sua boba, que quero falar com você.
Me sento ao seu lado no sofá, ela segura minhas mãos.
— Falando sério, agora. Tem certeza de que é isso que você quer? Ainda dá tempo de voltar atrás
— Eu o amo, Perla, sei que ele não é mais o mesmo, mas meus irmãos são homens de darem medo a qualquer um, porém, lambem o chão que suas mulheres pisam.
— Você está certa, Nina, desculpe, é que você sempre esteve afastada dos assuntos da máfia, e agora vai se casar com um homem cruel. — Ao perceber o que disse, Perla começa a rir e eu também, Cruel é exatamente como chamam Enrico. Perla me abraça. — Tudo bem, só me preocupo com você, prometo não dizer mais nada, o melhor a fazer é organizar o casamento. — Sorrio e beijo sua bochecha.
Depois de vinte minutos conversando sobre decoração, finalmente a porta se abre e Enrico sai por ela, sua expressão é indecifrável. Ele me chama, dou um beijo na testa da Perla e vou até ele, assim que entro, ele beija minha testa e caminhamos juntos até a mesa de Lorenzo, que nos observa. Assim que me sento, Lorenzo pede ao Enrico que nos deixe sozinhos, percebo que ele não gosta, mas obedece.
Quando Enrico sai e fecha a porta atrás de si, Lorenzo começa a falar:
— O seu envolvimento com Enrico foi de livre e espontânea vontade? — Fico espantada com sua pergunta. — Você era uma garota, Nina, a porra de uma garota de quinze anos. Enrico saía com Pietro e Enzo, algumas vezes, comigo. Fodia com as prostitutas do clube, enquanto namorava contigo. O maledetto tinha dezenove anos. Dezenove anos — Lorenzo esbraveja.
Sua conversa com Enrico não deve ter sido tão fácil. Particularmente esperava isso. Meus irmãos sempre foram protetores, para ele descobrir isso agora, é como ele tivesse falhado.
— Sempre fui apaixonada por ele, desde meus dez anos de idade. Lógico que aquele garoto de quatorze anos nunca iria se apaixonar por uma garotinha. Ele sempre me tratou como sua irmã, até que finalmente um dia ele olhou para mim do jeito que sempre quis, e esse dia foi o mais feliz da minha vida. Enrico sempre me respeitou, por mim, eu teria sido dele desde o dia que nos beijamos a primeira vez.
Lorenzo faz um som de desagrado.
— Sempre soube que ele ficava com as mulheres no clube, ele sempre foi sincero comigo. Sabia que era só sexo, apesar de eu querer me entregar a ele, ele nunca quis, o fiz me prometer que ele me faria dele quando eu completasse dezoito anos. Nesse dia o cobrei sua promessa, mas ele não quis, disse que falaria primeiro com seu pai sobre nós, e no dia da festa me pediria em casamento. Com raiva e cansada de esperar, entrei em seu quarto e me despi na sua frente, naquele dia só confirmei o que eu já sabia há muito tempo. Que eu era dele.
Lorenzo levanta e passa as mãos em seu cabelo. Se fosse o Pietro ouvindo o que acabei de dizer, iria atrás do Enrico com arma em punho. Com toda certeza, essa parte omitirei para meus outros irmãos e meu pai. Lorenzo diz estar muito puto, diz que tudo aconteceu bem debaixo do seu nariz e ele não percebeu. Meu irmão nunca estava em casa, Lorenzo viajava muito, do jeito que ele é observador, se tivesse ficado conosco mais de uma semana, teria percebido. Ele diz que acredita no nosso amor, mas me alerta que Enrico não é o mesmo que conheci, e tem medo que eu esteja o idealizando como o mesmo garoto de anos atrás.
Abro meu coração para ele, sou sincera em tudo, até mesmo quando ele me perguntou sobre meus relacionamentos com mulheres. Conversamos mais de duas horas, aos poucos, ele vai se acalmando. Uma das coisas que digo a ele é que me sinto culpada por não ter defendido o Enrico e não ter ido embora com ele, e que desde que aceitei seu pedido, ele não me tocou, quer fazer tudo certo desta vez.
Seguimos para conversar com nosso pai, e quando Enrico pede minha mão em casamento, meu pai nos surpreende, dizendo que sempre soube que éramos apaixonados e que um dia ficaríamos juntos, que ele e minha mãe conversavam muito sobre isso. Enzo leva numa boa, já Pietro se estranha com Enrico, chega a colocar uma arma na cabeça dele, mas meu pai intervém e no final tudo dá certo.
Com o tempo, ele vai se acostumar. Assim eu espero.
NINAAté agora, este é o dia mais feliz da minha vida, o dia em que me tornei esposa do homem que amo, o homem que sempre fez parte dos meus melhores sonhos. Sonhos esses que neste exato momento está prestes a virarem pesadelo.Depois da cerimônia do nosso casamento que foi realizado no jardim da mansão Mancinni, seguimos para a festa no enorme salão da mansão. Estavam presentes toda a famiglia, e os líderes que vivem espalhados pelo país e fora dele. Todos fizeram questão de estarem presentes pois é o casamento de um Mancinni. Enrico e sua família também são muitos respeitados pela famiglia.Estávamos recebendo os cumprimentos dos convidados, quando se aproximou o Capo de Palermo, o senhor Francesco Rossi. Lembro-me dele. Quando Enrico vivia na Itália, antes do mal-entendido, o senhor Francesco sempre estava nas nossas reuniões fam
NINAAvanço para cima dele. Consigo dar dois socos em seu peito, antes de ele segurar meus pulsos, que aperta com força.— Se você me odeia, por que essa palhaçada de casamento? — grito, aos prantos.Ele examina meu rosto, não sei o que procura, talvez se estou sendo sincera. Foda-se o que ele pensa.— Vou te dizer como vão ser as coisas daqui para frente.Estou com tanta raiva, que o medo que estou desse homem é o que menos importa. Não acredito que tentei feri-lo, se ele quisesse, poderia ter quebrado meu braço, fui imprudente, agi por impulso.— Você é minha moglie, sua família não tem mais poder sobre você, porque agora é uma Ferri. Você é livre para fazer o que quiser, pouco me importa se vai ao shopping, fazer curso, ou fofocar com as amigas. As únicas coisas que
ENRICOA adrenalina percorre meu sistema. A sentença de morte que por mim já foi decretada, faz meu corpo reagir em antecipação. O medo se faz presente, posso senti-lo no ar.Tudo é negro.Sombrio.Mórbido.Olho para o homem sangrando que está sob meu domínio e sorrio. O sangue escorre por todo seu corpo. Seus cortes e perfurações são uma verdadeira obra de arte.Sinto prazer com o seu medo. Ele é pungitivo, contundente. O cheiro do seu medo me estimula, ele sabe quem sou e que não tem nenhuma chance. Anseio por mais, quero cortar cada parte do seu corpo, porém, tenho que me segurar, senão ele morre antes de me passar as informações que preciso.— Para quem você trabalha? — pergunto, sem agressividade, como se estivesse falando com um bebê. Enquanto isso, afio minha espada. O home
NINAExatamente há três meses, me casei com um lobo mau e selvagem, que fica à espreita, observando todos os meus movimentos. Mesmo não estando presente, seus olhos me observam através de seus homens. Como uma fera faminta, aguarda o momento do ataque. Um passo errado, apenas um ato falho, ele me ataca com suas garras afiadas.Seus dias são dedicados à máfia e fazer com que sua promessa se cumpra. Que eu viva só, sem amor, sem sexo e que nunca seja tocada por ele.Quando Enrico está em casa, se tranca no escritório, muitas vezes, sai de lá tarde da noite, bêbado. Ouço seus resmungos no corredor que dá acesso ao nosso quarto. Sua fala enrolada e a dificuldade de abrir a porta do quarto chamam minha atenção, pois só consigo dormir depois que ele entra em seu quarto.Muitas vezes, me comporto como uma espiã, s
ENRICOHá duas coisas nesta vida que anseio desesperadamente, uma é me vingar da Nina, a outra e provar que Francesco foi o cabeça da armação contra meu pai. Finalmente este dia chegou, o dia em que os Mancinni não terão mais nenhum resquício de dúvida a respeito da fidelidade dos Ferri.Com a faca cavando a garganta do soldado de merda do Francesco, pergunto:— Quem mandou seu irmão dizer na época ao Don Guiseppe, que o meu pai que tinha o traído, e por que o mandante nos queriam fora?Depois de tantos anos, descobri que uns dos soldados que envolvido na armação contra minha família era irmão desse maledetto que trabalha para Francesco. Até hoje nunca engoli a história que foi tudo armado pelos soldados, ainda mais depois do assassinato da senhora Mancinni.Com a morte da senhora Mancinni, Don Guiseppe,
NINAMinha cunhada é uma mulher muito sábia e esperta. Nunca imaginei o quanto eu estava errada em relação ao Enrico e, pior, agindo feito uma idiota, me escondendo nesta casa.Cadê a Nina alegre, espontânea?Sinceramente, a Nina que sempre fui deixou de existir depois da decepção que se tornou meu casamento, e como um déjà vu, em vez de enfrentar meus problemas, me mantenho à distância. Me escondo, sou craque nisso.As palavras da Perla foram um verdadeiro banho de realidade, como se esse tempo todo eu estivesse em um lugar à parte da vida real, da vida como realmente ela é. Depois que Enrico foi trabalhar, fui às compras, transformei todo meu guarda-roupa. Abandonei meus vestidos sem graça de garotinha do papai, por vestidos sensuais.As mudanças não param por aí, conforme Perla me orientou, vou mudar com
NINADurante todo o dia reviso documentos e mais documentos, para me inteirar sobre os negócios da famiglia. Apesar de ter feito Direito criminal, durante o curso aprendemos um pouco sobre as outras áreas, basicamente tudo se trata da lei. Na hora do almoço fico esperando Enrico me ligar, porém, ele não entra em contato. Ligo para Sandra, que diz que ele já saiu para almoçar, pergunto onde e ela prontamente me informa.Vou ao banheiro, retoco minha maquiagem, solto meu cabelo que estava preso em um coque e vou ao seu encontro. Na porta do prédio da empresa o soldado Costa está me aguardando, coisas do meu malvado favorito, apesar de não querer me dar bola, me protege.No restaurante vejo seus dois soldados a postos, observo todo o local e não encontro meu marido. Um homem elegante se aproxima e pergunta se alguém está me aguardando, me apresento como senhora
NINAAssim que meu malvado sai para trabalhar, começo a operação: conquistar Enrico. Em vez de levar alguns pertences para seu quarto, levo tudo. Com a ajuda do Costa e de outro soldado, faço uma mudança completa. Meu maridinho não sabe, mas daquele quarto não saio mais.Lorenzo me ligou e disse que está na empresa com Enrico, que os dois virão almoçar em casa. Peço para Georgia fazer a comida e a sobremesa preferida do meu irmão. Sinto tanta falta dele e de nossas conversas, pena que não posso me abrir com ele em relação ao Enrico, meu irmão é um ótimo conselheiro.Ouço o barulho da porta se abrindo, corro feito criança em direção a ela, para encontrar meu amado irmão. Lorenzo quando me vê, abre seus braços e um grande sorriso, corro para seus braços e me perco em seu c