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NICHOLAS

Estou fodido. Completamente fodido. Nesse momento, pensando em como a minha vida mudou de uma forma tão significativa nos últimos três meses, deixo uma lágrima traiçoeira cair dos meus olhos. Admirando a bela paisagem de Nova Iorque através das enormes janelas que vão do chão até o teto, me perco em pensamentos sobre como eu vim parar aqui.

Parece que foi ontem que meu avô partiu desse mundo, me deixando entregue aos leões. Como posso ser o homem que ele queria que eu fosse sem ele aqui pra me instruir? Sinto como se um órgão vital tivesse sido arrancado de mim. A falta dele, a percepção de que nunca mais verei seus olhos sorridentes ou sua risada amorosa é suficiente para me fazer cair em depressão. Ele era o melhor homem que eu já conheci.

O que ele pensaria sobre a gravidez da Ada? Será se ele me aconselharia a ir em frente e assumir minha dose de responsabilidade? Ou ele me diria pra ser prudente e confirmar tudo antes de tomar uma decisão séria? Que ela está grávida eu não tenho dúvidas, mas será se é meu? É verdade que o teste de DNA feito no feto diz que ele tem os meus genes, mas não é tão difícil modificar um resultado hoje em dia, ou é? Ela pode muito bem ter trepado com qualquer um por aí e ter aproveitado a nossa foda pra jogar tudo pra mim.

Não vou mentir e dizer que não tenho vontade de mandá-la para a puta que pariu com essa história de gravidez. Mas e se for mesmo meu? Não vou cometer o erro que cometi da última vez e negar um filho meu, entregando tudo nas mãos do destino e perdê-lo logo em seguida. E olhando por esse lado, não há decisão a ser tomada. Eu não tenho saída. Não vou permitir que ela leve essa criança para longe de mim, como ameaçou caso eu não assumisse tudo da maneira correta.

E como se isso não fosse o bastante, ainda tem ela. Meu anjo particular. Tão diferente da Ada e tão igual ao mesmo tempo. A última mulher no mundo que eu achei que faria o que fez. Ainda não consigo acreditar direito no que eu vi. Já faz meses e aquela imagem ainda parece ter sido um pesadelo ou alucinação de um bêbado. E merda, ainda sinto o cheiro do corpo dela no meu. É como se nem todas as mulheres do mundo fossem capazes de tirar de mim a lembrança do seu cheiro, do seu sabor e dos seus sons. E olha que eu já tive dezenas nos últimos tempos, sempre querendo tirá-la do meu sistema. E nunca conseguindo.

Frustrado, esfrego o rosto com as mãos e solto um longo suspiro porque além de todos os meus problemas, ainda tenho as coisas da empresa para resolver e entre elas, a contratação de um assistente. Já passa das quatro da tarde e estou irritado além da conta por causa das entrevistas que fiz hoje. Seis no total. Quatro mulheres e dois homens que me fizeram perder tempo como ninguém ultimamente.

Onde meu querido pai encontrou essas pessoas? Quando eu perguntei isso, logo após nosso almoço, ele respondeu cheio de sarcasmo que foi em faculdades de segunda como Harvard e Yale. Mas qual é? Que cara recém-formado em Yale não fala pelo menos três línguas? Como ele espera que um assistente resolva as coisas pra mim se não vai conseguir se comunicar e entender o que o meu principal sócio diz em alemão?

E que mulher recém-saída de Harvard pretende conseguir um emprego com uma chupada? Ainda lembro-me da cara de satisfação da ruivinha gostosa pra caralho, admito, que me chupou com tanta volúpia que eu tive que segurar na mesa com força pra não cair porque sinceramente minhas pernas ficaram bambas. Mas quando ela se levantou e sorriu, achando que tinha conseguido a vaga, eu apenas sugeri que ela procurasse outro tipo de pós-graduação, pois eu não precisava de uma puta trabalhando pra mim. Isso me rendeu um tapa e uma série de xingamentos por parte dela.

Olho no relógio. Quatro e dezessete. A próxima entrevista vai começar daqui a pouco. A menos é claro, que o próximo candidato ou candidata queira poupar o meu tempo se atrasando. Se passar um segundo que seja das quatro e vinte, vou expulsar quem quer que seja o infeliz que entrar por essa porta. A porta que agora tem o nome Nicholas Hoffman, CEO, escrito. Antes era ainda o nome do meu pai. O meu nome estava apenas na plaquinha dourada com letras pretas em cima da mesa que eu ocupava.

Olho no relógio mais uma vez e agora só falta um minuto pra eu ter um pouco de paz após meu primeiro dia como presidente definitivo. Estou quase andando para a porta pra ir embora quando ela se abre após uma batida, revelando uma garota que parece ter saído do colégio primário agora. No minuto em que ficamos cara a cara, ela mantém os olhos castanhos em meu rosto por bastante tempo, antes de abaixar os olhos parecendo envergonhada.

Estudo seu rosto com cuidado, sentindo uma movimentação dentro da minha calça por algum motivo que não consigo discernir. Então percebo. Essa garota se parece com ela. Ellen.

— Quem é você? — pergunto um pouco ríspido demais.

— Ahm... eu... — ela limpa a garganta com um pigarro então levanta os olhos para o meu rosto — Eu tenho uma entrevista marcada com o senhor Nicholas Hoffman para a vaga de assistente.

— Eu sou Nicholas Hoffman.

— A garota da recepção me mandou entrar. Desculpe, eu não sabia que...

— Siga-me. — dou passagem a ela.

Afasto-me devagar, tomando cuidado para não olhar para as suas curvas enquanto ela me segue escritório adentro. É incrivelmente parecida com a Ellen. A mesma altura. A forma de andar. O corpo. Os olhos. O cabelo. Exceto a cor dos cabelos. Os olhos das duas são verdes, em tons diferentes, mas os cabelos da Ellen são negros como a noite enquanto os dessa são castanhos, mais claros que os meus.

— Sente-se. — aponto para uma das cadeiras à frente da minha mesa. Dou a volta e me sento na minha.

Encaro a garota por algum tempo. Ela se mantém calada, mas com uma postura firme. Não tem muito mais que vinte anos, tenho certeza. Ergo as sobrancelhas com um ar arrogante, mandando-a começar. Ela põe seu currículo na minha mesa e começa a se apresentar formalmente.

Pego o papel e confiro todas as suas informações enquanto ela tagarela sobre sua experiência. Seu nome é Amber Hitchcock, 21 anos, formada em Administração na Universidade Estadual da Carolina do Norte. Uma série de recomendações e títulos ganhos durante a graduação, assim como uma carta escrita por Gérard Leroux, um dos principais professores de pós-graduação em administração da Columbia.

Seu currículo não é mais interessante do que os outros que vi hoje, mas algo na sua maneira de falar e em sua confiança, me faz pensar que ela é a melhor pessoa que eu vi nesse dia imprestável. Mas antes, um teste. Levanto-me, muito satisfeito ao ver que ela interrompe sua falação um pouco enquanto eu me aproximo, e fico na sua frente só que dessa vez de pé. Esfrego o queixo com as costas das mãos e sorrio um pouco quando ela enfim termina sua longa apresentação.

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