ELLEN
Olho meu cabelo pela milésima vez nos últimos cinco minutos. Segundo a Melissa, já que está bom, mas para mim ainda está uma bagunça total. As pontas ficam caindo na minha cara e por mais que eu tente, não consigo deixá-lo em um penteado elegante.Com as pontas repicadas de novo em um novo corte, alinhá-lo para um evento formal é muito difícil. No dia a dia eu gosto de ter o meu cabelo com esse corte, pois além de ser mais descontraído, dá menos trabalho por estar tão curtinho. O problema é na hora de ir a um lugar que exige um penteado mais glamoroso. Não que eu soubesse antes de tentar hoje, afinal nos últimos três meses eu me limitei entre a faculdade, o trabalho e os torneios de hipismo. É a primeira vez que saio para um evento formal desde o casamento do Robert e da Gia.Na ocasião, eu vesti um vestidinho lindo de madrinha e meu penteado ficou divino. Pra combinar com o aspecto impecável do Nick em seu smoking, é claro. Pensar nele, de repente me faz sentir um calafrio incômodo e um tremor passa pelo meu corpo. Imediatamente eu desvio meus pensamentos dele, não querendo ser forçada a pedir licença à Melissa para "retocar a maquiagem" no banheiro da pequena pousada em que estamos.— Eu não sei onde você está com os olhos, Ellen. Francamente, seu cabelo está lindo assim. — Melissa chama a minha atenção atrás de mim — Se você não se apressar, nós vamos nos atrasar.— Eu não sei onde você está com os olhos. — sorrio — Eu não posso ir a uma inauguração com um cabelo de quem acabou de acordar.— Seu cabelo não parece assim. Eu adoraria ter suas madeixas.Do que essa louca está falando? Seus cabelos loiros são divinos. Não se parecem com os da Loren, que parecem ter saído de um comercial de shampoo, mas mesmo assim são lindos. Dou a ela um revirar de olhos enquanto molho a ponta dos dedos em um pouco de creme e passo nas minhas pontas. Depois de quase dez minutos, acho que finalmente meu cabelo está digno de ser visto pela elite de Nova Iorque.Pegamos um táxi e damos o endereço ao motorista, mas descemos pelo menos cinco quarteirões antes do local certo. Tudo porque a Melissa viu uma aglomeração de pessoas muito bem vestidas no pátio de outro hotel e pediu ao taxista para nos deixar lá mesmo. Droga! Eu tinha certeza de que estávamos no lugar errado, mas ela me escutou? Não. Graças a isso, aqui estou eu, andando pelas ruas movimentadas da cidade com um salto de oito centímetros, prestes a me estatelar no chão.— Eu odeio você. — digo pra ela na minha frente. Ela apenas olha por cima do ombro e sorri.Quando meus pés estão quase me matando, finalmente chegamos ao Regency Hotel. Curioso. Se não me engano, tem um hotel com o mesmo nome em Miami. Será o mesmo dono ou é apenas um caso de pouca criatividade? É claro que este hotel tem uma aparência mais urbana, diferente do de Miami que parece um verdadeiro palácio. Mas quando entramos, após mostrar nossos convites cedidos pelo Steven, vejo que a aparência por fora não espelha a de dentro. Este lugar é magistral.Chão em mármore. Paredes de pedra polida. Quadros renascentista em todo lado. As mesas distribuídas de forma estratégica pelo salão, de forma a não impedir a movimentação das pessoas. E as pessoas. Ah, as pessoas são um show à parte. Todas muito bem vestidas, segurando taças de champanhe enquanto conversam e riem.Um dos organizadores nos leva a uma grande mesa reservada para os atletas, vindos de vários lugares – inclusive da própria Universidade de Miami, em outras modalidades de esportes – perto de uma mesa com, claramente, gente das artes. Dá pra perceber pelo tipo de roupa. Nem mesmo em eventos como esse a alma de um artista pode ser escondida.— Está vendo? Eu disse a você que não chegaríamos atrasadas. — viro para a Melissa com um grande sorriso convencido.— Não? — ela pergunta com uma das sobrancelhas erguidas, apontando com o queixo pra a frente — Então como você chama chegar na hora em que o presidente da fundação já vai fazer o discurso?— Do que está falando? — viro-me para ver — Ele ainda não vai...Minha frase para no meio quando vejo quem está fazendo subindo ao palco com um grande sorriso e vestindo um smoking tão impecável quanto o que eu vi da última vez. Ora, ora se não é Nicholas Hoffman em pessoa. Procuro com os olhos pelo salão e só então eu vejo, bem na entrada, uma grande placa dourada com letras pretas em uma escrita elegante que diz: INAUGURAÇÃO DA FUNDAÇÃO HOFFMAN e uma breve descrição sobre a fundação e o seu presidente. Essa placa já estava ali antes? Como estava no lugar onde entramos e eu não a vi?Percorro meus pensamentos em busca de qualquer indício de que eu sabia sobre esse evento, querendo muito entender por que eu não fui avisada que era essa fundação que Melissa e eu viríamos visitar hoje e que era Nicholas Hoffman, o presidente que teríamos que puxar o saco. Mas após vasculhar meu cérebro por lembranças, qualquer que seja, percebo que eu realmente não fiquei sabendo em momento algum o nome da fundação ou do seu gentil benfeitor.Steven não me disse. Ele mencionou apenas que a equipe precisava de patrocínio para os torneios que viriam esse ano e que tinha conseguido nos colocar na lista de uma fundação que seria inaugurada hoje. Melissa e eu fomos enviadas à Nova Iorque porque ele não pôde vir, pois tinha outras coisas para resolver, e nosso trabalho é bajular bastante o presidente para ter nosso nome na lista definitiva dos atletas que estarão no projeto de incentivo ao esporte da fundação.A última coisa que eu esperava era chegar aqui e me deparar com o Nicholas. Imaginei que ele ainda estivesse por aí curando sua dor pela perda do avô nos braços de mulheres estranhas em lugares depravados, como fiquei sabendo através das revistas de fofocas que a minha colega de quarto, Vivian, compra com frequência. Nunca me passou pela cabeça que ele já poderia ter voltado e que seria ele o homem a quem eu devo impressionar. Se eu soubesse que existia a mínima chance de vê-lo por aqui, eu teria cedido meu lugar nessa viagem para qualquer outro membro da equipe. Até mesmo para a Juliet. Aposto que ela iria gostar muito.Tudo o que eu penso agora é xingar a todos por estar nesse lugar olhando para a imagem perfeita do homem que partiu meu coração. Porém, mesmo com todas as emoções violentas que passam pela minha mente agora, minha vista se torna um borrão quando ele abre a boca e começa a falar.Todo o ar deixa os meus pulmões quando ele dá boa noite às pessoas presentes com um grande sorriso específico de Nicholas Hoffman. Sua voz. Oh meu Deus. Parece mais rouca do que eu me lembrava. Sinto meu coração acelerar, minhas entranhas derreterem e meus mamilos, ah esses malditos traidores, se eriçarem.Melissa continua a falar alguma coisa sobre o nosso atraso, mas suas palavras se perdem na minha mente enquanto eu o escuto discursar sobre os objetivos da Fundação Hoffman, me perguntando como alguém pode ser tão sério e eloquente e ao mesmo tempo, sexy como o inferno. Qual é, Ellen? Quando ele não é sexy? Eu nunca o vi menos que perfeito. Até mesmo quando ele estava arrasado ao ficar sabendo da morte do a
Coro até a raiz do cabelo. Não queria ter mentido, mas não queria meu nome associado ao Nicholas ontem. O que ela pensaria de mim? Fui tão insignificante assim na vida dele que ele não pôde esperar ao menos seis meses para declarar seu amor por outra?— Não é necessário. — digo indo até o banheiro escovar os dentes — Tenho certeza de que já estou bem melhor hoje.Eu só quero ir pra casa. Voltar pra Miami e para a minha vida longe de tudo e qualquer coisa que tenha a ver com os Hoffman.— Curioso você ter ficado boa tão de repente. — ela me segue e se encosta-se à porta enquanto eu coloco o creme dental na escova — Não vi você tomar remédio ou vomitar ontem.— Eu vomitei sim. — digo com a boca cheia de espuma.— Quando?— De madrugada. — cuspo a espuma e sorrio pra ela — Você estava meio que roncando, por isso não viu.Eu realmente a ouvi roncar, mas não porque eu tenha me levantado de madrugada por qualquer motivo e sim porque não consegui pregar o olho durante uma boa parte da noite.
— Calma, Ellen. Não tenha um filho ainda, tá. Só estou dizendo que se ele pensou que havia algo entre você e o Asher antes quando vocês ainda tinham certa distância, agora que passam quase o dia todo juntos, ele pode acabar tendo certeza.— Eu não dou a mínima. Eu não fiz nada. Nunca rolou nada entre o Ash e eu, nem mesmo um beijo.Eu me calo. Me calo mesmo. Fecho a cara, não com raiva, mas para não dar mais brecha a esse assunto. Dizer que eu não me importo com o que o Nick pensa é uma grande mentira. Até hoje eu me pergunto o que deu nele pra agir daquele jeito no dia em que nós terminamos. Mas não quero mais falar sobre isso, primeiro porque nada vai mudar na nossa "relação" e segundo, porque falar dele não me ajuda a esquecê-lo. Eu preciso seguir sem ele na minha vida. Já consegui fazer isso por três meses, então é só continuar vivendo um dia de cada vez, tentando esquecer que o meu coração ainda bate forte só com as lembranças de nós dois juntos.— Tá bom, tá bom, meninas. Chega
NICHOLASMeu dia não foi nada fácil hoje. Mil e uma reuniões. Meu pai enchendo o saco. Minha mãe enchendo o saco. O pai da Ada enchendo o saco... Deus, esse povo só pode estar querendo me enlouquecer. E ainda por cima tive que recusar o centésimo pedido de entrevista depois que anunciei o meu casamento com a Ada e sinceramente estou me preparando para explodir a qualquer momento. O que tem de tão interessante em um homem se casar com uma mulher? Quase penso em cancelar tudo só pra ter um pouco de paz. Mas desconfio que terminar um relacionamento recebe muito mais assédio do que começar um.— Deus.Debruço-me sobre a mesa com a cabeça entre as mãos. Essa será a minha vida? Passar o dia inteiro num escritório fazendo algo que odeio e ir pra casa dormir com uma mulher que eu não amo? Só o pensamento me faz querer fugir. Talvez eu devesse pedir uma medida cautelar, uma liminar, ou qualquer porra jurídica que simplesmente impeça a Ada de ir embora com o meu filho e pronto, eu não precisari
— Aceita uma bebida, Molly?Sua língua sai para molhar os seus lábios antes de ela responder.— Sim, por favor.Sirvo a ela uma dose e faço um gesto para que ela sente-se na cadeira à frente da minha mesa. Eu sento-me na minha cadeira e observo com prazer o seu cruzar e descruzar de pernas. E que pernas.— Como eu disse, não me lembro de nos conhecermos pessoalmente.— Você era calouro quando eu estava indo para Stanford. Frequentávamos círculos diferentes de amizade. Não quer dizer que eu nunca tenha notado você... — ela se inclina um pouco e sussurra — ou o contrário.Depois sorri de forma maliciosa e eu a acompanho, notando aquela familiar tensão sexual. Com certeza eu a notei antes. Só era leal demais para dar em cima da irmã do meu então melhor amigo. Para a minha felicidade, meu pau agora não depende do meu cérebro. Ele é egoísta e totalmente independente.— Bom, a que devo o prazer da sua visita?— Tenho uma proposta a fazer. Se você se interessar, garanto que será bastante luc
— Não quis mesmo ofendê-lo. Você é autoconfiante demais pra se ofender tão facilmente.— Parece que você tem tudo muito bem esquematizado, mas não posso deixar de te perguntar: o que eu ganharia com isso?— Além do prazer de ver o seu rival na sarjeta? Você terá outros benefícios, é claro.— Que tipo de benefícios?— Eu estive observando o meu irmão recentemente e posso dizer que o interesse que ele tem em você é muito grande. Uma das prioridades dele das quais eu falei, é ver você na pior. Ele é obcecado em tirar tudo de você.Disso eu não duvido. Mas... boa sorte pra ele.— Ele tem alguns negócios... que envolvem bastante você e a sua empresa. Imagino que você iria gostar de saber de qualquer artimanha dele que possa vir a te prejudicar.Sorrio com deboche. Interessante saber o que o idiota do irmão quer me foder, mas achei que ela teria algum argumento melhor do que espionagem e traição.— Eu não tenho medo do seu irmão. Você mesma disse, minha empresa é muito maior que a da sua fa
De noite, me largo na cama com um grande pacote de comida tailandesa e várias pastas com formulários da Fundação Hoffman sobre as pernas para analisar. Leio quase tudo, faço anotações e guardo logo em seguida, deixando o resto para analisar amanhã. Tive um dia cheio e agora tudo o que eu quero é dormir.Até agora eu já vi os históricos de atletas, artistas e músicos de vários lugares do país. Todos esperando por uma vaga no folhetim de incentivo da Fundação. Estamos sendo bastante procurados sobre o nosso apoio às artes, à musica e ao esporte e toda essa atenção da mídia está fazendo milagres às nossas ações. O técnico de TI da HHE disse que o percentual de acessos do site da empresa duplicou nos últimos dois dias desde que foi aberto o blog exclusivo da Fundação no nosso domínio.Mesmo ainda tendo que fazer várias ligações hoje, – inclusive para Steven McKinley da Universidade de Miami, cuja equipe de hipismo tem um formulário preenchido com os nomes de todos os membros e suas várias
Digo ao Steven que eu levarei os papéis do contrato pessoalmente ainda essa semana para que ele e os principais membros da equipe dele assinem. Porém, quando ele me pergunta sobre os critérios que eu usei para escolher sua equipe à frente das outras como eu lhe disse ano passado, ainda mais considerando que recebi pedidos de patrocínio de outras equipes de hipismo com mais chances de títulos por causa de seus cavaleiros experientes, eu minto e digo que não estou atrás apenas de títulos e sim de ver resultados sendo alcançados com garra e coragem.Não que isso não seja verdade, mas se eu realmente tivesse que escolher de forma imparcial quem ajudar, a equipe de hipismo da Universidade de Miami não estaria entre os meus primeiros da lista. Mas como eu não escolheria a equipe que ela faz parte, se ano passado foi exatamente por isso que eu quis criar essa Fundação? Como poderia dar as costas à equipe só porque as coisas entre ela e eu não saiu do jeito que eu esperava? É verdade que nos