1. Sangramento

Júlio

— Acontecimentos estranhos —

A noite estava fria, mas, mesmo assim, podia ser sentido o calor do dia que terminou. A cidade em que morava ficava ao lado da praia. O vento quente era sempre mandado de volta para ela, fazendo o fim de tarde ficar com uma sensação térmica diferente a cada instante. O céu estrelado dava todo o diferencial, pois, além de ser considerado um dos pontos turísticos mais procurados por astrônomos, a cidade também era rica em minerais, fazendo-a ser uma das mais bem desenvolvidas do país.

Estava em minha cama já que meu trabalho tinha me esgotado por completo. Eu sabia que precisava descansar, pois no dia seguinte tudo se repetiria, mas o F******k e W******p me tiravam a atenção, não era a toa que todas as noites eu dormia sem ao menos ver a hora.

"Você não imagina o que acabou de acontecer..."

A mensagem de minha irmã estava aparecendo no visor de meu celular. Esse tem era um dos motivos do adiamento do sono. Minha irmã sempre costumava me encher de mensagens enquanto saía do serviço para casa. Ela sabia como era perigoso dirigir e mexer no celular, mas era teimosa feito uma pedra. E a de mim fale um "a" se quer.

"Um retardado ficou parado na frente do carro quando saía do trabalho. Eu fiz de tudo, tentei desviar, mas ele enlouqueceu se atirou contra a janela. Aquele maldito fez um estrago no vidro... Estou apavorada, pois além de quebrar o vidro com sua cabeça ele simplesmente se atirou em direção ao carro em movimento e me perseguiu por um bom caminho até conseguir despistá-lo."

A mensagem me deixou cabreiro, pois não era sempre que algo do tipo ocorria. O índice de criminalidade era baixíssimo onde morava e algo daquela magnitude ocorrer era realmente novidade.

Em resposta, mandei:

"Como você está?"

E, em segundos, a resposta.

"Se bem for completamente assustada com o que aconteceu, sim, estou bem."

Estava prestes a escrever outra mensagem, mas um estranho som me tirou a atenção. Era um som metálico que vinha do andar de baixo. Com a hipótese de loucos que se atiram em carro, alarmado com o pensamento que poderia ser uma possível invasão caminhei até a porta de meu quarto, que dava acesso a um grande corredor, onde havia três portas de madeira.

A primeira delas à esquerda era o quarto da minha irmã; a segunda, ao fundo, um banheiro enorme; e a terceira, o meu quarto, que ficava de frente a uma escada (caracol) alumínio. No andar de baixo, havia dois cômodos. O primeiro, ao descer as escadas, era a sala, e, ao lado, a pequena cozinha. Caminhei meio metro até chegar à escada. Antes que pudesse colocar os pés nela, ouvi novamente o barulho. O som metálico ecoou por toda a casa, deixando-me assustado. Afinal, não era sempre que algo assim acontecia.

O medo de ser um bandido estava me deixando apavorado. Quem em sã consciência ia de encontro ao estranho barulho? Estava começando a sentir o suor frio percorrer meu corpo como uma adrenalina infernal. Respirei enquanto olhava a escada caracol a minha frente. Só era descer e ver de onde vinha o som metálico. Com sorte deveria ser apenas alguns anima como por exemplo o gato da vizinha. Cheguei perto da escada sentindo o coração pulsar em meu peito ele deveria estar tentado me alertar que o que estava fazendo era uma tremenda burrice. Novamente o som metálico ecoou até meus ouvidos desta vez mais forte e nítido. Era certeza que vinha da cozinha. Respirei fundo criando coragem não sei de onde e me atrevi a descer as escadas em formato circular que ia de encontro a um buraco escuro e medonho. Tinha deixado as luzes dos andares a baixo desligada. Me arrependi plenamente de ter feito isso, mas já tinha feito a merda agora era só ir até lá e ver o que estava acontecendo. Desci as escadas tentado não fazer barulho caminhão em cada degrau nas pontinhas dos pés e fiz isso até chegar ao piso inferior que era a sala. Olhei para a parede para ver se avistava o interruptor por perto, mas me contive não podia simplesmente acender atendê-lo. Estava apavorado não queria dar de cara com um homem desconhecido roubando meus bens. Ia morrer do coração. A vontade de voltar correndo para cima e ligar para a polícia era enorme, mas já estava no meio do caminho. Eu realmente não sabia o que eu queria provar. Eu simplesmente estava me colocando em perigo por nada. Estava sozinho e apavorado, mas mesmo assim estava entrado de cabeça na escuridão.

Caminhei pela sala sentido meu peito pular mais rápido até chegar finalmente até a cozinha. Num instinto de puro medo me joguei até o Interruptor que ficava perto da geladeira e acendi a luz, que me fez ficar desnorteado com seu brilho. Ao notar toda a burrada que tinha cometido fiquei surpreso ao ver que tudo estava em seu devido lugar e tranquilo.

O barulho metálico poderia estar vindo de um galho de árvore que batia freneticamente na janela. Aliviado e tentado me acalmar fui até a torneira pegando um copo e me servindo com água. Precisava respirar e me acalmar, se minha irmã se soubesse o que tinha acabado de acontecer ela iria se matar de tanto rir. Enchi novamente o copo que tinha pego e me virei para subir novamente para o quarto só que o inesperado aconteceu.

Uma senhora com uma terrível aparecia simplesmente se materializou em minha frente. Congelei deixando o copo cair fazendo  que se partisse em centenas de pedaços ao chão branco. Por um breve momento fiquei parado sem esbanjar nenhuma reação, uma pessoa normal correria. Mas eu simplesmente fiquei a observá-la enquanto meu coração tentava assimilar o que estava acontecendo. Cabelos brancos, pele murcha, roupas surradas. Isso era o que compunha a senhora que se jogou pela porta. Eu não tinha percebido, mas o barulho metálico era da senhora tentado entrar e quando finalmente consegui o que queria me surpreendeu quase me matando de susto.

Seus terríveis olhos brancos estavam vidrados em mim. Ela parecia cega e mesmo assim parecia saber da minha presença no ambiente.

— A senhora está bem? — Perguntei, olhando fixamente em seu rosto. Ela não respondeu, seu corpo balançava para trás e para frente como se lhe faltasse equilíbrio ou como se estivesse embriagada.

— Senhora... Você está bem?

Nada...

O que estava acontecendo? Primeiro, minha irmã manda uma mensagem para mim, dizendo que um homem atingiu a vidraça do carro. Agora, uma senhora entra em minha casa com aqueles olhos de dar medo e mesmo assim fica me encarando.

A cozinha ficou em silêncio por um momento.

Fiquei a pensar em como me livraria da senhora. Precisava tirar ela de minha casa o mais rápido possível já estava começando a sentir um mau pressentimento com ela ao meu lado. Pude ver o telefone sem fio que ficava sobre o armário. A ideia de ligar para a polícia veio rapidamente em minha mente.

— Senhora, quer que ligue para alguém? — Perguntei tentado me acalmar.

Ela novamente não disse uma palavra se quer. Já estava achando que ela também poderia ser surda. Peguei o telefone, ainda com os olhos grudados na senhora, e digitei o número da polícia.

"Todas as linhas estão congestionadas, por favor, tente mais tarde..."

— Merda. — disse em um sussurro.

Tentei o número do Corpo de Bombeiros.

"Todas as linhas..."

Desliguei antes que a mensagem pudesse ser completada.

— O que está acontecendo?

O nervosismo estava me deixando com uma incontrolável tremedeira.

— Larissa... — O nome veio imediatamente em minha cabeça.

Larissa era minha melhor amiga, desde o primeiro ano. Somos inseparáveis, como irmãos, contamos tudo um para o outro. Ela com certeza iria me ajudar como me livrar da senhora. Digitei o número dela no pequeno telefone sem fio. E esperei duas chamadas até ela finalmente atender.

— Alô! - disse ela com voz de sono.

— Miga? Graças a Deus, você atendeu.

Minha voz estava trêmula.

— Júlio?

— Larissa, preciso de sua ajuda...

— Não me diga que colocou fogo na casa outra vez.

De onde ela tirou esta ideia? Eu nunca coloquei fogo na casa. Isso tá mais com cara da irmã dela fazer do que a mim.

— Não, não é isso. — falei, tentando explicar o que estava acontecendo.

— Então você ficou entalado de novo na bacia do banheiro.

Cara, de onde ela tira estas besteiras?

— NÃO!

— ENTÃO O QUE É? — O grito que ela deu quase fez com que derrubasse o telefone.

— Tem uma senhora aqui em casa. — disse, falando o mais baixo possível. Não queria que ela ouvisse, mesmo achando-a surda.

— O que eu tenho a ver com isso? — disse num tom irônico.

— Desculpa se estou atrapalhando o teu sono. Mas ela não parece nada bem. Ela invadiu minha casa. Só queria sua ajuda para se livrar dela. Ela está aqui para feito um poste sem esbanjar nenhuma reação. O que eu faço?

— Se a velha está passando mal, chama uma ambulância...

Como se isso fosse funcionar.

— Já tentei. Diz que as linhas estão congestionadas...

— Aí Júlio me liga quando a sua casa estiver pegando fogo...

O quê? Ela desligou na minha cara... Coloquei o telefone no gancho olhei para a senhora eu tinha que fazer algo foi então que olhei em seus olhos leitosos e disse:

— Você precisa sa...

Fui atacado antes que pudesse terminar a frase. Ela se jogou em minha direção como um animal, o peso de seu corpo me fez cair.

Escutei um estalo vindo acima de meu peito, e, logo em seguida, a dor insuportável. Eu com certeza tinha fraturado uma das minhas costelas. Não sabia o motivo, ou o porquê da senhora estar me atacando.

O mais incrível era o que ela tentava fazer. Por duas ou mais vezes, ela tentou me abocanhar em uma forte mordida que era possível ouvir o estalo de seus dentes. Era como se estivesse com raiva, pois saía de sua boca um estranho liquido branco, que caiu diretamente em meu rosto. Àquilo não era raiva e sim ódio. O som que ela produzia era muito parecido com o de um cão raivoso. Livrei-me de duas ou mais mordidas que quase acertaram o meu nariz e pescoço. Podia sentir seu amigo pútrido e sua saliva espalhar por meu rosto como uma chuva gélida e viçosa. Precisava, de alguma maneira livrar-me das garras da senhora. Era isso ou teria um pedaço do meu rosto arrancado. Naquele momento não estava pensando em mas nada. Só queria que ela parasse de se forçar contra mim. Já estávamos a minutos rolando ao chão. Ela não parecia cansada e eu completamente exausto. De relance não muito longe de onde estava, pude ver uma lata de lixo de alumínio, estava a alguns centímetros lote de mim. Com  rapidez antes que conseguisse  realizar uma  certeira mordida no pescoço, consegui alcançar mesmo com a canseira já chegando ao limite. Assim que é o que alcancei a lata de lixo, efetuei um golpe certeiro em seu rosto. Ela foi arremessada para o lado com o impacto. Pude notar sangue escorrendo por um corte em sua testa. Mesmo cambaleante e com dor, arrastei-me até o armário. Retirei de dentro da primeira gaveta uma faca. Com os dedos suados e mãos trêmulas, a segurei em pose de defesa e disse notando que a senhora estava se levantado como se nada a tivesse atingido.

— Senhora...

Ela estava louca, não era possível. Aquilo não podia ser normal. Ela deveria estar apagada com a força que acertei a lata de lixo. Não estava entendendo o que estava acontecendo só tinha em mente o medo e a dor que me fazia tremer e suar. Estava apavorado o choro já transbordava em meu rosto.

— Porque está fazendo isso?

Ela não disse uma se quer palavra apenas rosnou e se afastou em minha direção lentamente.

— Senho... 

Ela não pararia se não fizesse alguma coisa. Eu precisava me defender, não aguentaria outra batalha ela daquela vez ganharia. Ela novamente se jogou contra mim, mas desta vez nada  aconteceu.

Abri os olhos e vi o que ocorreu: a faca que antes estava em minhas mãos, agora permanecia enfiada na cabeça da senhora. O sangue escorria pelo cabo da faca, descendo diretamente aos meus dedos. Os olhos da senhora se fecharam, e, com eles, veio o tombo estrondoso.

Ela estava morta!

Ao notar o que havia acontecido, retirei a faca de sua massa cefálica e me sentei sobre o chão de cerâmica branca que se pintava lentamente de vermelho.

E lá fiquei.


Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo