Faca e sangue sobre as mãos. Coração palpitando, olhos vermelhos de tanto chorar. A garota olhava para mim com cara de espanto. Os olhos castanhos claros, mais vermelhos que os meus, olhavam o cadáver da senhora caída sobre o chão. Não sabia no que ela estava pensando sobre mim. Poderia estar me achando um louco, ou até mesmo fora de mim.
— Júlio… porque você fez isso? — A voz estava nitidamente trêmula.— Eu já te falei. Jéssica, eu já contei tudo…Sim, a garota que presenciou a cena se tratava de minha irmã.A vergonha que sentia dela era o que estava me matando, vergonha pelo que fiz.— Tem algo acontecendo… — disse, olhando em seu rosto.— Eu sei, mas isso o que fez é demais. — disse, olhando sério para mim.O choro continuava, as lágrimas quentes escorriam pelo meu rosto, limpando delicadamente o sangue seco que estava impregnado em minha pele.— Como iremos explicar isto à polícia?Não estava acreditando que havia matado aquela senhora. Mas precisava me proteger, era eu ou ela.— Já tentei ligar para a policia… Só esta dando ocupado. — Disse, rouco.— Então o que faremos? Não podemos deixar um corpo aqui na cozinha.A voz tensa de minha irmã deixava transparecer o que estava sentindo. Nojo adensado à adrenalina do momento.— Vamos limpar tudo…— Não temos tempo, temos que nos m****r daqui. — Falei desesperado.— Calma, Júlio. Precisamos ter calma. Se explicarmos tudo à polícia… que foi por pura defesa, talvez deixem você livre.— Eu não estou te entendendo.— Deixe a polícia resolver tudo! — Disse ela.— VOCÊ NÃO ESTA ME ENTENDENDO, AS LINHAS ESTÃO CONGESTIONADAS! VOCÊ ACHA QUE JÁ NÃO TENTEI LIGAR? EU NÃO QUERIA QUE ISSO ACONTECESSE! NÃO QUERIA, MAS ACONTECEU!— PARA DE GRITAR COMIGO!Neste exato instante, uma explosão de estremecer a terra nos pegou de surpresa. O medo nos fez levar as mãos aos ouvidos numa forma inútil de se proteger do desconhecido. Assim que percebemos que a explosão e os ruídos cessava percebemos que tudo ao nosso redor ficou as escuras. A minha explicação para o ocorrido era que um gerador deveria ter explodindo ou simplesmente toda a usina elétrica. Tudo estava tão estranho que tudo o que pensasse não fizesse sentido algum.— O que está havendo? — Perguntei. — O que há de errado com este lugar?Levantei-me com a incessante dor, e, com dificuldade, caminhei até o telefone sem fio. Tirei-o do gancho e o levei até o ouvido. Estava mudo. O apagão devia ter danificado a linha telefônica.— Não está pegando? — Perguntou Jéssica, tentando iluminar o local com a luz fraca do celular.— Mas que porra tá acontecendo?— Eu não sei. Eu disse que tem algo de errado, mas você não acredita em mim. — disse tentado esquecer tudo o que tinha acabado de acontecer. Tentei me acalmar respirado fundo sentindo a dor profunda latejar a baixo do pulmão. — Me passa o seu celular. — Pedi levando a mão a costela e sentido dificuldade de respirar devido a dor.— Toma.O iPhone preto de minha irmã estava quase sem bateria. Precisava ser rápido. Digitei pela segunda vez no dia o número da Larissa. Esperava que daquela vez não desligasse em minha cara que desse tempo de explicar o que estava acontecendo.— Está chamando? — Perguntou, Jéssica tentando me avisar para não usar toda a bateria.— Está sim. — Respondi com um aceno de cabeça.— Larissa, Larissa, me escuta pelo amor de Deus!— Júlio, é você? Graças a Deus! — Sua voz estava trêmula e ofegante.— Você não imagina o que acabei de ver…— Larissa, me escuta. Tem algo muito errado acontecendo… — Enquanto falava ao celular, minha irmã cobria o corpo da senhora com uma toalha de mesa branca.O jeito como ela cobria me deixou ainda mais nervoso. Ela parecia finalmente acreditar em mim. Eu não a tinha matado porque simplesmente eu quis ela estava longe da e foi por pura defesa.— Eu sei, eu sei. Depois que você me ligou, fui assistir TV. Assim que a liguei, vi o que considerei uma pegadinha do programa, mas não era. Uma faixa vermelha com os dizeres “código púrpura” estava na tela. Não sabia o que significava. Foi quando, mudando de canal, vi um jornalista falando de algum tipo de atentado, vi um bando de gente atacar as pessoas. Atacar umas às outras como animais…— Eu matei uma pessoa. — disse, interrompendo-a sentido as duras palavras me fazer chorar.— O quê?— Ela de estava tentando me morder... Foi por pura defesa... Eu tive que fazer... — Minha voz estava trêmula e a da Larissa também. Todos estávamos nervosos.— O que está me dizendo, Júlio?— Isto o que ouviu.— Está de brincadeira comigo? Pois não tem graça.— Não estou mentindo… — Como ele acreditaria em algo assim?— Não estou mentindo. Sabe a senhora que te falei?— Júlio, para com isso…— Deixa para lá. — Ela não iria entender, também não iria ficar insistindo. — Pega a sua irmã e vem para cá precisamos ficar juntos.— O quê?— Larissa, você precisa vir.Eu precisava dela perto de mim ela era minha amiga e saberia me consolar com o fato de ter matado alguém. Eu precisava dela naquele momento. Além do mais eu estava com um péssimo pressentimento de que se não ficássemos junto algo pior ocorreria.— Não sei explicar, só vem…O celular ficou mudo...— Merda, a bateria acabou. — disse, tentando ligar o celular.“Larissa, espero que venham para cá”, pensei, apertando o celular na mão. — Vamos até o meu quarto, deixei o celular na cama.Enquanto subíamos, fui atingido por uma dor insuportável, me fazendo rolar escada a baixo. Minha irmã, que estava à minha frente, só notou a queda segundos depois.— Júlio o que aconteceu? — Perguntou num tom de preocupação.Com dificuldade, respondi:— Minhas costelas estão me matando. — Respondi sentido minha visão ficar embaçada.Larissa
— Depois da ligação —— Júlio… Júlio? — Chamei o nome dele em vão, a ligação havia caído.
Estava em uma pequena sala no momento do apagão.Como havia dito para o Júlio, estava vendo uma matéria na TV. As imagens eram confusas, mas me deixaram assustada. Vi um bando de pessoas atacando uma às outras. Pude jurar que vi uma delas morder uma criança. Mas penso que foi coisa de minha cabeça.— Larissa? — Chamou uma voz ao longe.— O QUÊ? — Gritei de volta.— Tem… Tem… Uma pessoa parada na frente de casa.A voz feminina e familiar estava deveras preocupada.— Deve ser a vizinha atrás do gato dela. — disse, tentando retornar a ligação para Júlio, mas parecia que estava desligado.— Larissa?— O que é, Lara?Minha irmã costuma me deixa irritada facilmente. Ela tem sempre a mesma mania chata de ficar me chamando para tudo. Tirando isto, ela é uma irmã perfeita. Maluca mas perfeita.— A pessoa está agindo de uma maneira estranha…O que era estranho para ela? A vizinha estar procurando sua gata? Ou estar parada na frente de nossa casa? Sinceramente, não sabia.— Como assim, “estranha”? — Perguntei, querendo ouvir a resposta que daria.— Ela… Ela… — O choro foi acompanhado de um grito de puro ódio. — Está comendo a gata dela!— Lara, se você estiver de brincadeira comigo, eu bato em você!Mas não estava. O choro de minha irmã me fez ir diretamente ao seu encontro. O corpo miúdo dela estava encolhido sobre um sofá. Ela balançava para lá e para cá, como se estivesse fora de si. Ela estava abismada com algo. Nunca tinha visto ela daquela forma.—Lara o que você tem?Sem dizer uma única palavra, apontou seu fino dedo em direção à janela.Olhei imediatamente para o lado de fora, mesmo com a escuridão ao redor pude ver o que deixou minha irmã naquele estado. Uma mulher, a vizinha da casa da frente estava agachada no nosso quintal, como se estivesse procurando algo sobre o chão. No momento, não havia notado nada de errado, pois sua longa camisola impedia a visão. Foi quando algo saiu rolando de baixo de suas pernas. A cabeça decapitada de um gato branco era visível. A cena me abalou. A vizinha tinha enlouquecido como as pessoas que vi na televisão. Ela estava comendo o gato.— Merda… — Tirei os olhos da janela e voltei a atenção à minha irmã.— Lara, precisamos sair daqui…Será que o tal “código púrpura” estava mesmo em vigor na cidade? Não sabia o que fazer. A última frase de Júlio invadiu minha mente. Precisava ir até a sua casa e ficarmos juntos até essa merda toda acabar.— Lara, levanta… Precisamos ir à casa do Júlio.****
— EU NÃO QUERO IR! — Gritava Lara envolta em seus próprios braços.
— Lara, precisamos ir à casa do Júlio… — Falei, tentando parecer amorosa.— NÃO EU NÃO VOU! — Falou aos berros.— VAMOS! —— NÃO! — Os berros exagerados dela me fizeram ficar sem paciência.— NÃO? — disse, olhando para ela.— NÃO! — Puxei-a pelo braço, coloquei-a sobre o ombro e tentei levá-la à força.Neste momento, algo aconteceu. A vizinha que devorava sua gata se jogou contra a janela nos fazendo saltar com o susto.— LARISSA, VAMOS PARA A CASA DO JÚLIO! — falou Lara num soluço.A imagem de minha irmã seria cômica, se não fosse pela vizinha que se jogava cada vez mais contra a janela. Sua face sem vida estava ensanguentada, havia em seu pescoço uma espécie de mordida. Mas nada era mais assustador do que estava tentando fazer. Ela tentava morder o vidro se machucando cada vez mais. Ela parecia louca e fora de si como se seu dever era apenas nos abocanhar ou tentar nos alcançar. — LARISSA, VAMOS!— JÁ VOU, BUDEGA!Queria ver a vizinha mais de perto.Caminhei até a janela e a encarei. Seus olhos brancos feito leite me encaravam como câmeras. Sua fúria me deixou assustada. Era como olhar para um poço sem vida alguma. Ela não era mais humana, disso tinha certeza, aliás quem estripa um indefeso gatinho. Só de lembrar a cena o nojo ódio me invade. Se não fosse pelo medo de ser atacada como o gato eu com toda a certeza acabaria dando umas boas pauladas em sua cara, mas não tinha tempo para isso. Ela já estava conseguindo quebrar a vidraça e se esticando cada vez mais em minha direção. Eu precisava ter cautela ao sair de casa. Precisava sair sem ser vista por ela ou eu e minha irmã estaríamos fritas. Ainda bem que nosso carro estava fora da garagem era só entrar e partir até a casa do Júlio. O caminho seria longo mas com o medo que estava sentido e a adrenalina sobre meu corpo chegaria menos de quinze minutos. Eu tinha em mente que se tudo o que a reportagem na televisão dizia fosse verdade poderíamos ter problemas futuros com esses seres sanguinários.— LARISSA! — Chamou mais uma vez.— VAMOS, VAMOS LOGO! — disse, ainda olhando para a janela. — ANTES QUE ESTA MALDITA NOS ATAQUE!O barulho da queda de meu irmão me deixou assustada. A princípio, pensei que devia ser alguém à procura da senhora morta, mas não era nada disso. Meu irmão havia desmoronado de escada a baixo, uma altura considerada grave. Se seu estado já era complicado, agora piorará.
Após ter desmaiado, corri até meu quarto sentido o desespero percorrer meu corpo, retirei um quite médico que estava dentro de uma das gavetas de meu guarda-roupas e novamente corri até o local da queda.A pequena caixa vermelha balançava junto a meu corpo. A cruz branca na lateral esquerda da caixa fora mal colada com fita crepe no começo do semestre, antes do corte que tivera em meu dedo. Sem luz tudo parecia uma armadilha, mesmo com o quite precisava de luz para que pudessem higienizar os ferimentos, não podia simplesmente fazer tudo as cegas.— Maldita hora que essa merda resolve acabar. — Falei tentando me acalmar em meio a tremedeira e a suor frio que já percorria todo meu corpo. Precisava de uma lanterna. Tinha uma na garagem, eu sei disso, pois pela manhã quando retirei o carro eu a vi em uma das estantes. Era simples, só precisava ir até lá e pegá-la, depois era só eu voltar e cuidar de meu irmão. Fui novamente até a cozinha onde havia o corpo sem vida da senhora coberto por um forro de mesa branco que encontrei em uma das gavetas e tentei me acalmar. Estava tudo escuro e precisava me manter calma ou eu mesmo acabaria tropeçando e me espatifando no chão. Aí teríamos dois feridos ao invés de um só. Tudo estava em silêncio. Era um silêncio que jamais tinha ouvido antes. Tudo estava calmo de mais.Corri até a porta que já estava escancarada. Assim que botei meu corpo para fora notei que tudo estava as escuras e silencioso. O frio gélido vindo da praia parecia querer nos avisar que algo não ia bem. As ruas ao redor estavam sem movimento, estava atenta a tudo há tudo ao redor. Mesmo parecendo frágil e indefesa eu sabia muito bem me defender. Estava preparada para quem quer que aparecesse. Caminhei me encostando às paredes que encontrei pelo caminho, até chegar a garagem. Tudo parecia uma verdadeira zona desconhecida mesmo sabendo que visitava aquele cômodo duas vezes ao dia. A escuridão brinca com nossos sentidos e isso acaba fazendo com que o coração acelere ainda mas. Cinco minutos depois encontrei rapidamente a estante, e, logo em seguida, a bendita lanterna. Com as mãos suadas, testei-a. Por sorte, estava carregada.Voltei rapidamente para casa. Tudo estava do mesmo jeito que havia deixado.Meu irmão continuava desacordado sobre o frio chão frio. Retirei de dentro do quite médico uma tesoura. Minhas mãos tremiam. Não por medo, e sim pelo fato de estar fazendo uma tarefa perigosa, pois, qualquer deslize que desse, poderia acabar ferindo ainda mais o meu irmão. Usei a tesoura para cortar a camiseta polo verde que usava. O sangue seco a fez ficar dura, dificultando ainda mais o meu trabalho. O barulho da lâmina em contato com o pano era deveras estranho. Após recortar a camiseta, peguei a lanterna e iluminei a sua barriga.— Merda… — disse, ao ver o estado em que ela se encontrava.Abaixo do umbigo, era visível um estranho roxeado que se estendia até as duas últimas costelas. Tanto esquerda, quanto direita. Com um grande pedaço de algodão, higienizei o local. Logo após, retirei de dentro do quite médico um rolo de ataduras, o mesmo que os médicos usam para enfaixar braços quebrados.Foram trinta minutos de trabalho. Após este tempo, as costelas de meu irmão estava totalmente atadas. Os cortes superficiais que a queda causara estavam higienizados. Sua respiração estava ofegante, mas parecia melhor do que antes. Coloquei a mão sobre sua testa e percebi que estava com febre.— Preciso levá-lo ao hospital.Paloma — O Pedido de Rose —“Doutora Paloma, comparecer à ala de espera. Doutora Paloma, comparecer à ala de espera.”A mensagem repetitiva atingiu os meus ouvidos de uma forma inesperada. Não era sempre que me chamavam. O hospital estava lotado, nunca havia visto tantas e tantas pessoas se aglomerando para serem atendidas. Não sabia o motivo da balbúrdia. Julguei que um surto se espalhou pelos arredores da cidade ou deveria ter sido um grave engarrafamento. A última vez em que uma situação destas aconteceu foi há dois anos, quando o surto da gripe suína matou milhares de pessoas em todo o mundo. Centenas de pessoas formaram filas do lado de fora alegando estarem com o vírus. No fim apenas 50 das centenas tinham a doença e menos de 20 foram caso de óbito. As pess
Jéssica — Quando chegamos ao hospital — O grande hospital parecia um monumento histórico. Sua grandiosidade encantava quem o olhava. Eram 13 andares de pura seriedade. As luzes davam forma ao local, que se mostrava retangular com janelas dos pés à cabeça, juntamente com paredes brancas. Em sua entrada, podia ser facilmente visto o imenso letreiro que estampava a frente do grandioso hospital. “San Miguel”. E, embaixo, uma grande cruz vermelha, simbolizando a marca mundial da saúde. — Vamos estacionar... — disse Larissa olhando para mim parecendo ansiosa. Deixamos o carro estacionado de qualquer forma na entrada do hospital que parecia silencioso e medonho. O vento frio soprava fazendo com que o vidro escuro do “Uno” ficasse cada vez mais embasado. Saímos do carro, deixando Júlio sobre os bancos. — Não é melhor um de nós ficarmos? — Perguntei olhando para a face pálida de m
Rose — Caída, mas não derrotada! — Assim que Paloma subiu com as crianças as coisas ficaram muito mais complicada. Todas as centenas de pessoas começaram a se descontrolar como em uma manifestação demoníaca. Os guardas que tentavam acalmar a multidão enfurecida por falta de atendimento simplesmente foram engolidos e desarmados com socos e pontapés. A gritaria parecia não ter fim. Muitas mulheres gritavam como se estivesse loucas e homens davam socos no vidro de proteção da bancada. Eles queriam ferir os médicos, podíamos ver isso em seus olhares. Era um exército de pessoas insatisfeitas e malucas que se aproximavam cada vez mais da insanidade. Se alguém não fizesse algo para controlar tudo aquilo seria com certeza o meu fim. A maioria dos enfermeiros estavam parados sem esbanjar reação alguma. Estavam paralisados com a onde de violência. Foi em um momento qualquer que um homem surgiu apontado um revól
Paloma — Amigos! — — Você só pode está brincando comigo. — Falei, deixando a boca aberta. — Não... Isso não pode estar acontecendo... Estava assustada, indignada e perplexa com a historia que Rose me contara. Não podia ser verdade. Olhei para Rose, ainda com a boca aberta, e disse, encarando seus olhos verdes: — Você sabe que não podemos ficar aqui. Ela olhou paras as sete crianças que estavam na mesma posição há minutos e falou, num sussurrando para que elas não ouvissem: — Sei... Mas... É perigoso sair com elas pelo hospital... — Ela parou, olhou com os olhos marejados de lágrimas para as crianças e logo continuou. — Temos que esperar ajuda, ou, melhor, chamar ajuda... Aquelas crianças já haviam sofrido demais. Não podíamos sofrer o risco de serem atacadas por uma das coisas que Rose mencionou. — Escutei uma garota, há poucos minutos, pedindo ajuda na recepção. Ela parec
Rose — Graças a Deus... A voz chata de uma menina soou pelo autofalante. Seu nome era Lara, e estava junto a Jéssica, a menina que pediu por ajuda. Ela parecia um pouco abalada e ofegante, mas tentava esbanjar autoridade. Num tom um tanto grosso, ela perguntou quem era que estava falando. — Me chamo Rose, estou aqui com uma amiga e sete crianças. Estamos precisando de ajuda. Olhei para Paloma, que parecia paralisada com todo o ocorrido. — Por Favor, venha nos ajudar. Podemos fazer algo pelo seu irmão ou amigo. Só venha nos ajudar. A garota parecia confusa. Foi quando outra voz foi ouvida ao fundo. “Quem é?” — É uma garota chamada Rose. Ela quer nossa ajuda. — respondeu Lara. As vozes chiavam em meu ouvido. Estava esperando por um milagre, e esperava que elas se sentissem tocadas e viessem nos ajudar. — Onde ela está? — Perguntou novamente a voz ao fundo. “Você está louca?” Uma nova voz b
Lara — Acho que o fim está próximo — Sempre me perguntei como seria estar presa em uma história de terror. Mas, quando descobri, não via a hora de pôr um fim em tudo. Estava dentro de um pesadelo. O criador do roteiro em que estava participando devia ser um filho da puta. Com um mau gosto horrível. Como poderia nos deixar presos em um hospital rodeado de mortos? Se ele soubesse os arrepios que sentia a cada passo que dava e o cheiro de podre no ar, quem sabe, ele mudaria o rumo da história? Bom ou mau, o fim estava próximo. Era o que todos nós esperávamos. Procurávamos por armas, pois tentaríamos salvar a tal de Rose. Larissa, Jéssica e Felipe procuravam armas pelo local, mas tudo o que encontraram foram vassouras, baldes, seringas e aparatos cirúrgicos. Como havia dito há um tempo: armas em um hospital são escassas. Eu, por exemplo, continuava com as duas Barbies que encontrei por acaso esquecidas po
Rose — Tolice — Armei-me novamente com o bisturi manchado de sangue e fiquei parada à frente da porta. O coração parecia que sairia pela boca, podia sentir o suor se formando em minha testa e mãos, fazendo o ferimento latejar. Estava prestes a explodir em um misto de ansiedade e medo, mas não queria criar alarde, muito menos olhar para Paloma, que parecia chorar às minhas costas. Se transparecesse medo, ela não me deixaria sair da sala. Respirei fundo, e subitamente, sem pensar, abri a porta. — Boa sorte. — Sussurrou ela ao fechar a porta. O corredor parecia vazio, o silêncio me abalou, o alívio fluiu de uma maneira inexplicável. Respirei fundo pela milésima vez e disse para mim mesma que me acalmasse. Olhei para todas as direções possíveis, não queria ser pega de surpresa, por isso estava atenta a qualquer barulho. Alguns ruídos eram ouvidos como gritos, e alguns rosnados pareciam vir dos and
Lara e Felipe Após toda a loucura, o vômito e o sangue, voltamos a atenção para os remédios. Felipe, ainda assustado, terminava de encher sua bolsa com os últimos remédios de nomes complicados. O ferro afiado e encharcado de sangue bambeava em minhas mãos, que tremiam de ansiedade. Estava querendo, o mais rápido possível, sair do hospital. Olhei pela última vez para os corpos falecidos, que permaneciam imóveis, apodrecendo lentamente. Se uma alma corajosa e caridosa aparecesse, poderia dar um enterro digno às criaturas. Ainda olhando para elas, virei-me para Felipe e perguntei: — O que você vai fazer depois que sair deste inferno? Ele, a primeiro momento, não respondeu. Ficou parado, pensando em algo sensato para falar, e quando foi o suficiente, disse num tom pálido e triste: — Se o mundo todo estiver assim, não terei muito aonde ir. Penso que continuarei a seguir... Sei lá... Para ser sincero, eu não sei sob