Felícia chamou a atenção de todos no local. Estava deslumbrante, parecendo uma típica mulher francesa. Ela olhava ao redor atenta à procura do marido. Raul, sentado em uma mesa no canto, cercado por pessoas elegantes, ficou paralisado com a ousadia da mulher. Os homens não tiravam os olhos dela. Ele pediu licença e se dirigiu em sua direção, colocou a mão na cintura dela e cochichou em seu ouvido: “O que faz aqui? O que deu na sua cabeça, ficou louca?” “Vim jantar, você prometeu que iria jantar comigo hoje à noite.” “Porque não esperou no quarto?” “Você demorou, eu estava com muita fome.” Para não chamar atenção e nem ser deselegante, ele a conduziu até a mesa que estava com os investidores, que a cumprimentaram. Raul se encarregou de finalizar a reunião. Os investidores se retiraram e ele solicitou a comida. “Você quer chamar a atenção de quem com esse vestido?” “De ninguém. Estou em Paris e todas as mulheres se vestem assim aqui, não reparou?” Eles discutiam e
“Por gentileza, preciso falar com a senhorita Ludmila.” “Quem é você? O que você quer com a minha filha? Por acaso é o pai do filho dela?” “Não senhora, só preciso falar com ela.” Ludmila apareceu com uma barriga de sete meses. “O que você quer, Vicente?” “Meu patrão está ali dentro da caminhonete, ele está esperando você para conversar. Vá e entre discretamente, aproveite que não tem ninguém na rua.” Ludmila colocou seu cardigan e seguiu as ordens do homem, saiu de casa e entrou na caminhonete. Sem dizer nada, ele deu partida e dirigiu em alta velocidade, conduzindo a caminhonete para fora da cidade. Por fim, estacionou em uma estrada de chão. Ele mirou a barriga enorme dela e perguntou: “É verdade que essa criança é meu filho?” “Sim, Raul, é verdade.” “Então por que mentiu para mim naquela noite? Você falou que não aconteceu nada entre a gente.” Ela gaguejou nervosa e disse: “Desculpe, eu menti.” “Por que você fez isso, Ludmila? Eu sou casado. O que vai ser de mim?
Ela escondeu o dinheiro, pensando em um plano para entregá-lo à família. Quando o marido voltou do campo, ela o cercou enquanto ele lavava as mãos e, mais uma vez, insistiu: “Raul, preciso visitar minha família.” “Iremos em breve, tenha paciência. Ando muito ocupado, você sabe.” Felícia deu um suspiro de preocupação, imaginando os perrengues que a sua família estava passando em consequência da seca. Ela mexia sem ânimo no prato, sem apreciar o delicioso jantar. Observava a fartura exposta na mesa e ouvia a família do marido exibir histórias de vanglória e vaidade. Antes mesmo de finalizar a refeição, ela saiu triste e desanimada. Estava vivendo razoavelmente bem enquanto a família vivia na miséria. Ela sempre teve uma vida boa na fazenda de seu pai e se perguntava como sua família caiu em uma decadência tão cruel. À noite, Raul entrou no quarto e ela já estava deitada, mas não dormia. Seus cabelos castanhos, longos e sedosos se esparramavam pela cama. Ele a obse
Com o notável prestígio que Raul vinha conquistando, ele recebeu um convite de honra da câmara dos vereadores de Santa Rita para ser homenageado. Na segunda-feira, ele voltou de Santa Rita e contou para a mãe, porém esqueceu de falar para a mulher. A homenagem seria na quarta-feira. Raul continuou ocupado com os seus trabalhos. Na terça-feira, Dona Quitéria e as filhas saíram para a capital comprar roupas novas para a ocasião. Elas voltaram com várias sacolas, unhas e cabelos feitos. No outro dia, enquanto todos se arrumavam, Felícia perguntou para Iolanda: “Onde todos estão indo tão bem arrumados?” “Você não está sabendo?” “Não, sabendo o quê?” “Hoje terá uma homenagem para o Barão na câmara de vereadores e todos estão se arrumando para a ocasião. A senhora não vai se arrumar também?” “Obrigada por me avisar, Iolanda.” Felícia se sentiu rejeitada e triste por ninguém ter contado sobre o evento. A todo momento, pensava em como se livrar daquele casamento e daquela f
“Não. Sou um homem casado, fica feio sair sem você. Ainda mais para uma ocasião tão importante. Minha mãe e minhas irmãs foram me representar.”“Deveria ter ido e criado uma desculpa, falado que eu estava doente.”Ele pegou um pouco de jabuticaba, colocou na boca e respondeu:“Não costumo mentir, você casou com um homem íntegro.”Felícia se calou.“Quero que saiba de algo importante: as coisas materiais não importam tanto, o mais importante na vida é o que a gente carrega dentro de si. A compostura, elegância, educação, inteligência e gentileza. E você tem tudo isso. É a mulher perfeita para um barão. Além disso, é linda, charmosa e tem bons modos mesmo com suas roupas chumbregas.”Felícia se surpreendeu, sentindo-se especial com as declarações do marido. Soltou um leve sorriso com uma doce expressão na face. Ele continuou a lisonjeá-la:“Fico observando a forma como você se comporta. O jeito de andar, de falar, de sentar, de comer... Essas jabuticabas, por exemplo, você colheu, lavou
Como em todos os domingos, a família partiu para a missa na igreja matriz de Santa Rita. Nesse dia, também era o batizado da filha de Catarina. Pela manhã, enquanto Felícia e o marido se arrumavam, ela escolhia uma roupa com desgosto. Esvaziou o guarda-roupa e não se agradou com nenhuma. “O que está procurando? Já estamos saindo.”“Não encontrei uma roupa ideal para sair”, ela comentou triste e aborrecida.“Tantas roupas aí e você reclamando.”“Tudo feia e sem graça.”“Escolha qualquer uma, na próxima semana iremos para a capital e compro as roupas que você desejar.”Ela vestiu uma calça jeans e uma camiseta branca de renda com forro branco de seda.Felícia viu a oportunidade de levar o dinheiro que pegou do cofre do marido para Dolores, sua antiga empregada, entregar para sua mãe.Ela colocou os dois bolos de dinheiro em um saco de papel, enfiou no fundo da bolsa e partiu tensa e receosa com a família para a cidade, sentada ao lado do marido em seu Monza.Ao chegar na igr
“Eu estava com saudade dela. Também iria mandar um recado para minha mãe, já que você não me permite visitá-la.” “Falei para você que nós íamos visitar sua família, por que você é tão teimosa e impaciente? Ou será que você estava com saudade do seu amiguinho? O recado era para sua família ou para ele?” Felícia não se importou com a acusação do marido. Por mais que ela tentasse explicar, ele nunca iria entender, sempre iria julgá-la e acusá-la. “Você ainda gosta dele, não é mesmo? Você ainda não o esqueceu. Será que eu vou ter que dar um fim naquele babaca para ver se você o esquece de vez?” Ela gritou alterada: “Já chega, Raul! Isso é passado, esquece! E não se atreva a encostar um dedo em Otávio.”“Da próxima vez não terei piedade. Nem dele e nem de você. Agora desça e tire essa cara azeda, estamos com muitos convidados lá em baixo e não quero que ninguém perceba nossos desentendimentos. São nessas ocasiões que você precisa cumprir o seu papel de esposa, não em batismo de igreja
Rapidamente, Raul foi chamado. Ele a pegou nos braços, colocou na caminhonete e levou às pressas para o pronto-socorro em Santa Rita. Adentrou a emergência com a mulher desfalecida. Ela foi atendida de imediato e levada para a sala de cirurgia. Os médicos tentaram salvar a vida da mãe e do bebê realizando uma cesariana de emergência. Depois que Raul se retirou com Ludmila, todos ficaram do lado de fora da casa grande apreensivos. Felícia se retirou para o seu quarto, lamentando-se do ocorrido. Todos os outros convidados foram embora. Dona Quitéria, Bibiana, Yelena e Catarina permaneceram lá fora. Entre os cochichos, elas diziam: “Muito estranho ela ter passado mal depois que tomou o suco que Felícia preparou.” Dona Quitéria se deu conta que a mãe de seu neto poderia ter sido envenenada, pois convulsão era um dos sintomas de envenenamento. “Meu Deus! Será que Felícia provocou essa situação? Coitado de Raul. Será que o filho dele vai sobreviver?” Bibiana, sem suport