Como em todos os domingos, a família partiu para a missa na igreja matriz de Santa Rita. Nesse dia, também era o batizado da filha de Catarina. Pela manhã, enquanto Felícia e o marido se arrumavam, ela escolhia uma roupa com desgosto. Esvaziou o guarda-roupa e não se agradou com nenhuma. “O que está procurando? Já estamos saindo.”“Não encontrei uma roupa ideal para sair”, ela comentou triste e aborrecida.“Tantas roupas aí e você reclamando.”“Tudo feia e sem graça.”“Escolha qualquer uma, na próxima semana iremos para a capital e compro as roupas que você desejar.”Ela vestiu uma calça jeans e uma camiseta branca de renda com forro branco de seda.Felícia viu a oportunidade de levar o dinheiro que pegou do cofre do marido para Dolores, sua antiga empregada, entregar para sua mãe.Ela colocou os dois bolos de dinheiro em um saco de papel, enfiou no fundo da bolsa e partiu tensa e receosa com a família para a cidade, sentada ao lado do marido em seu Monza.Ao chegar na igr
“Eu estava com saudade dela. Também iria mandar um recado para minha mãe, já que você não me permite visitá-la.” “Falei para você que nós íamos visitar sua família, por que você é tão teimosa e impaciente? Ou será que você estava com saudade do seu amiguinho? O recado era para sua família ou para ele?” Felícia não se importou com a acusação do marido. Por mais que ela tentasse explicar, ele nunca iria entender, sempre iria julgá-la e acusá-la. “Você ainda gosta dele, não é mesmo? Você ainda não o esqueceu. Será que eu vou ter que dar um fim naquele babaca para ver se você o esquece de vez?” Ela gritou alterada: “Já chega, Raul! Isso é passado, esquece! E não se atreva a encostar um dedo em Otávio.”“Da próxima vez não terei piedade. Nem dele e nem de você. Agora desça e tire essa cara azeda, estamos com muitos convidados lá em baixo e não quero que ninguém perceba nossos desentendimentos. São nessas ocasiões que você precisa cumprir o seu papel de esposa, não em batismo de igreja
Rapidamente, Raul foi chamado. Ele a pegou nos braços, colocou na caminhonete e levou às pressas para o pronto-socorro em Santa Rita. Adentrou a emergência com a mulher desfalecida. Ela foi atendida de imediato e levada para a sala de cirurgia. Os médicos tentaram salvar a vida da mãe e do bebê realizando uma cesariana de emergência. Depois que Raul se retirou com Ludmila, todos ficaram do lado de fora da casa grande apreensivos. Felícia se retirou para o seu quarto, lamentando-se do ocorrido. Todos os outros convidados foram embora. Dona Quitéria, Bibiana, Yelena e Catarina permaneceram lá fora. Entre os cochichos, elas diziam: “Muito estranho ela ter passado mal depois que tomou o suco que Felícia preparou.” Dona Quitéria se deu conta que a mãe de seu neto poderia ter sido envenenada, pois convulsão era um dos sintomas de envenenamento. “Meu Deus! Será que Felícia provocou essa situação? Coitado de Raul. Será que o filho dele vai sobreviver?” Bibiana, sem suport
“Catarina, por favor não faça isso.” Catarina reagiu, ignorando-a: “Não se meta, Bibiana, fica quieta. Se você não vai participar, então fecha a boca, os olhos e os ouvidos. Você não está sabendo de nada disso, ok?!" As duas assinaram o cheque e entregaram ao médico. De imediato, ele elaborou o documento e o entregou para elas. “Agora, ouça. Preciso voltar à fazenda e colocar veneno no copo de suco para que nosso plano seja perfeito caso levem o restante do material para análise pericial. Onde encontro veneno para ratos?”, perguntou Yelena. “No celeiro tem um armário. Lá tem remédios para os bichos e também tem veneno de rato”, orientou Catarina. Yelena chamou Nero que estava lá fora e pediu que ele a levasse até a fazenda. Ao chegar, ela se dirigiu sorrateiramente até o armário do celeiro que a amiga havia informado. Encontrou o veneno, saiu rapidamente e adentrou a casa grande. Com as luzes apagadas, discretamente ela colocou bastante pó no copo de suco, que contin
Chegou na fazenda, estacionou a sua caminhonete e entrou na casa grande como um furacão. Gritou pela empregada:“Iolanda, por favor, chame minha mãe aqui e todos os empregados.”“Ela já está dormindo, patrão, mas vou acordá-la.”Yelena, que também estava dormindo em outro quarto, levantou-se ao ouvir o rebuliço na casa grande. Todos estavam reunidos no escritório em clima de suspense e tensão. Os empregados, Dona Quitéria, as filhas que tinham acabado de chegar com Vicente, e Yelena. Sentado atrás de sua mesa, Raul se posicionou de forma frenética e implacável.“Quero que me contem o que aconteceu, o que vocês viram antes de Ludmila passar mal. Me contem a história com detalhes.”Dona Quitéria começou a narrar o início da história: “Estávamos sentados na mesa fazendo companhia para Ludmila, com medo dela procurar Felícia e revelar a gravidez. Felícia passou por nós distraída e Ludmila a abordou. Ela chamou Felícia e se apresentou, dizendo ser minha sobrinha. Depois, pediu p
Ele deixou o quarto apressado, pegou sua caminhonete e retornou à cidade para providenciar o velório do filho. Nesse meio tempo, a casa já estava movimentada. Todos assistiram Raul partir abismados e curiosos: os empregados, Dona Quitéria, Yelena, Bibiana e Catarina. Dona Quitéria presenciou o filho partir, parada na frente de casa e sem saber o que realmente tinha acontecido entre ele e a mulher. Ela subiu para ver a nora junto da filha Bibiana. Deparou-se com Felícia consumida por um choro sofrido deitada no chão. Ao presenciar o tormento da cunhada, Bibiana sentiu piedade. Seu coração estava consumido por uma imensa culpa e remorso. Ela chegou perto e ajudou Felícia a se levantar. Sensibilizada com a agonia da nora e na tentativa de amenizar a situação, Dona Quitéria aconselhou: “Felícia, minha filha, sugiro que você vá passar uns dias na casa de sua família até essa infelicidade passar.” Felícia percebeu que aquele conselho seria a oportunidade dela se livrar daqu
“Dona Salete, Sr. Molina, sinto muito em dizer que Felícia passou mal e resolvemos trazê-la aqui no hospital.” “Não foi isso que soubemos, engenheiro. A notícia é que minha filha foi envenenada.”“Sim, foi isso. Eu só não queria assustar vocês, mas Felícia tomou um suco envenenado por engano.” Dona Salete se manifestou atordoada:“Minha nossa senhora, como isso aconteceu? Como está minha filha?”“Ela está sob cuidados médicos. Eu também estou esperando notícias, logo, logo o médico nos trará.”O Sr. Molina caminhava de um lado para o outro, inquieto e inconformado com a hospitalização da filha.“Mas como ela bebeu esse veneno? Quem foi o doido que botou veneno nesse suco?”“Sr. Molina, vamos nos acalmar e esperar, tudo será esclarecido.”“Eu só espero que isso não seja maldade de ninguém, porque você prometeu cuidar da minha filha, engenheiro, lembra?”“Lembro sim. Sinto muito pelo que aconteceu, Sr. Molina, mas não vamos tirar conclusões precipitadas.”Raul estava ansios
Na fazenda, Raul acordou tarde. Rolou um pouco na cama e foi tomar um banho.Desceu e tomou o café da manhã acompanhado de sua mãe, já que as irmãs tinham saído cedo.“Preciso voltar ao hospital para saber notícias de Ludmila e Felícia”, disse ele.“Esqueça essa Ludmila, ela não é nada sua.” “Preciso oferecer suporte financeiro para ela se recuperar e enterrar meu filho.”“Tudo bem, mas sua atenção precisa estar na sua esposa até tudo isso ser esclarecido. Ontem você foi precipitado, foi muito cruel com Felícia. Deveria ter sido mais cauteloso, fiquei com pena dela.”“Eu sei, mãe, estava de cabeça quente. Você está vendo, todas as evidências apontam para ela. Eu fui infeliz, avaliando a situação agora com calma. Se eu tivesse conversado com ela com calma em outro dia, ela não teria ingerido aquele maldito suco.”“Mas já passou, não fique se corroendo pelo passado. Tente consertar isso se entendendo com sua mulher.”“Mãe, tenho quase certeza que ela é inocente.”“Também acho. Ontem eu