Brendan acordou com dor de garganta e o corpo pesado como chumbo. Choques de frio e calor percorreram suas veias, alertando-o sobre a possibilidade de estar com febre. A última vez que ele tinha ficado doente assim foi cerca de um ano atrás, e Brendan tinha uma vaga ideia de onde estava o kit de remédios. Deirdre o colocou no armário perto da cabeceira. Ele tossiu e abriu a porta do armário e cada frasco de remédio tinha um post-it com rabiscos sobre a dosagem e a data de validade. Era exatamente quem Deirdre era, sempre foi muito meticulosa com tudo o que empreendia. Revoltado com a lembrança, Brendan rasgou o bilhete e sentiu como se seu coração tivesse sido rasgado junto. Alguns dias se passaram, sem nenhum sinal de que sua doença melhorava e ainda assim, Brendan foi trabalhar, lutando contra seus acessos de tosse e enjoo, enquanto folheava a papelada. Mais dias se passaram e ele começava a pensar que suas memórias desapareciam em um ruído branco. Parecia que seu mund
― Toda certeza do mundo, senhor. Ir para lá com este tempo não foi moleza e não retornaríamos sem nenhum resultado, a menos que não houvesse resultado para mostrar. ― Respondeu o mergulhador. ― E se quer saber... Honestamente, esta é a primeira vez que vejo algo assim. Nem um único corpo dentro de um carro que derrapou e caiu no mar. Isso é simplesmente assustador! ― ― Talvez o corpo tenha sido movido para outro lugar, pela corrente? ― alguém perguntou. O homem sacudiu a cabeça.― De jeito nenhum. As janelas estavam fechadas e ninguém poderia ter aberto o carro contra a pressão da água depois que o veículo inteiro afundou no mar. A única explicação plausível é que... não havia ninguém dentro do carro quando ele caiu. ― 'Ninguém dentro do carro.' Parecia uma explosão no peito de Brendan. Ele não conseguia nem dizer se a maior parte era alegria ou tristeza, tudo o que sabia era que aquilo disparava direto para seu crânio e fazia o mundo girar diante de seus olhos. Ele se sentiu p
― Droga! ― Era a primeira vez que Madame Brighthall ficava tão fora de si. Ela lançou um olhar duro para Brendan e rosnou: ― Você ainda não chegou ao fundo do poço?! Quer se humilhar ainda mais? ― Brendan respirou fundo, mas estendeu as duas palmas da mão, viradas para cima, quando disse:― Sim. Eu posso me humilhar muito mais, se esse for o preço. É por isso que preciso de Deirdre. Eu preciso expiar meus crimes. ― — E se ela não quiser sua estúpida expiação? ― Madame Brighthall retrucou. Brendan sentiu uma pontada no peito e cerrou os punhos.― Vou fazê-la aceitar. ― Madame Brighthall virou-se para encarar uma estátua da Mãe Maria.― Não, acho que não vai funcionar. Você realmente acha que ela estaria ansiosa para ir embora por minha causa? Não. É porque ela te odeia profundamente. Ela queria escapar de você e nunca mais vê-lo, em toda a patética vida dela. Se você está realmente procurando uma reconciliação, então deixe tudo sobre ela para trás e se acomode com Lena.
Os lábios de Brendan estavam pálidos, assim como toda a sua aparência, exceto pelo brilho estranho nas bochechas e no olhar. E, no entanto, cada palavra soava como uma batida em um velho sino.― Vou encontrá-la mesmo que isso me mate! ― Ele se levantou e começou a tossir tão forte que parecia quase cuspir os pulmões. Seu corpo cambaleava a cada passo, mas ele cerrou os dentes e marchou em direção à porta da frente e direto para a neve. ― Pare com isso! ― Madame Brighthall gritou, sem fôlego. ― Como você ousa chantagear sua mãe, com sua própria vida? E agora? Você vai ficar do lado de fora na neve, até morrer, a menos que eu revele o paradeiro dela? É assim que você vai ameaçar sua própria mãe?! ― Um vendaval de inverno varreu a paisagem, levantando um redemoinho caótico de neve na frente de Brendan, enquanto ele estava parado na porta. Emoldurado pelo horizonte branco cortante e pela agitação implacável, suas costas pareciam pequenas e desamparadas.― Não estou chantageando
― E-Então... Então quem é ela?! ― Madame Brighthall perguntou, incrédula. Brendan cerrou os punhos.― No ano em que você se opôs ao nosso casamento, Lena sofreu um acidente e entrou em coma. Ninguém sabia se ela acordaria novamente, mas eu sabia que você nunca me deixaria casar com uma mulher inconsciente. O único meio que eu tinha era encontrar outra pessoa para fingir ser Charlene. E aquela impostora... foi Deirdre McQuenny. ― Madame Brighthall não gostou de Charlene, na primeira vez que Brendan a trouxe para casa. A mulher mais velha se orgulhava de seu agudo julgamento de caráter e sabia, com base na ganância e ambição em seus olhos, que Charlene seria apenas o começo de um pesadelo. Por isso, naturalmente, se opôs ao casamento do filho. Mas então, um dia, Charlene simplesmente... mudou. Madame Brighthall ficou confusa ao ver a mesma pessoa calculista carregando-a nas costas pela neve quando teve um ataque cardíaco. Ela ficou perplexa ao ouvir sobre aquela conspiradora c
― Tobey está voltando? ― Deirdre não pôde deixar de se sentir surpresa. ― Por quê? Ainda não falta algum tempo até o Natal? ― Madame Russell olhou para Deirdre com um sorriso.― Ele me ligou, há algum tempo, e era natural que eu mencionasse você, em nossa conversa. Então, ele pediu uma licença da empresa, alegando que sentia minha falta, afinal, ele tem direito a férias e não volta para cá há mais de seis meses. No entanto, tenho certeza de que decidiu voltar para vê-la. ― ― Para me ver? ― Deidre torceu a toalha e ficou confusa. ― Por que ele voltaria para me ver? ― ― Ah, garota boba, eu me recuso a acreditar que você não tem a menor ideia do motivo. ― Madame Russell abriu um sorriso gentil. ― Você não sabia que Tobey gosta de você, desde que vocês são crianças? ― Deirdre se engasgou com a água que bebia. Madame Russell rapidamente a acalmou, dando tapinhas nas costas da jovem que Deirdre se recuperou da tosse, mas ainda estava atordoada. Ela considerava Tobey como um
Deirdre achou seu próprio pensamento um tanto quanto cínico. Então, deu uma risada triste e, como não conseguia dormir, tateou o armário em busca do sobretudo e o vestiu antes de descer, saindo com a intenção de ficar em seu jardim. Cerca de duas horas depois, Madame Russell ouviu duas batidas na porta e abriu, se deparando com a jovem, então franziu as sobrancelhas e falou:― Por que você não estava em casa? Entre rápido. Está congelando aí fora. ― Madame Russell esfregava as mãos, enquanto dizia:― Você soube da última? Um viajante acabou de chegar no bairro, apesar do mau tempo. Está congelando lá fora e não dá para saber o que ele está fazendo aqui. Ele está vestido com roupas de marca e dirige um carro de luxo. É um homem muito bonito e sua chegada causou uma grande comoção. ― ― Um viajante? ― Deirdre sentiu o coração disparar. ― Sim, ele parece estar procurando por alguém e se recusa a sair. Ele me fez algumas perguntas quando me viu. ― ― O que ele perguntou? ― Dei
― Já pensou se desse certo? Isso seria incrível! ― Madame Russell sorriu amplamente. ― Se for esse o caso, nem pense mais em ir embora, Deirdre. Você pode ficar na aldeia para administrar um negócio e também poderei cuidar de você. ― ― Ophelia se foi e não quero que você passe por mais dificuldades. Caso contrário, ficarei muito envergonhada de encontrar Ophelia na vida após a morte, quando eu me for ― exclamou Madame Russell. Lágrimas brotaram dos olhos de Deirdre porque ela sabia que a mulher se importava sinceramente com ela e, muito emocionada, manteve a cabeça baixa.Madame Russell segurou suas mãos com força e disse:― Aceite ser minha nora, Deirdre. Eu gosto de você, sinceramente, e Tobey também. ― Apesar de saber que não era o que queria, Deirdre não conseguiu rejeitar Madame Russell, então, pensou um pouco, antes de dizer:― Vamos ver o que Tobey pensa sobre isso. ― Madame Russell sorriu alegremente.― Claro, claro, claro! Veremos o que Tobey pensa sobre isso. Se