Ayala Green
Dizem que a primeira paixão a gente nunca esquece, e hoje eu tenho certeza disso. Eu era apenas uma garota de doze anos quando tudo começou, cheia de sonhos e expectativas, vivendo um dos momentos que até então só conhecia nos livros que devorava em segredo. Naquele dia, eu estava no meu quarto, absorta na melodia de "One Less Lonely Girl" de Justin Bieber, quando ouvi a voz do meu pai chamando meu nome. — Ayala, venha para a sala! Quero te apresentar algumas pessoas. Suspirei, interrompendo minha música favorita e me perguntando quem seriam essas "pessoas" que ele queria que eu conhecesse. Saí do meu refúgio, ainda com a cabeça nas nuvens, imaginando que algo mágico estava prestes a acontecer, como nos romances que tanto adorava ler. Ao chegar à sala de estar, o mundo ao meu redor pareceu parar. Lá estava ele: Caleb Evans. O cabelo escuro caía desordenado sobre sua testa, e seus olhos da mesma cor transmitiam uma seriedade que eu não entendia, mas que me fascinava. Havia algo em seu semblante — um meio sorriso discreto que parecia conter segredos. Ele era mais alto do que eu, alguns anos mais velho, e, naquele instante, meu coração deu um salto que eu não soube explicar. — Ayala, essa é Cristiny, minha nova namorada — anunciou meu pai, sorrindo. — E este é o filho dela, Caleb. Eles vão morar conosco a partir de hoje. Eu deveria ter me sentido surpresa ou, talvez, até desconfortável com a ideia de dividir minha casa com completos estranhos, mas a verdade é que, na minha mente adolescente e romântica, aquilo parecia o início de uma grande aventura. Eu imaginava que, com Caleb morando ali, tudo se encaixaria como em uma daquelas histórias onde a garota tímida e o garoto misterioso se apaixonam inevitavelmente. Mas, com o passar dos dias, percebi que a realidade era bem diferente. Caleb era um garoto fechado, quase inacessível. Ele passava a maior parte do tempo trancado em seu quarto, e quando não estava na escola, preferia ficar sozinho. Raramente trocávamos palavras, e cada tentativa minha de aproximação era recebida com um silêncio quase impenetrável. No entanto, eu sentia seus olhos em mim quando achava que eu não estava olhando. E, por mais que ele me frustrasse, eu não conseguia evitar me sentir atraída pelo mistério que ele representava. Foi apenas duas semanas após a mudança que o nosso primeiro contato mais próximo aconteceu. Eu estava na sala, terminando meu dever de casa, quando a porta da frente bateu com força, anunciando a chegada de Caleb. Ele entrou bufando, com o rosto marcado por um corte no supercílio e um lábio inchado. Seus olhos estavam furiosos, mas ele tentou passar por mim sem dizer nada. Meu coração se apertou com a visão de seu rosto machucado. Sem pensar muito, fui atrás dele. — Caleb, você está bem? — perguntei, tentando soar preocupada, mas sem invadir seu espaço. — Tá — ele respondeu seco, enquanto se jogava na cama de seu quarto, me encarando como se eu fosse um incômodo. Sem me deixar abalar pelo tom rude, entrei no quarto com passos hesitantes. O ar estava carregado de tensão, mas, mesmo assim, me aproximei. Toquei seu rosto suavemente, avaliando o machucado. — Você está ferido. Deixa eu te ajudar — pedi, determinada. Ele não respondeu, apenas assentiu com um movimento quase imperceptível. Corri até o meu quarto e peguei o kit de primeiros socorros que minha mãe sempre mantinha à disposição. Quando voltei, ele estava deitado, os olhos fixos em mim. Com um movimento lento, ele abriu as pernas e me puxou pela cintura, me posicionando entre elas. Minha respiração acelerou, e eu tentei ignorar o calor que subiu até minhas bochechas. Concentrei-me em tratar dos seus ferimentos, aplicando o antisséptico com delicadeza. A cada toque, ele apertava minha cintura, os olhos nunca desviando dos meus. Eu não sabia ao certo o que estava acontecendo entre nós, mas havia uma energia palpável que parecia mais intensa do que a simples troca de palavras poderia explicar. — Já terminei — sussurrei, quase sem ar, tentando afastar a sensação de borboletas no estômago. Antes que qualquer coisa pudesse acontecer, a porta do quarto se abriu bruscamente. Noah, o melhor amigo de Caleb, entrou sem cerimônia, claramente surpreso ao nos encontrar naquela posição. — Foi mal, cara. Não queria interromper — disse ele, com um sorriso nervoso. — Só vim ver como você estava depois da briga. Sem dizer nada, Caleb se levantou e saiu do quarto com Noah, deixando-me sozinha. Fiquei ali, tentando entender o que acabara de acontecer. Aquela noite, pela primeira vez, sonhei com ele. Em meus sonhos, nos beijávamos, e os sentimentos confusos que eu já nutria por ele pareciam mais intensos e claros. Os dias passaram e, mesmo com o silêncio de Caleb, eu comecei a perceber o quão difícil sua vida era. Cristiny, sua mãe, parecia sempre estar em um estado constante de irritação, descarregando sua frustração nele por qualquer motivo. Não havia carinho ou afeição em seus gestos. E, mesmo quando eu tentava oferecer apoio ou um pouco de conforto, ele erguia uma barreira intransponível. Os únicos momentos em que ele deixava essa armadura cair eram quando estava machucado, e eu me oferecia para cuidar dele. De algum jeito, esses momentos se tornaram nossos. Quatro anos se passaram assim. Meu pai, aos poucos, foi se tornando a figura masculina que Caleb parecia respeitar, mesmo que com uma distância segura. Mas então, em uma noite que começou como qualquer outra, tudo mudou. Eu estava no meu quarto, me preparando para dormir, quando ouvi os gritos vindos da sala. Espiei pela porta e vi meu pai e Cristiny discutindo acaloradamente. Caleb apareceu atrás de mim, os olhos mais cansados do que nunca. — Ayala, não é seguro você ficar aqui. Vamos — disse ele, com a voz mais suave que eu já havia ouvido. Ele me puxou pela mão até seu quarto e, pela primeira vez, se permitiu sorrir levemente. Ligou o videogame e começamos a jogar. Por alguns minutos, tudo pareceu normal, como se o caos lá embaixo não existisse. Na manhã seguinte, desci as escadas para encontrar Cristiny com malas prontas e Caleb ao seu lado, os ombros tensos. Meu pai estava tentando convencê-la de algo. — Cris, pense bem. Deixe Caleb comigo. Eu cuido dele — dizia meu pai, com um tom que soava quase como um apelo. — Álvaro, ele é meu filho! — ela respondeu, cheia de raiva, enquanto apertava os dedos nas alças da mala. Caleb se aproximou de mim, os olhos escuros fixos nos meus. Ele colocou uma mão no meu rosto e sorriu tristemente antes de sussurrar: — Você cuidou bem de mim todos esses anos, boneca. Agora é minha vez de me virar. Sem outra palavra, ele se virou e seguiu Cristiny porta afora. A imagem dele indo embora ficou marcada na minha mente, um adeus silencioso que carregava o peso de todos os momentos que nunca tivemos. E assim, ele desapareceu da minha vida, deixando para trás um vazio que só cresceria com o tempo. Foram três longos anos até que Caleb reaparecesse, trazendo consigo todos os sentimentos que eu tentara, em vão, enterrar.Ayala Green Acordei de sobressalto com o toque insistente do meu celular. Peguei o aparelho ainda sonolenta, só para perceber que se tratava de uma chamada de vídeo de Tina — minha melhor amiga e parceira inseparável desde o ensino médio. Ela odeia ser chamada por seu nome completo, Martina, e faz questão de me lembrar disso sempre que me esqueço.Assim que atendi, a imagem dela surgiu na tela, eufórica como sempre.— Ayla, pelo amor de Deus, você ainda está dormindo?! — exclamou, quase me deixando surda. — Eu já estou pronta há horas e você nem saiu da cama!Esfreguei os olhos, tentando me situar.— Tina, nossas aulas começam às 7:30. Ainda nem são 6:00. Você pode, por favor, respirar? — murmurei, a voz rouca de sono.Ela revirou os olhos, impaciente.— Como você consegue estar tão calma? É o nosso primeiro dia na faculdade! Trabalhamos tanto pra isso! — disse, agitada. — Não me diga que não está nem um pouco animada!— Estou sim, só que acabei dormindo tarde ontem. Terminei de ler
Ayala Green Acordo no meio da madrugada, assustada, com o barulho de algo quebrando. A sensação de terror que toma conta de mim é indescritível. Sinto como se o mundo ao meu redor tivesse desabado, e, por um momento, não sei se o som do vidro se estilhaçando vem da realidade ou do pesadelo que estou tendo. No sonho, Caleb está morto, jogado em uma vala escura, e o frio que me percorre a espinha agora parece real, mais real do que o pesadelo que ainda ecoa na minha mente.Levanto da cama com um pulo, tentando afastar a sensação de angústia que me domina. O barulho vindo de baixo é cada vez mais alto. Algo pesado foi jogado no chão, e a agitação das vozes abafadas me faz pensar que algo está fora de controle. Duas vozes masculinas. Uma delas reconheço de imediato: meu pai. A outra... é a de Caleb. Meu coração dispara, a preocupação começa a tomar conta de mim. Será que estão sendo assaltados? O que está acontecendo ali?Desço devagar pelas escadas, tentando fazer o mínimo de barulho
Caleb EvansContinuo na cozinha, observando cada canto familiar, nada aqui mudou muito desde que fui embora. Ainda conseguia sentir aquela sensação reconfortante de estar em casa. Minha vida sempre foi um caos, mas nos anos em que morei aqui foram como um bálsamo para mim. Por quatro anos, tive um pai e uma irmã, mesmo que a palavra "irmã" fosse mais uma ironia do que qualquer outra coisa. Ayala sempre me olhou com carinho, me cuidou e se preocupou comigo, mas eu nunca realmente a vi como uma irmã. E pela maneira como ela sempre me tratou, eu também nunca fui um irmão para ela.Encaro Álvaro entrando na cozinha, se encostando no balcão à minha frente. — Você quer ir ao escritório para que possamos conversar? — ele pergunta, com uma preocupação subjacente na voz.Neguei com a cabeça. Não ia contar a ele que minha mãe escolheu acolher um filho abusivo e quase me fez ser preso. — Na verdade, não quero atrapalhar. Só queria me desculpar por chegar daquela forma tão tarde da noite. Não tin
Ayala GreenEu e Martina estávamos a caminho do refeitório para almoçar. Como sempre, estava um formigueiro, e por sorte, achamos uma mesa que tinha poucas pessoas, algumas mesas de distância de Caleb e Jenkins. Fiquei aliviada ao vê-lo sentado ali, com Noah, parecendo estar presente nas aulas e nos treinos.— Olha, agora faz sentido todo o crush que você tem no tal de Caleb. O cara é um gato — Martina comenta enquanto tomamos nossos lugares.Nego com a cabeça, mantendo os olhos desviados na direção onde eles estavam sentados. — Eu tinha um crush, não tenho mais. Fora que ele tá diferente, cheio de tatuagens agora.— Eu acho sexy, se quer saber. Deixa ele com um ar de bad boy, sabe? — Martina comenta com um sorriso malicioso.— Você não tem juízo — resmungo, ignorando a provocação.— Falando em juízo, o que você acha que aconteceu para ele chegar daquele jeito? — Martina pergunta, passando a mão distraidamente pelo cabelo.Dou de ombros, soltando um suspiro, enquanto olho rapidamente