Capítulo 0002

ÁGAPE WALKER

Conforme os anos foram se passando, eu consegui ter vários empregos diferentes, fossem eles de garçonete, faxineira, apenas a pessoa que lavava pratos em um restaurante que estava precisando de pessoal, — não importava, contanto que eu conseguisse ter um lugar para ficar, e dinheiro o suficiente para comer.

Claro, a tecnologia também foi avançando junto com o tempo, então ao invés de ficar indo de casa em casa, agora eu podia simplesmente me cadastrar em algum aplicativo no meu celular, e era exatamente assim que eu conseguia o meu sustento atualmente — tanto que no último anúncio que eu coloquei o meu currículo, consegui ser aceita em uma empresa de serviços domésticos.

O trabalho era bem simples – também sem estresse – já que a casa estava sempre vazia, sem ninguém para me encher o saco, e muito menos, olhando a minha bunda quando eu me abaixava para pegar algo.

Eu entrava, tinha 2 horas para limpar tudo e sair sem ser notada.

Ousaria dizer que desde que a minha mãe morreu, esse havia sido um dos momentos mais tranquilos que eu tive, e quando a dona da empresa que eu trabalhava me chamou pessoalmente em seu escritório, eu conseguia sentir que algo iria mudar – e eu esperava que fosse para melhor.

Sendo assim, eu entrei por aquela porta gigantesca, e vi uma mulher loira me encarando, junto de um sorriso largo em seu rosto.

— Senhorita Ágape Walker? — Ela questionou, me fazendo apenas assentir com a cabeça, — perfeito! Sente-se querida.

Aquela mulher definitivamente parecia empolgada por algum motivo, e quando cheguei até a cadeira para me sentar, ela colocou alguns papéis diante de mim.

— O que é tudo isso...? — Não evitei de perguntar, apenas para aqueles grandes olhos azuis (que no momento eram intimidadores), me olharem rapidamente.

— É a papelada do novo trabalho que eu quero te mandar, mas calma, já irei te explicar tudo. — Ela se sentou ao dizer, tomando um gole de café da xícara que estava logo ao lado, — bom, senhorita Walker, creio que já tenha notado que atualmente, você tem a maior avaliação no nosso site, certo?

— Não, eu... não costumo checar as avaliações. — Falei um pouco envergonhada, desviando o olhar, — eu apenas vou aceitando os trabalhos que me mandam.

— Oh? Entendo. — Ela se mostrou um tanto surpresa, — bem, de qualquer modo... — a mulher limpou a garganta, — senhorita Walker, de qualquer modo, você é atualmente a nossa melhor funcionária no quesito de avaliações e comentário, o que me levou a querer te fazer uma proposta.

— E que proposta seria? — Perguntei, enquanto sentia a ansiedade me preencher naquele instante, porque de duas, uma. Ou eu finalmente conseguiria ter mais, como eu tinha sonhado todos esses anos, ou as coisas poderiam desandar novamente.

— Eu tenho uma amiga, a senhora Beaufort, e ela precisava de alguém para fazer os serviços domésticos na mansão dela, entende? — Ela começou a me explicar, entrelaçando as duas mãos, — e como uma das mulheres que trabalhava para ela se aposentou, ela me pediu a minha melhor funcionária, para preencher a vaga.

Pisquei.

Eu iria trabalhar em uma mansão que nem... a minha mãe? Depois de todo esse tempo?

— Ah, e não se preocupe, os Beaufort dão ótimos benefícios de trabalho, moradia, e claro... um ótimo salário, — ela continuou, — então... não precisa se preocupar quanto a isso. Seria obviamente diferente do que costuma fazer, já que teria que interagir com os seus chefes, mas em compensação, receberia o triplo do que recebe em um mês corriqueiro. A senhora Beaufort paga o dobro das horas extras em dias onde os funcionários precisam permanecer no trabalho para servir em algum jantar de família, e eu sei que mesmo sendo jovem, a senhorita certamente se daria bem nesse trabalho.

Engoli em seco.

Realmente não era algo que eu pudesse simplesmente dizer não.

Eu sempre estive esperando por uma chance de melhorar a minha condição, de juntar dinheiro o suficiente para dar a minha mãe um lugar eterno para descansar e claro, — para ter uma vida confortável, sem o medo de ser demitida e escorraçada como fui na minha infância.

— Certo… mas ainda que eu seja a sua funcionária com melhor avaliação, tenho certeza que existem muitas outras que possuem mais experiencia e mais tempo de trabalho aqui. Entre elas, nenhuma outra seria mais capacitada? — Questionei, porque as vezes, era bom saber o que realmente havia por trás das propostas que pareciam boas demais; e ela suspirou.

— Sim, existem, mas a minha amiga não quer outra funcionária que em breve irá se despedir, sem falar que a outra garota na qual pensei em enviar, é uma porto riquenha que não gostou da ideia de se afastar da família para servir na casa Beaufort. Você é a melhor entre todas que trabalham aqui atualmente e também, é jovem e solteira. — Explicou, — sei que é repentino… mas você é perfeita para esse trabalho, por isso, pensei em te mandar.

Encarei as folhas a minha frente e assenti.

Aquela era uma chance do universo, — era quase um presente, — e eu seria uma idiota se acabasse por recusar.

— Eu aceito.

As palavras saíram pela minha boca e o sorriso surgiu outra vez no rosto da mulher a minha frente.

— Perfeito! Então assine aqui! Amanhã eu vou te levar para a mansão Beaufort e irei te apresentar para Anna! Ela vai adorar você! — Falava como se já não pudesse conter a sua felicidade, e eu havia crescido o suficiente para entender que quando as pessoas ficavam felizes desse jeito, jamais se referiam a bondade no coração delas. Não era a felicidade por “você” estar bem, era a felicidade de ter ganho algo em troca da ajuda que te deu.

— Obrigada, — falei mesmo assim, dando a ela um sorriso, porque já não me importava com o que ela iria ganhar, desde que agora, eu pudesse ter segurança e um pouco de paz.

Eu teria um lugar para morar sem a necessidade de pagar um aluguel. Teria comida e um bom plano de saúde, — então o dinheiro que receberia, seria bem utilizado no futuro; e isso era tudo que poderia ser relevante para mim.

O meu futuro.
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