NATHANIEL BEAUFORT
— Você vai gostar dela, tem que ao menos dar uma chance! Ela é doce e-…
— Não!
— Nathaniel! Você nem mesmo deixou a gente te apresentar para el-…
— Não! Droga! Não! — Levantei da mesa antes que ela pudesse continuar, — eu to tentando ser respeitado pelo menos uma vez nessa casa! Eu não quero uma noiva, mãe!
— Filho! Você já passou da idade de-…
— Eu tenho 28 anos! Até onde eu sei o meu pai se casou com 30!
— Nathaniel! — A voz do grande Alexander Beaufort se tornou presente na droga da sala e eu vi seu olhar sério e pesado sobre mim, — pare de agir como uma criança. Você mesmo acabou de dizer, já tem 28 anos.
— Não pode estar falando sério, ta do lado dela nessa merda?
— A família Walsh está indo bem na área da exportação de comida e um ofereceram um ótimo acordo para as empresas Beaufort. — Ele disse limpando a boca com a ponta do guardanapo, sem ao menos se dar ao trabalho de fingir que não tava me jogando na filha dos Walsh pra poder lucrar.
— Então eu virei uma puta de luxo e não to sabendo?
— Nathaniel! Não fale assim com o seu pai!
— Uma puta de luxo teria cobrado por todas as camas que você já rodou na França nos últimos anos, — Alexander falou me encarando com frieza, — não se faça de sentimental. Eu não me importo com a sua vida pessoal e não liguei que continuou a fazer birra sobre o casamento quando sua mãe gritava e esperneava sobre netos, mas você sequer tem uma namorada aos 28 anos, nem mesmo um caso que possa ser considerado corriqueiro. Anna tem razão sobre você precisar se casar e se esse casamento não faz diferença pra você desde que tenha uma buceta, eu prefiro que se case com alguém que vai trazer benefícios a família.
Engoli em seco, cheio de raiva.
— E foda o resto?
— Pelo amor de Deus! Como podem falar desse jeito a mesa?! — Minha mãe gritou, com a mão sobre o rosto como se não tivesse coragem de erguer o rosto.
— Exatamente, — Alexander disse me encarando, — agora se sente e termine seu jantar; e se não gostar da garota, posso tentar negociar com os Walsh, apenas dê a ela a entender que tem chances.
— Alexander!
Minha mãe grunhiu e eu bufei.
Ele sequer fazia questão de esconder suas intenções, mas desde que isso me beneficiasse, eu não veria problemas.
— Vai manter sua palavra?
— Eu nunca volto atrás em uma decisão, — murmurou, e eu tive que aceitar que teria a droga de um jantar com uma mimadinha qualquer em troca da minha sonhada Liberdade.
— Nathaniel! Você não pode dispensá-la apenas por querer! Mesmo que seu pai tenha dito isso, eu não vou deixar que engane a garota e depois a dispense! — Minha mãe disse me encarando com aquela expressão, séria e eu sorri.
— Eu não farei isso, prometo, mas a senhora pode ao menos tentar me permitir esperar um pouco mais se essa não me agradar?
Ela franziu os lábios a contragosto e pigarreando antes de responder, assentiu.
— Por um tempo… apenas. Mas por favor… ao menos tente! Nathaniel… eu quero netos…
Tive que me conter para não revirar os olhos para aquele assunto e com o tom mais compreensivo e doce dentro de mim, concordei.
— Eu vou tentar, mãe.
ÁGAPE WALKER
Assim que Nathaniel Beaufort entrou dentro da mansão, eu escutei vários murmúrios animados, olhos brilhando, junto de pratos quase sendo derrubados, e espanadores limpando o vento ao invés das prateleiras.
— Meu Deus! Ele é mais lindo do que eu esperava! — Escutei uma dizer, olhando por umas das frestas da porta, — olha esse homem, que pecado…
— Pecado? Minha filha, ele é o inferno inteiro… — uma outra disse, se abanando, o que me fez segurar o riso, e apenas me focar em fazer as minhas tarefas, porque por mais que a curiosidade estivesse me matando, eu não podia deixar o meu posto.
Afinal, a senhora Beaufort havia me pedido pessoalmente para ficar na cozinha e na área exterior, então eu obviamente, não podia ir contra isso — ainda mais, depois de ver ela falando no telefone sobre trazer uma moça de boa família, para conhecer o seu filho mais cedo.
Então, eu tentei ignorar todos os comentários que eu escutava durante o dia, me focava em tirar toda a gordura que os cozinheiros deixavam espirrar nas paredes e no fogão, além de não deixar um prato sequer, a salvo de mim dentro daquela pia gigantesca.
Claro, a área exterior ainda era mais demorada, mas eu já estava acostumada com o trabalho pesado de qualquer forma, o que me fez apenas arregaçar as minhas mangas, para catar as folhas, limpar as mesas de hora do chá, até eu perceber que o dia estava passando mais rápido do que o esperado.
— Parece que nunca acaba… — me vi soltar, sentindo os meus lábios secos pela falta de água, — céus… é muito trabalho para pouco eu…
Respirei fundo por conta do cansaço, mas ao mesmo tempo, ter um emprego queria dizer que eu tinha dinheiro para me manter viva, sendo assim… eu deveria parar de reclamar, e apenas tirar uma leve pausa para tomar uma breve água.
Ou pelo menos, eu esperava que fosse breve, mas quando eu senti o gelado do ar-condicionado tocar a minha pele, junto daquela água trincando, eu senti o meu corpo quase ceder na bancada, me fazendo ficar mais um pouco ali, até me convencer de que eu deveria voltar até lá.
Claro, por estar na cozinha, eu voltei a ouvir os burburinhos pelo lugar, tanto que por conta disso, eu descobri por conta de uma das vozes, que Nathaniel Beaufort possuía: “cabelos que pareciam ter sido feitos com raios de sol, e olhos que tinham um azul tão profundo, quando das safiras da madame Beaufort.”
Céus.
Faziam aquele homem parecer um deus grego.
Eu admito, fiquei tentada em olhar pela fresta da porta, ou até mesmo, de chegar até algum lugar próximo, apenas para ver se a minha curiosidade parava de me matar, mas a voz da minha consicencia, ainda assim… conseguia falar mais alto — de alguma forma.
— Foque no seu trabalho, Ágape! Foque no seu trabalho! — Falei enquanto tentava voltar para a área exterior, e depois de mais um tempo correndo de um lado para o outro para arrumar tudo, eu consegui, mesmo nem sabendo como, exatamente.
O problema surgiu na noite seguinte, quando um jantar foi dado para a jovem Lady que havia sido escolhida a dedo pela madame Beaufort.
Uma jovem linda que desceu de um carro preto como se fosse uma princesa. Eu tinha ajudado na cozinha e sabia que aquele jantar estava impecável, mas grande parte dos empregados foram dispensados depois disso, e eu fui para o meu quarto assim que todos estavam sentados para jantar.
Então, quando alguém bateu à minha porta às 23:41 da noite, eu me levantei sem entender o que estava acontecendo.
— Ágape? Eu preciso que vá para o segundo andar e arrume o quarto do jovem mestre, — Berta disse parecendo irritada e eu pisquei sem entender.
— Como é? Mas a Lady Anna…
— Lady Anna pediu que fosse limpo rápido e você é a mais rápida de todas as empregadas que temos. Corra. Ela disse que você limpava um apartamento inteiro em 2 horas, consegue limpar um quarto em 15 minutos se for assim.
Engoli em seco, porque quando se tratava de Berta, não existia a opção de recusa. Ela era a empregada mais antiga da mansão e também a responsável por todas nós. Se ela mandava, você obedecia.
— Certo… — murmurei, — vou me trocar e subo.
— Se trocar? Ande logo, garota! Não temos tempo pra isso! E não deixe ninguém te ver entrando ou saindo de lá! Use as escadas do corredor leste.
Assenti, e prendendo meu cabelo, me apressei para pegar tudo que precisava e subir. Eu nunca tinha entrado no quarto de Nathaniel Beaufort, mas eu sabia que o quarto dele era na segunda porta à esquerda do corredor vermelho e estaria mentindo se dissesse que não estava curiosa a respeito de como o lugar era, ou… de como o dono do quarto, parecia.