ÁGAPE WALKER
Apenas vi aqueles cabelos loiros espalhados pelo travesseiro, os cílios longos e o rosto que mais parecia ter sido esculpido pelos deuses. Tudo naquele homem era difícil de ser ignorado.
"Não... chega... já fiz coisas que não deveria demais por essa noite." Disse a mim mesma e me impedi de continuar olhando para aquele corpo bronzeado.
O braço dele ainda pesava sobre minha cintura, mas eu sabia que não podia continuar ali, então, com cuidado, me livrei de seu toque como ele se livrou da minha camisola de algodão e desci da cama de forma lenta e silenciosa. O meu coração ainda estava disparado, e se eu não soubesse que alguém poderia entrar naquele quarto... eu sabia que não teria coragem de levantar naquele exato momento. Não. Eu continuaria deitada na cama, por conta da exaustão que me consumia, e pelas minhas pernas que mal conseguiam se manter firmes, mas de qualquer forma, isso não era um conto de fadas e ceder aos encantos da minha patroa, definitivamente não era a melhor forma de agradecer a ela pela forma gentil como tinha cuidado de mim.
Então, depois de me vestir e ir até o meu quarto no fundos, — usando aquela escada no corredor leste, — eu deixei o meu corpo afundar no colchão, pensando que... eu tinha definitivamente passado dos limites, ainda mais, porque toda aquela situação, não se desprendia da minha cabeça, muito menos do meu corpo que ainda parecia reagir, ainda parecia… excitado.
Eu ainda podia sentir o toque quente das suas mãos passando pela minha pele, a sensação dos seus lábios no meu pescoço, e quando pensei nele dentro de mim de novo... uma onda elétrica percorreu o meu corpo.
"Não, não, não! Você perdeu a cabeça depois de foder, Ágape?" Me repreendi, porque eu sabia qual era o meu lugar, também tinha conhecimento de que aquilo, nunca mais voltaria a acontecer, e que nada aconteceria entre Ágape Walker e Nathaniel Beaufort – afinal, eu era só uma empregada e histórias como as nossas, não podiam se entrelaçar.
— Eu deveria dormir... — me aconcheguei, trazendo a coberta para cima do meu corpo, que ainda se encontrava dolorido, mas ao mesmo tempo... molhado, — um carneirinho, dois carneirinho, três carneirinho... — comecei a contar, para ver se a minha mente se rendia ao sono.
Um minuto.
Dois minutos.
Três minutos.
Vinte minutos.
Cinquenta minutos.
Uma hora...
Nada.
Nem mesmo o pesar em meus olhos. Eu estava desperta. Corada. Ainda quase ofegante.
Aquele despertador na mesa de cabeceira continuava mostrando números mudando, como um carrasco que me julga pelas horas de sono perdida, e claro, — o tempo que eu estava gastando acordada, desperdiçando o descanso que me ajudaria tanto no trabalho do dia seguinte.
— Eu não posso fazer isso, tenho muito trabalho amanhã... — quis me amaldiçoar por isso, mas Nathaniel não era o tipo de coisa que se esquecia apenas porque queria.
Encarei a urna da minha mãe que sempre deixava a mostra naquele pequeno quarto, e senti o meu rosto queimar.
— Mamãe… eu juro, não fiz por mal, — me expliquei, — eu só…
“Só queria algo bom”
“Só não consegui resistir”.
Suspirei.
A quem eu estava querendo enganar?
Nathaniel Beaufort era exatamente o que todas as empregadas tinham dito que ele era: um homem lindo, atraente e que definitivamente levaria qualquer mulher a loucura, mas assim como o seu (que tinha boatos sobre traição por todos os lados, ao ponto de até mesmo um filho bastardo com uma empregada surgir), ele não faria nada além de dormir uma noite com cada empregada jovem e bonita daquela casa.
— Ao menos… eu escolhi, — resmunguei, encarando o chão, — escolhi com quem foi a minha primeira vez.
Eu sabia que estava dizendo aquilo muito mais para mim do que para a minha mãe, mas ainda sentia algo quente dentro de mim, — ainda sentia o vazio que foi preenchido quando ele jorrou e me beijou.
Seus lábios eram quentes e aquele calor… o calor que eu senti nos braços dele, — era algo que eu podia não sentir outra vez na minha vida.
Encarei a urna da minha mãe outra vez e mesmo que a culpa por ter dormido com o filho da Lady Anna estivesse surgindo, eu não sabia como poderia evitar.
"Merda! Como eu pude fazer isso com ela??" Acabei me questionando ao me lembrar do que ela me falou, e caralho... eu era uma idiota! Uma que era completamente ingrata, e acabou de fazer algo terrível com uma das poucas patroas que foi realmente boa comigo...
Mas um caso como esse, não tinha motivos para ir aos ouvidos da minha patroa. Não.
Eu era uma empregada nova e pude sentir o cheiro de vinho vindo da Nathaniel ao me beijar. Ele nem mesmo lembraria do meu rosto no dia seguinte, — e embora ele tivesse sido o primeiro homem que eu tive, eu sabia que era de longe a mais próxima a ser a primeira mulher a estar em sua cama.
— Eu vou ficar bem, — falei me forçando a sorrir para minha mãe, — foi uma noite boa… nada mais. Amanhã, tudo vai voltar ao devido lugar, — conclui e me virei para me aconchegar a cama e adormecer, mas ouvi o barulho de algo tilintar no chão. Me virei outra vez e olhei para baixo, apenas para encarar a m*****a correntinha que ele havia me entregado.
Eu a tinha guardado em meu bolso e sequer me lembrei de devolver, — mas agora, a vendo de perto, me senti sentimental com a ideia de me separar.
“Eu preciso devolver…” disse a mim mesma enquanto tocava o pequeno pingente com a letra B esculpida em uma caligrafia bonita. “Seria ruim se achassem que eu roubei.”
Mas a essa hora, era difícil subir até lá e largar a corrente, — então, a apertei contra meu peito e suspirei antes de voltar a me deitar com aquela coisinha dourada e delicada, embaixo do meu travesseiro.
— Apenas por hoje… — sussurrei para mim mesma, e com um sorriso nos lábios, me deixei adormecer ainda que já fosse tarde e o sol estivesse prestes a surgir, — por hoje, eu vou me permitir sonhar.