Capítulo 0003

ÁGAPE WALKER

Dizer que a casa Beaufort era grande, seria uma grande injúria com a dimensão daquele lugar, — mas foi Anna Beaufort quem me surpreendeu. Uma mulher elegante e gentil, com traços delicados como os de uma boneca.

Ela estava esperando por mim na porta de entrada, e enquanto conversava com a minha antiga chefe, eu senti os seus olhos em mim.

— Você é tão bonita! — Ela disse com um sorriso, estendendo a mão para mim, — é um prazer ter você conosco, meu amor.

Eu pisquei, quase aturdida, porque de todas as madames para quem tinha trabalhado antes, essa parecia definitivamente diferente.

Anna me explicou cada coisa sobre o funcionamento da mansão, e depois de me guiar até o meu novo quarto, ela disse que faria de mim a sua empregada pessoal.

— Você é nova e Hannah me garantiu que era competente! Então ficará responsável por limpar minhas roupas e organizar o meu closet. Também ficará responsável pela limpeza do meu quarto e da minha sala particular, — explicou enquanto andava pela mansão, — a Abigail saiu aos 65 anos e Deus… como eu vou sentir falta daquela mulher!

Sorri.

— Eu imagino, senhora Beaufort.

— Pode me chamar de Lady Anna, querida. Todos me chamam assim.

— Claro, Lady Anna, — me corrigi, — mas… se irei cuidar apenas da senhora…

— Não, não é bem isso, — ela me interrompeu antes que eu pudesse continuar, — o seu trabalho será esse no momento, porque sem Abigail tudo está uma bagunça, mas em breve, irei te realocar para outras áreas. Enquanto você não se acostuma com a mansão, sinto que seria cruel te por para trabalhar como todas as outras.

Pisquei, surpresa pela “preocupação”, já que isso certamente não era algo com o que ela deveria se preocupar. Mas Anna Beaufort continuou a me surpreender.

Elogios, um certo carinho a cada palavra. Ela era uma mulher linda, mas certamente também era solitária. Ela se cercava de pessoas com grande facilidade e em grande parte do tempo, estava tentando se manter dentro daquela sociedade a qual pertencia, — mas enquanto se trocava ou me pedia para cuidar de algo em específico, ela era alguém carismática e dócil, ao ponto de me fazer lembrar… da minha mãe.

Então, os dias foram se passando nessa paz e calmaria, e diferente do que prometeu, Anna não me mudou de lugar mesmo após cinco meses de trabalho; mas a paz nunca durava muito na minha vida, e quando acordei para trabalhar naquela manhã do fim de outono de 2019, achando que seria mais um dia normal onde eu apenas seguiria a minha rotina, — eu vi a mansão ficar completamente de cabeça para baixo, enquanto a senhora Beaufort tinha uma ligação atrás da outra em seu celular.

— Querido, eu já te disse! Nathaniel chegará essa semana, tudo tem que estar pronto! — Ela dizia com clara indignação, porque aparentemente, o marido não estava a levando a sério, — meu amor, eu quero netos! E como eu vou conseguir isso se o nosso filho só fica por aí, trepando com a primeira biscate que ele acha atraente?

Não evitei de rir levemente com a sinceridade dela, — já que de tudo que a senhora Beaufort falava, 90% era sobre o seu amado filho; então enquanto eu ia começar as minhas atividades, não pude deixar de imaginar como Nathaniel Beaufort, seria — já que no fim, não havia foto nenhuma dele, nos lugares aos quais eu tinha acesso.

"A senhora Beaufort é bonita, então... não tem como ele não ser também, não é?" Me vi pensar, porque até agora, eu também não havia visto o senhor Beaufort, já que ele vivia ocupado, e aparentemente, apenas chegava bem de tarde a noite. Porém, algo me dizia que ele tinha puxado mais a mãe de qualquer forma.

— Você ouviu? O jovem mestre vai voltar para a mansão! — Escutei uma das minhas colegas dizer, animada enquanto preparava a bandeja de café da manhã de Anna.

— Sim! E as funcionárias que trabalham aqui por mais tempo, disseram que ele era lindo de morrer! — Uma outra disse, parecendo prestes a desmaiar.

Eu não entendia muito bem o porquê de tanta empolgação — principalmente, por conta de Nathaniel Beaufort, parecer intocável, ainda mais perto de sua mãe que parecia querer uma esposa digna para ele —, mas... eu também não iria negar que estava curiosa. De qualquer forma, eu logo joguei esses pensamentos para longe, porque precisava focar no “escritório” de Anna, que depois da reunião da noite passada (com o suposto clube do livro, que nada mais era que uma reunião de senhoras ricas para beber e fofocar), estava uma zona, com garrafas, taças e petiscos inacabados. Às vezes eu me perguntava se elas sequer se davam ao trabalho de abrir aqueles livros que diziam “ler”.

— Oh, Ágape, minha querida! — A senhora Beaufort chegou até mim, parecendo sem fôlego, — eu fiquei te procurando por toda a parte, céus...

— O que houve, Lady Anna? — Perguntei, levemente preocupada.

— Eu preciso que você mude os seus locais de trabalho quando o meu filho chegar, — ela começou, — preciso que fique na cozinha e na área externa, para não ter o risco de Nathaniel se irritar com algo fora do lugar. Meu filho é completamente obcecado por controle, então tem o costume de reclamar quando algo não está exatamente como ele quer. Deixarei apenas as empregadas antigas cuidando da mansão por enquanto, está bem?

— Eu entendo, — foi o que eu me limitei a dizer, já que eu tinha escutado depois de um tempo, que toda vez que o filho da senhora Beaufort visitava a mansão, todas as empregadas jovens (e consideravelmente bonitas), eram tiradas de circulação. — Então a partir dessa semana eu terei que ficar nesses lugares, certo?

— Isso mesmo, espero que não se incomode com isso, sei que a limpeza da cozinha deve ser um pouco mais complicada... e está acostumada a sempre estar comigo… — Anna Beaufort parecia aflita ao dizer, o que me fez apenas sorrir.

— Está tudo bem, sei que está fazendo isso para evitar que algo ruim aconteça. — Tentei a confortar com isso, o que fez o brilho dela voltar de certo modo.

— Oh, Ágape... o que eu fiz de tão bom para te merecer? — Ela soltou enquanto colocava as mãos nos meus ombros, — obrigada por entender.
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