Jude seguia uma rotina extremamente preciosa todas as manhãs. Levantava às seis, saía para correr no parque, afinal, ser um dos caras mais desejados da escola era trabalhoso – ele não poderia nunca relaxar –, retornava às sete e meia, tomava um demorado banho de banheira, saboreava o delicioso café da manhã preparado por seu cunhado e seguia para a Devon em seu mais novo Jeep, presente de aniversário da irmã mais velha.
Jude vivia o sonho de qualquer adolescente: era o cara mais popular da escola, rei do Homecoming e estava certo de que iria ganhar a coroa do baile de formatura, que acontecia no fim de março. Já estava preparando seu mini discurso de vencedor, lembrando-se de falar a Joel Hanson sobre o que ele precisaria para a reunião da comissão do baile naquela tarde, imaginando-se mais uma vez sendo aplaudido por todos na escola, quando todos os seus pesadelos do fundamental pareceram ser revirados no baú da sua mente após ele olhar, na entrada da escola, o motivo de todo o seu sofrimento, uma época já esquecida.
Mason Harris havia sido liberado do reformatório.
Mason Harris estava de volta para todo o desespero de Jude Wallace.
Jude e seu pior pesadeloAs coisas pra mim nunca foram fáceis. Branville me torturou o quanto pôde, da forma mais cruel possível, no entanto, o pior de tudo era que o sofrimento parecia nunca ter fim; cada dia que passava, eu torcia ainda mais pra que um carro qualquer passasse por cima de mim e acabasse com toda aquela palhaçada que era a minha vida de uma única vez.Meu nome é Jude Wallace e eu estava de saco cheio da minha vida sofrida, de todos a minha volta me tratando como um gigantesco saco de pancadas; e ainda lutava contra a mídia, que me tratava como um mero coitado após meu pai surtar e matar a minha mãe, no meu sétimo ano do fundamental.A única coisa que me matinha corajoso pra levantar todos os dias de manhã era Mason Harris. Mason era do meu ano na escola, dividia algumas turmas comigo e parecia umidolcoreano escondido com aquele
Meu pai tinha um pequeno restaurante chamado Ostras Estelares. Não vendíamos ostras, nem qualquer outro tipo de frutos-do-mar; meu pai vendia mesmo os hambúrgueres mais gostosos de todo o mundo. Ele visitou o Brasil quando criança e se deparou com o hambúrguer mais lindo de delicioso de todos os tempos, em uma cruzadinha numa cidadezinha quase esquecida, no interior do Mato Grosso. Ele então decidiu vender hambúrgueres do tamanho de livros de matemática de faculdade, tão saborosos que até mesmo dava vontade de repetir– apesar de ser impossível comer mais de um. A última vez que comi um de seus hambúrgueres fora no último ano do ginásio, na noite em que ele desapareceu.Eu nunca fui melancólico, solitário ou aqueles garotos estranhos e bizarros que sentem medo até mesmo de conversar com as pessoas. Na verdade, eu sempre fui muito falador, as
Por mais que eu fosse popular, Branville era uma cidade pequena, então eu ainda viveria rodeado pelas mesmas pessoas que me maltrataram durante anos; conviver com elas inicialmente não fora um problema, porque eu geralmente andava com a galera popular de verdade. O pessoal do quarto ano, o mesmo que me acolheu quando resolvi voltar para a escola no meu segundo ano, me mostrou como eu poderia sobreviver ao ensino médio e ainda mandar e desmandar em tudo, por mais que eu não fosse um jogador ou líder de torcida. Evelyn Myers era do clube de teatro e me apresentou a galera e todo ao mundo da atuação. Eu ainda mantinha meus problemas de fala, gaguejava com alguma frequência e ainda me desequilibrava algumas vezes. No teatro, entretanto, eu não gaguejava ou mancava, e quando estava apresentado as peças, ela uma libertação de outro mundo. Foi nos palcos que minha popularidade fincou, então e
Fazia algumas horas que Mason retornara à escola, mas eu ainda não dera de cara com ele. Megan se ofereceu para conversar com Mason, mas eu não poderia simplesmente me esconder atrás dos meus amigos o resto do ensino médio, só porque um cara do passado tinha retornado. Meu melhor amigo também perguntou se eu mesmo não queria resolver isso conversando de vez com Mason, já que nunca tivemos oportunidade de conversar apropriadamente. Entretanto, eu era Jude Wallace. Eu jamais iria me rebaixar indo até ele colocar as cartas na mesa, não era meu estilo.Para a minha sorte e conforto da mente, Mason não fora visto em nenhum lugar da cantina no horário do almoço, mas ouvi boatos de que ele havia assistido algumas aulas de manhã; graças ao bom Deus nenhuma delas era comigo, mas ainda existia o resto do dia e mais outros quatro dias da semana.A aula de química
Quando meu avô foi atrás de mim, pedindo para eu voltar, entrei em pânico. Não estava nos meus planos sentir compaixão de um velho escroto como ele, mas meu coração amoleceu em algum momento na minha estadia em Water Falls. Eu passei praticamente três anos indo a reuniões em grupo, horários semanais com o psicólogo – às vezes psiquiatra –, aulas e treinos de basquete. Aulas extras de sociologia e filosofia, com foco em ética e moral.Não que eu nunca tivesse me interessado por isso, no fim das contas, eu também fui um nerd antes de Simmons me rejeitar publicamente. Mas pior do que praticamente ser obrigado a estudar tudo o que eu já havia aprendido, era que tudo, absolutamente tudo me fazia pensar em Jude Wallace.Por que eu só pensava nele?Houve certa noite em que eu chorei. Chorei igual um bebê recém-nascido, ig
Heath estacionou na área dos veteranos e seguimos para a entrada da escola; poderíamos ter entrado pela área dos veteranos, mas eu estava interessado em achar uma certa pessoa, então ele acabou acatando meu pedido, apesar de ele querer entrar logo para falar com a diretora.Meu desejo era que nenhum deles me reconhecesse, mas era um pedido ingênuo demais; assim que demos a volta no estacionamento e formos para a entrada principal, eu reconheci todos os rostos possíveis da época do ginásio. Vi a galera com quem eu costumava andar antes de ser popular – sabendo que meus bons companheiros de RGP, Evan e Garret estavam bem longe dali; reconheci Boston Harris enchendo o saco de um garotinho, provavelmente do segundo ou primeiro ano. Ele não mudava nunca, mesmo já sendo um aluno do quarto ano.— Tá nervoso, gatinho manhoso? — Provocou Heath— Por que eu estaria nervoso?
— O que tá olhando agora? — Heath perguntou ao me ver encarando outro cartaz na parede do corredor. As aulas do período da tarde haviam acabado de terminar, o que iniciava os horários dos treinos, testes e clubes. — É outra imagem do seu crush?— Eu vou... — Eu levantei a mão, fingindo que iria bater nele, mas ele apenas sorriu de mim. Ele estava adorando toda aquela situação em que meu desespero pra me desculpar era maior que minha concentração no futuro. — Eu falo sério, pára com isso. É um cartaz sobre os testes de basquete. Não quer fazer? Você joga bem.— Eu passo. Vou fazer inscrição no clube de culinária. Podemos levar as sobremesas pra casa. Boa sorte no teste — Heath deu dois tapinhas em meu ombro antes de continuar seu caminho.Heath fazia os treinos de basquete comigo em Wa
Quando Vaught estacionou na porta da minha casa, era possível escutar a voz da minha irmã gritando com Josh, meu cunhado. Eu até poderia imaginar alguma coisa, e já sentia pena do meu pobre cunhado que havia se casado com uma pessoa tão amarga quanto a minha irmã. Sinceramente, eu pensava e os olhava às vezes, indagando em que momento de sua vida eles decidiram que casamento era a melhor opção, mas eu me perguntava mesmo o que exatamente encantara Joshua Timberg por aquilo ali, que supostamente deveria ser uma irmã carinhosa, – no mínimo, educada – mas era um poço de ignorância, um poço cheio de suco de limão azedo.— Quer ir pra minha casa? Estamos a duas quadras de distância mesmo — convidou Vaught, mas eu precisava ir pra casa, precisava conversar com Josh um certo assunto, e de preferência longe da minha irmã amorosa, porque, c