NiccolòCom as preparações em andamento, eu precisava de um momento de paz. A pressão pesava sobre meus ombros, e, por um instante, eu só queria afastar os pensamentos que giravam na minha cabeça como tempestades. Quando olhei para Martina, ela estava focada, determinada a contribuir. Isso me deixava orgulhoso, mas também preocupado. A vida dela estava em risco, e eu não podia permitir que ela fosse ferida.— Precisamos de um refúgio — disse eu, decidindo que era hora de encontrar um lugar onde pudéssemos nos concentrar um no outro, longe da pressão e do caos. — Um lugar seguro, onde possamos nos conhecer melhor.Ela olhou para mim, um sorriso se formando em seus lábios.— O que você tem em mente?— Conheço um lugar afastado, um antigo chalé da família. É isolado e não muito longe daqui. Lá poderemos relaxar e planejar o que vem a seguir sem distrações.Martina concordou rapidamente, e em pouco tempo, estávamos a caminho do chalé. O carro percorreu estradas sinuosas, cercadas por árvo
MartinaEu me lembro do dia em que tudo começou a desmoronar. Não porque fosse um evento chocante ou extraordinário, mas pela frieza com que o destino selou o meu futuro.- Você vai se casar com ele - meu pai declarou, sua voz autoritária perfurando o silêncio da sala. Aquelas palavras carregavam um peso que esmagava o ar ao meu redor, deixando-me incapaz de respirar. Eu sabia que algo estava errado naquela manhã, mas jamais teria imaginado isso.- Com... quem? - A pergunta escapou dos meus lábios antes que eu pudesse me conter, embora a resposta já estivesse estampada no rosto impassível dele.Ele não precisou dizer o nome. O sobrenome Ruggeri circulava no nosso mundo como um veneno letal. Niccolò Ruggeri, o temido don da máfia italiana, o homem que controlava metade das operações no sul da Itália. Aquele que nunca perdoava. Aquele que ninguém ousava contrariar.Senti meu coração acelerar, minhas mãos suando de leve enquanto tentava assimilar a informação. Eu não posso me casar com e
NiccolòEu a observei do outro lado da mesa enquanto ela mantinha aquela postura desafiadora, quase como uma armadura. A maioria das pessoas tremia ao me encarar, ao saber que estavam diante do don da máfia. Mas não Martina. Ela era diferente. Havia algo nos olhos dela, uma chama que eu não via em mais ninguém. Mesmo que estivesse tentando disfarçar, eu podia sentir o desconforto em cada movimento que ela fazia. Seu corpo estava tenso, e ela mordia levemente o lábio inferior, talvez sem perceber. Era algo que me deixava curioso.Eu tinha visto muitas mulheres como ela antes - filhas de capos, criadas em um mundo de poder e violência, acostumadas a viver como prisioneiras de suas próprias famílias, sempre com um sorriso falso e uma obediência forçada. Mas Martina... Ela não era como as outras. Ela resistia. E essa resistência me fascinava.- Então, - comecei, apoiando o cotovelo na mesa e inclinando-me levemente para frente. - Você vai continuar fingindo que não está desconfortável, ou
MartinaEu nunca me imaginei na posição em que estava. Sentada ali, naquela vinícola afastada, com Niccolò Ruggeri à minha frente, falando de alianças e poder como se fosse a coisa mais natural do mundo. Ele parecia tão certo de que eu, eventualmente, cederia. Que eu enxergaria as vantagens de estar ao lado dele. E o mais irritante de tudo era que, em um canto obscuro da minha mente, havia uma parte de mim que começava a entender o que ele dizia.Mas eu ainda não estava pronta para admitir isso. Não para ele. E definitivamente não para mim mesma.- E o que te faz pensar que eu vou querer esse tipo de poder, Niccolò? - minha voz soou firme, mas o desconforto que eu sentia era inegável. - Eu não sou como você. Nunca quis esse mundo.Ele me encarou por alguns segundos, os olhos penetrantes, como se estivesse tentando ver além das minhas palavras. Isso me deixava inquieta. A intensidade com que ele me olhava sempre me fazia sentir que ele sabia de algo que eu não sabia. Como se, de alguma
NiccolòA noite estava carregada de tensão quando saímos da vinícola. O que começou como uma tentativa de fazer Martina enxergar o futuro que poderia ter ao meu lado se transformou em uma virada brusca nos eventos que eu não podia ignorar. Não agora. Eu ainda sentia as palavras dela ecoando na minha mente, a resistência implacável que ela exibia e a raiva mal contida em sua voz. Mas o que estava por vir exigia minha atenção imediata.— O que está acontecendo? — Martina perguntou, a voz firme, mas com uma leve hesitação.Eu olhei para ela de relance enquanto dirigia pelas estradas estreitas. A luz dos faróis refletia em seu rosto, mostrando a inquietação nos olhos. Ela era perspicaz o bastante para perceber que algo grave havia surgido, mas ainda não entendia completamente o quão perigoso era.— Um dos meus rivais cometeu um erro — respondi com um tom controlado, mantendo a concentração na estrada. — Algo que precisa ser resolvido antes que se torne um problema maior.Ela ficou em silê
MartinaAs ruas de Milão passavam como borrões à minha volta, mas minha mente estava a milhares de quilômetros de distância. As luzes da cidade, que normalmente me traziam uma sensação de familiaridade, agora pareciam diferentes, carregadas de um peso que eu não sabia descrever. Eu não conseguia tirar da cabeça o que havia acabado de presenciar. As palavras de Niccolò, suas ações, a violência fria com a qual ele lidava com seus inimigos.Eu sempre soube que meu pai estava envolvido nesse mundo, mas havia uma diferença imensa entre saber de algo e vivê-lo em primeira mão. Ver com meus próprios olhos como os homens da máfia resolviam suas diferenças era outra coisa completamente. Meu corpo ainda estava tenso, cada músculo preparado para uma luta ou fuga que nunca veio. Eu me sentia pequena, sufocada.Niccolò estava ao meu lado, dirigindo em silêncio, e mesmo que ele parecesse completamente à vontade, eu podia sentir a intensidade que emanava dele. Ele não havia dito uma palavra desde qu
NiccolòO olhar de Martina estava fixo em mim, um misto de curiosidade e desafio. Eu sabia que o que estava prestes a compartilhar não apenas revelaria quem eu realmente era, mas também moldaria o futuro que planejávamos juntos. Era hora de abrir as portas do meu passado, mesmo que isso significasse expor as fraquezas que eu cuidadosamente mantive ocultas.— Antes de tudo isso — comecei, tentando encontrar as palavras certas —, eu era apenas um garoto comum, de uma família comum. Mas a vida nunca é tão simples, não é? Meu pai sempre foi um homem de honra, respeitado, mas envolvido em coisas que eu não entendia completamente até mais tarde. Ele me ensinou sobre o poder, o respeito e, acima de tudo, sobre a lealdade.Martina me ouviu atentamente, seus olhos brilhando com uma mistura de compaixão e apreensão. Havia uma conexão entre nós que crescia a cada momento que compartilhávamos.— O que aconteceu? — ela perguntou, a voz baixa, quase como um sussurro.Respirei fundo, lembrando dos d