Capítulo 4: Primeiras Tensões

Niccolò

A noite estava carregada de tensão quando saímos da vinícola. O que começou como uma tentativa de fazer Martina enxergar o futuro que poderia ter ao meu lado se transformou em uma virada brusca nos eventos que eu não podia ignorar. Não agora. Eu ainda sentia as palavras dela ecoando na minha mente, a resistência implacável que ela exibia e a raiva mal contida em sua voz. Mas o que estava por vir exigia minha atenção imediata.

— O que está acontecendo? — Martina perguntou, a voz firme, mas com uma leve hesitação.

Eu olhei para ela de relance enquanto dirigia pelas estradas estreitas. A luz dos faróis refletia em seu rosto, mostrando a inquietação nos olhos. Ela era perspicaz o bastante para perceber que algo grave havia surgido, mas ainda não entendia completamente o quão perigoso era.

— Um dos meus rivais cometeu um erro — respondi com um tom controlado, mantendo a concentração na estrada. — Algo que precisa ser resolvido antes que se torne um problema maior.

Ela ficou em silêncio por alguns instantes, absorvendo as minhas palavras. Podia perceber o quanto ela tentava entender o que aquilo significava para nós dois. A convivência forçada estava fazendo com que Martina entrasse em contato com uma realidade que ela sempre tentou evitar, mas que agora se tornava inescapável.

— E como isso envolve nós dois? — Ela finalmente perguntou, a desconfiança evidente.

Eu sabia que, para ela, tudo parecia ser uma questão de imposição e controle. Na mente de Martina, estar comigo era o mesmo que perder qualquer liberdade. Mas o que ela não compreendia ainda era que nossa união ia muito além de um simples acordo entre famílias. Não era apenas sobre poder ou território — era sobre sobrevivência. E, nesse momento, a sobrevivência estava em jogo.

— Envolve você porque, a partir de agora, você está diretamente ligada ao meu nome, à minha família. — Minha voz saiu mais firme do que eu pretendia. — E quando alguém me desafia, desafia você também. Não há como fugir disso.

Ela me lançou um olhar que misturava raiva e incredulidade.

— Eu não pedi para estar ligada a você, Niccolò. — Sua voz era cortante, e pude sentir a hostilidade nas palavras. — Você pode estar acostumado a resolver as coisas com violência e controle, mas não me inclua nesse seu jogo.

Eu dei uma risada seca, sabendo que aquele tipo de pensamento seria uma ilusão para ela por muito pouco tempo.

— Não é uma questão de escolha, Martina. Não mais.

Ela cruzou os braços, desviando o olhar para a janela. Por alguns momentos, ficamos em silêncio enquanto eu dirigia pelas ruas mais escuras de Milão, onde as sombras pareciam se mover com vida própria.

Chegamos ao local rapidamente. Um depósito isolado, longe dos olhos curiosos, onde eu resolvia os problemas que não podiam ser expostos. Martina saiu do carro comigo, relutante, mas determinada a não parecer intimidada. Seu espírito desafiador era uma faca de dois gumes. Admirável, sem dúvida, mas também perigoso.

Ao nos aproximarmos da entrada do depósito, meus homens já estavam lá, esperando ordens. Eles se afastaram, respeitosos, quando me viram. Ernesto, meu braço direito, se aproximou rapidamente, o rosto marcado por uma expressão de seriedade.

— Don Ruggeri, temos um problema — ele começou, a voz baixa, mas carregada de tensão. — Os homens de Rivelli foram vistos perto da fronteira da cidade. Eles não deviam estar ali.

Martina parou ao ouvir o nome. Mesmo que tentasse se manter à parte desses assuntos, sabia o suficiente sobre o poder e a influência de Giulio Rivelli, um dos meus maiores inimigos. Ela me olhou, e dessa vez não havia raiva em seus olhos, mas algo mais próximo de medo. O tipo de medo que só surge quando se percebe o quão real é o perigo à espreita.

— Eles estão provocando — eu disse, mantendo o controle. — Querem me testar.

— E o que você vai fazer? — Martina perguntou, tentando manter a calma.

— O que for necessário — respondi sem rodeios.

Eu sabia que Rivelli não pararia por aí. Ele queria ver até onde podia chegar antes que eu reagisse. E eu não podia permitir que a provocação continuasse. Nesse mundo, hesitar era o mesmo que dar permissão para que outros destruíssem você. Eu já tinha derrubado homens que tentaram me desafiar, e Rivelli não seria diferente.

Antes que Martina pudesse dizer algo, Ernesto me entregou o telefone. Eu ouvi a voz do outro lado da linha e, em segundos, tudo ficou claro. Um dos meus informantes havia identificado um grupo de homens armados perto de um dos meus principais pontos de controle na cidade. Eles estavam esperando o momento certo para agir.

— Mobilize todos — ordenei, devolvendo o telefone a Ernesto. — Isso acaba hoje.

— Hoje? — Martina repetiu, e pude sentir o choque em sua voz. — Você vai...?

Eu a olhei de frente, o rosto sério.

— Não há outra maneira, Martina. Rivelli declarou guerra ao pisar no meu território. E eu não deixo inimigos vivos.

Ela abriu a boca para protestar, mas eu sabia que não havia espaço para discussão. Esse era o meu mundo, e ela precisava entender isso de uma vez por todas.

— Não faça essa cara — eu disse, com uma calma fria. — É assim que as coisas funcionam. Você pode não gostar, mas é o único jeito de garantir que amanhã estejamos vivos.

Ela me encarou por alguns instantes, os olhos fixos nos meus, como se estivesse tentando decifrar algo além das palavras. Finalmente, ela desviou o olhar e soltou um suspiro pesado.

— Eu não quero fazer parte disso — disse ela, quase em um sussurro.

Eu me aproximei, encurtando a distância entre nós.

— Mas você já faz parte. Quanto mais cedo aceitar, melhor será para você... e para mim.

Ela não respondeu. Em vez disso, se afastou um passo, os braços cruzados, como se tentasse se proteger de tudo ao seu redor. Eu sabia que Martina era diferente de qualquer mulher que eu já havia conhecido. Sua resistência não era apenas contra mim, mas contra todo o sistema em que ela havia nascido. Ela acreditava que podia escapar. Mas, no fundo, eu sabia que logo perceberia que fugir não era uma opção.

Eu me virei para Ernesto, dando-lhe um sinal de aprovação. Em poucos minutos, meus homens estavam em movimento, preparados para o que viria. Esse confronto com Rivelli era inevitável. Ele tinha cruzado um limite, e agora era hora de pagar o preço.

Enquanto subíamos em direção aos carros, senti Martina me observando. Ela ainda tentava compreender quem eu realmente era. Ainda tentava decidir se podia se encaixar nesse mundo. Eu sabia que, por mais que resistisse, em breve ela perceberia que o papel dela ali era mais do que o de uma simples esposa. Ela seria minha parceira, minha rainha.

E quando isso acontecesse, nada poderia nos parar.

***

Naquela noite, o confronto com os homens de Rivelli aconteceu rápido. Eles não estavam preparados para a força que eu trouxe. Enquanto o caos explodia ao meu redor, meu foco era claro. Eu não estava ali apenas para manter o controle — estava ali para enviar uma mensagem. Ninguém me desafiava e saía impune.

E quando tudo terminou, Rivelli estava mais enfraquecido do que nunca.

***

De volta ao carro, o silêncio entre Martina e eu era diferente do que antes. Havia uma compreensão silenciosa, mesmo que ela ainda estivesse resistindo. Ela tinha visto o que acontecia com quem cruzava meu caminho. Ela sabia que, com o tempo, teria que decidir se estava pronta para estar ao meu lado ou continuar lutando contra um destino que já havia sido traçado.

Eu olhei para ela rapidamente enquanto dirigia, e vi que seus olhos estavam fixos no horizonte. Não era medo que vi ali. Era algo mais complexo. Talvez aceitação. Talvez um novo entendimento.

Eu sabia que esse era apenas o começo.

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