Capítulo 4
Minha boca tremeu sem querer. Quase disse que ele estava louco!

Mas ele agora estava rico, não era mais aquele "boa-pinta" que todo mundo podia humilhar.

Tentei controlar o impulso de xingar e forcei um sorriso.

— Sr. George, pare de brincar. Eu tenho que trabalhar, até mais.

— Se o André pode, por que eu não posso? — George perguntou de repente, com uma voz pesada, cheia de um tom gelado.

Franzi a testa.

— Que história é essa de o André pode e você não pode? O que você está dizendo?

— Você acabou de falar que, se o André te desse dez milhões, você passaria uma noite com ele. Agora, se eu der dez milhões, por que não aceitaria ficar comigo?

Eu não consegui evitar um revirar de olhos.

O que eu tinha dito para o André era só uma provocação, para fazê-lo se sentir pressionado. Falar em dez milhões foi uma forma de fazer o André se sentir acuado, sem esperar que ele levasse aquilo a sério. Mas esse homem... Ele realmente acreditava nisso.

George se aproximou e, com um cigarro na mão, exalou a fumaça enquanto olhava para mim.

— Você não está precisando de dinheiro? Se passar uma noite comigo, os dez milhões são seus. O que acha?

Eu senti a tensão nas minhas mãos, que estavam apertadas ao meu lado. Eu sabia o que ele queria. Era só uma forma de me humilhar com dinheiro.

Fiquei engolindo o nó que se formava na minha garganta e dei um sorriso frio.

— Agora você está rico e acha que pode tudo, é? Eu sei que minha família está sem dinheiro, mas não sou capaz de me rebaixar a esse ponto para conseguir uma grana.

Depois de falar isso, saí correndo da sala, mas as lágrimas já começavam a borrar minha visão.

Era engraçado como as emoções humanas funcionavam. Antes, quando os outros me humilhavam, eu não me importava. Mas a humilhação do George... Essa era diferente. Ela conseguia mexer com tudo dentro de mim, fazendo meu peito se apertar de dor.

Corri até o primeiro andar e, assim que entrei no saguão, vi meu irmão, vestido de entregador, cercado por Pedro, André e outros, sendo humilhado.

Meu irmão estava de joelhos.

Naquele momento, toda a minha vaidade e orgulho caíram por terra.

Cobri a boca com a mão e as lágrimas caíram sem parar.

Meu irmão estava se humilhando para conseguir dinheiro, enquanto eu, que só precisava de dez milhões, estava me negando a passar uma noite com o George. Que diferença! O que eu estava fazendo com todo aquele orgulho?

De repente, virei de costas e corri escada acima, torcendo para que o homem ainda não tivesse ido embora.

Entrei no quarto e, de imediato, vi George sentado no sofá. Ele parecia saber que eu voltaria, e estava sorrindo para mim, como se já soubesse o que eu viria fazer.

Me aproximei e perguntei:

— Você me odeia tanto assim? Odeia o quanto te humilhei antes?

Antes que ele pudesse responder, eu continuei:

— Está bem, George. Se você conseguir pagar todas as dívidas da minha família, eu faço o que você quiser. Pode me humilhar como bem entender, por quanto tempo quiser.

George abaixou os olhos para o copo de bebida e, com um sorriso na boca, perguntou:

— E se eu te pedir para ser minha amante? Isso também seria possível?

Respirei fundo, e a palavra saiu de minha boca sem hesitar:

— Sim.

Ele havia se divorciado de mim, trocado o lugar de esposa por outra mulher, mas agora queria que eu fosse sua amante, à sombra, para fazer tudo o que ele bem entendesse. Ah, como era direto o modo dele de me humilhar.

No dia seguinte, quando meu pai voltou para casa, ele parecia radiante e nos contou, cheio de emoção, que as dívidas da nossa família estavam pagas.

Minha mãe ficou tão emocionada que chorou. Ela logo perguntou ao meu pai o que havia acontecido.

Ele explicou que foi George quem pagou tudo e ainda comprou uma casa nova para a gente, em um bairro excelente.

Instantaneamente, minha mãe começou a elogiar o George, dizendo que ele devia me amar muito para ter feito isso por nossa família.

Eu só sorri e me calei.

À tarde, o motorista do George apareceu para me buscar.

Meus pais, sem suspeitarem de nada, achavam que eu ainda era esposa do George, e que ele estava me levando para uma vida melhor. Mal sabiam eles que eu estava indo ser humilhada, ser usada como brinquedo por ele.

Agora, o George morava na antiga casa dos meus pais, a nossa antiga mansão. Os empregados e a governanta eram os mesmos de antes.

Eles seguiam a dona.

Lembro que, no passado, eles não perderam a chance de humilhar o George junto comigo.

Mas, agora, ele ainda os usava, o que mostrava que, no fundo, ele era mais generoso do que eu pensava. Só não sabia se ele também seria generoso comigo.

Enquanto lembrava da humilhação que ele me causou no quarto, um peso tomou conta do meu peito.

Eu e aqueles empregados éramos diferentes. Eles podiam só humilhá-lo com palavras. Mas eu não, eu não só xinguei, como também bati, e até joguei bebida no rosto dele na frente de várias pessoas.

Quando me lembro de tudo o que fiz, me dá arrepios.

Se eu soubesse como as coisas iam acabar, talvez eu tivesse sido um pouco mais gentil com ele no passado.

Ana me levou até a porta do quarto.

— Senhorita, o senhor pediu para você esperar lá dentro. E... — Ela hesitou por um momento. — Ele também mandou dizer que, antes de ele voltar, você precisa se limpar.

Eu mordi o lábio, com o coração apertado. Era claro que ele estava me humilhando, sem rodeios.

Mas o que eu podia fazer?

Já que eu havia concordado em ser sua amante, deveria estar preparada para abrir mão da minha dignidade.

Esse quarto era o mesmo onde eu e o George tínhamos vivido antes. Tudo estava igual, mas ao mesmo tempo, não estava.

Antes, ao lado da cama, havia um colchão no chão. Era onde George dormia, enquanto eu ficava na cama, sempre com aquela postura arrogante, deixando claro que ele não poderia se aproximar nem um centímetro. Agora, o colchão tinha sumido, assim como minha arrogância.

Aquele marido submisso, que eu podia humilhar como quisesse... Também havia desaparecido.

O passado era algo que eu não podia reviver.

Segurando as lágrimas, fui até o banheiro e tomei um banho. Depois de me limpar, deitei na cama esperando o George voltar.

Agora que eu era sua amante, deveria fazer o meu papel, não é?

Embora eu sentisse um peso no coração, pensando na mudança das coisas, tentando me convencer de que minha situação não era tão ruim assim. Pelo menos as dívidas da minha família estavam pagas. Meus pais poderiam viver em paz e meu irmão não precisaria mais passar por tanto sacrifício, muito menos se ajoelhar por dinheiro.

Pensando nisso, meu coração se aquietou um pouco.

Não sabia a hora em que o George voltaria.

Depois de tantos dias correndo de um lado para o outro, logo adormeci. Não sei quanto tempo se passou, mas de repente, senti algo pesado sobre mim. Eu abri os olhos lentamente, ainda tonta, e vi que a pessoa sobre mim era George. E a mão dele estava dentro das minhas roupas!

— Você... Você é louco!

Instintivamente, levantei a mão para dar um tapa nele.

Mas, no segundo seguinte, ele segurou meu braço com força. Ele riu com deboche.

— Olha só, mesmo depois de tudo isso, a filha de família rica ainda mantém a mesma atitude, né?

Olhei ao redor, e por um momento, tudo pareceu girar. Então percebi que ele agora era o dono daquele quarto. E eu, apenas sua amante, a pessoa de quem ele se aproveitaria e humilharia.

Retirei a mão e, com a cabeça baixa, disse baixinho:

— Desculpe.

Ele deu uma risadinha, se levantou e foi para o banheiro.

Fiquei ali, nervosa, apertando os dedos.

Na verdade, depois que comecei a gostar dele, não me importava tanto com seus toques. Mas o prazer de um relacionamento verdadeiro, onde duas pessoas se entendiam, era bem diferente de ser tocada com a intenção de humilhação e vingança.

Eu queria fugir, mas sabia que não podia.

Não sabia quanto tempo passou, mas finalmente ouvi a porta do banheiro se abrindo, o som do chuveiro parando, e aquilo fez meu coração acelerar.
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