Foi nesse momento que ouvi, atrás de mim, uma voz familiar. Uma voz que eu não escutava fazia tanto tempo.Meu coração deu um leve salto e várias memórias vieram à tona.O garoto de camisa branca que me levava de bicicleta para a escola. O mesmo garoto que usava uma folha de rascunho para me explicar aquela questão de matemática que eu tanto odiava. O garoto que, sabendo que eu estava de TPM, esquentava o iogurte gelado que eu queria, só para eu não passar mal. E aquele garoto que, no dia em que anunciei meu casamento com o George, olhou para mim com os olhos avermelhados e perguntou se eu realmente precisava me casar.Lembranças felizes, doces... E cheias de arrependimento.Tudo isso, no entanto, virou pó, se dissolvendo no ar.Meu coração, que antes parecia balançar, voltou ao seu lugar e ficou tranquilo de novo. Quando me virei, vi o Bruno.O gene da família Fonseca, de fato, era impressionante. Tanto George quanto Bruno eram homens de tirar o fôlego.George, com sua frieza e postur
Pensei comigo mesma: "Quando foi que virei uma pessoa tão cautelosa e insegura perto dele?"Era assim mesmo. Quando a gente estava por baixo, tudo mudava.Quando a ligação foi atendida, a risada de George veio logo em seguida. Aquela risada era tão sombria que me dava calafrios.— Desculpa, eu acabei de pegar no sono e estava me preparando para atender quando você desligou. — Falei, tentando soar natural.— Ah, é? — Ele continuou rindo devagar, como se saboreasse algo. — E o que você está fazendo agora?Eu dei uma pausa, um pouco surpresa com a pergunta, mas logo disparei:— Dormindo, claro. Você me acordou com a ligação. Estou na cama, falando com você.Olhei para o espelho e encarei meu próprio reflexo. Meu rosto estava calmo, mas, por dentro, eu me admirava pela capacidade de mentir sem tremer a voz.A risada de George ficou ainda mais evidente, mas aquela risada tinha algo que gelava a espinha.Pelo amor de Deus, ele definitivamente não nasceu para rir. Era assustador demais!— Ent
O que eu mais temia aconteceu.George estava mesmo no bar. Ele já tinha me visto!E as mentiras que acabei de contar para ele? Pareciam tapas queimando na minha cara.Eu fiquei paralisada, incapaz de reagir.George me beijou com força, sem se importar com nada. Quando finalmente me soltou, seus dedos longos tocaram de leve os meus lábios, agora inchados.Ele me olhava com aquele sorriso frio, os olhos escuros fixos em mim.— Você dorme no bar agora? — A voz dele estava carregada de sarcasmo.Minha raiva cresceu. Ele sabia que eu estava no bar e ainda teve a audácia de me ligar, me fazendo mentir?— Já que você sabia onde eu estava, por que me ligou para me testar? — Perguntei, sem conseguir esconder a irritação.George estreitou os olhos, o sorriso dele ficou mais provocador.— Eu achei que você fosse me dizer a verdade. Até dei uma chance para você, mas preferiu mentir até o fim.Os dedos dele desceram até meu pescoço, fazendo círculos lentos. Parecia que, a qualquer momento, ele pode
Assim que entramos no quarto, George me pressionou contra a porta e me beijou profundamente.As mãos dele deslizavam pela minha cintura, e eu já não conseguia pensar em nada.Estava completamente tonta, sem saber direito o que estava acontecendo, quando ele sussurrou, rindo baixinho no meu ouvido:— Vestida assim, tão sexy... Para quem você estava querendo se mostrar?Fiquei em silêncio. Não tinha o que dizer.George me puxou para a cama e, com movimentos rápidos, tirou o meu vestido.Seus olhos escuros, carregados de uma intensidade perigosa, me encararam enquanto ele dizia:— Sabia que ele ia voltar hoje e resolveu caprichar no visual para impressionar?Segurei a vontade de revirar os olhos, mas preferi não provocá-lo ainda mais.— Eu sempre me visto bem. — Respondi com um tom baixo e contido.Ele riu, mas era uma risada fria, quase desdenhosa.De repente, meu celular tocou. De novo, era o Bruno.George pegou o aparelho antes que eu pudesse alcançar. Ele levantou o celular e me pergu
"Mariana? Como assim? Quem é essa? Eu não conheço ninguém com esse nome e, com certeza, não tenho esse número na minha lista de contato.", pensei, confusa.Enquanto eu olhava o celular, ele foi arrancado da minha mão.Me virei surpresa e vi o George parado atrás de mim, enrolado apenas em uma toalha.Foi então que me lembrei. O celular era dele. Mariana era alguém que ele conhecia.Definitivamente, eu precisava trocar meu celular e a melodia do toque. Não dava para continuar com as mesmas que ele usava.George caminhou até a janela e atendeu a ligação. Enquanto conversava, seus olhos me encaravam, profundos e penetrantes.Segui o olhar dele e percebi para onde ele estava olhando.Minha pele esquentou de vergonha. Rapidamente, puxei o roupão que estava na beirada da cama e o vesti. Me sentei na ponta da cama, tentando agir como se nada tivesse acontecido, mas meus movimentos estavam um pouco desajeitados.George desviou o olhar, mas seus lábios tinham um leve sorriso. Parecia estar de b
George franziu a testa imediatamente. Seu rosto ficou ainda mais sério.— Você quer tanto assim que eu fique com ela? — Ele perguntou, com um tom seco e um sorriso que parecia mais um deboche.Fiquei sem palavras. "Olha o que ele diz! Como se eu quisesse que ele fosse correndo ficar com a amada dele. Ele mesmo não estava louco por isso? Ou será que, se eu pedisse para ele não ir, ele ficaria? Ah, tá bom! Como se eu, uma simples amante que ele odeia e só quer usar para se vingar, tivesse esse poder todo."Enquanto me afundava em pensamentos, rindo de mim mesma, George saiu de cima de mim.Ele acendeu um cigarro e, com uma voz fria, comentou:— Você quer me despachar para eu ir logo atrás de outra mulher, né? Assim, você também corre para encontrar o Bruno?— Não! Não invente coisas! — Disse, me defendendo.Diziam que as mulheres adoravam imaginar coisas e eram cheias de suspeitas, mas, olha... Esse homem ganhava fácil de qualquer uma!George soltou um suspiro curto e não disse mais nad
— Alô, quem fala? — Perguntei ao atender o telefone.— Val... — A voz do outro lado era suave, mas meu coração apertou na hora.Era Bruno.Havia um tom magoado em sua voz quando ele disse:— Agora até quando eu ligo, você não quer atender?— O que você quer, Bruno? Aconteceu alguma coisa? — Perguntei, tentando manter um tom neutro.Na verdade, eu e o Bruno nunca chegamos a ter um relacionamento de verdade. Não houve promessas ou compromissos entre nós, apenas uma conexão confusa, cheia de sentimentos indefinidos.Mesmo assim, toda vez que eu falava com ele, uma culpa estranha me invadia.Ele hesitou um pouco antes de perguntar:— E ontem à noite... Você está bem?Naquele instante, ficou claro que ele sabia o que tinha acontecido. Ele tinha ouvido. Aquele som. Minha voz rouca, o gemido involuntário. Ele sabia exatamente o que significava.— Está tudo bem. Foi só... Sabe, algo normal entre adultos. — Respondi, apertando os lábios, tentando soar indiferente.Do outro lado da linha, Bruno
Bruno me encarava fixamente, com um olhar profundo. Suas mãos, apoiadas na mesa, estavam ligeiramente cerradas.Soltei um suspiro e falei, tentando aliviar o clima:— Me desculpa.Ele desviou o rosto e deu um sorriso contido.— Você não tem que se desculpar. Não havia nada entre nós de verdade. Você gostar dele não é nenhuma traição.Por um momento, tive a impressão de ver algo estranho em seu olhar. Um brilho frio, quase sombrio, passou rápido pelos seus olhos, geralmente tão calmos e gentis.Mas devia ter sido coisa da minha cabeça. Ele sempre foi tão educado, tão sereno... Seria impossível para ele ter um olhar assim.Clara, ainda surpresa, balançou a cabeça.— Val, eu não consigo acreditar que você goste do George! Você lembra do que ele fez naquela época? Nós odiávamos ele! Como isso foi acontecer?Respirei fundo e tentei explicar:— Durante os três anos em que estivemos casados, muitas coisas aconteceram. E, sabe como é, sentimentos nem sempre fazem sentido.Bruno interrompeu, co