Quando ele deixa de ser submisso
Quando ele deixa de ser submisso
Por: Gabriela Souza
Capítulo 1
Eu passei três dias e três noites com George Fonseca na cama.

Ele já foi um simples genro, daqueles que a gente não dá nada. Eu fiz questão de deixar bem claro que não só não o deixava me tocar, como ainda o pisava, literalmente.

Agora as coisas mudaram. Eu caí, e ele... Bom, ele se deu bem. Parecia até que ele estava se vingando. E, de algum jeito, ele tinha força de sobra para me fazer pagar por tudo que fiz.

...

Eu me casei com um cara pobre.

Na real, quem eu queria mesmo era o irmão dele, mas numa noite de encontro com os amigos, ele aproveitou que eu estava bêbada e acabou me levando para cama.

Todo mundo soube dessa história, claro.

Meu pai não sabia o que fazer, então tive que aceitar a situação e me casar com ele. Mas com uma condição, ele teria que ser o genro da casa, morar debaixo do nosso teto.

O pior era que o George não era nem mesmo filho biológico do meu sogro. Ele era filho da primeira esposa do meu sogro, e depois da separação, o pai dele nunca foi muito com a cara dele.

Mas minha família, rica e influente, claro que aproveitou e colocou o sujeito na posição que ele nunca imaginou.

Então, cá estamos, casados.

Mas eu não estava feliz. Na verdade, o homem que eu gostava mesmo era o irmão dele.

Acontece que eu fiquei muito brava com o que aconteceu naquela noite e, por isso, descontava tudo nele. Quando dormíamos, ele ficava no chão, ou no colchão, enquanto eu ficava na cama. Não deixava ele subir, de jeito nenhum.

Nas refeições, eu e meu irmão tratávamos ele como se fosse nada, não deixávamos ele pegar comida. E se algum amigo meu o via tentando ser educado, eu sempre dava um jeito de humilhá-lo.

Na chuva, quando ele vinha me entregar o guarda-chuva com uma cara de quem estava realmente se preocupando, eu sempre arranjava alguma desculpa para xingá-lo.

Era assim, eu só me sentia bem quando estava o fazendo sofrer.

E ele, meu Deus... Esse cara parecia não ter orgulho, não tinha reação alguma. Por mais que eu e minha família fizéssemos o possível para humilhá-lo, ele nunca respondia com raiva, parecia sempre tão tranquilo e gentil.

O que é meio estranho, né? Ele até que era bonito, mas na época da escola era aquele tipo de cara que nunca chamava atenção, estudava mal, repetia de ano. Sempre estava naquela categoria que ninguém queria.

Já o irmão dele... Era o oposto. Bonito, inteligente, famoso na escola.

Lembrei até quando a minha paixão com o irmão dele começou a nascer e o que aconteceu depois... O George foi o responsável por apagar isso tudo. E não vou mentir, isso me deixava muito chateada.

Certa noite, me levantei da cama e fui até onde ele estava dormindo no chão. Dei um empurrão e acordei ele.

— Estou com sede. — Falei.

Ele, claro, levantou rapidinho e foi até a cozinha pegar água para mim.

Eu percebia que ele sempre se importava. Até no outono, quando ele sabia que eu gostava de água morna, ele sempre trazia algo assim para mim.

Mas quando eu lembrava daquela noite em que ele tinha aproveitado da minha vulnerabilidade na festa, uma raiva subia na minha garganta. E, sem pensar, joguei o copo de água que ele me trouxe diretamente na cara dele.

Ele não reagiu, claro. Apenas foi para o banheiro, como se nada tivesse acontecido.

Fiquei olhando para o corpo dele, grande e silencioso, se afastando. E por um segundo, até senti um pouco de culpa. Mas logo que pensei que a minha vida estava arruinada por causa dele, toda aquela culpa sumiu.

E assim foi, ele sendo constantemente humilhado por mim durante três anos.

Mas três anos é tempo suficiente para muitas coisas acontecerem. A minha família faliu, eu comecei a sentir algo por ele... E então, ele veio até mim e pediu o divórcio.

Quando ele me entregou os papéis de divórcio, disse que a amada dele tinha voltado.

Confesso, naquele momento, meu coração deu um nó. Me senti sufocada, como se alguém tivesse apertado o peito.

Mas a minha autoimagem sempre foi forte demais. Eu não deixei transparecer nem um pingo de tristeza. Firme, peguei a caneta e assinei o acordo de divórcio.

Quando terminei, ele falou, com aquela voz suave:

— Precisa que eu chame o motorista para te levar?

Eu demorei um segundo para entender o que ele quis dizer.

Claro, agora aquela casa onde eu vivi por mais de vinte anos não era mais minha. A falência da minha família levou tudo.

E ele... Aquele genro desprezado, que um dia foi humilhado por todos nós, foi o único que soube fazer o seu próprio caminho, criar uma empresa e prosperar. Ele até comprou a casa onde eu morava.

Mas, sinceramente, eu não podia culpá-lo. Ele lutou por aquilo e conquistou com o próprio esforço. Não usou nem um centavo do meu pai.

Ele me observou em silêncio, sem pressa de me expulsar. E foi justamente essa calma dele que me fez sentir um peso enorme de vergonha.

Eu até pensava que, depois de tanto tempo de humilhação, ele ia querer me fazer pagar por tudo. Mas ele não fez isso. Pelo contrário, se manteve gentil.

Eu, sem saber o que fazer, respondi rápido:

— Não, obrigada, eu volto sozinha.

E, na pressa, saí correndo pela porta.

Ele me chamou do fundo do corredor, com a voz serena:

— Você veio aqui por algum motivo?

— Não. — Eu disse, sem olhar para trás, e saí correndo do jardim.

Lá fora, começou a chover. Eu segurei o presente que tinha trazido com força.

Hoje era o nosso aniversário de casamento. O terceiro.

Eu nunca tinha dado nem um pingo de atenção para ele, mas agora, que percebi que comecei a gostar dele, queria muito ter uma chance de passar um feriado assim, com ele ao meu lado, de uma maneira diferente.

Mas, em vez disso, o que eu encontrei foi um acordo de divórcio.

Eu ri de mim mesma, uma risada amarga, enquanto a chuva caía em torrentes sobre mim, me encharcando completamente.

No dia seguinte, acordei doente, com o corpo pesado, e mal conseguia sair da cama.

Mas, lá fora, o barulho de uma discussão começava a me incomodar.

Eu, toda fraca, arrastei meu corpo até a janela e vi meu pai sentado no muro velho do jardim, dizendo que não queria mais viver.

Agora, morávamos em um prédio velho, de aparência decadente. O lugar era sujo e mal cuidado, mas o aluguel era barato.

Minha mãe, desesperada, chorava e gritava para meu pai, dizendo que, se ele pulasse, ela também iria pular e que ninguém mais viveria.

Eu, com a cabeça a ponto de explodir de dor, tentei acalmá-los. Falei que só tínhamos falido, mas que, enquanto tivéssemos vida, ainda havia esperança.

Mas então, meu pai me olhou de uma forma estranha, como se estivesse olhando direto na minha alma. A intensidade daquele olhar fez meu coração dar um pulo.

Ele então disse:

— Vá até o George e peça ajuda para gente, ok? Ele é o genro da casa, tenho certeza que ele vai ajudar.

Minha mãe, desesperada, se apressou a completar:

— É, filha, a gente sabe que não foi legal com ele, mas, olha, por sua causa, ele vai ajudar, eu tenho certeza. Vá até lá e peça.

Eu dei uma risada triste. Meu pai e minha mãe não sabiam que eu já tinha sido descartada por aquele homem.

Eu não queria pedir ajuda a ele, mas meu pai fez questão de me pressionar. Sem alternativas, acabei cedendo.

Antes de sair, minha mãe pegou o pouco de dinheiro que tinha e me comprou um vestido, um modelo longo com um decote profundo, e um par de sapatos de bico fino, super sensuais.

Ela também chamou alguém para me maquiar e fazer meu cabelo, me deixando com um visual arrumado, quase de propaganda.

Quando vi meu reflexo no espelho, dei uma risada amarga. Parecia mais que eu estava indo para seduzir alguém, do que para pedir um favor.

Mas, se eu me mostrasse nua na frente dele, aposto que ele nem me olharia.

Até hoje, não entendo o que se passou naquela noite da festa. Será que ele também estava bêbado e me confundiu com a amada dele?

Tirei esses pensamentos de cabeça e, para tentar fazer meus pais pararem de esperar demais, fui até ele.

Descobri que ele estava no escritório, então fui direto lá.

Meus pais ficaram esperando embaixo, confiantes de que eu traria boas notícias.

Quando vi a expressão no rosto deles, com aquele olhar cheio de esperança, me senti um aperto no peito, um misto de tristeza e vergonha.

Cheguei ao andar dele e senti todos os olhares de julgamento me atingirem. Era claro que as pessoas estavam falando sobre mim, fazendo comentários sobre minha aparência e situação.

Mas eu ignorei, segui em frente com a cabeça erguida e entrei no escritório dele.

Só que, assim que o vi, algo dentro de mim vacilou. Fiquei sem coragem. A postura, que antes estava firme, foi ficando fraca.

Ele estava lá, sentado na cadeira, com um sorriso sereno no rosto, como se estivesse me observando de forma divertida.
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