ENZOUma semana se passou e lá estava eu na França, atrás de Monalisa e arriscando a minha vida, além, é claro, da vida dos meus homens em terras inimigas. Fomos informados de que ela estava em Marselha para uma entrega grande de armamento. Armei todo um esquema e comprei alguns homens aliados a ela e Fahorelli – que, a propósito, continuava desaparecido pelo mundo – e fui até o local da entrega, um porto abandonado ao norte da cidade.Esperei por quase onze horas e enfim lá veio o carregamento e dois carros blindados o escoltando. Ela estava três horas atrasada e o comprador ainda não havia chegado, o que nos fez temer e imaginar havermos caído em uma emboscada que não demorou muito para se revelar quando o local onde estávamos escondidos foi invadido por seis homens armados. Mas eu já previa que talvez os homens que comprei não estavam sendo tão honestos comigo sobre o trâmite. Então, estrategicamente, espalhei soldados meus por todo o local após revistar cada canto. Deixei-me ser r
ENZO— A sua história me convenceria se eu fosse um tolo ou se ainda amasse você.— Não! Por favor... me ouça! Estou dizendo a verdade, Enzo. Estou aqui implorando por sua ajuda! — disse em prantos, jogando-se de joelhos à minha frente.— Renda-os! — ordenei alto e os meus homens saíram de onde estavam escondidos, rendendo cada um deles.— Enzo! Por favor... por favor... — gritou implorando.Dois dos meus soldados chegaram por de trás dela e agarraram-na pelos braços e a colocaram de pé, arrastando-a para dentro da van que estava escondida dentro de um galpão.— E quanto a eles, senhor? — perguntou Serra, olhando para os homens franceses rendidos.— Leve-os também. Arranque tudo o que puder de informação e depois os matem!— Sim, senhor.Naquela mesma tarde partimos de volta para os Estados Unidos. Após a aterrissagem, mandei que levassem Monalisa para um local longe dos soldados franceses. Ordenei que a deixassem sem comida ou água por dois dias. Serra a torturou com afogamento e cho
LAURAFazia mais de uma semana que eu havia voltado para casa. Não que eu estivesse esperando que Enzo viesse atrás de mim, mas confesso que esperava ao menos que tentasse se desculpar. Nem mesmo isso ele fez. Cada dia que passava tinha mais certeza de que o que ele queria era que eu saísse da sua vida e não estava tendo coragem para me mandar ir. Mas enfim, por que ele se preocupava comigo se agora tinha a sua família completa outra vez?Por todos esses dias evitei falar com Lorenzo. Achei que fosse morrer com a dor insuportável que senti quando Giovanni me ligou no dia seguinte em que voltei para o apartamento, dizendo que o meu pequeno queria falar comigo. O garoto chorou e implorou para que eu voltasse e não o abandonasse. O meu coração se despedaçou em mil pedaços quando ele disse: “Por favor, mãezinha. Não vou mais dar trabalho. Volta. Não me deixe”. Aquilo doeu mais do que todas as surras e espancamentos que sofri na vida.Caio havia arranjado outro emprego como caixa em um lav
LAURAUsando um casaco de capuz, corri pela rua dos fundos à procura de um táxi, até que encontrei um que estava sendo desocupado. Passei o endereço para o motorista e pedi para ser o mais rápido possível. No caminho, pensei em ligar para o Enzo, pedir ajuda e contar o que estava acontecendo, mas e se Rodrigo não estivesse blefando sobre estar sozinho? Não podia arriscar a vida do Lorenzo. Rodrigo era um ser mau, manipulador e cheio de artimanhas. Não podia cometer uma ação estúpida que, talvez, não desse certo. Coitadinho do meu pequeno, deve estar aterrorizado.O endereço era um lugar longe e perto do aeroporto. Com toda certeza era para lá que ele iria me levar depois que deixar Lorenzo ir. Paguei pela corrida e entrei na velha fábrica de colchão abandonada. O lugar era sujo, fedia a mofo e meio escuro.Escutei um barulho acima da minha cabeça e quando ergui o meu olhar, vi Rodrigo sobre uma passarela que ligava um lado ao outro no galpão. Ele estava com Lorenzo, que chorava silenc
ENZOEnquanto havia homens vasculhando cada canto do bosque, eu cuidei do frouxo que desonrou o seu juramento de servir e proteger aos meus, como devia me proteger. Eu o torturei brevemente para arrancar dele se era um traidor aliado ao Fahorelli ou Monalisa, mas nada revelou. Ele foi apenas um descuidado que não colocou em prática os treinamentos de proteção que recebeu por anos. Para homens que falharam na sua missão, era dada a pena de uma morte rápida.— Faca! — pedi estendendo a minha mão para o lado, em direção ao Serra.Sentia a mais pura ira correr nas minhas veias, elevando a minha adrenalina a mil. Como a minha vida pode se transformar em um inferno em tão poucos dias? Primeiro me aparece Monalisa contando uma história surreal. Depois perco Laura, a mulher que amava e, em seguida, levaram o meu filho, o bem mais precioso que tinha.A faca foi posta na minha mão e eu aproximei-a do indivíduo que estava sentado à minha frente, pronto para pagar com a vida o seu erro cometido.
ENZONa companhia de mais três carros, aceleramos o máximo que pudemos rumo ao aeroporto internacional que ficava a vinte e cinco minutos de casa. Após ultrapassar todas as barreiras de velocidade e dirigir assumindo risco de acidente pela cidade, chegamos ao aeroporto. Saltei do carro sem nem mesmo desligar o motor e corri para dentro em busca do portão de embarque internacional.— Senhor! Não pode entrar aí, é área restrita para embarque! — disse uma mulher quando adentrei sem autorização na área para voos internacionais.— Senhor! Pare agora, ou vamos detê-lo! — disse um dos seguranças do local, entrando na minha frente.Segurei-o pelo colarinho da camisa do seu uniforme e o prendi contra uma pilastra, encarando-o completamente cego de fúria.— Me diga onde é o portão de embarque para o Brasil! — exigi alto e imponente.Ele olhou-me assustado e tentou levar a sua mão até a sua arma de choque, mas fui mais rápido que ele e a saquei primeiro arremessando-a para longe.— Diga! — grite
ENZOO motorista colocou o carro em movimento e nos levou sem pressa até o galpão. Quando a porta foi aberta, saí do carro sentindo o sanguinário adormecido em mim começar a despertar.— Vamos logo com isso. Ainda temos treze horas de voo até Laura — disse entrando no galpão.— Enzo! — disse Monalisa com um sorriso falso de felicidade, vindo até mim quando entrei no seu cárcere. — Quero lhe pedir algo... que me deixe ver o nosso filho. Por favor — implorou encenando um semblante de pobre moça fragilizada.— Que tal falarmos disso depois que você me contar sobre o seu real propósito aqui e comigo. Você foi enviada pelo Fahorelli para me matar ou para me distrair enquanto ele se aproximava silenciosamente por detrás de mim?— Do que você está falando? — perguntou fingindo inocência e fazendo-se de desentendida.— Não me obrigue a forçar você a falar de maneira dolorosa, Monalisa! Pensou mesmo que eu acreditaria na sua historinha triste e que a acolheria dentro da minha casa, deixando vo
LAURAA volta para o meu inferno brasileiro foi a mais longa viagem que alguém poderia fazer. Para minha sorte, Rodrigo dormiu boa parte do voo com o meu punho algemado ao seu. Quando enfim chegamos ao calor miserável da madrugada no Rio de Janeiro, alguns dos seus homens – quem ele tratava por “vapores” – já nos aguardavam no estacionamento do aeroporto.— Sem nenhuma gracinha! Você entendeu? — Apertou o meu braço com a sua mão, enquanto íamos de encontro aos seus “malas” escorados no carro.— Bem-vinda de volta, fiel — disse uns dos vermes comendo-me com os olhos. — Esse tempo na América te fez bem, hein?— Cuide da sua vida, seu asqueroso! — disse alto e rude.— Não mexam com ela, deve estar de “Chico” — debochou Rodrigo.Entramos no carro e fomos à favela da Rocinha. Ao chegarmos ao pé do morro, um calafrio percorreu o meu corpo, deixando-me tensa e com um bolo no estômago que dobrou o enjoo que sentia desde o dia anterior. Quando paramos em frente à casa que uma vez quando crianç