LAURADeixei o salão indo para a área externa coberta e aproximei-me do parapeito. Fechei os meus olhos e respirei fundo, sentindo a brisa fria da noite entrar por minhas narinas, resfriando-as.Eu queria muito desistir do trabalho, mas tinha medo de deixar Lorenzo com aquele ser humano desprezível. Ele era só um menino. Mas eu não sabia até onde eu poderia aguentar aquilo. Na minha garganta, havia um nó e nos meus olhos, um queimor provocado pelas lágrimas que insistiam em cair. Não podia permitir que aquela mulher me afastasse do Lorenzo ou que me alvejasse com o seu veneno. Já passei por coisas piores e as enfrentei. Ela é só uma pedra pequena!— Você está bem? — perguntou uma voz grossa atrás de mim, provocando-me um leve arrepio nos braços.Olhei por cima do ombro e vi Enzo parado atrás de mim.— Estou. Desculpe por deixar o Lorenzo, já estou voltando. — Virei-me para ele.— Eu vi você conversando com a minha mãe. O que ela te disse?— Só espalhou mais um pouco do seu veneno. — S
LAURAMelissa perdeu o sorrisinho despeitado e encarou-me com fúria e olhos marejados. O seu olhar voltou para Enzo, antes de se afastar sem olhar para trás. Até eu temi a sua ameaça.— Desculpe por isso — pediu-me ainda de costas.— Acho que esse emprego, definitivamente, não é para mim. Achei que teria que lidar somente com uma criança, mas estou lidando com questões emocionais demais.— Não vai, Laura. — Virou-se para mim. — Vou dar um jeito nessa situação, mas não vai. Não só por meu filho, mas por mim. Você cuida dele como jamais outra pessoa cuidou. Ele irá sofrer e nunca vou me perdoar por ter a deixado ir. Também não ficarei feliz se partir.— Não cuidarei mais dele nessa casa. Não enquanto a sua mãe estiver aqui. Posso fazer isso no meu apartamento, se permitir. Fique à vontade para mandar quantos seguranças quiser para lá.— Claro. Ótimo! — Sorriu fraco.Passei por ele e voltei para a festa, indo à procura do Lorenzo, que já não estava mais onde o deixei. Procurei-o por cada
LAURASubi com Lorenzo vendo a sua tristeza, que o deixava em silêncio e cabisbaixo. Entramos no seu quarto e sentei-o na cama. Tirei o seu sapato e depois as suas roupas.— O que mais ela disse a você? — perguntei erguendo o seu rosto para me olhar.— Que sou uma criança amaldiçoada. Eu sei o que isso quer dizer. É uma coisa ruim.— Ela está errada, isso não é verdade. Você é uma criança abençoada, Lorenzo. Foi concebido em uma família que o ama muito. Fruto do amor lindo dos seus pais. — Acariciei as suas bochechas rosadas.— Você me ama, tia Laura?— Amo sim. Amo como se fosse da minha família.— Então não deixe ela me mandar para longe quando se casar com o meu pai. Me leva para morar com você. Por favor! Eu prometo ser um menino bom. — Fungou e secou os olhinhos cheios de lágrimas com o dorso das mãozinhas.O meu coração estava comprimido no peito. Queria poder levá-lo embora comigo para sempre.— Isso não vai acontecer, filho — falou Enzo, parado na porta entreaberta. — Nos dê um
LAURAA semana seguiu conforme a exigência do Enzo. Lorenzo estava amando ir para a minha casa, não ter mais as aulas extras e ficar de bobeira a tarde toda comigo. Depois da sua lição de casa, nós assistimos a filmes antigos infantis até às cinco da tarde. Descobri que ele adorava dançar, então afastei os sofás e a mesa de centro para os cantos, e liguei o som no volume mais alto permitido pelo síndico do prédio. Dançamos e ele disse gostar dos rocks brasileiros dos anos 80.— Está com fome? — perguntei, enquanto nós arrumávamos a sala.— Estou sim. E você?— Morrendo.Ele riu.— Sabe fazer macarrão?— Sei. É o que quer comer? Sabe que não faz parte da sua alimentação da semana, não é? Hoje ainda é sexta e massa só aos domingos.— Por favor — pediu manhoso, fazendo uma carinha de cachorrinho abandonado que me fez rir e não me deixou resistir.— Tudo bem. Vou fazer, mas você vai já para o banho.— Está bem. — Correu para o banheiro sumindo pelo corredor.— E se lave direito, Lorenzo.
LAURA— Quer ajuda? — perguntou Enzo da sala.— Não precisa — disse envergonhada. Tinha certeza de que estava os admirando com cara de boba e ele percebeu.Ele deixou Lorenzo sentado no sofá e veio até mim. Mesmo recusando a sua ajuda, ele tomou a iniciativa e colocou na lava-louças os pratos e as panelas sujas. Não impedi ele, recusando novamente. Queria-o perto de mim.— Posso te perguntar algo? — perguntou ele fechando a lava-louças.— Claro. O que quer saber?— Antes mesmo que Melissa dissesse ao Lorenzo que a sua mãe é falecida, ele já sabia. Eu o ouvi há algumas noites rezar pela alma dela. Você contou a ele?— Não! — respondi e olhei para o menino deitado no sofá, prestes a adormecer. — Lorenzo me disse achar que você estivesse mentindo sobre a mãe estar viajando. Ele já imaginava que ela já não estivesse mais entre nós, mas o que deu a ele essa certeza... foi você mencionar a palavra “viúvo” naquele dia. Uma das professoras explicou o significado desta palavra.— Eu nunca tive
LAURADescemos e segundos depois o táxi chegou levando-nos para nosso destino. Foram quinze minutos de intrigas entre Caio e Angelita. Eles pareciam crianças se implicando e não davam trégua, mesmo que eu estivesse sentada entre os dois.— Chegamos — avisou Caio quando o táxi estacionou próximo ao meio-fio, de frente a casa noturna.— É aqui? — perguntei um pouco tensa.— Espera. Não foi aqui que viemos a última vez que saímos juntas?— Já vieram aqui? — perguntou Caio descendo do táxi.— Sim — respondeu Angelita saindo pela outra porta. — Tenho um amigo que trabalha aqui na portaria.— Talvez eu o conheça.— Está tudo bem, Laura? — perguntou Angelita parando ao meu lado na calçada.— Está.Eu estava nervosa, era a boate do Enzo. Na última vez em que estive ali, discutimos sem ao menos nos conhecermos e ele me expulsou. As lembranças não eram as melhores, mas não me importava mais com elas. A questão era... Teria chances de encontrá-lo ali.— Vamos? — chamou Caio, tomando frente no ca
LAURACaio encarou-me confuso e depois olhou para Enzo, que tinha a sua mão estendida para mim.— Eu vou com ele. Mande uma mensagem para eu saber que chegou bem. — Beijei o seu rosto e virei-me para Enzo.Coloquei a minha mão sobre a sua e fui com ele por um corredor que nos levou até a saída dos fundos. Eu não sabia para onde ele me levaria, só sabia que queria ir.— Por que fez aquilo lá dentro? Você o machucou, sabia?— Por que VOCÊ estava fazendo aquilo? — Parou e virou-se para mim, largando a minha mão.O seu peito arfava alto, os seus ombros estavam rígidos e inflados.— Era só um cara. Só... estávamos dançando.— Não quero ver você fazendo isso! — gritou e passou as mãos com agonia pelos cabelos, mordendo o lábio inferior.— Olha só... Você não manda em mim, okay? — falei irritada.— Ainda não! — enfatizou.— Nunca irá! — gritei.Ele fechou o pouco espaço entre nós e beijou-me agarrando-me pela cintura, entranhando a sua outra mão nos meus cabelos da nuca e puxando-os com cert
LAURA— Não fique tensa. — Apertou levemente os meus ombros. — Estou sentindo o seu corpo tensionar contra o meu.— Enzo... — Virei-me para ele e encarei os seus lindos olhos azuis-claros.— Você é virgem? — perguntou com delicadeza e sem pudor, com um tom macio de voz, acariciando o meu rosto.— Não. — Mas quem me dera eu fosse.— Não sou aqueles loucos que gostam de amarras, chicotes ou outras coisas do tipo. Gosto de partilhar o controle do sexo. — Será bom, eu prometo. — Aproximou a sua boca do meu ouvido. — Você vai gostar. Você vai gozar — sussurrou.— Se eu pedir para que pare... você irá parar, não é?— Acredite em mim, meu anjo loiro. Você não irá me pedir para parar. — Engoli em seco. — Mas se pedir, eu irei. Vamos? — Afastou-se e ofereceu-me a sua mão.Peguei a sua mão e ele nos guiou até o quarto que, assim como a sala, era lindo e cheio de móveis caros e luxuosos. Uma obra de arte contemporânea que eu sabia valer milhões estava exposta acima da cabeceira da cama. Nós nos