Depois de comer metade dos salgados, dormi as horas seguintes, encolhida na poltrona por causa do frio, por não ter levado nenhuma coberta.
Teria dormido melhor, se não fosse em cada parada que o ônibus fizesse, as pessoas não tivesse que descer e fizesse o maior barulheira ao fazer isso.
Pouco tempo depois de amanhecer, acordo sentindo todo meu corpo dolorido.
Uma placa verde adiante na estrada dizia que já estávamos próximos.
Estava próxima do Rio de Janeiro. Finalmente.
Pouco menos de uma hora depois, o ônibus para em uma rodoviária bem mais movimentada do que a primeira que desci.
– Vê se toma cuidado – diz o fiscal ao lado do ônibus – Não confia em ninguém. Sabe pra onde ir?
Assinto, pegando o pedaço de papel com um endereço.
Ele lê o endereço.
– Não vá de ônibus, entendeu? – Assinto novamente – Pegue um táxi. Tem dinheiro para um táxi? – Mostro o dinheiro que ainda tinha – Deve dar. Só entre em um táxi que tiver outra pessoa. Entendeu?
– Ótimo – Ele me entrega o papel.
Ando para fora da rodoviária, algumas pessoas esbarrando em mim no trajeto.
Fora da rodoviária o movimento intenso agora, era de carros, ônibus e vans.
Tinha pessoas gritando vendendo água, outras vendendo salgados e outras chamando para entrar em vans.
Paro ao lado do ponto de ônibus, tentando encontrar um táxi.
Passa pelo menos dois, até que o terceiro, tinha alguém dentro e dou sinal.
O motorista para, me olhando de cima a baixo.
Entro no veículo, colocando a bolsa sobre meu colo ao sentar ao lado de uma mulher.
– Vai pra onde, moça? – O motorista pergunta, se virando em minha direção.
– Pra este lugar aí – digo entregando o papel.
– Este endereço? – Ele pergunta surpreso.
Assinto.
– Preciso ir para este endereço aí.
Ele volta a me olhar.
– É um lugar perigoso pra você ir sozinha. Tem parente lá?
Nego no mesmo instante.
– Preciso ir, moço. Pra este endereço aí.
Ele assenti relutante.
– Deixo você lá então. Só não posso entrar no morro.
No caminho até o morro. Tentava descobrir sozinha, o que era este tal deste morro.
Nunca havia ouvido falar e me parecia ser apenas um lugar simples, com casas simples num morro.
A mulher desce algum tempo depois, me deixando sozinha e apreensiva com aquele homem.
Mais alguns minutos e o centro da cidade é deixado para trás, dando lugar a casas aglomeradas uma do lado da outra.
O motorista estaciona o carro na entrada de uma longa estrada em subida, perto de um ponto de ônibus.
– É aqui, moça – diz me olhando – Só posso vir até aqui.
Assinto ansiosa.
– Deu quanto?
– Vou cobrar só 50 reais – Lhe dou o dinheiro, recebendo o troco.
Desço do ônibus, dando alguns passos para longe do táxi, começando a subir aquela subida que, não parecia ter um fim.
Paro algumas pessoas para pedir informações, todas dizem a mesma coisa: mais pra cima.
Já não aguentava andar, quando paro em uma viela e vejo Lidiane passar.
– Lidiane? – Chamo saindo as pressas da viela, encontrando ela parada na rua estreita.
– Maria? – Ela semicerra os olhos, me olhando com atenção – É você mesmo?
– É – Ela se aproxima, me abraçando.
– Tava preocupada com você. Pelas contas da minha mãe, já era para estar aqui.
Ela se afasta, mas não deixo de sorrir.
– Acho que me perdi. Aqui é longe, não é? – Olho para algumas crianças que passa correndo.
– É um pouco longe.
Lidiane estava diferente, desde a última vez que a vi.
Parecia mais...mulher.
O cabelo castanho– claro cacheado de antes, dera lugar a um cabelo esticado e quase perfeito.
A pele parda, antes queimada pelo sol, agora era parda.
Seu corpo não era mais magro e esguio. Tinha curvas e não era mais tão magra assim.
– Então, onde eu vou trabalhar? – Estava ansiosa para saber onde e poder começar o mais rápido possível.
Ela força um sorriso amarelo, sem jeito.
– É aqui perto.
– Então vamos! – Ela assenti hesitante, andando em minha frente.
As casas eram mais próximas do que imaginava, havia fios expostos por todo lado e esgoto de vez em quando.
As ruas eram asfaltadas, o que pra mim já era alguma coisa legal. Só via asfalto na cidade e ali via por toda parte.
Lidiane para em frente a uma casa de três andares, pintada de vermelho.
– É aqui – diz sem muita emoção.
– E o quê...exatamente vou fazer aqui? Sua mãe não disse no que iria trabalhar – Nas minha cabeça, iria trabalhar numa lanchonete ou em uma empresa – Você dorme aqui? Vou dormir aqui também?
Lidiane respira fundo, segurando minha mão.
– É melhor a gente entrar, Maria. Vou... explicar tudo para você.
Assinto receosa, entrando com ela na casa.
A sala da casa era simples. Havia apenas dois sofás de dois lugares velhos e uma televisão perto da janela. Pelo menos podia assistir. De vez em quando, ouvia a televisão de Valdirene de casa, principalmente a novela. Não conhecia as pessoas, mas sabia reconhecer suas vozes. O chão estava tão limpo, que dava até para ver o reflexo. Uma mulher alta, corpo com curvas generosas se aproxima. Ela lembrava Valdirene, mudando apenas a cor do cabelo num tom mais escuro que castanho– claro.– É essa aí? – pergunta olhando para Lidiane e depois para mim. Li
Abro a primeira gaveta da cômoda devagar. Um perfume levemente doce sai de seu interior, cujas roupas estavam bem dobradas. Roupas bonitas e aparentemente caras. Só havia visto algo parecido na feira. Como alguém ia embora e deixava aquelas roupas para trás?, questiono, ao desdobrar o que parecia ser um croped preto. Mainha nunca me deixará usar nada curto demais. Dizia que moça não se vestia daquele jeito. Até tentava discordar, achava bonito e não via mal algum em usar. Mas mainha sempre repetia que não queria uma filha perdida dentro de casa, que nós, éramos moças
– Não se mexe – diz Lidiane, algum tempo depois, passando um batom vermelho nos meus lábios. Estava me sentindo estranha em um vestido rosa– claro de bojo. Quase que não serviu e era justo demais.– O que você passou no seu cabelo? – questiona quando tenta arrumar. Dou de ombros.– Só lavei com água.– Não usou condicionador?– Nem shampoo – Lidiane para por um instante, me olhando, antes de voltar a tentar arrumar meu cabelo.– Você trouxe shampoo e condicionador? – pergunta baixo. Nego com a cabeça. Havia me acostumado em n&ati
– Maria – Lidiane chama, me sacudindo – Acorda. Tiro a coberta de cima da cabeça, olhando para Lidiane parada em frente da cama. Seus olhos se arregala um pouco ao se fixar em mim.– Caramba! – diz Katiane, se colocando nas costas de Lidiane – Bateram em você com vontade.– Melhor você levantar, se não quiser que a Jô arranque você daí – diz Kauane entrando no quarto, indo em direção do seu guarda– roupa. Lidiane faz um gesto com a cabeça para que levantasse. Obedeço, sentindo meu corpo doer de uma vez.– Vou comprar shampoo e...sabonete
Entro no último quarto vazio, ouvindo a porta se fechar.– É virgem mermo? – Gael pergunta. Inspiro profundamente assentindo, me virando para ele.– Responde – diz sério.– ...sim, senhor – digo com a voz trêmula. Ele dá um meio sorriso.– Não sou tão velho assim, pra me chamar de senhor. Me chama de Gael – diz com os olhos fixos em mim – Tá nervosa? Assinto novamente.– Tô.– Não vou fazer nada que não vá querer – Sustento seu olhar esperançosa.– ...posso ir então? &n
Acordo assustada, depois de ter dormido o que pareceu longas horas. Às camas estavam vazias e o dia já havia amanhecido, o que indicava claramente que estava atrasada, para o que fosse fazer naquele dia. Levanto ainda sonolenta, passando ás mãos no rosto antes de sair do quarto com minha escova de dente. Saindo do terceiro andar, noto algumas meninas limpando o segundo andar e outras limpando os demais cômodos. O café da manhã ainda estava sobre a mesa da cozinha, o que era mais uma vez estranho. Lidiane entra na cozinha com suas roupas sujas.– Por quê você não me acordou? – pergunto.&nb
Sentada nos pés da cama, encarava a porta, ansiosa para ver Gael entrar por ela. Ouço passos no corredor, que me faz arrumar a postura. A porta abre e não é exatamente Gael que para na minha frente.– Pelo jeito aqui não é o banheiro – O amigo de Gael ri, aparentemente bêbado – Ainda bem que não atrapalhei nenhuma foda – Ele leva a latinha de cerveja para a boca, tomando um gole, estendendo na minha direção – Bebe. Já bebi demais – pego a latinha hesitante, vendo ele deitar ao meu lado – Tu tá esperando alguém? Balanço a cabeça assentindo.– Estou – Encaro a latinha com a cerveja quase no
No dia seguinte, o que só se comentava na casa era o surto de Kauane e suspeitas de quem o havia rasgado. Não seria uma tarefa fácil descobrir, já que Kauane não se dava bem com muitas garotas e era mais odiada do que amada. Sentada no sofá perto da televisão, assistia a novela, notando algumas delas entrando e saindo da casa.– Maria – diz Jô do outro lado do cômodo, a olho no mesmo instante – Vem aqui – Meu coração acelera rapidamente, a medida que levanto e me aproximo dela, a seguindo até seu quarto que, por sinal era bem arrumado. Ela fecha a porta, pegando um celular em cima da cama.– Vou deixar você falar com sua m&at