Capítulo 3

      Valdirene me fez vestir um vestido florido de Lidiane, alegando que a roupa que estava vestindo não era boa para viajar e tirou uma foto do meu rosto, para que soubessem quem eu era quando chegasse no Rio.

        Depois disso, um homem de moto chega e ela me manda subir na garupa, dizendo que ele me deixaria na rodoviária.

       O trajeto até a cidade é longo, aproximadamente meia hora em meio ao pó e as pedras que dificultavam o caminho.

       Na rodoviária, o homem vai até o único guichê, comprando uma passagem, me entregando logo em seguida com duzentos reais.

       Sem dizer nada, vai embora, sem olhar para trás.

      Leio o papel amarelo, me guiando pelas placas, até encontrar o lugar que deveria ficar.

      No horário marcado, um ônibus aparece na plataforma com destino para o Rio de Janeiro.

      Não hesito em levantar e ir em sua direção.

      O fiscal me para no instante em que vou subir os degraus.

–  Identidade – Pego meu RG no bolso de fora da mochila, lhe entregando. Ele olha o RG com o cenho franzido, me olhando em seguida – Tem quantos anos?

–  18.

–  Tem cara de ser mais nova.

–  Mas não sou não. Faço 19  daqui há seis meses.

       Ele assenti, me entregando o documento.

–  Vai pra onde? – pergunta quando passo por ele.

       Sorrio ao me virar.

–  Vou para o Rio de Janeiro trabalhar.

–  Sozinha? – pergunta surpreso.

–  É – Volto a andar, encontrando a poltrona que estava no papel.

       Havia pegado um assento na janela, o que me deu uma boa visão de paisagem que se estendia ao sairmos do Ceará.

       Sabia que existia outro mundo, além da cidade que morava. Havia descoberto isso, na escola, nos livros didáticos e poder ver isso com meus próprios olhos, era gratificante.

        Nas primeiras horas dentro do ônibus, embalada por vozes e cheiro de comida, planejo usar meu primeiro salário para comprar um presente bem bonito para mainha e outro para Valdirene, por lembrar de mim.

        Sabia que logo mainha voltaria atrás. Não era de seu feitio renegar os filhos.

        Na primeira parada que o ônibus faz, a maioria dos passageiros começa a descer do ônibus.

       Sem saber o que fazer e com medo de ficar sozinha no ônibus, faço o mesmo, após pegar minha mochila.

–  Daqui a vinte minutos saímos – diz o fiscal, quando desço do ônibus.

        A rodoviária estava movimentada, com outros ônibus também estacionados.

       Caminho por entre ás pessoas, até parar em frente a um banheiro com uma pequena placa que dizia:

        Usar o banheiro, 2 reais.

        Banho, 5 reais.

        Olho para a senhora ao lado da porta.

–  O banho é de cuia? – pergunto apontado para a placa. Se fosse, não valeria o dinheiro não.

         Ela franze o cenho.

–  É de chuveiro, moça – Responde ríspida.

        Chuveiro, penso sorrindo.

–  Será que dá tempo de eu tomar banho de chuveiro? Meu ônibus sai em vinte minutos.

        Ela dá de ombros.

–  Se você for rápida...

        Pego uma nota de 100 reais, estendendo em sua direção.

        Ela ergue às sobrancelhas, me devolvendo 95 reais.

        Entro no banheiro bem iluminado, parando em frente ao espelho retangular, ao ver meu reflexo.

       Minha pele estava mais escura do que imaginava, por causa do sol. Nunca havia percebido que meus olhos éram tão redondos e que meu rosto fosse tão contraditório a minha idade.

       Uma mulher sai de um reservado ao lado com chuveiro, penduro minha bolsa na porta e a fecho ao entrar, tirando o vestido rapidamente.

        Abro o registro do chuveiro, me assustando quando a água quente toca minha pele, trazendo uma sensação boa.

       Aproveito que estava ali e coloco minha cabeça em baixo da água, adorando a sensação.

       Noto um sabonete ao lado, com certeza deixado pela mulher, que não hesito em usar. Ensaboando meu cabelo e meu corpo.

       Me apresso quando lembro do ônibus, tirando todo o sabão o mais rápido que podia.

       Tiro minha toalha gasta de dentro da mochila, a cheirando profundamente, lembrando de casa.

       Saio do reservado com o cabelo ainda pingando, apesar de tê– lo secado, abrindo um largo sorriso para a senhora na porta.

–  Quanto tempo falta?

–  Dez minutos – diz olhando o relógio de pulso.

–  Deixe eu ir então.

       Meu estômago começar a roncar. Sabia que deveriam vender alguma coisa por ali.

       Entro em um restaurante, parando abruptamente ao ver diversos tipos de salgados em minha frente.

       Ali era o céu, com certeza.

      Chuveiro de água quente e comida boa.

–  O que vai querer? – Uma moça pergunta atrás do balcão.

–  Dez salgados – Respondo sem olhar para ela.

–  Dez?

–  Desse. Desse e desse – digo apontando para os salgados.

      Ela os pega, colocando em uma sacolinha branca fina.

–  O que mais?

–  Tem água? – Ergo a cabeça. Ela pisca, antes de inspirar profundamente e dar um passo para o lado.

–  Água. Refrigerante e suco – diz olhando para o frízer.

–  Quero refrigerante. Dois!

–  Latinha ou garrafa?

–  Latinha – Sorrio. Sempre quis tomar refrigerante numa latinha.

      Ela pega as duas latinha, voltando para o balcão.

–  Quarenta reais.

      Pego o dinheiro, deixando sobre o balcão, para pegar as duas sacolinhas.

       Na saída do restaurante, encontro uma senhora  pedindo esmola.

      Pego dois salgados e um dos refrigerantes, me aproximando dela.

–  Oh, minha fia – diz com a voz rouca – Deus lhe abençoe e guie seu caminho.

–  Amém – murmuro sorrindo, andando em seguida na direção do ônibus.

 

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo