Valdirene me fez vestir um vestido florido de Lidiane, alegando que a roupa que estava vestindo não era boa para viajar e tirou uma foto do meu rosto, para que soubessem quem eu era quando chegasse no Rio.
Depois disso, um homem de moto chega e ela me manda subir na garupa, dizendo que ele me deixaria na rodoviária.
O trajeto até a cidade é longo, aproximadamente meia hora em meio ao pó e as pedras que dificultavam o caminho.
Na rodoviária, o homem vai até o único guichê, comprando uma passagem, me entregando logo em seguida com duzentos reais.
Sem dizer nada, vai embora, sem olhar para trás.
Leio o papel amarelo, me guiando pelas placas, até encontrar o lugar que deveria ficar.
No horário marcado, um ônibus aparece na plataforma com destino para o Rio de Janeiro.
Não hesito em levantar e ir em sua direção.
O fiscal me para no instante em que vou subir os degraus.
– Identidade – Pego meu RG no bolso de fora da mochila, lhe entregando. Ele olha o RG com o cenho franzido, me olhando em seguida – Tem quantos anos?
– 18.
– Tem cara de ser mais nova.
– Mas não sou não. Faço 19 daqui há seis meses.
Ele assenti, me entregando o documento.
– Vai pra onde? – pergunta quando passo por ele.
Sorrio ao me virar.
– Vou para o Rio de Janeiro trabalhar.
– Sozinha? – pergunta surpreso.
– É – Volto a andar, encontrando a poltrona que estava no papel.
Havia pegado um assento na janela, o que me deu uma boa visão de paisagem que se estendia ao sairmos do Ceará.
Sabia que existia outro mundo, além da cidade que morava. Havia descoberto isso, na escola, nos livros didáticos e poder ver isso com meus próprios olhos, era gratificante.
Nas primeiras horas dentro do ônibus, embalada por vozes e cheiro de comida, planejo usar meu primeiro salário para comprar um presente bem bonito para mainha e outro para Valdirene, por lembrar de mim.
Sabia que logo mainha voltaria atrás. Não era de seu feitio renegar os filhos.
Na primeira parada que o ônibus faz, a maioria dos passageiros começa a descer do ônibus.
Sem saber o que fazer e com medo de ficar sozinha no ônibus, faço o mesmo, após pegar minha mochila.
– Daqui a vinte minutos saímos – diz o fiscal, quando desço do ônibus.
A rodoviária estava movimentada, com outros ônibus também estacionados.
Caminho por entre ás pessoas, até parar em frente a um banheiro com uma pequena placa que dizia:
Usar o banheiro, 2 reais.
Banho, 5 reais.
Olho para a senhora ao lado da porta.
– O banho é de cuia? – pergunto apontado para a placa. Se fosse, não valeria o dinheiro não.
Ela franze o cenho.
– É de chuveiro, moça – Responde ríspida.
Chuveiro, penso sorrindo.
– Será que dá tempo de eu tomar banho de chuveiro? Meu ônibus sai em vinte minutos.
Ela dá de ombros.
– Se você for rápida...
Pego uma nota de 100 reais, estendendo em sua direção.
Ela ergue às sobrancelhas, me devolvendo 95 reais.
Entro no banheiro bem iluminado, parando em frente ao espelho retangular, ao ver meu reflexo.
Minha pele estava mais escura do que imaginava, por causa do sol. Nunca havia percebido que meus olhos éram tão redondos e que meu rosto fosse tão contraditório a minha idade.
Uma mulher sai de um reservado ao lado com chuveiro, penduro minha bolsa na porta e a fecho ao entrar, tirando o vestido rapidamente.
Abro o registro do chuveiro, me assustando quando a água quente toca minha pele, trazendo uma sensação boa.
Aproveito que estava ali e coloco minha cabeça em baixo da água, adorando a sensação.
Noto um sabonete ao lado, com certeza deixado pela mulher, que não hesito em usar. Ensaboando meu cabelo e meu corpo.
Me apresso quando lembro do ônibus, tirando todo o sabão o mais rápido que podia.
Tiro minha toalha gasta de dentro da mochila, a cheirando profundamente, lembrando de casa.
Saio do reservado com o cabelo ainda pingando, apesar de tê– lo secado, abrindo um largo sorriso para a senhora na porta.
– Quanto tempo falta?
– Dez minutos – diz olhando o relógio de pulso.
– Deixe eu ir então.
Meu estômago começar a roncar. Sabia que deveriam vender alguma coisa por ali.
Entro em um restaurante, parando abruptamente ao ver diversos tipos de salgados em minha frente.
Ali era o céu, com certeza.
Chuveiro de água quente e comida boa.
– O que vai querer? – Uma moça pergunta atrás do balcão.
– Dez salgados – Respondo sem olhar para ela.
– Dez?
– Desse. Desse e desse – digo apontando para os salgados.
Ela os pega, colocando em uma sacolinha branca fina.
– O que mais?
– Tem água? – Ergo a cabeça. Ela pisca, antes de inspirar profundamente e dar um passo para o lado.
– Água. Refrigerante e suco – diz olhando para o frízer.
– Quero refrigerante. Dois!
– Latinha ou garrafa?
– Latinha – Sorrio. Sempre quis tomar refrigerante numa latinha.
Ela pega as duas latinha, voltando para o balcão.
– Quarenta reais.
Pego o dinheiro, deixando sobre o balcão, para pegar as duas sacolinhas.
Na saída do restaurante, encontro uma senhora pedindo esmola.
Pego dois salgados e um dos refrigerantes, me aproximando dela.
– Oh, minha fia – diz com a voz rouca – Deus lhe abençoe e guie seu caminho.
– Amém – murmuro sorrindo, andando em seguida na direção do ônibus.
Depois de comer metade dos salgados, dormi as horas seguintes, encolhida na poltrona por causa do frio, por não ter levado nenhuma coberta. Teria dormido melhor, se não fosse em cada parada que o ônibus fizesse, as pessoas não tivesse que descer e fizesse o maior barulheira ao fazer isso. Pouco tempo depois de amanhecer, acordo sentindo todo meu corpo dolorido. Uma placa verde adiante na estrada dizia que já estávamos próximos. Estava próxima do Rio de Janeiro. Finalmente. Pouco menos de uma hora depois, o ônibus para em uma rodoviária bem mais movimen
A sala da casa era simples. Havia apenas dois sofás de dois lugares velhos e uma televisão perto da janela. Pelo menos podia assistir. De vez em quando, ouvia a televisão de Valdirene de casa, principalmente a novela. Não conhecia as pessoas, mas sabia reconhecer suas vozes. O chão estava tão limpo, que dava até para ver o reflexo. Uma mulher alta, corpo com curvas generosas se aproxima. Ela lembrava Valdirene, mudando apenas a cor do cabelo num tom mais escuro que castanho– claro.– É essa aí? – pergunta olhando para Lidiane e depois para mim. Li
Abro a primeira gaveta da cômoda devagar. Um perfume levemente doce sai de seu interior, cujas roupas estavam bem dobradas. Roupas bonitas e aparentemente caras. Só havia visto algo parecido na feira. Como alguém ia embora e deixava aquelas roupas para trás?, questiono, ao desdobrar o que parecia ser um croped preto. Mainha nunca me deixará usar nada curto demais. Dizia que moça não se vestia daquele jeito. Até tentava discordar, achava bonito e não via mal algum em usar. Mas mainha sempre repetia que não queria uma filha perdida dentro de casa, que nós, éramos moças
– Não se mexe – diz Lidiane, algum tempo depois, passando um batom vermelho nos meus lábios. Estava me sentindo estranha em um vestido rosa– claro de bojo. Quase que não serviu e era justo demais.– O que você passou no seu cabelo? – questiona quando tenta arrumar. Dou de ombros.– Só lavei com água.– Não usou condicionador?– Nem shampoo – Lidiane para por um instante, me olhando, antes de voltar a tentar arrumar meu cabelo.– Você trouxe shampoo e condicionador? – pergunta baixo. Nego com a cabeça. Havia me acostumado em n&ati
– Maria – Lidiane chama, me sacudindo – Acorda. Tiro a coberta de cima da cabeça, olhando para Lidiane parada em frente da cama. Seus olhos se arregala um pouco ao se fixar em mim.– Caramba! – diz Katiane, se colocando nas costas de Lidiane – Bateram em você com vontade.– Melhor você levantar, se não quiser que a Jô arranque você daí – diz Kauane entrando no quarto, indo em direção do seu guarda– roupa. Lidiane faz um gesto com a cabeça para que levantasse. Obedeço, sentindo meu corpo doer de uma vez.– Vou comprar shampoo e...sabonete
Entro no último quarto vazio, ouvindo a porta se fechar.– É virgem mermo? – Gael pergunta. Inspiro profundamente assentindo, me virando para ele.– Responde – diz sério.– ...sim, senhor – digo com a voz trêmula. Ele dá um meio sorriso.– Não sou tão velho assim, pra me chamar de senhor. Me chama de Gael – diz com os olhos fixos em mim – Tá nervosa? Assinto novamente.– Tô.– Não vou fazer nada que não vá querer – Sustento seu olhar esperançosa.– ...posso ir então? &n
Acordo assustada, depois de ter dormido o que pareceu longas horas. Às camas estavam vazias e o dia já havia amanhecido, o que indicava claramente que estava atrasada, para o que fosse fazer naquele dia. Levanto ainda sonolenta, passando ás mãos no rosto antes de sair do quarto com minha escova de dente. Saindo do terceiro andar, noto algumas meninas limpando o segundo andar e outras limpando os demais cômodos. O café da manhã ainda estava sobre a mesa da cozinha, o que era mais uma vez estranho. Lidiane entra na cozinha com suas roupas sujas.– Por quê você não me acordou? – pergunto.&nb
Sentada nos pés da cama, encarava a porta, ansiosa para ver Gael entrar por ela. Ouço passos no corredor, que me faz arrumar a postura. A porta abre e não é exatamente Gael que para na minha frente.– Pelo jeito aqui não é o banheiro – O amigo de Gael ri, aparentemente bêbado – Ainda bem que não atrapalhei nenhuma foda – Ele leva a latinha de cerveja para a boca, tomando um gole, estendendo na minha direção – Bebe. Já bebi demais – pego a latinha hesitante, vendo ele deitar ao meu lado – Tu tá esperando alguém? Balanço a cabeça assentindo.– Estou – Encaro a latinha com a cerveja quase no