MELINA A primeira coisa que senti ao acordar ainda de madrugada foi o calor, mas não era um calor comum de uma noite abafada ou o aconchego de cobertas espessas de pele de ovelha. Era um calor pulsante que parecia vir de dentro de mim, como se meu próprio sangue estivesse fervendo.Me revirei entre os lençóis de pele de animal, me sentindo ofegante, enquanto uma urgência estranha percorria meu corpo. Minhas pernas tremiam, meus músculos latejavam e meu ventre… meu útero queimava. Eu já tinha ficado no cio várias outras vezes, mas dessa vez estava totalmente diferente, pois eu nunca havia sentido um desejo de acasalar tão intenso como esse. Doloroso e agonizante. Sentia como se cada célula do meu corpo clamasse por algo que eu ainda não queria admitir, um homem metade lobo que lutei para rejeitar desde que cheguei aqui.O Alfa Amarok.— Não… — murmurei para mim mesma, apertando os olhos com força e tentando conter um gemido que ameaçava escapar da minha garganta. — É só mais um cio
AMAROK O ar da floresta me cortou como uma lâmina afiada assim que deixei a cabana a contragosto em direção à floresta.Um alívio momentâneo me atingiu, aliviando um pouco a febre que corroía minha pele desde que senti o cheiro dela antes mesmo de chegar em casa, mas foi apenas uma amostra de alívio, pois nem o frio, nem a distância, nem o silêncio da mata adormecida foram suficientes para abafar o caos que Melina tinha despertado dentro de mim.Me afastei o máximo que consegui da cabana, correndo entre as árvores como se fugir do perfume dela fosse algo possível, porém não era. Sua essência feminina agora estava entranhada na minha pele, no meu íntimo e no fundo da minha garganta que simplesmente queria uivar para a lua.Corri até perder meu fôlego e caí de joelhos perto de uma clareira, onde cravei as minhas mãos humanas na terra úmida, arfando como um animal machucado. Sentia meu lobo ferido por dentro, machucado por algo que eu e ele queríamos mais do que oxigênio, porém que não
O silêncio que agora se fazia na nossa pequena casa de madeira era torturante, enquanto eu lutava contra as minhas pernas trêmulas para permanecer em pé. As minhas mãos estavam frias e suadas e me forçava a continuar olhando para a minha família na minha frente, depois de anunciarem que tinham me prometido em casamento a Amarok Mavros, o Alfa da nossa alcateia, e eu me negar. Se fosse em outras circunstâncias normais, seria o sonho de qualquer fêmea da nossa matilha se casar com o líder do grupo, porém nenhuma mulher da vila queria ser esposa do temido e cruel Alfa e, como eu não passava de uma simples humana sem valor por não ter uma loba, estavam me entregando de bandeja para ele. Para um assassino sanguinário. Diante de mim estavam a minha mãe, o meu pai e a minha única irmã mais velha. — Você deveria se sentir honrada, Melina Katsaros — Zena, minha mãe, disse após eu rejeitar o casamento arranjado com aquele monstro. — Finalmente arranjamos alguém da alcateia que tem coragem
Pisei o pé mais forte no acelerador da caminhonete barulhenta, sentindo a adrenalina reverberar pelo meu corpo e vendo os faróis de luzes amarelas clarearem o caminho terroso e escuro, sabendo que, a essa altura do campeonato e devido ao barulho do motor velho quando dei partida na garagem, meus pais a essa hora já sabiam da minha fuga.O céu estava nublado, anunciando que choveria em breve, e ao longe era possível ver alguns raios cortando o céu e fazendo um enorme clarão. Um novo trovão seguido de um raio caiu bem próximo e olhei assustada pela janela do motorista quando vi um vulto preto correndo pela floresta adentro.Com as minhas mãos começando a suar e agora com medo, continuei acelerando o carro com o meu pé trêmulo, me agarrando na esperança de fugir desse lugar que só me trouxe tristeza e recomeçar uma nova vida em algum lugar bem distante.Eu só pisquei meus olhos em uma fração de segundos e tomei um susto quando, de repente, um homem enorme apareceu no meio da estrada e no
MELINA O som cada vez mais próximo dos galhos estalando sob suas passadas pesadas era como uma ameaça velada, enquanto Amarok rosnava e se aproximava do buraco pequeno entre as pedras onde eu entrei para me esconder.Tentei recuar instintivamente para trás, mas como o buraco onde me enfiei só tinha entrada e nenhuma saída, apenas arregalei meus olhos, com o meu coração pulsando como um tambor frenético dentro do meu peito. Ele parou a alguns passos de mim e me olhou de cima, com aqueles olhos vermelhos que denunciavam a fera interna que era. Amarok não estava totalmente transformado em lobo, pois seu corpo, que estava apenas coberto por uma calça jeans surrada, era uma mistura de lobisomem, com uma barriga definida da sua forma humana e garras expostas nas mãos do seu lobo.Um rosnado baixo, mas intimidador, saiu da sua garganta, fazendo-me encolher ainda mais como um bichinho assustado. Antes que pudesse gritar ou correr, ele me puxou para fora com suas garras afiadas e me jogou so
MELINATotalmente o oposto do monstro sem coração que achei que me jogaria dentro de uma jaula e me manteria presa como um bichinho de estimação, Amarok me deu uma camisa quente sua para me trocar no banheiro, já que me tremia inteira de frio por causa da roupa molhada e suja de lama, e me ordenou deitar entre as lãs quentes de pele de ovelhas que ele espalhou em frente à lareira para me aquecer.Estava tão sem forças para lutar com meu captor pela minha liberdade e fugir, que apenas fechei meus olhos cansados e me permiti dormir entre as peles macias e quentinhas dos animais indefesos que ele matou. Acordei na manhã seguinte, sentindo todo o meu corpo dolorido e com uma forte dor de cabeça. Olhei em volta, demorando para processar mentalmente onde eu estava. Me levantei em um pulo ao perceber que não tinha sido um pesadelo e que eu realmente fui prometida e sequestrada pelo Alfa.A madeira rangeu sob meus pés descalços enquanto caminhava lentamente e meio desorientada, apenas querend
AMAROK De volta à minha casa nas montanhas e um pouco longe da vila, joguei Melina no chão de madeira com menos brutalidade do que eu esperava devido à raiva interna que sentia, mas ainda assim sem qualquer delicadeza. Assim que me desfiz dela, andei até a porta e fechei-a com força, denunciando através desse ato o real ódio que sentia por ela tentar fugir de mim novamente, com o som da madeira se chocando e ecoando pela casa como um trovão. Observei Melinda se levantar devagar e com dificuldade.Sua respiração encontrava-se visivelmente pesada, com seus cabelos longos grudados no rosto suado e sujo de lama. Só que, diferente da primeira vez em que ela me olhou nos olhos, dessa vez não havia mais medo em suas íris verdes.Havia fúria.— Eu te odeio, Alfa — as palavras dela cortaram o ar como lâminas.Encarei ela por um longo momento, vendo seus ombros subindo e descendo com a respiração acelerada. Seus olhos intensos me fitavam como se fosse um fogo prestes a encendear tudo.— Pode m
MELINA Sozinha no silêncio agora doloroso da sala após Amarok sair batendo a porta, caí de joelhos no chão, sentindo o peito doer e meus olhos arderem. As lágrimas vieram com força, mas não de fraqueza, e sim de ódio e de exaustão. De resistência.Porque mesmo que Amarok me forçasse a me casar com ele, eu não iria ceder. Não importa quantas vezes fugisse e o Alfa me trouxesse de volta, eu nunca seria dele.*O céu estava coberto por nuvens espessas, como se o próprio tempo noturno estivesse de luto pelo que estava prestes a acontecer comigo. O ar frio e cortante da floresta parecia pesar sobre meus ombros como um pesadelo sombrio, enquanto me encontrava vestida em um vestido de noiva e usando um véu, que Amarok já tinha comprado para mim. Descia a trilha de pedra em direção à aldeia contra a minha vontade, com os meus pulsos presos por correntes que brilhavam sob a lua cheia. Cada passo forçado que eu dava em direção ao altar ecoava em minha alma como um pedido de socorro.Dois gua