Capítulo 04

AMAROK 

De volta à minha casa nas montanhas e um pouco longe da vila, joguei Melina no chão de madeira com menos brutalidade do que eu esperava devido à raiva interna que sentia, mas ainda assim sem qualquer delicadeza. 

Assim que me desfiz dela, andei até a porta e fechei-a com força, denunciando através desse ato o real ódio que sentia por ela tentar fugir de mim novamente, com o som da madeira se chocando e ecoando pela casa como um trovão. Observei Melinda se levantar devagar e com dificuldade. Sua respiração encontrava-se visivelmente pesada, com seus cabelos longos grudados no rosto suado e sujo de lama. Só que, diferente da primeira vez em que ela me olhou nos olhos, dessa vez não havia mais medo em suas íris verdes.

Havia fúria.

— Eu te odeio, Alfa — as palavras dela cortaram o ar como lâminas.

Encarei ela por um longo momento, vendo seus ombros subindo e descendo com a respiração acelerada. Seus olhos intensos me fitavam como se fosse um fogo prestes a encendear tudo.

— Pode me odiar o quanto quiser — rebati, com a minha voz saindo baixa e ao mesmo tempo perigosa. — Desde que seja minha esposa e não tente mais sair dessa casa.

Melina deu um passo à frente, com o peito e o queixo petulante erguido, mesmo que estivesse visivelmente trêmula por dentro e não chegasse nem na altura dos meus ombros.

— Isso que você tem a me oferecer não é vida, é doente e errado — ela gritou, visivelmente alterada. — Você me caçou como um animal e ainda me trouxe à força até aqui de novo. Quer que eu aceite essa prisão? Um casamento forçado e ainda te agradeça?

Em um piscar de olhos, eu já estava basicamente em cima dela, tão perto que podia sentir o calor de seu corpo e sua respiração descontrolada contra mim. 

Travando meu maxilar e me segurando para não jogá-la contra a parede e beijá-la até fazer entrar em sua cabeça dura que agora era minha, proferi:

— Você ainda não entende, não é? Você é minha, minha companheira, a única que o meu lobo reconhece. Se você fugir, se eu te perder e se alguém ousar te tocar... eu perderei o controle, humana.

Ela riu na minha cara, uma risada seca saindo da sua garganta, cheia de deboche e ao mesmo tempo dor.

— Qual parte você não entendeu que eu sou uma humana e não tenho uma loba? — Ela perguntou retoricamente e era visível na sua voz a angústia. — Não tem como eu ser sua companheira, não tem como seu lobo me reconhecer.

Estreitei meus olhos e algo dentro de mim vacilou e, pela primeira vez, desde que parecia tão certo tê-la sequestrado, agora me sentia confuso. Chacoalhei minha cabeça e andei sem rumo pelo espaço livre da minha sala, reorganizando minha mente e me lembrando de ontem, quando coloquei meus olhos nela pela primeira vez.

Eu fui até a aldeia com o intuito de vê-la antes de me casar, pois um Alfa de trinta anos, como eu, e com a minha fama de cruel, nunca tinha conseguido arranjar uma fêmea disposta a se casar comigo por causa do medo que elas tinham de mim e precisava saber se valeria a dor de cabeça me comprometer com uma humana sem loba que nunca vi.

Sempre que eu ficava no cio e era insuportável ficar sem acasalar, eu viajava até outras alcateias distantes e acasalava sem procriar com fêmeas que acasalavam comigo de bom grado, sem eu precisar me esforçar. Só que me casar com uma fêmea de fora do meu bando, e de uma alcateia distante, nunca foi uma opção para mim.

Então, no momento em que seus pais vieram até mim e me deram o passe livre para me casar com a sua filha mais nova, que eles viam como inútil por não ter uma loba, eu já me senti conectado com Melina de alguma forma.

Mesmo eu sendo o Alfa da matilha e que me devessem respeito, sabia que nunca seria visto como um deles e que também não era digno de ter uma esposa submissa que quisesse casar comigo por livre e espontânea vontade, pois sempre fui titulado como um líder cruel que os pais tinham medo de entregar seus bens mais preciosos.

Até boatos mentirosos de que eu era canibal e que devorava minha própria espécie rolavam por algumas bocas da matilha e isso só afastou ainda mais as fêmeas que já tinham medo de mim. Apesar dessas coisas prejudicarem minha vida amorosa, eu não sentia nenhuma necessidade de reverter isso, pois para mim era melhor ser temido do que ser visto como um Alfa fraco e indigno de respeito.

Então, ontem, quando eu estava prestes a bater na porta da casa de Melina, sem me importar se era madrugada, para vê-la antes de me casar com ela, que visivelmente precisava de um marido assim como eu precisava de uma esposa, me vi furioso e seguindo-a quando roubou o carro do seu pai e fugiu.

Achei que nunca sentiria conexão com nenhuma fêmea e que meu casamento com ela seria apenas por conveniência, mas quando eu interpretei o carro na estrada e olhei dentro dos seus olhos assustados e arregalados, eu soube naquele momento que era minha.

Que Melina era minha predestinada.

Então eu realmente não estava maluco e essa humana pequena na minha frente era minha companheira, mesmo que ainda não conseguisse compreender como meu lobo interior se conectou com uma humana sem loba.

Mesmo que ela continuasse negando.

Voltei dos meus devaneios, quando Melinda gritou com raiva:

— Eu prefiro morrer na floresta do que ser sua esposa e viver como uma prisioneira.

As suas palavras me atingiram como um soco no estômago de um jeito tão doloroso e surreal que só reforçava ainda mais o fato de que ela era mesmo minha predestinada, pois companheiros não suportavam ser rejeitados por seus destinados.

Fiquei parado por longos segundos, olhando-a com raiva e tentando decidir se deveria protegê-la como minha ou destruí-la como minha inimiga. Só que antes de fazer uma besteira da qual me arrependeria depois, me virei e caminhei até a porta da minha casa. 

Parei com a mão na maçaneta e, sem olhar para trás, ameacei:

— Tente fugir de novo e vou torná-la minha prisioneira de verdade, até você finalmente aceitar o que é para mim e o que somos. Vamos nos casar hoje à noite, diante de todos da aldeia e da lua cheia, você querendo ou não, humana.

E saí batendo a porta atrás de mim.

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