MELINA
O som cada vez mais próximo dos galhos estalando sob suas passadas pesadas era como uma ameaça velada, enquanto Amarok rosnava e se aproximava do buraco pequeno entre as pedras onde eu entrei para me esconder.
Tentei recuar instintivamente para trás, mas como o buraco onde me enfiei só tinha entrada e nenhuma saída, apenas arregalei meus olhos, com o meu coração pulsando como um tambor frenético dentro do meu peito. Ele parou a alguns passos de mim e me olhou de cima, com aqueles olhos vermelhos que denunciavam a fera interna que era.
Amarok não estava totalmente transformado em lobo, pois seu corpo, que estava apenas coberto por uma calça jeans surrada, era uma mistura de lobisomem, com uma barriga definida da sua forma humana e garras expostas nas mãos do seu lobo.
Um rosnado baixo, mas intimidador, saiu da sua garganta, fazendo-me encolher ainda mais como um bichinho assustado. Antes que pudesse gritar ou correr, ele me puxou para fora com suas garras afiadas e me jogou sobre seu ombro como se eu fosse um saco de batatas.
O cheiro de pinho e terra molhada invadiu meus sentidos no momento em que começou a chover de repente, seguido pela sua voz grave que fez minha espinha gelar:
— Você foi prometida a mim para ser minha esposa e para eu fazer o que quiser.
— Não… não vou me casar com você, seu monstro — gritei, enquanto me debatia e acertava meus punhos fechados em suas costas nua. — Me solte, maldito.
Amarok não disse nada e meus socos pareciam não surtir nenhum efeito nele, porém surtiam em mim, que sentia meus dedos doendo a cada vez que acertava a sua pele dura feito pedra. Ignorando meus gritos de desespero, ele começou a caminhar comigo cativa em seu ombro com facilidade, como se eu fosse feita de plumas. Eu chutava o vento, implorava para que me colocasse no chão e tentava inutilmente me agarrar nos troncos das árvores pelo caminho, porém nada fazia o Alfa parar.
Nada me salvaria desse monstro.
A floresta escura e a chuva que se tornou mais intensa nos envolveram na penumbra da noite enquanto meus gritos foram se transformando em choramingos baixos de exaustão. O que sobrou do meu vestido agora estava todo encharcado e sujo de lama, juntamente com meu cabelo desgrenhado, e o frio brutal que castigava meu corpo frágil. Não sei por quantas horas Amarok andou e por quanto tempo eu dormi pendurada em seu ombro, mas de repente a floresta densa ficou para trás e as montanhas surgiram imponentes sob o céu que de nublado passou a ser estrelado.
A casa apareceu no meu campo de visão distorcido como uma sombra entre as rochas enormes, construída com madeiras escuras e pedras que até pareciam fazer parte da própria montanha.
Selvagem e isolada como seu dono.
Ele empurrou a porta com o ombro e entrou comigo. Automaticamente, o calor da lareira me envolveu, aliviando um pouco o frio que congelava minha pele. Amarok finalmente me colocou no chão, mas, antes que eu pensasse em fugir, ele já foi bloqueando a porta de saída com o seu corpo grande, que agora estava apenas em sua forma humana.
O Alfa era alto e forte, com uma barba meio cheia que desenhava seu maxilar. Seus olhos, que antes pareciam piscinas de sangue, agora eram de um azul calmo e profundo. Sentindo meu corpo trêmulo e fraco, encarei Amarok, sentindo meus olhos cheios de lágrimas.
— Isso… que você fez é um sequestro — falei, sentindo minha voz trêmula devido às lágrimas. — Eu só quero ir embora e prometo que nunca mais piso os pés na sua matilha.
Ele andou devagar na minha direção, fazendo-me recuar para trás até sentir que minhas costas bateram na madeira fria.
— Não importa o que você quer, Melina, pois a partir de amanhã você será minha esposa. Eu vou mandar e você vai apenas obedecer.
— Tenho certeza que o senhor não vai querer se casar com uma humana sem uma loba como eu — rebati, querendo fazer ele desistir desse casamento sem sentido a qualquer custo. — Meus pais devem ter mentido dizendo que eu era híbrida, mas não sou e não posso procriar também.
— Eu já sei de tudo isso — Amarok disse, enquanto observava meu corpo da cabeça aos pés, visivelmente conferindo o produto que meus pais lhe deram de bandeja. — Também sei que nunca acasalou antes.
— E mesmo sabendo que eu sou apenas humana e que não posso te dar filhotes, você aceitou casar comigo? — Questionei, incrédula.
— Sim — respondeu vagamente.
Se antes tinha um resquício de esperança de que ele me libertaria, agora eu tinha certeza que o Alfa nunca mais me deixaria ir.
MELINATotalmente o oposto do monstro sem coração que achei que me jogaria dentro de uma jaula e me manteria presa como um bichinho de estimação, Amarok me deu uma camisa quente sua para me trocar no banheiro, já que me tremia inteira de frio por causa da roupa molhada e suja de lama, e me ordenou deitar entre as lãs quentes de pele de ovelhas que ele espalhou em frente à lareira para me aquecer.Estava tão sem forças para lutar com meu captor pela minha liberdade e fugir, que apenas fechei meus olhos cansados e me permiti dormir entre as peles macias e quentinhas dos animais indefesos que ele matou. Acordei na manhã seguinte, sentindo todo o meu corpo dolorido e com uma forte dor de cabeça. Olhei em volta, demorando para processar mentalmente onde eu estava. Me levantei em um pulo ao perceber que não tinha sido um pesadelo e que eu realmente fui prometida e sequestrada pelo Alfa.A madeira rangeu sob meus pés descalços enquanto caminhava lentamente e meio desorientada, apenas queren
AMAROK De volta à minha casa nas montanhas e um pouco longe da vila, joguei Melina no chão de madeira com menos brutalidade do que eu esperava devido à raiva interna que sentia, mas ainda assim sem qualquer delicadeza. Assim que me desfiz dela, andei até a porta e fechei-a com força, denunciando através desse ato o real ódio que sentia por ela tentar fugir de mim novamente, com o som da madeira se chocando e ecoando pela casa como um trovão. Observei Melinda se levantar devagar e com dificuldade. Sua respiração encontrava-se visivelmente pesada, com seus cabelos longos grudados no rosto suado e sujo de lama. Só que, diferente da primeira vez em que ela me olhou nos olhos, dessa vez não havia mais medo em suas íris verdes.Havia fúria.— Eu te odeio, Alfa — as palavras dela cortaram o ar como lâminas.Encarei ela por um longo momento, vendo seus ombros subindo e descendo com a respiração acelerada. Seus olhos intensos me fitavam como se fosse um fogo prestes a encendear tudo.— Pode
MELINA Sozinha no silêncio agora doloroso da sala após Amarok sair batendo a porta, caí de joelhos no chão, sentindo o peito doer e meus olhos arderem. As lágrimas vieram com força, mas não de fraqueza, e sim de ódio e de exaustão. De resistência.Porque mesmo que Amarok me forçasse a me casar com ele, eu não iria ceder. Não importa quantas vezes fugisse e o Alfa me trouxesse de volta, eu nunca seria dele.*O céu estava coberto por nuvens espessas, como se o próprio tempo noturno estivesse de luto pelo que estava prestes a acontecer comigo. O ar frio e cortante da floresta parecia pesar sobre meus ombros como um pesadelo sombrio, enquanto me encontrava vestida em um vestido de noiva e usando um véu, que Amarok já tinha comprado para mim. Descia a trilha de pedra em direção à aldeia contra a minha vontade, com os meus pulsos presos por correntes que brilhavam sob a lua cheia. Cada passo forçado que eu dava em direção ao altar ecoava em minha alma como um pedido de socorro.Dois gua
MELINA Assim que o ritual de casamento terminou, a multidão se desmanchou. Vozes sussurradas e olhares de julgamento e curiosidade acompanhavam a gente, um casal recém-unido pela vontade do Alfa e não pela minha.Ainda sentia o peso das palavras do juramento queimando em minha pele e cada passo que dava ao lado dele em direção à floresta escura era como caminhar em cacos de vidro. A mão dele repousava em minha cintura com posse e uma falsa suavidade, me guiando pela trilha que levava à parte mais alta da floresta, onde ficava a cabana dele nas montanhas e que seria meu novo cativeiro.Ao voltarmos para a sua casa depois de uma longa caminhada cansativa para mim, ele abriu a porta com uma mão e, com a outra, gesticulou para que eu entrasse como se fosse um cavaleiro, mas sabia perfeitamente que era um ogro.Eu hesitei por um momento para entrar, por orgulho, por medo do que aconteceria quando passasse por essa porta, já que ele provavelmente estava ansioso pela lua de mel que, se dep
MELINAO amanhecer chegou silencioso, arrastado por uma névoa pesada que cobria a floresta como um véu de luto. Na cabana, o silêncio entre nós dois era espesso e sufocante.Eu já estava de pé, de frente para Amarok, com as costas eretas como uma rival diante do seu inimigo. Ele calçou o coturno de couro sem dizer uma única palavra e pegou sua faca de caçador com uma frieza de um soldado que partiria para a guerra. Mas antes de sair, parou na soleira da porta e olhou para mim, dizendo:— Eu vou caçar alguma coisa para você comer e volto logo. Não respondi e sequer o olhei na sua direção, mas uma ideia já tinha se formado na minha cabeça. Assim que o Alfa se foi e desapareceu entre as árvores, me movi como se fosse uma sombra.Sem levar nada, corri para fora da cabana e mergulhei na mata, tomando todo o cuidado do mundo para não pisar em um graveto e ele escutar. A floresta era densa, úmida e o frio cortava como se fossem facas finas, porém continuei correndo sem olhar para trás e o m
O silêncio que agora se fazia na nossa pequena casa de madeira era torturante, enquanto eu lutava contra as minhas pernas trêmulas para permanecer em pé. As minhas mãos estavam frias e suadas e me forçava a continuar olhando para a minha família na minha frente, depois de anunciarem que tinham me prometido em casamento a Amarok Mavros, o Alfa da nossa alcateia, e eu me negar. Se fosse em outras circunstâncias normais, seria o sonho de qualquer fêmea da nossa matilha se casar com o líder do grupo, porém nenhuma mulher da vila queria ser esposa do temido e cruel Alfa e, como eu não passava de uma simples humana sem valor por não ter uma loba, estavam me entregando de bandeja para ele. Para um assassino sanguinário. Diante de mim estavam a minha mãe, o meu pai e a minha única irmã mais velha. — Você deveria se sentir honrada, Melina Katsaros — Zena, minha mãe, disse após eu rejeitar o casamento arranjado com aquele monstro. — Finalmente arranjamos alguém da alcateia que tem coragem
Pisei o pé mais forte no acelerador da caminhonete barulhenta, sentindo a adrenalina reverberar pelo meu corpo e vendo os faróis de luzes amarelas clarearem o caminho terroso e escuro, sabendo que, a essa altura do campeonato e devido ao barulho do motor velho quando dei partida na garagem, meus pais a essa hora já sabiam da minha fuga.O céu estava nublado, anunciando que choveria em breve, e ao longe era possível ver alguns raios cortando o céu e fazendo um enorme clarão. Um novo trovão seguido de um raio caiu bem próximo e olhei assustada pela janela do motorista quando vi um vulto preto correndo pela floresta adentro.Com as minhas mãos começando a suar e agora com medo, continuei acelerando o carro com o meu pé trêmulo, me agarrando na esperança de fugir desse lugar que só me trouxe tristeza e recomeçar uma nova vida em algum lugar bem distante.Eu só pisquei meus olhos em uma fração de segundos e tomei um susto quando, de repente, um homem enorme apareceu no meio da estrada e no