MELINA
Totalmente o oposto do monstro sem coração que achei que me jogaria dentro de uma jaula e me manteria presa como um bichinho de estimação, Amarok me deu uma camisa quente sua para me trocar no banheiro, já que me tremia inteira de frio por causa da roupa molhada e suja de lama, e me ordenou deitar entre as lãs quentes de pele de ovelhas que ele espalhou em frente à lareira para me aquecer.
Estava tão sem forças para lutar com meu captor pela minha liberdade e fugir, que apenas fechei meus olhos cansados e me permiti dormir entre as peles macias e quentinhas dos animais indefesos que ele matou.
Acordei na manhã seguinte, sentindo todo o meu corpo dolorido e com uma forte dor de cabeça. Olhei em volta, demorando para processar mentalmente onde eu estava. Me levantei em um pulo ao perceber que não tinha sido um pesadelo e que eu realmente fui prometida e sequestrada pelo Alfa.
A madeira rangeu sob meus pés descalços enquanto caminhava lentamente e meio desorientada, apenas querendo achar a saída. Meus pés estavam machucados e tinha vários cortes espalhados pelo meu corpo todo, que foram feitos pelos galhos enquanto fugia. A cabana aconchegante parecia vazia e provavelmente Amarok tinha saído para caçar como os lobos machos faziam ou para patrulhar suas terras com Alfa da matilha.
Assim que me aproximei da porta de saída com a intenção de aproveitar essa oportunidade para fugir, vi o aviso escrito no papel e preso na madeira por uma faca de caçador:
Não tente fugir, futura esposa, pois a floresta não será nenhum pouco gentil com você sem mim.
Eu sabia que a floresta era perigosa, principalmente para mim que era apenas uma humana frágil, mas não podia simplesmente aceitar essa prisão e ser esposa dele de bom grado. Não importava quantas lareiras acesas ou cobertores macios o Alfa me desse, ou quantos servos mataria para me alimentar, pois nada mudaria o fato de eu estava aqui contra a minha vontade.
A luz dourada do raiar do sol entrava pelas janelas de vidro, projetando sombras no chão de madeira e trazendo a claridade sempre bem-vinda do dia. Sabendo que esse era o momento perfeito para fugir, peguei uma manta que tinha em cima da cadeira e enrolei sobre meus ombros, pois o tecido me aqueceria se eu sentisse frio.
Abri a porta com cautela, sentindo o meu coração martelando no peito e, com os meus olhos atentos, busquei qualquer sinal de movimento. Ao não ver nenhuma movimentação, corri para longe da cabana sem pensar duas vezes, sendo recebida pela floresta silenciosa.
Densa e perigosa.
Mesmo sabendo dos perigos que poderia encontrar pela frente, eu não parei. Continuei correndo, sentindo galho após galho bater contra o meu corpo e abrindo as feridas que já estavam em processo de cicatrização. Meus pés descalços afundavam na lama gelada da chuva passageira de ontem, mas também não parei, já que cada passo era como um grito de liberdade.
Só que, de repente, a floresta parecia ter ganhado vida própria, já que, inesperadamente, o vento começou a soprar as árvores como em forma de aviso e então eu ouvi seu uivo. Mas não era qualquer uivo, era um longo e feroz, que me alertava que ele já sabia que estava fugindo.
Por ser um lobo, sua audição era muito boa e, mesmo eu tentando pisar nos lugares certos para não fazer mais barulho que o necessário, o Alfa conseguiu ouvir os estalos dos galhos se quebrando pelo caminho da minha fuga de longe.
Agoniada, apressei ainda mais os meus passos, o medo acelerando meu corpo mais do que as minhas pernas doloridas aguentavam. Escorreguei na lama e caí, porém levantei com as minhas mãos sujas de terra e continuei correndo. Eu procurava uma trilha ou qualquer coisa que pudesse me levar para longe desse inferno.
Só que antes que pudesse chegar ao fim da clareira, um vulto escuro saltou do alto das árvores, me assustando e me fazendo cair para trás de bunda no chão.
Era Amarok e ele estava em sua forma humana, mas seus olhos brilhando no tom vermelho me alertava da sua metade lobo. Diferente de ontem, agora ele usava uma camisa branca que se encontrava suja de terra e folhas, denunciando que o Alfa havia corrido desembestado pela floresta atrás de mim.
— Você me desobedeceu e ousou fugir de mim, humana — rosnou, entre as presas cerradas e expostas.
Mesmo com medo de ser rasgada em pedaços e com meu corpo tremendo da cabeça aos pés, me mantive firme.
— Eu não sou sua… Não vou ser sua esposa — falei com a minha voz trêmula, criando uma coragem que até eu mesma desconhecia para enfrentar o Alfa. — Nunca vou me submeter a você.
Ele caminhou em passos duros e decididos até mim, como um predador encurralando a sua presa antes de devorá-la. Só que dessa vez havia algo diferente em seus olhos que oscilavam entre azul e vermelho, indicando que não era apenas raiva que sentia.
— Você não entende o que um Alfa como eu sente, humana tola — vociferou, parando diante de mim, que continuava caída no chão. — Tem algo incontrolável dentro de mim, algo mais forte do que eu, que simplesmente ficou louco quando percebeu que você estava tentando fugir de mim pela primeira vez. Então não adianta tentar fugir, pois nunca vou deixar você ir.
Após proferir essas palavras doentes e obsessivas, senti o chão sumir sob meus pés quando Amarok me puxou e me jogou mais uma vez em seus ombros largos, pouco se importando se eu estava suja de lama. Só que, diferente da primeira vez, onde lutei com unhas e dentes, dessa eu simplesmente não ofereci resistência.
Já que sabia que seria em vão.
AMAROK De volta à minha casa nas montanhas e um pouco longe da vila, joguei Melina no chão de madeira com menos brutalidade do que eu esperava devido à raiva interna que sentia, mas ainda assim sem qualquer delicadeza. Assim que me desfiz dela, andei até a porta e fechei-a com força, denunciando através desse ato o real ódio que sentia por ela tentar fugir de mim novamente, com o som da madeira se chocando e ecoando pela casa como um trovão. Observei Melinda se levantar devagar e com dificuldade. Sua respiração encontrava-se visivelmente pesada, com seus cabelos longos grudados no rosto suado e sujo de lama. Só que, diferente da primeira vez em que ela me olhou nos olhos, dessa vez não havia mais medo em suas íris verdes.Havia fúria.— Eu te odeio, Alfa — as palavras dela cortaram o ar como lâminas.Encarei ela por um longo momento, vendo seus ombros subindo e descendo com a respiração acelerada. Seus olhos intensos me fitavam como se fosse um fogo prestes a encendear tudo.— Pode
MELINA Sozinha no silêncio agora doloroso da sala após Amarok sair batendo a porta, caí de joelhos no chão, sentindo o peito doer e meus olhos arderem. As lágrimas vieram com força, mas não de fraqueza, e sim de ódio e de exaustão. De resistência.Porque mesmo que Amarok me forçasse a me casar com ele, eu não iria ceder. Não importa quantas vezes fugisse e o Alfa me trouxesse de volta, eu nunca seria dele.*O céu estava coberto por nuvens espessas, como se o próprio tempo noturno estivesse de luto pelo que estava prestes a acontecer comigo. O ar frio e cortante da floresta parecia pesar sobre meus ombros como um pesadelo sombrio, enquanto me encontrava vestida em um vestido de noiva e usando um véu, que Amarok já tinha comprado para mim. Descia a trilha de pedra em direção à aldeia contra a minha vontade, com os meus pulsos presos por correntes que brilhavam sob a lua cheia. Cada passo forçado que eu dava em direção ao altar ecoava em minha alma como um pedido de socorro.Dois gua
MELINA Assim que o ritual de casamento terminou, a multidão se desmanchou. Vozes sussurradas e olhares de julgamento e curiosidade acompanhavam a gente, um casal recém-unido pela vontade do Alfa e não pela minha.Ainda sentia o peso das palavras do juramento queimando em minha pele e cada passo que dava ao lado dele em direção à floresta escura era como caminhar em cacos de vidro. A mão dele repousava em minha cintura com posse e uma falsa suavidade, me guiando pela trilha que levava à parte mais alta da floresta, onde ficava a cabana dele nas montanhas e que seria meu novo cativeiro.Ao voltarmos para a sua casa depois de uma longa caminhada cansativa para mim, ele abriu a porta com uma mão e, com a outra, gesticulou para que eu entrasse como se fosse um cavaleiro, mas sabia perfeitamente que era um ogro.Eu hesitei por um momento para entrar, por orgulho, por medo do que aconteceria quando passasse por essa porta, já que ele provavelmente estava ansioso pela lua de mel que, se dep
MELINAO amanhecer chegou silencioso, arrastado por uma névoa pesada que cobria a floresta como um véu de luto. Na cabana, o silêncio entre nós dois era espesso e sufocante.Eu já estava de pé, de frente para Amarok, com as costas eretas como uma rival diante do seu inimigo. Ele calçou o coturno de couro sem dizer uma única palavra e pegou sua faca de caçador com uma frieza de um soldado que partiria para a guerra. Mas antes de sair, parou na soleira da porta e olhou para mim, dizendo:— Eu vou caçar alguma coisa para você comer e volto logo. Não respondi e sequer o olhei na sua direção, mas uma ideia já tinha se formado na minha cabeça. Assim que o Alfa se foi e desapareceu entre as árvores, me movi como se fosse uma sombra.Sem levar nada, corri para fora da cabana e mergulhei na mata, tomando todo o cuidado do mundo para não pisar em um graveto e ele escutar. A floresta era densa, úmida e o frio cortava como se fossem facas finas, porém continuei correndo sem olhar para trás e o m
O silêncio que agora se fazia na nossa pequena casa de madeira era torturante, enquanto eu lutava contra as minhas pernas trêmulas para permanecer em pé. As minhas mãos estavam frias e suadas e me forçava a continuar olhando para a minha família na minha frente, depois de anunciarem que tinham me prometido em casamento a Amarok Mavros, o Alfa da nossa alcateia, e eu me negar. Se fosse em outras circunstâncias normais, seria o sonho de qualquer fêmea da nossa matilha se casar com o líder do grupo, porém nenhuma mulher da vila queria ser esposa do temido e cruel Alfa e, como eu não passava de uma simples humana sem valor por não ter uma loba, estavam me entregando de bandeja para ele. Para um assassino sanguinário. Diante de mim estavam a minha mãe, o meu pai e a minha única irmã mais velha. — Você deveria se sentir honrada, Melina Katsaros — Zena, minha mãe, disse após eu rejeitar o casamento arranjado com aquele monstro. — Finalmente arranjamos alguém da alcateia que tem coragem
Pisei o pé mais forte no acelerador da caminhonete barulhenta, sentindo a adrenalina reverberar pelo meu corpo e vendo os faróis de luzes amarelas clarearem o caminho terroso e escuro, sabendo que, a essa altura do campeonato e devido ao barulho do motor velho quando dei partida na garagem, meus pais a essa hora já sabiam da minha fuga.O céu estava nublado, anunciando que choveria em breve, e ao longe era possível ver alguns raios cortando o céu e fazendo um enorme clarão. Um novo trovão seguido de um raio caiu bem próximo e olhei assustada pela janela do motorista quando vi um vulto preto correndo pela floresta adentro.Com as minhas mãos começando a suar e agora com medo, continuei acelerando o carro com o meu pé trêmulo, me agarrando na esperança de fugir desse lugar que só me trouxe tristeza e recomeçar uma nova vida em algum lugar bem distante.Eu só pisquei meus olhos em uma fração de segundos e tomei um susto quando, de repente, um homem enorme apareceu no meio da estrada e no
MELINA O som cada vez mais próximo dos galhos estalando sob suas passadas pesadas era como uma ameaça velada, enquanto Amarok rosnava e se aproximava do buraco pequeno entre as pedras onde eu entrei para me esconder.Tentei recuar instintivamente para trás, mas como o buraco onde me enfiei só tinha entrada e nenhuma saída, apenas arregalei meus olhos, com o meu coração pulsando como um tambor frenético dentro do meu peito. Ele parou a alguns passos de mim e me olhou de cima, com aqueles olhos vermelhos que denunciavam a fera interna que era. Amarok não estava totalmente transformado em lobo, pois seu corpo, que estava apenas coberto por uma calça jeans surrada, era uma mistura de lobisomem, com uma barriga definida da sua forma humana e garras expostas nas mãos do seu lobo.Um rosnado baixo, mas intimidador, saiu da sua garganta, fazendo-me encolher ainda mais como um bichinho assustado. Antes que pudesse gritar ou correr, ele me puxou para fora com suas garras afiadas e me jogou so