Pisei o pé mais forte no acelerador da caminhonete barulhenta, sentindo a adrenalina reverberar pelo meu corpo e vendo os faróis de luzes amarelas clarearem o caminho terroso e escuro, sabendo que, a essa altura do campeonato e devido ao barulho do motor velho quando dei partida na garagem, meus pais a essa hora já sabiam da minha fuga.
O céu estava nublado, anunciando que choveria em breve, e ao longe era possível ver alguns raios cortando o céu e fazendo um enorme clarão. Um novo trovão seguido de um raio caiu bem próximo e olhei assustada pela janela do motorista quando vi um vulto preto correndo pela floresta adentro.
Com as minhas mãos começando a suar e agora com medo, continuei acelerando o carro com o meu pé trêmulo, me agarrando na esperança de fugir desse lugar que só me trouxe tristeza e recomeçar uma nova vida em algum lugar bem distante.
Eu só pisquei meus olhos em uma fração de segundos e tomei um susto quando, de repente, um homem enorme apareceu no meio da estrada e no meu campo de visão. Tentei frear rapidamente, mas já estava em cima de mais e apenas tive o reflexo de fechar meus olhos e gritar, sentindo o impacto forte da caminhonete contra o corpo duro do desconhecido.
O impacto do metal foi muito forte, porém não foi o suficiente para me machucar, pois me agarrei no volante com desespero, impedindo que meu corpo chacoalhasse mais. A caminhonete tinha parado e, ainda atordoada, olhei para frente e tomei um susto ao ver olhos vermelhos me encarando através do vidro quebrado do carro.
Eu nunca tinha visto esses olhos pessoalmente, mas já tinha ouvido falar dos olhos vermelhos e sombrios do Alfa.
Para quem recentemente descobri que fui prometida.
Quando dei por mim, já estava correndo pela floresta escura, largando minha bolsa para trás no carro que estava com o capô todo amassado e sentindo o frio cortante atingindo minha pele sensível como se fossem facas afiadas.
As folhas e os galhos secos estalavam sob os meus pés agora descalços, pois assim que percebi que era o Alfa cruel, eu saí correndo da camionete sem pensar duas vezes e acabei perdendo as minhas sapatilhas no meio da fuga.
Enquanto corria pela floresta densa e sabendo que a minha vida dependia disso, os galhos chicoteavam meu corpo e se agarravam ao meu vestido branco como se a própria floresta quisesse impedir minha fuga.
A lua cheia mal atravessava a copa das árvores e sequer tinha coragem de olhar para trás para saber se ele estava me seguindo, mas mesmo assim usava essa pouca e única luz para correr.
Senti meu coração quase sair pela minha boca quando escutei o barulho audível de um galho quebrando atrás de mim. Eu não precisava olhar para trás para saber que era Amarok, pois só o fato de achar que ele estava me perseguindo me deixava mais em pânico.
Meu corpo estava ficando cansado e eu sabia que se parasse por um segundo sequer para recuperar o fôlego, eu seria alcançada. Meu coração batia tão forte no meu peito que parecia que iria parar a qualquer momento. Meu vestido de algodão agora encontrava-se todo rasgado nas pernas e a dor na sola dos meus pés descalços indicava que estavam machucados, mas nada disso me impedia de parar de fugir.
Nada disso me fazia olhar para trás.
Acidentalmente, tropecei em uma raiz no caminho estreito e caí de joelhos no chão duro, engolindo meu grito de dor na esperança de que ele não me achasse ou me alcançasse. A ardência latejou nos meus joelhos que se ralaram na queda juntamente com as palmas das minhas mãos. Me obrigando a levantar e ser forte, voltei a correr com as minhas pernas bambas e sentindo os músculos das minhas coxas tremendo e a minha respiração falhando.
Um uivo alto e aterrorizante cortou o ar, longo e dilacerante, me fazendo quase chorar por saber que ele estava transformado em sua besta e perto de mim.
Muito perto.
Corri mais, sentindo o ar queimando meus pulmões e com a sensação aterrorizante de que o Alfa me alcançaria a qualquer momento. Estava quase desistindo e caindo no chão de exaustão, quando meus olhos avistaram uma fenda entre duas pedras enormes mais adiante.
Usei minhas últimas forças para chegar até a caverna, que era muito pequena, porém era o suficiente para me esconder.
Entrei cambaleando e ofegante, pressionando meu corpo minúsculo contra a parede de pedra e me sentindo um bichinho acuado. O cheiro de terra e musgo preencheu meu nariz, ao passo que eu puxava o oxigênio com desespero.
De repente, tudo estava em silêncio, com apenas as batidas aceleradas do meu coração e da minha respiração descompassada sendo o único som que chegava aos meus ouvidos. Só que o silêncio não durou por muito tempo, pois logo um farfalhar de folhas secas e o barulho de galhos quebrando preencheram o ambiente sombrio da floresta.
E então eu vi Amarok com mais clareza na penumbra da noite.
A figura alta, meio homem, meio fera, parado a uma certa distância da entrada da caverna onde eu estava encolhida. Tremia de medo, enquanto seus olhos assustadores brilhavam em um vermelho intenso e sobrenatural.
— Humana… — a sua voz saiu em um rosnado, distorcido e tenebroso. — Você foi prometida a mim e não vou permitir que fuja do nosso casamento.
MELINA O som cada vez mais próximo dos galhos estalando sob suas passadas pesadas era como uma ameaça velada, enquanto Amarok rosnava e se aproximava do buraco pequeno entre as pedras onde eu entrei para me esconder.Tentei recuar instintivamente para trás, mas como o buraco onde me enfiei só tinha entrada e nenhuma saída, apenas arregalei meus olhos, com o meu coração pulsando como um tambor frenético dentro do meu peito. Ele parou a alguns passos de mim e me olhou de cima, com aqueles olhos vermelhos que denunciavam a fera interna que era. Amarok não estava totalmente transformado em lobo, pois seu corpo, que estava apenas coberto por uma calça jeans surrada, era uma mistura de lobisomem, com uma barriga definida da sua forma humana e garras expostas nas mãos do seu lobo.Um rosnado baixo, mas intimidador, saiu da sua garganta, fazendo-me encolher ainda mais como um bichinho assustado. Antes que pudesse gritar ou correr, ele me puxou para fora com suas garras afiadas e me jogou so
MELINATotalmente o oposto do monstro sem coração que achei que me jogaria dentro de uma jaula e me manteria presa como um bichinho de estimação, Amarok me deu uma camisa quente sua para me trocar no banheiro, já que me tremia inteira de frio por causa da roupa molhada e suja de lama, e me ordenou deitar entre as lãs quentes de pele de ovelhas que ele espalhou em frente à lareira para me aquecer.Estava tão sem forças para lutar com meu captor pela minha liberdade e fugir, que apenas fechei meus olhos cansados e me permiti dormir entre as peles macias e quentinhas dos animais indefesos que ele matou. Acordei na manhã seguinte, sentindo todo o meu corpo dolorido e com uma forte dor de cabeça. Olhei em volta, demorando para processar mentalmente onde eu estava. Me levantei em um pulo ao perceber que não tinha sido um pesadelo e que eu realmente fui prometida e sequestrada pelo Alfa.A madeira rangeu sob meus pés descalços enquanto caminhava lentamente e meio desorientada, apenas queren
AMAROK De volta à minha casa nas montanhas e um pouco longe da vila, joguei Melina no chão de madeira com menos brutalidade do que eu esperava devido à raiva interna que sentia, mas ainda assim sem qualquer delicadeza. Assim que me desfiz dela, andei até a porta e fechei-a com força, denunciando através desse ato o real ódio que sentia por ela tentar fugir de mim novamente, com o som da madeira se chocando e ecoando pela casa como um trovão. Observei Melinda se levantar devagar e com dificuldade. Sua respiração encontrava-se visivelmente pesada, com seus cabelos longos grudados no rosto suado e sujo de lama. Só que, diferente da primeira vez em que ela me olhou nos olhos, dessa vez não havia mais medo em suas íris verdes.Havia fúria.— Eu te odeio, Alfa — as palavras dela cortaram o ar como lâminas.Encarei ela por um longo momento, vendo seus ombros subindo e descendo com a respiração acelerada. Seus olhos intensos me fitavam como se fosse um fogo prestes a encendear tudo.— Pode
MELINA Sozinha no silêncio agora doloroso da sala após Amarok sair batendo a porta, caí de joelhos no chão, sentindo o peito doer e meus olhos arderem. As lágrimas vieram com força, mas não de fraqueza, e sim de ódio e de exaustão. De resistência.Porque mesmo que Amarok me forçasse a me casar com ele, eu não iria ceder. Não importa quantas vezes fugisse e o Alfa me trouxesse de volta, eu nunca seria dele.*O céu estava coberto por nuvens espessas, como se o próprio tempo noturno estivesse de luto pelo que estava prestes a acontecer comigo. O ar frio e cortante da floresta parecia pesar sobre meus ombros como um pesadelo sombrio, enquanto me encontrava vestida em um vestido de noiva e usando um véu, que Amarok já tinha comprado para mim. Descia a trilha de pedra em direção à aldeia contra a minha vontade, com os meus pulsos presos por correntes que brilhavam sob a lua cheia. Cada passo forçado que eu dava em direção ao altar ecoava em minha alma como um pedido de socorro.Dois gua
MELINA Assim que o ritual de casamento terminou, a multidão se desmanchou. Vozes sussurradas e olhares de julgamento e curiosidade acompanhavam a gente, um casal recém-unido pela vontade do Alfa e não pela minha.Ainda sentia o peso das palavras do juramento queimando em minha pele e cada passo que dava ao lado dele em direção à floresta escura era como caminhar em cacos de vidro. A mão dele repousava em minha cintura com posse e uma falsa suavidade, me guiando pela trilha que levava à parte mais alta da floresta, onde ficava a cabana dele nas montanhas e que seria meu novo cativeiro.Ao voltarmos para a sua casa depois de uma longa caminhada cansativa para mim, ele abriu a porta com uma mão e, com a outra, gesticulou para que eu entrasse como se fosse um cavaleiro, mas sabia perfeitamente que era um ogro.Eu hesitei por um momento para entrar, por orgulho, por medo do que aconteceria quando passasse por essa porta, já que ele provavelmente estava ansioso pela lua de mel que, se dep
MELINAO amanhecer chegou silencioso, arrastado por uma névoa pesada que cobria a floresta como um véu de luto. Na cabana, o silêncio entre nós dois era espesso e sufocante.Eu já estava de pé, de frente para Amarok, com as costas eretas como uma rival diante do seu inimigo. Ele calçou o coturno de couro sem dizer uma única palavra e pegou sua faca de caçador com uma frieza de um soldado que partiria para a guerra. Mas antes de sair, parou na soleira da porta e olhou para mim, dizendo:— Eu vou caçar alguma coisa para você comer e volto logo. Não respondi e sequer o olhei na sua direção, mas uma ideia já tinha se formado na minha cabeça. Assim que o Alfa se foi e desapareceu entre as árvores, me movi como se fosse uma sombra.Sem levar nada, corri para fora da cabana e mergulhei na mata, tomando todo o cuidado do mundo para não pisar em um graveto e ele escutar. A floresta era densa, úmida e o frio cortava como se fossem facas finas, porém continuei correndo sem olhar para trás e o m
O silêncio que agora se fazia na nossa pequena casa de madeira era torturante, enquanto eu lutava contra as minhas pernas trêmulas para permanecer em pé. As minhas mãos estavam frias e suadas e me forçava a continuar olhando para a minha família na minha frente, depois de anunciarem que tinham me prometido em casamento a Amarok Mavros, o Alfa da nossa alcateia, e eu me negar. Se fosse em outras circunstâncias normais, seria o sonho de qualquer fêmea da nossa matilha se casar com o líder do grupo, porém nenhuma mulher da vila queria ser esposa do temido e cruel Alfa e, como eu não passava de uma simples humana sem valor por não ter uma loba, estavam me entregando de bandeja para ele. Para um assassino sanguinário. Diante de mim estavam a minha mãe, o meu pai e a minha única irmã mais velha. — Você deveria se sentir honrada, Melina Katsaros — Zena, minha mãe, disse após eu rejeitar o casamento arranjado com aquele monstro. — Finalmente arranjamos alguém da alcateia que tem coragem