O cheiro de bolor, cigarro e perfume feminino me deixa enjoada. Tento abrir os olhos, mas eles estão pesados. Tento me mover e sinto um peso ao redor dos pulsos e tornozelos. O barulho de correntes denuncia minha tentativa. Meu coração acelera. Tenho muito medo, mas não posso correr o risco de ser apagada novamente. Não tenho ideia de quanto tempo estou aqui, nem o porquê.Respiro fundo, tentando controlar minha respiração. Meu corpo está dolorido, e aos poucos começo a lembrar, mas tudo na minha mente parece desconexo. Ouço passos fora do quarto onde estou. Fecho os olhos, torcendo para que quem quer que esteja vindo não perceba que acordei. A porta se abre e ouço uma conversa.— Me deixa em paz, Cathy.Aquela voz é familiar, mas demoro a perceber de quem é.— Sua mãe disse pra você ficar longe da garota. — a voz parece ser de uma mulher jovem. — Ela disse que tem algo estranho com ela.Um dos dois se aproxima, e meu corpo fica tenso.— Isso não vai importar quando eu estiver dentro
Acordo com uma sensação de doença e desconforto. Meu corpo dói em todos os lugares, e minha cabeça está confusa. Não tenho ideia de quanto tempo se passou desde que fui trazida a este lugar. Penso em Bosco, e a ideia de que ele não tenha vindo me resgatar me assombra. Talvez algo terrível tenha acontecido a ele, e esse pensamento me faz pensar se algum dia vou conseguir sair desse lugar.A porta do quarto se abre e vejo Cathy entrar. Seus cabelos ruivos agora estão soltos, e ela usa roupas mais confortáveis, diferentes dos jeans justos e roupas de couro que sempre usava. Ela se aproxima sem dizer nada, andando pelo quarto. Pega as garrafas d'água que mal toquei e sai logo depois.Alguns minutos mais tarde, Cathy volta com outra mulher. O perfume dela é melhor, e ela usa um vestido discreto.— Então, essa é a razão da euforia dos homens desta casa. — diz a mulher, olhando para mim com desprezo.— Estão me deixando louca, me oferecendo suborno para poder foder com ela antes dos demais.
Entro no escritório do Sr. Villani e vejo um sorriso esboçar-se em seu rosto. Ele se levanta para me cumprimentar. Sei que não era necessário vir, mas depois de tudo o que passei e do apoio que recebi para localizar e resgatar Diana, era o mínimo que podia fazer.— Capasso, eu já não havia dito para você tirar uns dias e cuidar da sua esposa? — Michael pergunta enquanto sua secretária entra e serve café para ambos.— Estou pensando em tirar uns dias, chefe, mas antes, quero deixar tudo certo. — respondo, sentindo um misto de cansaço e alívio. Tudo ainda é muito recente, e meu lado protetor parece estar em um nível tão absurdo que tenho medo de estar sufocando minha esposa.Michael abre uma de suas gavetas, tira de lá um molho de chaves e me entrega.— Vá para os Hamptons, nossa casa está à disposição. Sylvia já deixou os criados avisados. Fiquem o tempo que quiserem.— Eu não sei o que dizer... — falo, surpreso pela generosidade.— Então, vamos resolver tudo o mais rápido possível, e
Eu sempre tive a impressão que a vida é mais que a gaiola dourada em que estou presa desde que tenho lembrança. Uma vida confortável, luxuosa, e sem maiores preocupações. Eu percebi que beleza e a posição que meu pai ocupa em nosso meio fazia de mim alguém que estaria rodeada de proteção, adulação e cuidados, e quanto mais o tempo passava eu entendia o porque. Quando um homem como meu pai não tem filhos homens, se sente na obrigação de garantir que se algo de ruim acontecer com ele, e isso é um risco real, estaremos seguras. Dizem que as mulheres da máfia são elos frágeis, e que temos funções bem determinadas, quando nascemos, uma coisa é certa, em algum momento o homem da casa vai definir o destino de cada uma de nós. Meu pai diz que a máfia é um legado, que nos acompanha até o fim de nossas vidas. E com raríssimas exceções, nosso papel fundamental é fortalecer nossas famílias através de um casamento. Meu pai, é o capo de Chicago, e eu sou Diana Cavalieri. Todos nós passamos por u
Confesso que não sou o tipo de pessoa que acredita em adivinhações, porém, depois do encontro na casa dos Marchese, como a Sra. Perret, devo admitir, que parte de mim ficou muito feliz com a suposta previsão. "Um homem poderoso, vindo de Nova York", segundo a previsão dela é o homem com quem irei me casar. E é muita coincidência que eu estivesse por perto a alguns minutos e pudesse escutar a conversa entre meus pais. Meu pai convidou Michael Villani para a nossa casa e isso significa que os dois devem chegar a um acordo.Acordos de casamento são tratados com frequência em nosso meio. E por mais que eu soubesse que um dia isso iria acontecer, estou um pouco nervosa, principalmente porque sei que não será uma conversa fácil ou amena. Nossas famílias carregam rivalidade, ódio e ressentimento a décadas, desde que uma tentativa de aliança entre Nova York e Chicago não aconteceu porque minha tia Donatella Cavalieri, tida como uma das mulheres mais bonitas e cobiçadas entre as famílias, deix
Estou desde cedo me preparando para ser apresentada ao capo de Nova York, e apesar do comprimido para dormir, tenho que admitir que minha noite não foi tão tranquila, nem meu sono tão reparador. Me sinto ansiosa, pois sei que tenho a responsabilidade de fazer Michael Villani considerar se casar comigo. Entre os vestidos, sou aconselhada a não escolher o preto, mais justo, mas não gostaria que Michael tivesse a impressão que costumo me vestir muito diferente disso. Danço desde muito jovem, e vou a academia todos os dias, tenho sim um corpo bonito e não vou ficar escondendo-o propositalmente só para que ele tenha impressão que sou tão inocente quanto supostamente deveria ser.Não sou Giulia. Na ocasião em que ela passou alguns dias conosco, ficou óbvio o quanto somos diferentes. Em aparência, personalidade, e apesar que já se passaram cinco anos desde a última vez que a vi, não acredito que ela tenha mudado muito, já que esteve aparentemente exilada em algum lugar, escondida do resto do
Os dias seguintes na casa dos Cavalieri não foram fáceis para mim. E as coisas não melhoraram quando chegamos a Nova York. Charlotte estava uma pilha de nervos, e eu sou seu principal alvo. Principalmente depois do nosso encontro com Giulia, na casa de Linda Villani. Giulia ainda se parece com a imagem que eu tinha dela, de anos atrás, mas tenho que admitir, ela está tão bonita que dá raiva. E tem aquele ar inocente que encanta muito alguns homens do nosso meio em busca de uma esposa jovem e virgem, o que é exatamente o que a maioria deles quer. Michael parece não conseguir desviar o olhar dela cada vez que está por perto, e honestamente não vejo como eu poderia ter alguma chance quando o cara surge no meio da tarde com jeito de que precisa dela com urgência depois de ter passado boa parte do dia com ela. O que vai contra as regras impostas pelo acordo de casamento, a principal delas, que o casal não pode ficar sozinho. Como se Michael Villani fosse apenas cumprir, quando é óbvio que
Minha ideia era ficar bem longe de Giulia e Villani, ao mesmo tempo que sabia que se algo desse errado, eu teria a proteção de Ferretti, então, enquanto a bala deslizava para debaixo da minha língua e eu sentia a música vibrando ao meu redor, era como se eu estivesse entrando em um outro mundo. Um ao qual nunca tive acesso, e jamais me seria permitido, longe da prisão confortável e luxuosa na qual sempre estive presa. Eu não me importo. E farei valer a pena. Há tanta gente bonita aqui. Bebida, e homens que não conseguem parar de olhar para mim. Não que isso seja uma grande surpresa. Eles sempre olham, só não tem colhões para se aproximar porque preferem passar vontade do que enfrentar Joe Cavalieri. Esses nem sabem quem sou, e isso é ótimo! Porque sinto que é uma ótima oportunidade de não ser quem eu tenho me esforçado a vida inteira para ser. Alguém que deveria ser quem nosso meio idealiza. Que é tão bonita, mas não consegue chamar a atenção de quem deveria. Alguém que prefere ser