Estou desde cedo me preparando para ser apresentada ao capo de Nova York, e apesar do comprimido para dormir, tenho que admitir que minha noite não foi tão tranquila, nem meu sono tão reparador. Me sinto ansiosa, pois sei que tenho a responsabilidade de fazer Michael Villani considerar se casar comigo. Entre os vestidos, sou aconselhada a não escolher o preto, mais justo, mas não gostaria que Michael tivesse a impressão que costumo me vestir muito diferente disso. Danço desde muito jovem, e vou a academia todos os dias, tenho sim um corpo bonito e não vou ficar escondendo-o propositalmente só para que ele tenha impressão que sou tão inocente quanto supostamente deveria ser.
Não sou Giulia. Na ocasião em que ela passou alguns dias conosco, ficou óbvio o quanto somos diferentes. Em aparência, personalidade, e apesar que já se passaram cinco anos desde a última vez que a vi, não acredito que ela tenha mudado muito, já que esteve aparentemente exilada em algum lugar, escondida do resto do mundo. Não sei se eu poderia viver assim, e como se torna alguém que passa por tal situação, porém isso não é problema meu, e meu desejo é que não seja problema de Michael também.
— O azul é mais adequado, Diana — minha mãe me observa pelo espelho — e pelo amor de Deus, prenda esses cabelos! Ficará mais elegante.
— Quer que eu chame a atenção dele, ou não? — me viro para ela — tenho que fazê-lo interessar-se pela minha aparência já que ele não deve demorar depois do almoço.
— Não sei se gosto disso — Charlotte suspirou — o ideal seria uma ocasião mais informal, mais tempo para que ele pudesse observá-la mais atentamente.
— Eu deveria me sentar ao lado dele durante o almoço — falo, tentando adivinhar qual seria o perfume de Villani.
— Nada disso, sentará ao meu lado, do lado oposto da mesa — ela disse, pensativa — o homem terá que olhar em sua direção vez ou outra, e coloca-la ao lado dele pode ser visto como algo precipitado.
Talvez ela tenha razão, e até o momento não sei exatamente como ele pode se comportar. Ouço dizer que Michael tem uma personalidade forte, e todas sabemos que não importa o número de mulheres com quem eles se relacionem, os homens do alto escalão prezam por um estereótipo na hora de escolher uma esposa, e sendo ele quem é, não deve ser diferente.
Não somos autorizadas a deixar nossos quartos, então Alessa e eu passamos o resto da manhã basicamente conversando e imaginando o que aconteceria no almoço e nos próximos dias. Minha irmã me ajuda com a maquiagem e já é passado o meio-dia quando uma das empregadas da casa vem nos avisar que devemos descer para o almoço. É nesse momento que realmente me sinto tensa, respiro profundamente, e pareço ouvir claramente as palavras da vidente novamente. Porém, não foi bem assim que aconteceu.
Fui ao encontro de meu pai, que estava saindo do escritório, em companhia do Sr. Villani, eles conversavam amigavelmente enquanto eu me aproximei e fiquei a alguns passos de distância, e logo que nota minha presença, Joe faz um breve aceno para que eu vá até ele.
— Sr. Villani, permita-me apresentá-lo a minha filha, Diana — disse ele, tentando parecer o mais natural possível, diante de uma tentativa de oferta de casamento.
Villani voltou seu olhar para mim, aqueles lindos olhos azuis me fizeram corar imediatamente. Ele é ainda mais bonito do que nas fotos: — Piacieri, signorina.
E foi isso. Nenhum outro olhar, mais demorado, ou interessado. Nenhum comentário elogioso, ou sorriso em meio a conversa durante o almoço. Ele permaneceu por mais uns quarenta minutos após o almoço, depois que o consiglieri de meu pai chegou, e logo despediu-se, e eu apenas consegui ouvir que ele tinha muito o que fazer, pois partiria para a Itália no da seguinte e traria minha prima Giulia de volta.
Michael saiu faz alguns minutos. Agora, minha mãe e eu estamos sozinhas no quarto. Ela senta na beirada da minha cama e começa a falar sobre como Michael é um homem encantador. Eu me permito sorrir diante da felicidade estampada no rosto dela, mas no fundo, ainda sinto um pouco de decepção em relação à visita.
Minhas esperanças estavam altas, mas tudo o que ele fez foi comentar a paisagem. Minha mãe insiste que ele reconheceu meus talentos e qualidades fundamentais, mas sinceramente, duvido muito disso.Eu realmente queria que a visita dele tivesse sido algo a mais do que alguns momentos tensos em frente à minha mãe, mas parece que não era para ser assim. A conversa continua entre mim e minha mãe, mas eu simplesmente balanço a cabeça, ouvindo-a falar sobre o que eu deveria fazer e como eu deveria ser.
No fundo, eu só quero ter meu próprio espaço para pensar e tomar minhas próprias decisões. Tento não demonstrar tudo o que estou sentindo, mas minha frustração é palpável. Talvez eu precise de um tempo para processar tudo isso, pensar em um próximo passo por conta própria.O que eu não tinha ideia é como a situação mudaria nos próximos dias, e como recairia sobre mim a culpa por uma aliança que não aconteceu. Michael partiu para a Itália, e no melhor estilo de príncipe da máfia incendiando o mundo enquanto busca sua prometida, ele a encontrou e a trouxe de volta. E se apesar de não gostar de amargar essa derrota, sim, de minha parte estaria tudo bem. Para minha mãe não, e eu pude notar em seu tom e em como tentou persuadir meu pai a nos deixar ir a Nova York, segundo ela, para apoiar Giulia, que esteve exilada em um convento em algum lugar remoto na Itália.
Ouço batidas leves à porta do meu quarto novamente antes de ver Charlotte entrar. Ela está maquinando algo enquanto tenta mostrar-se calma, qualquer outra pessoa acharia que ela é apenas uma mãe preocupada, mas eu sei que não se trata disso. Charlotte não considerava que houvesse outra opção para Michael Villani, nem ela, nem Alessa e eu achávamos que Giulia seria uma opção, mesmo porque não sabíamos o que havia acontecido a ela.
— Iremos a Nova York, Diana, e se houver alguma chance de impedir que ele e Giulia se casem, vamos encontrar essa brecha!
— Mãe... — suspiro, acho sinceramente que isso nos trará mais dissabores que algum benefício — e se não houver brecha?
— Então, nós cavaremos uma. — ela diz antes de sair do quarto.
Os dias seguintes na casa dos Cavalieri não foram fáceis para mim. E as coisas não melhoraram quando chegamos a Nova York. Charlotte estava uma pilha de nervos, e eu sou seu principal alvo. Principalmente depois do nosso encontro com Giulia, na casa de Linda Villani. Giulia ainda se parece com a imagem que eu tinha dela, de anos atrás, mas tenho que admitir, ela está tão bonita que dá raiva. E tem aquele ar inocente que encanta muito alguns homens do nosso meio em busca de uma esposa jovem e virgem, o que é exatamente o que a maioria deles quer. Michael parece não conseguir desviar o olhar dela cada vez que está por perto, e honestamente não vejo como eu poderia ter alguma chance quando o cara surge no meio da tarde com jeito de que precisa dela com urgência depois de ter passado boa parte do dia com ela. O que vai contra as regras impostas pelo acordo de casamento, a principal delas, que o casal não pode ficar sozinho. Como se Michael Villani fosse apenas cumprir, quando é óbvio que
Minha ideia era ficar bem longe de Giulia e Villani, ao mesmo tempo que sabia que se algo desse errado, eu teria a proteção de Ferretti, então, enquanto a bala deslizava para debaixo da minha língua e eu sentia a música vibrando ao meu redor, era como se eu estivesse entrando em um outro mundo. Um ao qual nunca tive acesso, e jamais me seria permitido, longe da prisão confortável e luxuosa na qual sempre estive presa. Eu não me importo. E farei valer a pena. Há tanta gente bonita aqui. Bebida, e homens que não conseguem parar de olhar para mim. Não que isso seja uma grande surpresa. Eles sempre olham, só não tem colhões para se aproximar porque preferem passar vontade do que enfrentar Joe Cavalieri. Esses nem sabem quem sou, e isso é ótimo! Porque sinto que é uma ótima oportunidade de não ser quem eu tenho me esforçado a vida inteira para ser. Alguém que deveria ser quem nosso meio idealiza. Que é tão bonita, mas não consegue chamar a atenção de quem deveria. Alguém que prefere ser
Sim, eu estava fodida. Meu pai disse que eu deveria ficar longe de suas vistas, e não lhe dirigir a palavra, e agora, de volta a Chicago, sinto uma pontada de desespero ao ver minha mãe seguindo temerosa para o escritório de papai. Por mais que Joe fosse bom para nós, um pai amoroso e protetor, havia momentos que até mesmo a família tinha que enfrentar o capo de Chicago. Eu sabia que estávamos em uma situação complicada enquanto subia para o quarto, e pior ainda, eu finalmente havia chamado a atenção de Michael Villani, mas não da maneira que havia imaginado, e tenho a impressão que ele está tramando para vingar-se de nós, Charlotte e eu. Ele deveria deixar pra lá, meu Deus! Afinal, havia se casado com Giulia, como era da vontade de Erico Villani. Mesmo depois de tudo.Michael e Giulia se apaixonaram, antes mesmo do casamento, então, todos os planos que minha mãe arquitetou para afastá-los agora pesavam sobre nós, que esperávamos apenas o julgamento de Joe. Confesso que estou com m
Charlotte pediu para uma criada que me trouxesse um chá calmante, mas acho que não fez efeito algum, eu a ouvia falar sobre como deveria me vestir à partir daquela noite, me lembrando mais uma vez que essa situação nem precisaria estar acontecendo se eu tivesse a mínima competência em chamar a atenção do homem que segundo ela, seria perfeito para mim!Sinceramente, eu já não acredito nisso. Aliás, gostaria de encontrar a Sra. Perret para dizer pessoalmente que ela é uma farsa! Talvez eu não seja adequada. Talvez um casamento de aparências seja tudo que me resta, ou seja o que eu mereça por ser exatamente quem sou. Por querer as coisas do meu jeito. Por ter cruzado limites que dentro do nosso meio são proibidos para as mulheres. Sou a escolha de um futuro incerto. E nenhum homem quer isso quando se casa.Minha mãe havia convidado alguns capitães e suas esposas, que certamente gostariam de estar presentes, nem tanto pelo anuncio, mas por quem o faria. A esperada união entre Cavalieris
Saio do elevador e sigo tranquilamente até o confortável apartamento que tenho ocupado desde que cheguei a Chicago. O Sr. Cavalieri foi gentil o suficiente para me oferecer alguns de seus imóveis na cidade, garantindo que eu estivesse bem instalado durante minha estadia. Já é tarde e a noite foi tensa e estranha. Ainda há uma das criadas acordada e ela se aproxima da sala onde estou, acabando de tirar o paletó. Afundo-me em uma poltrona de couro, e digo a ela que pode ir dormir, que não preciso de nada.Assim que a mulher deixa o ambiente, tento relaxar e fecho os olhos. Suspiro demoradamente, refletindo sobre o turbilhão de emoções que me invadem. Há muito tempo, eu não cogitava a hipótese de voltar a me casar. Não depois de Chiara. Não depois de perdê-la de maneira tão cruel, e também ao nosso primeiro bebê. Era algo que mesmo dez anos depois, eu tenho certeza que nunca irei superar. Quando se está na escuridão, a gente acaba se acostumado, e não importa quanto tempo se passe, eu es
Saí do quarto de Alessa com um sorriso forçado nos lábios, tentando ignorar a ansiedade que me consumia. Não faz nem um dia que meu noivado com o executor Bosco Capasso foi anunciado, e aqui estou eu, tentando manter a postura de que está tudo bem, quando tudo o que eu consigo pensar é como escapar dessa união! Minha irmã está radiante, como sempre, enquanto se prepara para sua festa de aniversário. Eu queria estar tão feliz quanto ela, mas não posso evitar a tensão que parece ter tomado conta de nossa mãe, que sem dúvida nenhuma, me culpa por estar nessa situação.— Senhorita Diana — uma criada se aproxima discretamente — sua mãe pede que vá ao escritório.Enquanto caminhava pelos corredores, eu sentia o peso da responsabilidade e das expectativas que a máfia impunha sobre mim. Ser obrigada a me casar com um homem dez anos mais velho, apenas por conveniência e para manter a estabilidade entre as famílias, é sufocante. E não é nem de longe o que Charlotte planejava para mim.Cheguei à
Depois daquela noite, parece que tudo passou como um borrão diante dos meus olhos. Como se eu tivesse chegado ao meu limite, e todo o resto ao meu redor. Acho que, por alguns dias, oscilava entre tentar recuperar o mínimo de bom senso e dignidade e escapar dessa casa, e ignorar que talvez as palavras realmente tenham poder.Voltei do hospital há alguns minutos, onde passei parte da tarde na capela. Giulia está em estado grave depois de agir como uma tola e ficar entre Michael Villani e Nikolai Dotreiev, servindo de escudo para o marido, levando um tiro em seu lugar, antes que ele pudesse atirar no russo. Nikolai está morto, felizmente. Mas isso não sai da minha cabeça nem por um instante, não depois do que eu disse a ela. Talvez ela quisesse conversar naquela noite, e tudo que eu fiz foi culpá-la por tudo que está acontecendo. Talvez ela só quisesse me contar que está grávida, e tudo que eu disse a ela me faz queimar de vergonha e arrependimento.— Não seja tola, Diana — ouço minha mã
Eu me sento confortavelmente em uma poltrona da sala de estar na residência de Joe Cavalieri, meu futuro sogro, aguardando a chegada de Diana. Enquanto espero, aproveito meu café, saboreando cada gole, forte, exatamente como gosto, enquanto penso que prefiro estar em meio à ação e ao perigo que faz parte das minhas funções, do que ter que fazer, bem, o que estou para fazer. Esse casamento acontecerá, e para que não cause dissabores que prefiro evitar, como somente uma futura esposa impulsiva e voluntariosa como Diana Cavalieri possivelmente irá se tornar, a menos que eu imponha limites desde já.Um novo casamento, uma nova maneira de conduzir o acordo, já que dessa vez eu não conheço, nem amo a noiva.Sons de saltos ecoam pelo corredor, anunciando a chegada de Diana e Alessa. Eu me levanto imediatamente, pronto para recebê-las. Diana, com sua elegância e postura impecáveis, caminha em minha direção, acompanhada de sua irmã mais nova. Inevitavelmente, meus olhos deslizam pelo corpo de