Minha ideia era ficar bem longe de Giulia e Villani, ao mesmo tempo que sabia que se algo desse errado, eu teria a proteção de Ferretti, então, enquanto a bala deslizava para debaixo da minha língua e eu sentia a música vibrando ao meu redor, era como se eu estivesse entrando em um outro mundo. Um ao qual nunca tive acesso, e jamais me seria permitido, longe da prisão confortável e luxuosa na qual sempre estive presa.
Eu não me importo. E farei valer a pena.Há tanta gente bonita aqui. Bebida, e homens que não conseguem parar de olhar para mim. Não que isso seja uma grande surpresa. Eles sempre olham, só não tem colhões para se aproximar porque preferem passar vontade do que enfrentar Joe Cavalieri. Esses nem sabem quem sou, e isso é ótimo! Porque sinto que é uma ótima oportunidade de não ser quem eu tenho me esforçado a vida inteira para ser. Alguém que deveria ser quem nosso meio idealiza. Que é tão bonita, mas não consegue chamar a atenção de quem deveria. Alguém que prefere ser alvo de comentários a se tornar esposa de um homem que serve de meu pai.
A Diana que tenta seduzir o próprio segurança porque mesmo que ele não tenha uma posição de destaque, ainda seria uma opção muito melhor do que os homens que parecem despi-la com o olhar cada vez que a encontram com sua família. Casamentos na máfia são feitos por conveniência, sem levar em consideração a idade das garotas, e me aterroriza a ideia de me casar como algumas das garotas que eram próximas à pelo menos um ano atrás. Todas muito bonitas, jovens, sonhando e idealizando um homem jovem e bonito. E em seguida casando com homens bem mais velhos, e de aparência repugnante.
Hoje, quando nos encontramos em alguma ocasião, não posso deixar de pensar em como essas mulheres não são mais nem a sombra das garotas que foram um dia. E eu me recuso a aceitar esse mesmo destino.
Peço mais um drinque, e o cara do bar me olha como se duvidasse que tenho idade para beber, mas serve a bebida mesmo assim. A boate está lotada e eu me entrego completamente às batidas da música, e me deixo levar por um par de mãos fortes ao meu redor. Um cara bonito bem à minha frente, sussurra algo em meu ouvido, algo sobre eu ser bonita, e me pergunta se quero beber em um lugar mais tranquilo. Eu me recuso, claro, e me afasto, enquanto sigo para o outro lado da boate. E então, tudo que eu estava tentando evitar, acontece.Eu esbarro em Giulia.
— Diana!— Giulia! — eu a saúdo, tentando fazer com que isso pareça uma situação corriqueira, enquanto vejo Michael Villani segurando a mão dela.
— O que está fazendo aqui? — ela sabe que eu não deveria estar aqui. — Alessa veio com você?
— Longa história! — digo, então bebo um pouco mais do drinque. — Nada que eu não resolva!
Vejo quando Villani parece não se importar e leva Giulia com ele, mas não demora para que um de seus homens apareça bem a minha frente. Um cheiro marcante de loção pós barba me faz olhar para ele. Uma cicatriz corta seu rosto másculo e atraente. Seu porte é forte, pode-se notar os músculos por baixo do terno escuro. Quando ele pede para acompanhá-lo, passamos rapidamente pelas pessoas, e quanto mais deixamos o ambiente para trás, mais sinto que estou realmente bêbada. Me sinto um pouco tonta, e ele percebe. Sua mão que antes estava ao redor do meu ombro agora me segura firme pela cintura.
— Srta. Cavalieri — ouço sua voz, baixa e controlada logo depois que o ar fresco da noite me envolve. — A senhorita está se sentindo bem?
Não. Não estou, e no instante em que nos aproximamos do carro luxuoso, me ocorre que minha noite terminou cedo demais. Tento me desvencilhar dele, mas, minha cabeça parece girar como se tudo estivesse em câmera lenta.
— Eu não quero, por favor. Eu não quero voltar para aquela prisão... — ele abre a porta do carro, e pacientemente aguarda que eu me acomode, explicando em seguida que prefere que eu vá ao seu lado, para o caso de passar mal. O que tenho impressão que será a qualquer momento!Eu realmente não tenho noção de quanto tempo se passou, estou enjoada, e isso só parece aliviar quando o carro para, ao meu lado, o homem que Villani se encarregou de me trazer de volta, enquanto ele próprio está aproveitando a noite ao lado de Giulia, me olha como se estivesse pensando em como lidar comigo.
— Vou avisar o pessoal do seu pai. — ele pega o celular, e por mais que eu não esteja no meu melhor momento, sou rápida o bastante para pegá-lo da mão do Sr. Capasso. Ele não parece se abalar, ou se irritar.
Bosco olha para mim como os homens que sabem que devem respeito ao meu pai, ou seja, como se eu fosse apenas uma garota mimada, que eles devem guardar um tom gentil e seu olhar condescendente.
— E que tal isso? Eu saio daqui, e o senhor faz que não vê?— Desculpe-me, ordens são ordens. E com todo respeito, Srta. Cavalieri, a senhorita não está em condições de ir à lugar algum. — ele fala despreocupadamente. — Agora, porque não me devolve o celular?
— Não, valeu, talvez eu consiga algum acordo com isso... — olho ligeiramente para a tela. Uma mulher aparece na tela ainda desbloqueada que escurece, tempo o suficiente para que eu possa ver que é muito bonita. — Uh, parece que alguém está esperando pelo senhor...
Bosco Capasso mantém uma expressão impassível, mas seu olhar parece ter cintilado por um momento, é obvio para mim que ele quer esse celular, e não só para ligar para a equipe do meu pai, mas porque a mulher da foto é importante para ele.
— Tenho algo que o senhor quer. — coloco o celular entre as coxas, ele tem uma posição e tanto para arriscar-se a abrir minhas pernas antes que eu faça um escândalo que o deixe distraído o bastante para me dar tempo de escapar daqui. — Então, abra a porta e me deixe ir.
— É Diana, não é? — ele pergunta, quase afirmando. — Olha, Diana, não quero me demorar mais do que devo, minha prioridade é a segurança de Nova York, ou seja, Michael Villani e sua noiva. Eu vou levar a senhorita ao senhor seu pai, e voltar para meu posto.
Inesperadamente, Bosco reclina o banco do passageiro e antes que eu possa impedir, é rápido o suficiente para pegar o celular. Não me dou por vencida, tentando pegá-lo novamente, quase em uma luta pelo que seria um trunfo se eu ainda quisesse sair daqui para qualquer outro lugar que não seja essa merda de hotel!
Estou praticamente no colo de Bosco, ele faz o possível para não encostar em mim, não importa o quanto estamos perto. Bosco me imobiliza, me tira do carro pelo lado do motorista, me colocando no chão novamente, como se eu não pesasse quase nada. A manobra habilidosa, me deixa um pouco tonta e quando percebo ele está me segurando pelo braço enquanto me guia para o elevador.— O senhor deveria me soltar! Está me machucando!
— Não é minha intenção, Srta. Cavalieri, eu apenas estou cumprindo ordens.
Ele afrouxa a pressão e aproveito para me soltar, Bosco se aproxima rapidamente, e me j**a sobre os ombros antes de entrar no elevador! Ele vai pagar por isso! Imagino o que meu pai fará quando eu contar sobre as maneiras do executor de Nova York. De cima do ombro de Bosco, porém, meu estômago revira, e quando a porta para a suíte que meus pais ocupam se abre, Bosco e coloca no chão, se desculpando em seguida. Meus joelhos cedem, e eu vomito em seguida.
Eu ergo meu olhar para ver o meu pai irritado enquanto minha mãe o segura, Alessa me ampara, me ajudando a levantar, e me levando para o quarto em seguida. Estou fodida.
Sim, eu estava fodida. Meu pai disse que eu deveria ficar longe de suas vistas, e não lhe dirigir a palavra, e agora, de volta a Chicago, sinto uma pontada de desespero ao ver minha mãe seguindo temerosa para o escritório de papai. Por mais que Joe fosse bom para nós, um pai amoroso e protetor, havia momentos que até mesmo a família tinha que enfrentar o capo de Chicago. Eu sabia que estávamos em uma situação complicada enquanto subia para o quarto, e pior ainda, eu finalmente havia chamado a atenção de Michael Villani, mas não da maneira que havia imaginado, e tenho a impressão que ele está tramando para vingar-se de nós, Charlotte e eu. Ele deveria deixar pra lá, meu Deus! Afinal, havia se casado com Giulia, como era da vontade de Erico Villani. Mesmo depois de tudo.Michael e Giulia se apaixonaram, antes mesmo do casamento, então, todos os planos que minha mãe arquitetou para afastá-los agora pesavam sobre nós, que esperávamos apenas o julgamento de Joe. Confesso que estou com m
Charlotte pediu para uma criada que me trouxesse um chá calmante, mas acho que não fez efeito algum, eu a ouvia falar sobre como deveria me vestir à partir daquela noite, me lembrando mais uma vez que essa situação nem precisaria estar acontecendo se eu tivesse a mínima competência em chamar a atenção do homem que segundo ela, seria perfeito para mim!Sinceramente, eu já não acredito nisso. Aliás, gostaria de encontrar a Sra. Perret para dizer pessoalmente que ela é uma farsa! Talvez eu não seja adequada. Talvez um casamento de aparências seja tudo que me resta, ou seja o que eu mereça por ser exatamente quem sou. Por querer as coisas do meu jeito. Por ter cruzado limites que dentro do nosso meio são proibidos para as mulheres. Sou a escolha de um futuro incerto. E nenhum homem quer isso quando se casa.Minha mãe havia convidado alguns capitães e suas esposas, que certamente gostariam de estar presentes, nem tanto pelo anuncio, mas por quem o faria. A esperada união entre Cavalieris
Saio do elevador e sigo tranquilamente até o confortável apartamento que tenho ocupado desde que cheguei a Chicago. O Sr. Cavalieri foi gentil o suficiente para me oferecer alguns de seus imóveis na cidade, garantindo que eu estivesse bem instalado durante minha estadia. Já é tarde e a noite foi tensa e estranha. Ainda há uma das criadas acordada e ela se aproxima da sala onde estou, acabando de tirar o paletó. Afundo-me em uma poltrona de couro, e digo a ela que pode ir dormir, que não preciso de nada.Assim que a mulher deixa o ambiente, tento relaxar e fecho os olhos. Suspiro demoradamente, refletindo sobre o turbilhão de emoções que me invadem. Há muito tempo, eu não cogitava a hipótese de voltar a me casar. Não depois de Chiara. Não depois de perdê-la de maneira tão cruel, e também ao nosso primeiro bebê. Era algo que mesmo dez anos depois, eu tenho certeza que nunca irei superar. Quando se está na escuridão, a gente acaba se acostumado, e não importa quanto tempo se passe, eu es
Saí do quarto de Alessa com um sorriso forçado nos lábios, tentando ignorar a ansiedade que me consumia. Não faz nem um dia que meu noivado com o executor Bosco Capasso foi anunciado, e aqui estou eu, tentando manter a postura de que está tudo bem, quando tudo o que eu consigo pensar é como escapar dessa união! Minha irmã está radiante, como sempre, enquanto se prepara para sua festa de aniversário. Eu queria estar tão feliz quanto ela, mas não posso evitar a tensão que parece ter tomado conta de nossa mãe, que sem dúvida nenhuma, me culpa por estar nessa situação.— Senhorita Diana — uma criada se aproxima discretamente — sua mãe pede que vá ao escritório.Enquanto caminhava pelos corredores, eu sentia o peso da responsabilidade e das expectativas que a máfia impunha sobre mim. Ser obrigada a me casar com um homem dez anos mais velho, apenas por conveniência e para manter a estabilidade entre as famílias, é sufocante. E não é nem de longe o que Charlotte planejava para mim.Cheguei à
Depois daquela noite, parece que tudo passou como um borrão diante dos meus olhos. Como se eu tivesse chegado ao meu limite, e todo o resto ao meu redor. Acho que, por alguns dias, oscilava entre tentar recuperar o mínimo de bom senso e dignidade e escapar dessa casa, e ignorar que talvez as palavras realmente tenham poder.Voltei do hospital há alguns minutos, onde passei parte da tarde na capela. Giulia está em estado grave depois de agir como uma tola e ficar entre Michael Villani e Nikolai Dotreiev, servindo de escudo para o marido, levando um tiro em seu lugar, antes que ele pudesse atirar no russo. Nikolai está morto, felizmente. Mas isso não sai da minha cabeça nem por um instante, não depois do que eu disse a ela. Talvez ela quisesse conversar naquela noite, e tudo que eu fiz foi culpá-la por tudo que está acontecendo. Talvez ela só quisesse me contar que está grávida, e tudo que eu disse a ela me faz queimar de vergonha e arrependimento.— Não seja tola, Diana — ouço minha mã
Eu me sento confortavelmente em uma poltrona da sala de estar na residência de Joe Cavalieri, meu futuro sogro, aguardando a chegada de Diana. Enquanto espero, aproveito meu café, saboreando cada gole, forte, exatamente como gosto, enquanto penso que prefiro estar em meio à ação e ao perigo que faz parte das minhas funções, do que ter que fazer, bem, o que estou para fazer. Esse casamento acontecerá, e para que não cause dissabores que prefiro evitar, como somente uma futura esposa impulsiva e voluntariosa como Diana Cavalieri possivelmente irá se tornar, a menos que eu imponha limites desde já.Um novo casamento, uma nova maneira de conduzir o acordo, já que dessa vez eu não conheço, nem amo a noiva.Sons de saltos ecoam pelo corredor, anunciando a chegada de Diana e Alessa. Eu me levanto imediatamente, pronto para recebê-las. Diana, com sua elegância e postura impecáveis, caminha em minha direção, acompanhada de sua irmã mais nova. Inevitavelmente, meus olhos deslizam pelo corpo de
Nos dias que se seguiram, a notícia da volta de Bosco a Nova York com os Villani me deu certa tranquilidade, pois eu não precisaria mais fazer as honras e recebê-lo sempre que ele estivesse a trabalho na casa dos Cavalieri, ou meu pai estivesse apenas disposto a bajular seu futuro genro. Por outro lado, isso significava que minha mãe já estava marcando reuniões com o pessoal da organização do casamento, e eu sabia que em questão de dias começaria a participar intensamente de tudo relacionado ao casamento com Bosco. Meu interesse nos preparativos é zero.Apesar de não ter mais notícias do meu futuro marido, Carlo Martino estava sempre por perto, como agora, enquanto ele dirigia para me levar ao ballet. Eu não o achava invasivo ou inconveniente; na verdade, pensava que ele fazia seu trabalho de forma discreta. Ele era de poucas palavras, e com o passar dos dias, até me acostumei com a presença do homem escolhido pelo executor para ser meu escolta.Enquanto olhava pela janela do carro, o
Entro no Saint's, após uma reunião com o Sr. Villani. É um lugar clássico e luxuoso, conhecido por suas apresentações e jogos no cassino. O ambiente é sofisticado, com luzes baixas e música suave ao fundo. Cumprimento o barman, que me reconhece imediatamente e serve uma dose do meu uísque favorito.Me aproximo do balcão e me apoio ligeiramente nele, observando o movimento ao meu redor. Tenho estado ocupado com a Bratva nos últimos dias, resolvendo questões que surgiram devido à rivalidade entre nossas organizações e toda a situação com Dotreiev. Os russos têm sido uma dor de cabeça constante, tentando expandir seus territórios e interferir em nossos negócios. Tenho passado horas planejando estratégias para neutralizar suas ameaças e proteger os interesses da família. Então, alguns drinques e boa música me parecem um fim de noite satisfatório.Pego meu celular e vejo as mensagens de Martino sobre a rotina de Diana. Ela tem estado ocupada, saindo com frequência com a Sra. Cavalieri para