Os dias seguintes na casa dos Cavalieri não foram fáceis para mim. E as coisas não melhoraram quando chegamos a Nova York. Charlotte estava uma pilha de nervos, e eu sou seu principal alvo. Principalmente depois do nosso encontro com Giulia, na casa de Linda Villani. Giulia ainda se parece com a imagem que eu tinha dela, de anos atrás, mas tenho que admitir, ela está tão bonita que dá raiva. E tem aquele ar inocente que encanta muito alguns homens do nosso meio em busca de uma esposa jovem e virgem, o que é exatamente o que a maioria deles quer. Michael parece não conseguir desviar o olhar dela cada vez que está por perto, e honestamente não vejo como eu poderia ter alguma chance quando o cara surge no meio da tarde com jeito de que precisa dela com urgência depois de ter passado boa parte do dia com ela. O que vai contra as regras impostas pelo acordo de casamento, a principal delas, que o casal não pode ficar sozinho. Como se Michael Villani fosse apenas cumprir, quando é óbvio que ele deseja Giulia.
Então, uma possibilidade surge, na noite do noivado de Giulia. Assim que voltamos ao hotel, eu pude perceber que Charlotte estava radiante, como se todos os seus planos, desde o momento que me fazer esposa de Villani tornou-se para ela quase uma cruzada, estivessem finalmente dando certo! Eu já estava quase dormindo quando ela entrou no quarto e em seguida sentou-se em minha cama. Ela contou animada sobre a conversa que teve com Giulia, e sobre o que faria a respeito. Aparentemente, Giulia não queria se casar com Michael, e até tinha a esperança, pelo menos até o noivado, que ele mudasse de ideia, o que até o momento não aconteceu.
— Isso não quer dizer nada.... — digo, sonolenta. — O acordo não vai deixar de existir por que ela não quer se casar.
— Não, de fato. — Charlotte concorda. — Mas, temos uma chance que esse casamento não aconteça.
— Como? — eu sinceramente, esperava que ela falasse de uma vez e depois me deixasse dormir.
— Bom, nós sabemos que Nikolai Dotreiev parece ter vindo à Nova York.
— Mãe, estamos falando de Michael Villani. Nikolai Dotreiev não passaria pela segurança de Giulia nem que tivesse apoio para isso, a menina não respira sem que Villani saiba. — me sento na cama, e bocejo.
— Podemos tornar o trabalho dele mais fácil.
— O que a senhora quer dizer? — nesse momento eu percebi que ela realmente tinha um plano.
— Sei que seu pai pode entrar em contato com o executor russo, afinal a família dele ajudou Donatella e Ivenchev. — Se eu cobrar alguns favores, posso entrar em contato com ele.
— Isso é loucura.... — se meu pai desconfiar disso, ela estará em apuros.
— Isso é uma oportunidade, Diana. Giulia não quer esse casamento, tanto quanto nós queremos. Só darei a Nikolai a chance que ele precisa. — Ela levanta-se e ajeita os cabelos em frente ao espelho. — Com a partida de Giulia, Villani não terá outra escolha a não ser tomar uma esposa o mais rápido possível para que o acordo entre as famílias não seja quebrado.
— Isso não quer dizer que ele vai me escolher, Michael Villani mal olhou para mim quando esteve aqui....
— E quem ele escolheria, querida? — Charlotte me olha como se não entendesse como eu não estou ligando os pontos, e isso só pioraria....
Mas, o fato é que eu acabei me convencendo disso, a medida que Giulia concordava com a ajuda de minha mãe para conseguir fugir do casamento. E enquanto ela queria distância de Villani, e Nikolai parece cada vez mais interessado nesse acordo com Charlotte, eu não posso deixar de notar que Michael parece cada vez mais obcecado por Giulia. Como quando ficou acertado que viríamos a Las Vegas, e ficaríamos todos no Cosmopolitan e ele preferiu hospedar-se com Giulia em uma das Villas mais caras do Ceasar's Palace. Eu estava confusa, acho que ainda estou. Se por um lado há uma parte de mim que confia que minha mãe sabe o que está fazendo, estou tentando não ver coisas onde não há.
Giulia não me parece tão distante de Michael como antes. Ouço durante os momentos em que minha mãe me chama em particular que devo arriscar, e criar uma situação que faça com que seja impossível Michael recusar-se a casar comigo. Como? Se ele não sai do lado de Giulia, e claramente gosta cada dia menos de mim.
Não bastasse Charlotte no meu ouvido, me enlouquecendo, e me lembrando que preciso fazer isso acontecer. Na verdade, ela agora me diz que devo isso a ela, que sempre fez tudo por mim.
Estamos nos preparando para ir até a arena assistir as lutas de boxe patrocinadas pelo Sr. Ferreti, capo de Los Angeles, e enquanto procuro por meus brincos de diamante, ouço uma conversa entre Joe e Charlotte. Algo sobre Dotreiev ter simplesmente desaparecido de Nova York e a suspeita de que esteja aqui. Ele está esperando pelo momento certo para levar Giulia, ou não estaria se arriscando assim depois de ter dado certo trabalho à Villlani.
Achei que não seria necessário dizer isso a Giulia, afinal, até onde sei, eles foram o amor de infância um do outro, e é de conhecimento geral que havia uma forte ligação entre suas famílias. Eu já estava bem chateada por que Joe não permitiu que fossemos à boate do Sr. Ferreti depois da luta de boxe, na verdade, não acho justo, já que Giulia irá com Michael. E acho que contar a ela que Nikolai está aqui por ela, só a fez questionar se fugir era realmente a coisa certa a se fazer. Estava tão claro, e só eu não estava vendo. Giulia está se apaixonando por seu noivo, e ele está obviamente contando os dias para esse casamento. E tudo que eu quero nesse exato momento é uma brecha na segurança, um descuido, algo que me facilite fugir para me recuperar do tapa que levei de minha mãe quando disse a ela que não faria mais nada, e que Giulia que fosse feliz com Michael.
— Você acha que alguém do alto escalão vai considerá-la depois disso? — minha mãe aperta o meu braço tão forte que sinto que minha pele pode estar marcada. — Diana?
— Eu sinto muito.... — ela me b**e, um tapa rápido, e eu me apoio na pia do banheiro. Minha visão escurece por um momento.
— Sua pequena inútil! — ela diz entredentes. — Eu não tinha a metade da sua beleza quando fui apresentada ao seu pai.
— Eu realmente sinto tanto! — minha voz sai entrecortada, e eu sinto meu rosto arder, e lágrimas escapando dos meus olhos.
— Se considere com sorte se algum daqueles cavalheiros da California ainda tiver interesse em você, depois de todos os boatos sobre você e o Sr. Bartoli. — ela bufa, furiosa. — Francamente, Diana, um soldado!
— Me desculpe, por favor. — tento manter o controle. Mas, sei bem que estou no meu limite.
— Dê um jeito nessa sua cara. — ela diz, antes de sair, e finalmente consigo respirar.
Afasto meu cabelo para me olhar no espelho. Se eu consegui me desviar do primeiro tapa de Charlotte, que acabou me acertando na lateral da cabeça, não tive o mesmo êxito com o segundo, apesar de der sido mais fraco, pegou entre minha orelha e o alto da mandíbula, e sinto latejando até agora. Minha cabeça dói. Meu coração dói. E não é porque eu não sou a escolhida de Michael Villani. É porque me sinto tão esgotada com tudo isso, e assustada com a possibilidade de ter que me casar com aquele homem nojento, o capo da California, que sinto que posso vomitar agora mesmo.
Enquanto voltava para o hotel, pude ouvir alguns soldados dizendo que aproveitariam a noite na troca de turno. Eu vi Ezio pegar no ar algo que fez uma barulho, como balas em uma caixinha metálica. Eles marcam em uma boate, e um deles está no telefone perguntando se terá garotas disponíveis. Alessa desce do carro, e eu disfarço enquanto digo que acho que perdi uma das minhas joias, e digo que vou em seguida. Pego a caixinha que está próximo ao câmbio, abro rapidamente, reconhecendo as balas imediatamente. Pego uma delas, já que tem poucas, e Ezio certamente desconfiaria, e coloco na bolsa. Se o que tenho em mente der certo, acho que será o suficiente para uma noite bem melhor do que a que me aguarda nesse hotel.
Subo para nossa suíte, Ezio ao meu lado, já relaxado pois em minutos ele deixará o hotel para se divertir, mal sabe ele que eu também pretendo ir. Se minha reputação já está tão arruinada como todos fazem questão de me lembrar, então está na hora de fazer jus à isso.
Vou para o quarto, e procuro por um vestido mais ousado, refaço minha maquiagem dedicando um pouco mais de tempo a marca em meu rosto que ainda parece suave, não que eu ache que alguém vá notar, já que não pretendo prender os cabelos. Olho no relógio, enquanto estou atenta a movimentação dos escoltas. Desço pelas escadas, para o andar de baixo. Chamo os elevadores que abrem exatamente no andar em que estou. Posso ouvir a conversa dos homens de Cavalieri, e agora tudo o que tenho que fazer é mantê-los todos lá. Seguro um dos elevadores com uma dois tapetes pesados que estavam em frente as portas, e no outro, aperto todos os outros andares antes de liberar o primeiro. Quando chego ao hall do hotel, aperto todos os andares, mantendo a porta aberta. E então, me apresso em direção a porta principal, indo diretamente em busca de um táxi.
Entro confiante, e passo para o motorista o endereço da boate de Ferreti, e suspiro enquanto ele coloca o carro em movimento. Eu consegui! Sinto meu coração acelerado. Pelo menos por essa noite, eu estou livre.
Minha ideia era ficar bem longe de Giulia e Villani, ao mesmo tempo que sabia que se algo desse errado, eu teria a proteção de Ferretti, então, enquanto a bala deslizava para debaixo da minha língua e eu sentia a música vibrando ao meu redor, era como se eu estivesse entrando em um outro mundo. Um ao qual nunca tive acesso, e jamais me seria permitido, longe da prisão confortável e luxuosa na qual sempre estive presa. Eu não me importo. E farei valer a pena. Há tanta gente bonita aqui. Bebida, e homens que não conseguem parar de olhar para mim. Não que isso seja uma grande surpresa. Eles sempre olham, só não tem colhões para se aproximar porque preferem passar vontade do que enfrentar Joe Cavalieri. Esses nem sabem quem sou, e isso é ótimo! Porque sinto que é uma ótima oportunidade de não ser quem eu tenho me esforçado a vida inteira para ser. Alguém que deveria ser quem nosso meio idealiza. Que é tão bonita, mas não consegue chamar a atenção de quem deveria. Alguém que prefere ser
Sim, eu estava fodida. Meu pai disse que eu deveria ficar longe de suas vistas, e não lhe dirigir a palavra, e agora, de volta a Chicago, sinto uma pontada de desespero ao ver minha mãe seguindo temerosa para o escritório de papai. Por mais que Joe fosse bom para nós, um pai amoroso e protetor, havia momentos que até mesmo a família tinha que enfrentar o capo de Chicago. Eu sabia que estávamos em uma situação complicada enquanto subia para o quarto, e pior ainda, eu finalmente havia chamado a atenção de Michael Villani, mas não da maneira que havia imaginado, e tenho a impressão que ele está tramando para vingar-se de nós, Charlotte e eu. Ele deveria deixar pra lá, meu Deus! Afinal, havia se casado com Giulia, como era da vontade de Erico Villani. Mesmo depois de tudo.Michael e Giulia se apaixonaram, antes mesmo do casamento, então, todos os planos que minha mãe arquitetou para afastá-los agora pesavam sobre nós, que esperávamos apenas o julgamento de Joe. Confesso que estou com m
Charlotte pediu para uma criada que me trouxesse um chá calmante, mas acho que não fez efeito algum, eu a ouvia falar sobre como deveria me vestir à partir daquela noite, me lembrando mais uma vez que essa situação nem precisaria estar acontecendo se eu tivesse a mínima competência em chamar a atenção do homem que segundo ela, seria perfeito para mim!Sinceramente, eu já não acredito nisso. Aliás, gostaria de encontrar a Sra. Perret para dizer pessoalmente que ela é uma farsa! Talvez eu não seja adequada. Talvez um casamento de aparências seja tudo que me resta, ou seja o que eu mereça por ser exatamente quem sou. Por querer as coisas do meu jeito. Por ter cruzado limites que dentro do nosso meio são proibidos para as mulheres. Sou a escolha de um futuro incerto. E nenhum homem quer isso quando se casa.Minha mãe havia convidado alguns capitães e suas esposas, que certamente gostariam de estar presentes, nem tanto pelo anuncio, mas por quem o faria. A esperada união entre Cavalieris
Saio do elevador e sigo tranquilamente até o confortável apartamento que tenho ocupado desde que cheguei a Chicago. O Sr. Cavalieri foi gentil o suficiente para me oferecer alguns de seus imóveis na cidade, garantindo que eu estivesse bem instalado durante minha estadia. Já é tarde e a noite foi tensa e estranha. Ainda há uma das criadas acordada e ela se aproxima da sala onde estou, acabando de tirar o paletó. Afundo-me em uma poltrona de couro, e digo a ela que pode ir dormir, que não preciso de nada.Assim que a mulher deixa o ambiente, tento relaxar e fecho os olhos. Suspiro demoradamente, refletindo sobre o turbilhão de emoções que me invadem. Há muito tempo, eu não cogitava a hipótese de voltar a me casar. Não depois de Chiara. Não depois de perdê-la de maneira tão cruel, e também ao nosso primeiro bebê. Era algo que mesmo dez anos depois, eu tenho certeza que nunca irei superar. Quando se está na escuridão, a gente acaba se acostumado, e não importa quanto tempo se passe, eu es
Saí do quarto de Alessa com um sorriso forçado nos lábios, tentando ignorar a ansiedade que me consumia. Não faz nem um dia que meu noivado com o executor Bosco Capasso foi anunciado, e aqui estou eu, tentando manter a postura de que está tudo bem, quando tudo o que eu consigo pensar é como escapar dessa união! Minha irmã está radiante, como sempre, enquanto se prepara para sua festa de aniversário. Eu queria estar tão feliz quanto ela, mas não posso evitar a tensão que parece ter tomado conta de nossa mãe, que sem dúvida nenhuma, me culpa por estar nessa situação.— Senhorita Diana — uma criada se aproxima discretamente — sua mãe pede que vá ao escritório.Enquanto caminhava pelos corredores, eu sentia o peso da responsabilidade e das expectativas que a máfia impunha sobre mim. Ser obrigada a me casar com um homem dez anos mais velho, apenas por conveniência e para manter a estabilidade entre as famílias, é sufocante. E não é nem de longe o que Charlotte planejava para mim.Cheguei à
Depois daquela noite, parece que tudo passou como um borrão diante dos meus olhos. Como se eu tivesse chegado ao meu limite, e todo o resto ao meu redor. Acho que, por alguns dias, oscilava entre tentar recuperar o mínimo de bom senso e dignidade e escapar dessa casa, e ignorar que talvez as palavras realmente tenham poder.Voltei do hospital há alguns minutos, onde passei parte da tarde na capela. Giulia está em estado grave depois de agir como uma tola e ficar entre Michael Villani e Nikolai Dotreiev, servindo de escudo para o marido, levando um tiro em seu lugar, antes que ele pudesse atirar no russo. Nikolai está morto, felizmente. Mas isso não sai da minha cabeça nem por um instante, não depois do que eu disse a ela. Talvez ela quisesse conversar naquela noite, e tudo que eu fiz foi culpá-la por tudo que está acontecendo. Talvez ela só quisesse me contar que está grávida, e tudo que eu disse a ela me faz queimar de vergonha e arrependimento.— Não seja tola, Diana — ouço minha mã
Eu me sento confortavelmente em uma poltrona da sala de estar na residência de Joe Cavalieri, meu futuro sogro, aguardando a chegada de Diana. Enquanto espero, aproveito meu café, saboreando cada gole, forte, exatamente como gosto, enquanto penso que prefiro estar em meio à ação e ao perigo que faz parte das minhas funções, do que ter que fazer, bem, o que estou para fazer. Esse casamento acontecerá, e para que não cause dissabores que prefiro evitar, como somente uma futura esposa impulsiva e voluntariosa como Diana Cavalieri possivelmente irá se tornar, a menos que eu imponha limites desde já.Um novo casamento, uma nova maneira de conduzir o acordo, já que dessa vez eu não conheço, nem amo a noiva.Sons de saltos ecoam pelo corredor, anunciando a chegada de Diana e Alessa. Eu me levanto imediatamente, pronto para recebê-las. Diana, com sua elegância e postura impecáveis, caminha em minha direção, acompanhada de sua irmã mais nova. Inevitavelmente, meus olhos deslizam pelo corpo de
Nos dias que se seguiram, a notícia da volta de Bosco a Nova York com os Villani me deu certa tranquilidade, pois eu não precisaria mais fazer as honras e recebê-lo sempre que ele estivesse a trabalho na casa dos Cavalieri, ou meu pai estivesse apenas disposto a bajular seu futuro genro. Por outro lado, isso significava que minha mãe já estava marcando reuniões com o pessoal da organização do casamento, e eu sabia que em questão de dias começaria a participar intensamente de tudo relacionado ao casamento com Bosco. Meu interesse nos preparativos é zero.Apesar de não ter mais notícias do meu futuro marido, Carlo Martino estava sempre por perto, como agora, enquanto ele dirigia para me levar ao ballet. Eu não o achava invasivo ou inconveniente; na verdade, pensava que ele fazia seu trabalho de forma discreta. Ele era de poucas palavras, e com o passar dos dias, até me acostumei com a presença do homem escolhido pelo executor para ser meu escolta.Enquanto olhava pela janela do carro, o