Os primeiros raios de sol invadiam o quarto de Eleanor na manhã seguinte, revelando os detalhes intricados da tapeçaria que adornava as paredes e os móveis meticulosamente entalhados. Apesar do ambiente luxuoso, ela havia dormido mal. A noite fora uma sucessão de pensamentos inquietantes sobre o homem que agora era seu futuro marido. Alexander Beaumont parecia tão distante, quase inatingível.
Vestida com um traje elegante, mas simples, Eleanor desceu para o café da manhã no salão principal. O espaço era tão grandioso quanto o resto da propriedade, com um lustre de cristal pendendo do teto alto e janelas amplas que ofereciam uma vista deslumbrante dos jardins. Alexander já estava sentado à mesa, com um jornal nas mãos e uma xícara de chá ao lado. Ele ergueu os olhos quando Eleanor entrou, cumprimentando-a com um leve aceno de cabeça. — Bom dia, Lady Eleanor — disse ele, a voz profunda ecoando no salão quase vazio. — Bom dia, Vossa Graça — respondeu Eleanor, com a formalidade que parecia ser a norma entre eles. Alexander indicou a cadeira à sua frente, e ela se sentou, alisando a saia do vestido. Uma criada se aproximou para servi-la, mas o silêncio entre eles permaneceu quase tangível. Eleanor observou Alexander por alguns instantes enquanto ele lia o jornal. Sua postura era impecável, mas havia algo nos traços de seu rosto que sugeria cansaço. — Espero que tenha descansado bem — ele comentou, sem tirar os olhos das páginas à sua frente. — Foi uma noite... tranquila, obrigada — respondeu Eleanor, hesitando por um momento. Ele assentiu, mas não disse mais nada, mergulhando novamente na leitura. Eleanor sentiu a irritação crescer. A formalidade dele não era apenas desconfortável; era exasperante. — Parece que está ocupado, mesmo durante o café da manhã — ela comentou, com um toque de sarcasmo. Alexander baixou o jornal e a encarou, a expressão séria. — A administração de uma propriedade como Blackwood exige atenção constante, Lady Eleanor. Não é algo que possa ser negligenciado. — Entendo. Mas talvez pudesse reservar um momento para conhecer melhor a pessoa com quem está prestes a se casar. As palavras saíram antes que ela pudesse contê-las, e um silêncio pesado se seguiu. Alexander a observou com uma intensidade que a fez corar, mas, para sua surpresa, ele não respondeu com frieza. Em vez disso, seus lábios esboçaram um leve sorriso. — Tem razão. Fui descortês — ele admitiu, colocando o jornal de lado. — Então, Lady Eleanor, o que gostaria de saber? Eleanor não esperava que ele cedesse tão facilmente e levou alguns segundos para responder. — Talvez possamos começar com algo simples. Qual é o seu passatempo favorito, Vossa Graça? Alexander arqueou uma sobrancelha, claramente surpreso com a pergunta. — Meu passatempo favorito? Bem, gosto de cavalgar. E você? — Gosto de ler. E de caminhar ao ar livre. — Uma combinação interessante — comentou ele, parecendo genuinamente interessado. A conversa continuou, ainda que hesitante. Eleanor percebeu que, apesar da fachada rígida de Alexander, havia momentos em que ele demonstrava um vislumbre de humanidade. *** Mais tarde, Eleanor decidiu explorar os jardins da propriedade. Os caminhos de cascalho serpenteavam entre canteiros de flores impecavelmente cuidadas, enquanto fontes ornamentadas ofereciam um som suave de água corrente. Ela se sentiu momentaneamente em paz ali, longe das pressões que a aguardavam dentro da mansão. Enquanto caminhava, encontrou uma estufa de vidro, parcialmente escondida por uma cerca viva. Curiosa, ela entrou e foi saudada pelo aroma de flores exóticas e ervas frescas. No centro da estufa estava um homem mais velho, curvado sobre um vaso de barro. — Ah, Lady Eleanor! — ele exclamou ao vê-la. — Seja bem-vinda à minha humilde oficina. — E quem seria o senhor? — perguntou ela, intrigada pela figura simpática à sua frente. — Sou Harold, o jardineiro-chefe de Blackwood. Cuido de tudo que vê lá fora — disse ele, gesticulando em direção aos jardins. — Mas esta estufa é o meu refúgio. Eleanor sorriu, sentindo-se imediatamente à vontade com o homem. — É um lugar encantador, Harold. Parece que há uma alma aqui, diferente do resto da propriedade. Harold riu. — O Duque não gosta de frivolidades, mas permitiu que eu mantivesse este espaço. Acho que ele tem um coração mais mole do que admite. Eleanor ficou surpresa com a observação. — Um coração mole? Não é exatamente a impressão que ele passa. Harold inclinou a cabeça, pensativo. — Ele sofreu muito, minha lady. E a dor tem uma forma cruel de endurecer as pessoas. Mas, quem sabe? Talvez você seja a pessoa que consiga quebrar essa barreira. *** Naquela mesma tarde, Alexander estava em seu escritório, revisando documentos financeiros quando Albert entrou sem bater. — Alexander, creio que você está começando a assustar sua futura esposa — disse o conselheiro, com um tom de brincadeira. — Não tenho tempo para frivolidades, Albert — respondeu Alexander, sem desviar o olhar dos papéis. — Talvez devesse criar tempo. A dama merece ao menos sua atenção. Alexander suspirou e colocou os documentos de lado. — O que sugere que eu faça? Albert sorriu. — Um passeio pelos jardins, talvez. Ou mostre-lhe os estábulos. Ela parece apreciar a natureza, pelo que observei. Depois de uma breve hesitação, Alexander decidiu seguir o conselho. Eleanor era sua responsabilidade agora, gostasse ou não. Ele encontrou-a nos jardins, conversando animadamente com Harold na estufa. A visão de sua risada leve e descontraída o pegou desprevenido. Por um momento, ele a viu sob uma nova luz, menos como a mulher imposta a ele e mais como alguém que talvez pudesse trazer algo diferente para sua vida. — Lady Eleanor — ele chamou, atraindo a atenção dela. Ela se virou, parecendo surpresa. — Vossa Graça. — Gostaria de acompanhá-la em um passeio pelos estábulos? Eleanor hesitou, mas o convite parecia genuíno. — Seria um prazer. Enquanto caminhavam juntos, Alexander começou a mostrar partes da propriedade que raramente eram vistas pelos convidados. Ele falava com uma calma que surpreendia Eleanor, explicando detalhes sobre os cavalos, as terras e até mesmo histórias da família Beaumont. Aos poucos, a tensão entre eles diminuiu. Eleanor percebeu que, embora Alexander fosse reservado, ele não era indiferente. Havia momentos em que sua voz traía uma paixão pelo que fazia, uma paixão que ela nunca imaginara encontrar nele. Quando voltaram à mansão, o sol começava a se pôr, tingindo o céu de laranja e dourado. Eleanor sentiu uma leveza que não esperava naquele dia. Talvez Harold estivesse certo. Talvez houvesse algo no Duque que valesse a pena explorar. Alexander, por sua vez, observou Eleanor enquanto ela desaparecia em direção aos seus aposentos. Pela primeira vez, ele se perguntou se poderia haver mais nesse casamento do que apenas dever.Os dias em Blackwood começaram a seguir um padrão. Eleanor passava as manhãs explorando os jardins ou lendo em seu quarto, enquanto Alexander permanecia ocupado com a administração da propriedade. À tarde, eles se encontravam ocasionalmente para refeições ou breves conversas. Ainda assim, havia algo em suas interações que sugeria um progresso, ainda que lento.Eleanor tentava não pensar demais em sua situação. Não era incomum para mulheres de sua posição se casarem por conveniência, mas havia algo em Alexander que a intrigava. Ele não era apenas um homem reservado; parecia alguém que carregava um fardo invisível, algo que o afastava das pessoas ao seu redor.Certa manhã, enquanto Eleanor passeava pelos jardins, Mary a encontrou com um semblante preocupado.— Minha lady, o senhor Harold pediu para lhe avisar que o Duque estará supervisionando os estábulos hoje. Talvez seja uma oportunidade para encontrá-lo.Eleanor arqueou uma sobrancelha.— Ele mencionou algo sobre isso ontem, mas não
Os dias que se seguiram foram marcados por uma convivência cada vez mais confortável entre Eleanor e Alexander. Embora suas interações ainda fossem formais em muitos momentos, os pequenos gestos de gentileza e as conversas ocasionais criavam uma ponte entre eles. No entanto, a calma foi interrompida quando uma mensagem chegou anunciando a visita da família Ashcroft, vizinhos de longa data dos Beaumont.Eleanor estava no jardim quando Mary veio informá-la.— Minha lady, a senhora Ashcroft e sua filha chegarão esta tarde para uma visita.— Uma visita? Não sabia que tínhamos vizinhos tão próximos.— Não são tão próximos, mas os Ashcroft costumam visitar Blackwood algumas vezes ao ano. Lady Clarisse, a filha deles, é uma conhecida antiga do Duque.Eleanor percebeu a leve hesitação na voz de Mary ao mencionar Clarisse.— E o que devo saber sobre Lady Clarisse?Mary sorriu, mas havia algo forçado em sua expressão.— Ela é... encantadora. Muito amigável com o Duque, dizem.Eleanor sentiu uma
A visita da família Ashcroft trouxe consigo uma onda de inquietação que Eleanor não pôde ignorar. Embora Alexander tenha se mostrado respeitoso e atento, a presença de Clarisse era um lembrete constante de que Eleanor ainda não ocupava o espaço que lhe cabia como futura Duquesa de Blackwood.Foi então que Alexander anunciou, durante o café da manhã, que organizaria um baile em Blackwood para recepcionar oficialmente Eleanor na sociedade local.— Será uma oportunidade de conhecer nossos vizinhos e reforçar alianças importantes — explicou ele, enquanto folheava uma correspondência.Eleanor ficou surpresa com a decisão, mas percebeu que era uma chance de se firmar como parte integrante daquela nova vida.— Um baile? — perguntou ela, tentando esconder a ansiedade que sentia. — Não é algo um tanto apressado?Alexander levantou os olhos, oferecendo um sorriso quase imperceptível.— Blackwood é conhecida por sua hospitalidade. É importante que todos saibam que você faz parte dessa tradição.
Os dias que se seguiram ao baile em Blackwood foram um turbilhão de comentários e expectativas. As cartas chegaram em abundância, parabenizando Alexander pela recepção impecável e, principalmente, elogiando Eleanor. Muitas delas vinham de mulheres da região, algumas sinceras, outras nem tanto, mas todas reconheciam a jovem como uma figura central no círculo social local.No entanto, por trás do brilho das danças e das conversas, havia uma tensão silenciosa que Eleanor sentia, mas ainda não compreendia completamente. Algo na forma como algumas pessoas a observavam, especialmente Clarisse, fazia-a questionar o que realmente esperavam dela.***Na manhã seguinte ao baile, Eleanor decidiu explorar mais da propriedade. Os vastos jardins de Blackwood ofereciam uma fuga necessária das formalidades do salão. Caminhando entre as roseiras e fontes, sentiu-se pela primeira vez realmente conectada ao lugar.Enquanto andava, encontrou Alexander ao longe, conversando com um homem de aparência disti
A chegada de Charlotte trouxe uma leveza inesperada à rotina de Eleanor. Enquanto exploravam os jardins e conversavam longamente na biblioteca, Eleanor sentiu que parte de sua antiga vida estava novamente ao seu alcance. Charlotte era vivaz e espirituosa, e sua presença não apenas iluminava os dias de Eleanor, mas também despertava a curiosidade de alguns moradores da mansão Blackwood.— Sua irmã é encantadora — comentou Mary, enquanto ajudava Eleanor a se arrumar para um jantar que Alexander havia organizado em honra da visita de Charlotte.— Ela sempre foi assim — respondeu Eleanor, sorrindo. — Mas temo que essa vivacidade possa não ser bem recebida por todos aqui.— Isso depende de quem a observa, minha lady — disse Mary com um tom enigmático.***O jantar foi um evento menor, com poucos convidados selecionados. Charlotte brilhou como de costume, encantando os presentes com suas histórias e risadas. Mesmo Alexander, normalmente reservado, parecia inclinado a sorrir diante de alguma
Eleanor sentou-se em sua penteadeira, segurando a carta que Charlotte havia encontrado. Suas mãos estavam firmes, mas sua mente era um turbilhão de pensamentos. Clarisse estava tramando algo contra Alexander, disso não havia dúvida, mas a extensão de suas intenções permanecia incerta. A única coisa que Eleanor sabia com certeza era que precisava agir.Charlotte, sentada na cama, a observava com preocupação.— Você não pode ignorar isso, Eleanor.Eleanor levantou-se, encarando sua irmã com uma determinação recém-descoberta.— Não vou ignorar. Mas preciso ser cuidadosa. Clarisse é astuta e, se eu errar, posso acabar comprometendo tudo.Charlotte assentiu lentamente.— O que pretende fazer?— Primeiro, preciso entender exatamente o que está acontecendo.***Naquela noite, Eleanor foi até a biblioteca, onde sabia que Alexander passava as últimas horas antes de dormir. Ele estava sentado em sua poltrona favorita, lendo um relatório financeiro, mas ergueu os olhos ao vê-la entrar.— Eleanor
Após o confronto com Clarisse, a tensão em Blackwood parecia palpável. Eleanor, apesar de sentir o alívio de ter desmascarado a mulher, sabia que Clarisse não era do tipo que recuava facilmente. Havia uma tempestade à espreita, e ela precisava estar pronta.Na manhã seguinte, Eleanor encontrou Charlotte no salão principal, onde a irmã estava examinando um retrato de família pendurado em uma parede ornamentada.— Você parece pensativa — comentou Eleanor, aproximando-se.Charlotte virou-se, cruzando os braços.— Não consigo tirar da cabeça o que você me contou sobre Clarisse. E, para ser honesta, não acredito que ela vá simplesmente desaparecer.Eleanor suspirou, passando a mão pelos cabelos.— Alexander está atento. Ele disse que fará o possível para proteger Blackwood e a nós.— Ele confia em você, Eleanor. Isso é uma vantagem. Use isso a seu favor.Eleanor assentiu, mas não conseguiu afastar a sensação de que Charlotte estava certa. Clarisse não desistiria tão facilmente.***Enquant
A madrugada em Blackwood estava inquieta. A captura de Clarisse e seu cúmplice havia trazido à tona segredos que nem mesmo Alexander ou Eleanor estavam preparados para enfrentar. No salão principal, iluminado pela luz vacilante das velas, Alexander permanecia em silêncio ao lado de Eleanor, ambos imersos em pensamentos profundos.Clarisse estava sob vigilância em seus aposentos, mas o peso de suas palavras no bosque continuava a pairar sobre eles como uma sombra.— Ele destruirá todos nós se eu não entregar o que ele quer.Eleanor não conseguia esquecer o tom de desespero em sua voz. Por mais que odiasse Clarisse, não podia ignorar a realidade de que Sir Edmund era uma ameaça real.— Precisamos decidir o que fazer com ela — disse Eleanor, quebrando o silêncio.Alexander, que havia estado de pé junto à lareira, virou-se para encará-la.— Clarisse é perigosa, mas talvez possamos usar isso a nosso favor.Eleanor arqueou uma sobrancelha.— Você quer dizer usá-la contra Sir Edmund?— Exata