Os dias em Blackwood começaram a seguir um padrão. Eleanor passava as manhãs explorando os jardins ou lendo em seu quarto, enquanto Alexander permanecia ocupado com a administração da propriedade. À tarde, eles se encontravam ocasionalmente para refeições ou breves conversas. Ainda assim, havia algo em suas interações que sugeria um progresso, ainda que lento.
Eleanor tentava não pensar demais em sua situação. Não era incomum para mulheres de sua posição se casarem por conveniência, mas havia algo em Alexander que a intrigava. Ele não era apenas um homem reservado; parecia alguém que carregava um fardo invisível, algo que o afastava das pessoas ao seu redor. Certa manhã, enquanto Eleanor passeava pelos jardins, Mary a encontrou com um semblante preocupado. — Minha lady, o senhor Harold pediu para lhe avisar que o Duque estará supervisionando os estábulos hoje. Talvez seja uma oportunidade para encontrá-lo. Eleanor arqueou uma sobrancelha. — Ele mencionou algo sobre isso ontem, mas não me pareceu um convite explícito. — Talvez não, mas o Duque não é um homem de muitas palavras. Pode ser que ele esteja esperando por sua presença de forma implícita. Eleanor ponderou por um momento. Havia algo reconfortante em estar entre os cavalos, longe do peso das formalidades. Decidida, ela agradeceu a Mary e seguiu em direção aos estábulos. *** Os estábulos de Blackwood eram impecáveis. As baias eram amplas e limpas, e os cavalos eram magníficos, cada um deles refletindo o cuidado que recebiam. Eleanor encontrou Alexander ao lado de um enorme garanhão preto, conversando com um dos cavalariços. Ele parecia mais relaxado ali do que em qualquer outro lugar que ela o vira. — Lady Eleanor — ele cumprimentou, percebendo sua presença. — Vossa Graça — ela respondeu com um sorriso discreto. — Pensei que talvez pudesse me juntar a você hoje. Alexander assentiu, e seu olhar suavizou um pouco. — Fico feliz que tenha vindo. Este é Orion, meu cavalo favorito. Eleanor se aproximou, estendendo a mão para acariciar o focinho do animal. — Ele é magnífico — disse ela, admirada. — E temperamental — Alexander acrescentou, com uma pitada de humor. Eleanor riu suavemente, surpresa com o tom descontraído dele. — Parece que compartilham uma característica, então. Alexander ergueu uma sobrancelha, claramente pego de surpresa pela ousadia dela. Mas, para seu alívio, ele sorriu. — Talvez compartilhemos mais do que eu gostaria de admitir. Eles passaram a próxima hora caminhando pelos estábulos, conversando sobre os cavalos e as terras ao redor. Alexander parecia mais acessível ali, e Eleanor aproveitou a oportunidade para conhecê-lo melhor. Descobriu que ele tinha um profundo respeito pelos trabalhadores da propriedade e que se dedicava a manter Blackwood como um lugar próspero e justo. Quando finalmente deixaram os estábulos, o sol já estava alto no céu. Eleanor sentiu-se revigorada, como se aquela pequena interação tivesse dissipado parte da tensão que pairava entre eles. *** Naquela tarde, Alexander foi ao escritório para revisar os relatórios financeiros, mas sua mente estava longe. Ele se pegou pensando na conversa com Eleanor, algo que não acontecia com frequência. — Parece que está começando a apreciar a companhia de sua futura esposa — comentou Albert, entrando sem aviso, como de costume. Alexander franziu a testa, mas não negou. — Ela é... diferente do que imaginei. — Diferente pode ser bom, Alexander. Talvez este casamento não precise ser apenas um contrato. Alexander suspirou, esfregando a têmpora. — Não estou certo de que posso oferecer mais do que isso. Albert o observou por um momento antes de responder. — Talvez não precise oferecer tudo de uma vez. Às vezes, confiança e afeto crescem com o tempo. Alexander não respondeu, mas as palavras de Albert ficaram em sua mente. *** Mais tarde, Eleanor estava no salão de música, praticando ao piano. A melodia suave preenchia o espaço, criando um contraste com a atmosfera frequentemente austera da mansão. Alexander, atraído pelo som, parou na entrada, observando-a em silêncio. Eleanor parecia perdida na música, os dedos deslizando com graça pelas teclas. Havia uma leveza nela, uma naturalidade que ele não esperava encontrar. Quando terminou, Eleanor notou sua presença e corou ligeiramente. — Espero não tê-lo incomodado, Vossa Graça. — De forma alguma. Foi... agradável — respondeu ele, sinceramente. Eleanor ficou surpresa com o elogio. — Gosto de tocar. Ajuda-me a organizar os pensamentos. — Entendo. Às vezes, cavalgar tem o mesmo efeito para mim. Eles ficaram em silêncio por um momento antes de Alexander se aproximar. — Há algo que gostaria de pedir, Lady Eleanor. — O que seria? — perguntou ela, intrigada. — Quando estivermos casados, espero que continue tocando. Blackwood precisa de mais... vida. Eleanor sorriu, tocada pela observação. — Ficarei feliz em fazê-lo. A conversa foi breve, mas Eleanor sentiu que algo havia mudado. Pela primeira vez, ela viu um vislumbre de vulnerabilidade em Alexander, algo que a encorajou a acreditar que talvez houvesse esperança para eles. *** Mais tarde, enquanto Eleanor se preparava para dormir, Mary entrou em seu quarto com uma expressão satisfeita. — Parece que o Duque está começando a se abrir, minha lady. — Talvez. Mas ele ainda é um homem difícil de decifrar. — Mesmo assim, já é um começo. E um bom começo pode levar a algo ainda melhor. Eleanor assentiu, mas não respondeu. Em seu coração, ela sabia que havia muito trabalho pela frente. Mas, naquela noite, pela primeira vez, sentiu que talvez valesse a pena tentar.Os dias que se seguiram foram marcados por uma convivência cada vez mais confortável entre Eleanor e Alexander. Embora suas interações ainda fossem formais em muitos momentos, os pequenos gestos de gentileza e as conversas ocasionais criavam uma ponte entre eles. No entanto, a calma foi interrompida quando uma mensagem chegou anunciando a visita da família Ashcroft, vizinhos de longa data dos Beaumont.Eleanor estava no jardim quando Mary veio informá-la.— Minha lady, a senhora Ashcroft e sua filha chegarão esta tarde para uma visita.— Uma visita? Não sabia que tínhamos vizinhos tão próximos.— Não são tão próximos, mas os Ashcroft costumam visitar Blackwood algumas vezes ao ano. Lady Clarisse, a filha deles, é uma conhecida antiga do Duque.Eleanor percebeu a leve hesitação na voz de Mary ao mencionar Clarisse.— E o que devo saber sobre Lady Clarisse?Mary sorriu, mas havia algo forçado em sua expressão.— Ela é... encantadora. Muito amigável com o Duque, dizem.Eleanor sentiu uma
A visita da família Ashcroft trouxe consigo uma onda de inquietação que Eleanor não pôde ignorar. Embora Alexander tenha se mostrado respeitoso e atento, a presença de Clarisse era um lembrete constante de que Eleanor ainda não ocupava o espaço que lhe cabia como futura Duquesa de Blackwood.Foi então que Alexander anunciou, durante o café da manhã, que organizaria um baile em Blackwood para recepcionar oficialmente Eleanor na sociedade local.— Será uma oportunidade de conhecer nossos vizinhos e reforçar alianças importantes — explicou ele, enquanto folheava uma correspondência.Eleanor ficou surpresa com a decisão, mas percebeu que era uma chance de se firmar como parte integrante daquela nova vida.— Um baile? — perguntou ela, tentando esconder a ansiedade que sentia. — Não é algo um tanto apressado?Alexander levantou os olhos, oferecendo um sorriso quase imperceptível.— Blackwood é conhecida por sua hospitalidade. É importante que todos saibam que você faz parte dessa tradição.
Os dias que se seguiram ao baile em Blackwood foram um turbilhão de comentários e expectativas. As cartas chegaram em abundância, parabenizando Alexander pela recepção impecável e, principalmente, elogiando Eleanor. Muitas delas vinham de mulheres da região, algumas sinceras, outras nem tanto, mas todas reconheciam a jovem como uma figura central no círculo social local.No entanto, por trás do brilho das danças e das conversas, havia uma tensão silenciosa que Eleanor sentia, mas ainda não compreendia completamente. Algo na forma como algumas pessoas a observavam, especialmente Clarisse, fazia-a questionar o que realmente esperavam dela.***Na manhã seguinte ao baile, Eleanor decidiu explorar mais da propriedade. Os vastos jardins de Blackwood ofereciam uma fuga necessária das formalidades do salão. Caminhando entre as roseiras e fontes, sentiu-se pela primeira vez realmente conectada ao lugar.Enquanto andava, encontrou Alexander ao longe, conversando com um homem de aparência disti
A chegada de Charlotte trouxe uma leveza inesperada à rotina de Eleanor. Enquanto exploravam os jardins e conversavam longamente na biblioteca, Eleanor sentiu que parte de sua antiga vida estava novamente ao seu alcance. Charlotte era vivaz e espirituosa, e sua presença não apenas iluminava os dias de Eleanor, mas também despertava a curiosidade de alguns moradores da mansão Blackwood.— Sua irmã é encantadora — comentou Mary, enquanto ajudava Eleanor a se arrumar para um jantar que Alexander havia organizado em honra da visita de Charlotte.— Ela sempre foi assim — respondeu Eleanor, sorrindo. — Mas temo que essa vivacidade possa não ser bem recebida por todos aqui.— Isso depende de quem a observa, minha lady — disse Mary com um tom enigmático.***O jantar foi um evento menor, com poucos convidados selecionados. Charlotte brilhou como de costume, encantando os presentes com suas histórias e risadas. Mesmo Alexander, normalmente reservado, parecia inclinado a sorrir diante de alguma
Eleanor sentou-se em sua penteadeira, segurando a carta que Charlotte havia encontrado. Suas mãos estavam firmes, mas sua mente era um turbilhão de pensamentos. Clarisse estava tramando algo contra Alexander, disso não havia dúvida, mas a extensão de suas intenções permanecia incerta. A única coisa que Eleanor sabia com certeza era que precisava agir.Charlotte, sentada na cama, a observava com preocupação.— Você não pode ignorar isso, Eleanor.Eleanor levantou-se, encarando sua irmã com uma determinação recém-descoberta.— Não vou ignorar. Mas preciso ser cuidadosa. Clarisse é astuta e, se eu errar, posso acabar comprometendo tudo.Charlotte assentiu lentamente.— O que pretende fazer?— Primeiro, preciso entender exatamente o que está acontecendo.***Naquela noite, Eleanor foi até a biblioteca, onde sabia que Alexander passava as últimas horas antes de dormir. Ele estava sentado em sua poltrona favorita, lendo um relatório financeiro, mas ergueu os olhos ao vê-la entrar.— Eleanor
Após o confronto com Clarisse, a tensão em Blackwood parecia palpável. Eleanor, apesar de sentir o alívio de ter desmascarado a mulher, sabia que Clarisse não era do tipo que recuava facilmente. Havia uma tempestade à espreita, e ela precisava estar pronta.Na manhã seguinte, Eleanor encontrou Charlotte no salão principal, onde a irmã estava examinando um retrato de família pendurado em uma parede ornamentada.— Você parece pensativa — comentou Eleanor, aproximando-se.Charlotte virou-se, cruzando os braços.— Não consigo tirar da cabeça o que você me contou sobre Clarisse. E, para ser honesta, não acredito que ela vá simplesmente desaparecer.Eleanor suspirou, passando a mão pelos cabelos.— Alexander está atento. Ele disse que fará o possível para proteger Blackwood e a nós.— Ele confia em você, Eleanor. Isso é uma vantagem. Use isso a seu favor.Eleanor assentiu, mas não conseguiu afastar a sensação de que Charlotte estava certa. Clarisse não desistiria tão facilmente.***Enquant
A madrugada em Blackwood estava inquieta. A captura de Clarisse e seu cúmplice havia trazido à tona segredos que nem mesmo Alexander ou Eleanor estavam preparados para enfrentar. No salão principal, iluminado pela luz vacilante das velas, Alexander permanecia em silêncio ao lado de Eleanor, ambos imersos em pensamentos profundos.Clarisse estava sob vigilância em seus aposentos, mas o peso de suas palavras no bosque continuava a pairar sobre eles como uma sombra.— Ele destruirá todos nós se eu não entregar o que ele quer.Eleanor não conseguia esquecer o tom de desespero em sua voz. Por mais que odiasse Clarisse, não podia ignorar a realidade de que Sir Edmund era uma ameaça real.— Precisamos decidir o que fazer com ela — disse Eleanor, quebrando o silêncio.Alexander, que havia estado de pé junto à lareira, virou-se para encará-la.— Clarisse é perigosa, mas talvez possamos usar isso a nosso favor.Eleanor arqueou uma sobrancelha.— Você quer dizer usá-la contra Sir Edmund?— Exata
Naquela manhã, a atmosfera em Blackwood estava carregada de expectativa e tensão. O diário encontrado por Charlotte não apenas trouxe à tona segredos sobre o passado da família, mas também forneceu pistas cruciais para entender a mente de Sir Edmund.Eleanor caminhava pelos jardins, tentando organizar seus pensamentos. O confronto iminente com Sir Edmund parecia mais próximo a cada dia, e ela sabia que seria uma batalha não apenas de força, mas de inteligência.Ela não estava sozinha em sua caminhada; Alexander apareceu pouco depois, os passos firmes ressoando pelo caminho de pedras.— Como está? — ele perguntou, aproximando-se.— Preocupada — admitiu Eleanor, sem rodeios. — Este diário... as coisas que seu pai escreveu... é assustador pensar que Sir Edmund tem planos tão calculados contra sua família há tanto tempo.Alexander suspirou, olhando para o horizonte.— Meu pai sempre foi um homem reservado, mas agora vejo que havia muito mais em seus silêncios do que eu imaginava. Ele sabi