Os dias que se seguiram foram marcados por uma convivência cada vez mais confortável entre Eleanor e Alexander. Embora suas interações ainda fossem formais em muitos momentos, os pequenos gestos de gentileza e as conversas ocasionais criavam uma ponte entre eles. No entanto, a calma foi interrompida quando uma mensagem chegou anunciando a visita da família Ashcroft, vizinhos de longa data dos Beaumont.
Eleanor estava no jardim quando Mary veio informá-la. — Minha lady, a senhora Ashcroft e sua filha chegarão esta tarde para uma visita. — Uma visita? Não sabia que tínhamos vizinhos tão próximos. — Não são tão próximos, mas os Ashcroft costumam visitar Blackwood algumas vezes ao ano. Lady Clarisse, a filha deles, é uma conhecida antiga do Duque. Eleanor percebeu a leve hesitação na voz de Mary ao mencionar Clarisse. — E o que devo saber sobre Lady Clarisse? Mary sorriu, mas havia algo forçado em sua expressão. — Ela é... encantadora. Muito amigável com o Duque, dizem. Eleanor sentiu uma pontada de desconforto, mas decidiu não deixar que isso a perturbasse. *** Quando a família Ashcroft chegou, a sala de estar principal foi preparada para recebê-los. Eleanor usava um vestido azul claro, com detalhes em renda, que destacavam sua postura graciosa. Alexander estava ao seu lado, impecável como sempre, mas havia uma rigidez em seus ombros que ela não conseguiu ignorar. — Alexander! — exclamou Lady Clarisse assim que entrou, avançando para cumprimentá-lo com uma familiaridade que fez Eleanor arquear uma sobrancelha. Clarisse era alta e elegante, com cabelos dourados e um sorriso confiante. Ela parecia à vontade no ambiente, como se já fizesse parte dele. — Lady Clarisse — Alexander respondeu, cumprimentando-a com um breve aperto de mão. — E esta deve ser Lady Eleanor — disse Clarisse, virando-se para Eleanor com um sorriso que parecia um pouco forçado. — É um prazer conhecê-la. — O prazer é meu, Lady Clarisse — respondeu Eleanor, mantendo a compostura. Enquanto os Ashcroft se acomodavam, Eleanor percebeu que Clarisse frequentemente voltava sua atenção para Alexander, iniciando conversas e rindo de forma exagerada a cada comentário dele. Alexander, por outro lado, permanecia educado, mas reservado, o que dava a Eleanor uma leve sensação de alívio. *** Mais tarde, durante o jantar, Clarisse fez questão de monopolizar a conversa. — Alexander, lembra-se daquela vez em que fomos ao baile de primavera em Londres? — perguntou ela, com um sorriso nostálgico. — Todos estavam comentando como éramos a dupla perfeita na pista de dança. Eleanor sentiu uma pontada de ciúme, mas manteve a expressão neutra. Alexander respondeu com calma. — Faz muito tempo, Lady Clarisse. As memórias estão um pouco distantes agora. Clarisse pareceu desapontada com a resposta, mas rapidamente mudou de assunto, tentando envolver Eleanor na conversa. — Lady Eleanor, espero que não se sinta intimidada com a grandiosidade de Blackwood. É uma propriedade tão imponente, não acha? — É, de fato, impressionante. Mas tenho me sentido muito bem acolhida aqui — respondeu Eleanor, com um leve sorriso. — Ah, que bom ouvir isso. Alexander sempre foi um excelente anfitrião, não é? Eleanor apenas assentiu, sentindo a tensão aumentar a cada palavra de Clarisse. *** Após o jantar, Eleanor retirou-se para a sala de música, desejando um momento de paz. Sentou-se ao piano, deixando os dedos deslizarem pelas teclas em uma melodia melancólica. Não percebeu quando Alexander entrou. — Está tudo bem? — ele perguntou, interrompendo-a. Eleanor ergueu os olhos, surpresa. — Sim, apenas precisava de um momento para mim. Alexander aproximou-se, apoiando-se no piano. — Sei que a visita dos Ashcroft foi repentina. Espero que não tenha sido muito incômodo para você. — Não foi um incômodo, mas confesso que me senti um pouco deslocada. Alexander pareceu refletir por um momento antes de responder. — Lady Clarisse e eu nos conhecemos há muito tempo, mas nosso relacionamento é apenas cordial. Espero que isso não a incomode. Eleanor ficou surpresa com a declaração direta, mas decidiu ser igualmente honesta. — Confesso que foi desconfortável em alguns momentos, mas não quero fazer suposições precipitadas. Alexander assentiu, parecendo satisfeito com a resposta. — Aprecio sua sinceridade, Lady Eleanor. E prometo que farei o possível para que se sinta à vontade aqui. As palavras dele, embora simples, carregavam um peso que Eleanor não pôde ignorar. *** Mais tarde naquela noite, Eleanor conversava com Mary enquanto se preparava para dormir. — Lady Clarisse parece bastante próxima do Duque — comentou ela, tentando soar casual. — Eles têm uma história juntos, mas nada que vá além de amizade, minha lady. Pelo que sei, o Duque nunca demonstrou interesse romântico por ela. Eleanor sentiu-se um pouco aliviada, mas sabia que o verdadeiro desafio seria construir um relacionamento sólido com Alexander. E, de certa forma, a presença de Clarisse a motivava a tentar ainda mais.A visita da família Ashcroft trouxe consigo uma onda de inquietação que Eleanor não pôde ignorar. Embora Alexander tenha se mostrado respeitoso e atento, a presença de Clarisse era um lembrete constante de que Eleanor ainda não ocupava o espaço que lhe cabia como futura Duquesa de Blackwood.Foi então que Alexander anunciou, durante o café da manhã, que organizaria um baile em Blackwood para recepcionar oficialmente Eleanor na sociedade local.— Será uma oportunidade de conhecer nossos vizinhos e reforçar alianças importantes — explicou ele, enquanto folheava uma correspondência.Eleanor ficou surpresa com a decisão, mas percebeu que era uma chance de se firmar como parte integrante daquela nova vida.— Um baile? — perguntou ela, tentando esconder a ansiedade que sentia. — Não é algo um tanto apressado?Alexander levantou os olhos, oferecendo um sorriso quase imperceptível.— Blackwood é conhecida por sua hospitalidade. É importante que todos saibam que você faz parte dessa tradição.
Os dias que se seguiram ao baile em Blackwood foram um turbilhão de comentários e expectativas. As cartas chegaram em abundância, parabenizando Alexander pela recepção impecável e, principalmente, elogiando Eleanor. Muitas delas vinham de mulheres da região, algumas sinceras, outras nem tanto, mas todas reconheciam a jovem como uma figura central no círculo social local.No entanto, por trás do brilho das danças e das conversas, havia uma tensão silenciosa que Eleanor sentia, mas ainda não compreendia completamente. Algo na forma como algumas pessoas a observavam, especialmente Clarisse, fazia-a questionar o que realmente esperavam dela.***Na manhã seguinte ao baile, Eleanor decidiu explorar mais da propriedade. Os vastos jardins de Blackwood ofereciam uma fuga necessária das formalidades do salão. Caminhando entre as roseiras e fontes, sentiu-se pela primeira vez realmente conectada ao lugar.Enquanto andava, encontrou Alexander ao longe, conversando com um homem de aparência disti
A chegada de Charlotte trouxe uma leveza inesperada à rotina de Eleanor. Enquanto exploravam os jardins e conversavam longamente na biblioteca, Eleanor sentiu que parte de sua antiga vida estava novamente ao seu alcance. Charlotte era vivaz e espirituosa, e sua presença não apenas iluminava os dias de Eleanor, mas também despertava a curiosidade de alguns moradores da mansão Blackwood.— Sua irmã é encantadora — comentou Mary, enquanto ajudava Eleanor a se arrumar para um jantar que Alexander havia organizado em honra da visita de Charlotte.— Ela sempre foi assim — respondeu Eleanor, sorrindo. — Mas temo que essa vivacidade possa não ser bem recebida por todos aqui.— Isso depende de quem a observa, minha lady — disse Mary com um tom enigmático.***O jantar foi um evento menor, com poucos convidados selecionados. Charlotte brilhou como de costume, encantando os presentes com suas histórias e risadas. Mesmo Alexander, normalmente reservado, parecia inclinado a sorrir diante de alguma
Eleanor sentou-se em sua penteadeira, segurando a carta que Charlotte havia encontrado. Suas mãos estavam firmes, mas sua mente era um turbilhão de pensamentos. Clarisse estava tramando algo contra Alexander, disso não havia dúvida, mas a extensão de suas intenções permanecia incerta. A única coisa que Eleanor sabia com certeza era que precisava agir.Charlotte, sentada na cama, a observava com preocupação.— Você não pode ignorar isso, Eleanor.Eleanor levantou-se, encarando sua irmã com uma determinação recém-descoberta.— Não vou ignorar. Mas preciso ser cuidadosa. Clarisse é astuta e, se eu errar, posso acabar comprometendo tudo.Charlotte assentiu lentamente.— O que pretende fazer?— Primeiro, preciso entender exatamente o que está acontecendo.***Naquela noite, Eleanor foi até a biblioteca, onde sabia que Alexander passava as últimas horas antes de dormir. Ele estava sentado em sua poltrona favorita, lendo um relatório financeiro, mas ergueu os olhos ao vê-la entrar.— Eleanor
Após o confronto com Clarisse, a tensão em Blackwood parecia palpável. Eleanor, apesar de sentir o alívio de ter desmascarado a mulher, sabia que Clarisse não era do tipo que recuava facilmente. Havia uma tempestade à espreita, e ela precisava estar pronta.Na manhã seguinte, Eleanor encontrou Charlotte no salão principal, onde a irmã estava examinando um retrato de família pendurado em uma parede ornamentada.— Você parece pensativa — comentou Eleanor, aproximando-se.Charlotte virou-se, cruzando os braços.— Não consigo tirar da cabeça o que você me contou sobre Clarisse. E, para ser honesta, não acredito que ela vá simplesmente desaparecer.Eleanor suspirou, passando a mão pelos cabelos.— Alexander está atento. Ele disse que fará o possível para proteger Blackwood e a nós.— Ele confia em você, Eleanor. Isso é uma vantagem. Use isso a seu favor.Eleanor assentiu, mas não conseguiu afastar a sensação de que Charlotte estava certa. Clarisse não desistiria tão facilmente.***Enquant
A madrugada em Blackwood estava inquieta. A captura de Clarisse e seu cúmplice havia trazido à tona segredos que nem mesmo Alexander ou Eleanor estavam preparados para enfrentar. No salão principal, iluminado pela luz vacilante das velas, Alexander permanecia em silêncio ao lado de Eleanor, ambos imersos em pensamentos profundos.Clarisse estava sob vigilância em seus aposentos, mas o peso de suas palavras no bosque continuava a pairar sobre eles como uma sombra.— Ele destruirá todos nós se eu não entregar o que ele quer.Eleanor não conseguia esquecer o tom de desespero em sua voz. Por mais que odiasse Clarisse, não podia ignorar a realidade de que Sir Edmund era uma ameaça real.— Precisamos decidir o que fazer com ela — disse Eleanor, quebrando o silêncio.Alexander, que havia estado de pé junto à lareira, virou-se para encará-la.— Clarisse é perigosa, mas talvez possamos usar isso a nosso favor.Eleanor arqueou uma sobrancelha.— Você quer dizer usá-la contra Sir Edmund?— Exata
Naquela manhã, a atmosfera em Blackwood estava carregada de expectativa e tensão. O diário encontrado por Charlotte não apenas trouxe à tona segredos sobre o passado da família, mas também forneceu pistas cruciais para entender a mente de Sir Edmund.Eleanor caminhava pelos jardins, tentando organizar seus pensamentos. O confronto iminente com Sir Edmund parecia mais próximo a cada dia, e ela sabia que seria uma batalha não apenas de força, mas de inteligência.Ela não estava sozinha em sua caminhada; Alexander apareceu pouco depois, os passos firmes ressoando pelo caminho de pedras.— Como está? — ele perguntou, aproximando-se.— Preocupada — admitiu Eleanor, sem rodeios. — Este diário... as coisas que seu pai escreveu... é assustador pensar que Sir Edmund tem planos tão calculados contra sua família há tanto tempo.Alexander suspirou, olhando para o horizonte.— Meu pai sempre foi um homem reservado, mas agora vejo que havia muito mais em seus silêncios do que eu imaginava. Ele sabi
A noite que se seguiu ao retorno de Alexander, Eleanor e Lorde William de Redwood Hall foi inquieta. O trio trouxe consigo os documentos que expunham os planos de Sir Edmund, mas o peso de tudo que descobriram impedia qualquer sensação de alívio.Eleanor estava no salão principal, analisando as cartas uma a uma. Seus olhos se detinham nos nomes que surgiam com frequência: barões e lordes que ela sabia serem influentes, mas que agora eram cúmplices de Sir Edmund.— Eleanor, está tarde — disse Alexander, entrando no salão. Ele estava descalço, sem o casaco formal, e parecia tão cansado quanto ela.— Não consigo dormir, Alexander — respondeu ela, sem desviar o olhar dos papéis. — Cada nome aqui representa uma ameaça. São homens ricos e poderosos. Como podemos enfrentá-los?Alexander se aproximou, sentando-se ao lado dela.— Não estamos sozinhos — disse ele, a voz baixa. — Blackwood tem aliados também. Vamos convocá-los.Eleanor assentiu, mas havia uma dúvida em sua mente.— E se nossos a