A visita da família Ashcroft trouxe consigo uma onda de inquietação que Eleanor não pôde ignorar. Embora Alexander tenha se mostrado respeitoso e atento, a presença de Clarisse era um lembrete constante de que Eleanor ainda não ocupava o espaço que lhe cabia como futura Duquesa de Blackwood.
Foi então que Alexander anunciou, durante o café da manhã, que organizaria um baile em Blackwood para recepcionar oficialmente Eleanor na sociedade local. — Será uma oportunidade de conhecer nossos vizinhos e reforçar alianças importantes — explicou ele, enquanto folheava uma correspondência. Eleanor ficou surpresa com a decisão, mas percebeu que era uma chance de se firmar como parte integrante daquela nova vida. — Um baile? — perguntou ela, tentando esconder a ansiedade que sentia. — Não é algo um tanto apressado? Alexander levantou os olhos, oferecendo um sorriso quase imperceptível. — Blackwood é conhecida por sua hospitalidade. É importante que todos saibam que você faz parte dessa tradição. Eleanor assentiu, compreendendo a importância do evento, mas não pôde evitar o nervosismo. *** Os preparativos para o baile começaram imediatamente. Criados corriam pelos corredores, transportando arranjos florais, tecidos luxuosos e candelabros reluzentes. Mary estava constantemente ao lado de Eleanor, ajudando-a a selecionar vestidos e acessórios adequados para a ocasião. — Este tecido de seda azul combina perfeitamente com sua pele, minha lady — sugeriu Mary, segurando uma peça delicada. Eleanor concordou, mas sua mente estava ocupada com pensamentos sobre como se portar no baile. Embora tivesse sido treinada para eventos sociais desde jovem, sentia que este era diferente. Não era apenas um baile; era um teste. Na véspera do evento, Mary encontrou Eleanor sentada em frente ao espelho, encarando seu reflexo. — Minha lady, não deveria estar tão preocupada. Tenho certeza de que todos ficarão encantados com você. Eleanor suspirou. — Não é apenas isso, Mary. É a impressão que devo causar, a responsabilidade de representar Blackwood ao lado de Alexander. Mary colocou uma mão reconfortante sobre o ombro de Eleanor. — A senhora tem mais força do que imagina. Mostre isso. *** Na noite do baile, a mansão Blackwood estava deslumbrante. Lustres de cristal iluminavam o grande salão, enquanto músicos afinavam seus instrumentos em um canto. Os convidados começaram a chegar pontualmente, vestidos com suas melhores roupas e cheios de expectativa. Eleanor desceu a grande escadaria com Alexander ao seu lado. Usava o vestido de seda azul escolhido por Mary, adornado com pérolas delicadas. Sua postura era impecável, e embora sentisse o coração disparado, seu rosto transmitia calma e confiança. Quando chegaram ao final da escadaria, Alexander apresentou Eleanor a alguns dos convidados mais importantes. — Lorde e Lady Pembroke, esta é minha noiva, Lady Eleanor. — Um prazer conhecê-la, minha lady — disse Lady Pembroke, uma mulher de meia-idade com um sorriso caloroso. — Blackwood nunca esteve tão viva. Eleanor agradeceu o elogio, sentindo-se um pouco mais à vontade. *** Conforme a noite avançava, Eleanor começou a perceber as dinâmicas sociais ao seu redor. Muitos dos convidados eram amáveis, mas alguns pareciam avaliá-la com olhares críticos, como se estivessem pesando seu valor como futura Duquesa. Clarisse, como esperado, fazia questão de ser notada. Seu vestido dourado brilhava sob as luzes do salão, e sua risada ecoava frequentemente. Ela se aproximava de Alexander em toda oportunidade, o que não passou despercebido por Eleanor. Quando a primeira dança foi anunciada, Alexander ofereceu sua mão a Eleanor. — É tradição que o anfitrião e sua consorte abram o baile — explicou ele. Eleanor aceitou a mão dele, sentindo os olhares de todos sobre eles enquanto se dirigiam ao centro do salão. A música começou, e Alexander conduziu-a com precisão e elegância. — Está se saindo bem — ele murmurou, enquanto giravam pela pista. — Só espero não tropeçar e destruir essa impressão — respondeu ela, com um leve sorriso. Alexander riu, um som raro que surpreendeu Eleanor. — Acho que mesmo isso seria perdoado. Enquanto dançavam, Eleanor sentiu uma mudança sutil na dinâmica entre eles. Embora suas palavras ainda fossem medidas, havia uma gentileza nos olhos de Alexander, algo que sugeria um início de confiança. *** Após a dança, Eleanor foi abordada por vários convidados, todos ansiosos para conhecê-la. Ela conversou com diplomacia e graça, surpreendendo-se com sua própria capacidade de manter a compostura. No entanto, um encontro em particular chamou sua atenção. — Lady Eleanor, que prazer finalmente conhecê-la — disse uma mulher mais jovem, com cabelos escuros e olhos brilhantes. — Sou Lady Margaret, amiga de infância de Alexander. Eleanor sorriu, mas percebeu que Margaret não estava ali apenas para cumprimentá-la. — Espero que esteja gostando da noite, Lady Margaret. — Muito, obrigada. E devo dizer, Alexander parece estar... diferente ultimamente. Mais tranquilo, talvez. Imagino que isso tenha algo a ver com sua presença. — Fico feliz em ouvir isso — respondeu Eleanor, mantendo o sorriso. Margaret inclinou-se um pouco mais perto, baixando a voz. — Mas devo alertá-la, Lady Clarisse é bastante persistente. Ela sempre teve esperanças em relação a Alexander. Eleanor ficou surpresa com a franqueza de Margaret, mas antes que pudesse responder, a jovem se afastou com um sorriso enigmático. *** Enquanto a noite continuava, Eleanor retirou-se para um canto mais tranquilo do salão, precisando de um momento para respirar. Foi quando Alexander se aproximou, trazendo uma taça de vinho para ela. — Como está indo? — ele perguntou, entregando-lhe a bebida. — Melhor do que imaginei. Mas confesso que é cansativo ser o centro das atenções. Alexander sorriu. — Você está lidando com isso admiravelmente. Muitos aqui já a consideram uma excelente escolha para Blackwood. Eleanor olhou para ele, surpresa pela sinceridade em seu tom. — E você, Alexander? O que pensa disso? Ele hesitou por um momento, como se pesasse suas palavras. — Acho que, com o tempo, você provará ser muito mais do que qualquer um espera. As palavras dele ficaram na mente de Eleanor pelo resto da noite, deixando-a com um misto de esperança e curiosidade. *** Quando o baile chegou ao fim, os convidados começaram a se dispersar, e a mansão gradualmente voltou ao silêncio. Eleanor estava exausta, mas satisfeita por ter superado o evento com sucesso. Mary a ajudou a remover o vestido e arrumar o cabelo antes de dormir. — Foi brilhante, minha lady. Todos estavam encantados com você. Eleanor sorriu, mas sua mente ainda estava ocupada com as palavras de Alexander e o enigma que ele representava. — Obrigada, Mary. Acho que hoje foi um passo importante. Enquanto se deitava, Eleanor sentiu que, embora o caminho à frente ainda fosse incerto, havia uma base sendo construída, lenta mas seguramente.Os dias que se seguiram ao baile em Blackwood foram um turbilhão de comentários e expectativas. As cartas chegaram em abundância, parabenizando Alexander pela recepção impecável e, principalmente, elogiando Eleanor. Muitas delas vinham de mulheres da região, algumas sinceras, outras nem tanto, mas todas reconheciam a jovem como uma figura central no círculo social local.No entanto, por trás do brilho das danças e das conversas, havia uma tensão silenciosa que Eleanor sentia, mas ainda não compreendia completamente. Algo na forma como algumas pessoas a observavam, especialmente Clarisse, fazia-a questionar o que realmente esperavam dela.***Na manhã seguinte ao baile, Eleanor decidiu explorar mais da propriedade. Os vastos jardins de Blackwood ofereciam uma fuga necessária das formalidades do salão. Caminhando entre as roseiras e fontes, sentiu-se pela primeira vez realmente conectada ao lugar.Enquanto andava, encontrou Alexander ao longe, conversando com um homem de aparência disti
A chegada de Charlotte trouxe uma leveza inesperada à rotina de Eleanor. Enquanto exploravam os jardins e conversavam longamente na biblioteca, Eleanor sentiu que parte de sua antiga vida estava novamente ao seu alcance. Charlotte era vivaz e espirituosa, e sua presença não apenas iluminava os dias de Eleanor, mas também despertava a curiosidade de alguns moradores da mansão Blackwood.— Sua irmã é encantadora — comentou Mary, enquanto ajudava Eleanor a se arrumar para um jantar que Alexander havia organizado em honra da visita de Charlotte.— Ela sempre foi assim — respondeu Eleanor, sorrindo. — Mas temo que essa vivacidade possa não ser bem recebida por todos aqui.— Isso depende de quem a observa, minha lady — disse Mary com um tom enigmático.***O jantar foi um evento menor, com poucos convidados selecionados. Charlotte brilhou como de costume, encantando os presentes com suas histórias e risadas. Mesmo Alexander, normalmente reservado, parecia inclinado a sorrir diante de alguma
Eleanor sentou-se em sua penteadeira, segurando a carta que Charlotte havia encontrado. Suas mãos estavam firmes, mas sua mente era um turbilhão de pensamentos. Clarisse estava tramando algo contra Alexander, disso não havia dúvida, mas a extensão de suas intenções permanecia incerta. A única coisa que Eleanor sabia com certeza era que precisava agir.Charlotte, sentada na cama, a observava com preocupação.— Você não pode ignorar isso, Eleanor.Eleanor levantou-se, encarando sua irmã com uma determinação recém-descoberta.— Não vou ignorar. Mas preciso ser cuidadosa. Clarisse é astuta e, se eu errar, posso acabar comprometendo tudo.Charlotte assentiu lentamente.— O que pretende fazer?— Primeiro, preciso entender exatamente o que está acontecendo.***Naquela noite, Eleanor foi até a biblioteca, onde sabia que Alexander passava as últimas horas antes de dormir. Ele estava sentado em sua poltrona favorita, lendo um relatório financeiro, mas ergueu os olhos ao vê-la entrar.— Eleanor
Após o confronto com Clarisse, a tensão em Blackwood parecia palpável. Eleanor, apesar de sentir o alívio de ter desmascarado a mulher, sabia que Clarisse não era do tipo que recuava facilmente. Havia uma tempestade à espreita, e ela precisava estar pronta.Na manhã seguinte, Eleanor encontrou Charlotte no salão principal, onde a irmã estava examinando um retrato de família pendurado em uma parede ornamentada.— Você parece pensativa — comentou Eleanor, aproximando-se.Charlotte virou-se, cruzando os braços.— Não consigo tirar da cabeça o que você me contou sobre Clarisse. E, para ser honesta, não acredito que ela vá simplesmente desaparecer.Eleanor suspirou, passando a mão pelos cabelos.— Alexander está atento. Ele disse que fará o possível para proteger Blackwood e a nós.— Ele confia em você, Eleanor. Isso é uma vantagem. Use isso a seu favor.Eleanor assentiu, mas não conseguiu afastar a sensação de que Charlotte estava certa. Clarisse não desistiria tão facilmente.***Enquant
A madrugada em Blackwood estava inquieta. A captura de Clarisse e seu cúmplice havia trazido à tona segredos que nem mesmo Alexander ou Eleanor estavam preparados para enfrentar. No salão principal, iluminado pela luz vacilante das velas, Alexander permanecia em silêncio ao lado de Eleanor, ambos imersos em pensamentos profundos.Clarisse estava sob vigilância em seus aposentos, mas o peso de suas palavras no bosque continuava a pairar sobre eles como uma sombra.— Ele destruirá todos nós se eu não entregar o que ele quer.Eleanor não conseguia esquecer o tom de desespero em sua voz. Por mais que odiasse Clarisse, não podia ignorar a realidade de que Sir Edmund era uma ameaça real.— Precisamos decidir o que fazer com ela — disse Eleanor, quebrando o silêncio.Alexander, que havia estado de pé junto à lareira, virou-se para encará-la.— Clarisse é perigosa, mas talvez possamos usar isso a nosso favor.Eleanor arqueou uma sobrancelha.— Você quer dizer usá-la contra Sir Edmund?— Exata
Naquela manhã, a atmosfera em Blackwood estava carregada de expectativa e tensão. O diário encontrado por Charlotte não apenas trouxe à tona segredos sobre o passado da família, mas também forneceu pistas cruciais para entender a mente de Sir Edmund.Eleanor caminhava pelos jardins, tentando organizar seus pensamentos. O confronto iminente com Sir Edmund parecia mais próximo a cada dia, e ela sabia que seria uma batalha não apenas de força, mas de inteligência.Ela não estava sozinha em sua caminhada; Alexander apareceu pouco depois, os passos firmes ressoando pelo caminho de pedras.— Como está? — ele perguntou, aproximando-se.— Preocupada — admitiu Eleanor, sem rodeios. — Este diário... as coisas que seu pai escreveu... é assustador pensar que Sir Edmund tem planos tão calculados contra sua família há tanto tempo.Alexander suspirou, olhando para o horizonte.— Meu pai sempre foi um homem reservado, mas agora vejo que havia muito mais em seus silêncios do que eu imaginava. Ele sabi
A noite que se seguiu ao retorno de Alexander, Eleanor e Lorde William de Redwood Hall foi inquieta. O trio trouxe consigo os documentos que expunham os planos de Sir Edmund, mas o peso de tudo que descobriram impedia qualquer sensação de alívio.Eleanor estava no salão principal, analisando as cartas uma a uma. Seus olhos se detinham nos nomes que surgiam com frequência: barões e lordes que ela sabia serem influentes, mas que agora eram cúmplices de Sir Edmund.— Eleanor, está tarde — disse Alexander, entrando no salão. Ele estava descalço, sem o casaco formal, e parecia tão cansado quanto ela.— Não consigo dormir, Alexander — respondeu ela, sem desviar o olhar dos papéis. — Cada nome aqui representa uma ameaça. São homens ricos e poderosos. Como podemos enfrentá-los?Alexander se aproximou, sentando-se ao lado dela.— Não estamos sozinhos — disse ele, a voz baixa. — Blackwood tem aliados também. Vamos convocá-los.Eleanor assentiu, mas havia uma dúvida em sua mente.— E se nossos a
A alvorada trouxe uma calma enganosa à propriedade Blackwood. O canto dos pássaros misturava-se ao som de botas apressadas no pátio, onde guardas se preparavam para a batalha iminente. Alexander e Eleanor estavam na biblioteca, que se tornara o centro estratégico da resistência.— As defesas estão prontas? — perguntou Eleanor, enquanto observava o mapa detalhado da propriedade.— Estamos o mais preparados que podemos estar com o tempo que tivemos — respondeu Alexander. — Posicionamos sentinelas nos pontos mais altos, e os homens de Lorde Hawthorne estão reforçando o portão principal.— E quanto aos civis? — indagou Eleanor, a preocupação evidente em sua voz. — Não podemos permitir que os criados e suas famílias sejam pegos no fogo cruzado.Alexander assentiu, sua expressão sombria.— Já os movemos para os corredores subterrâneos, sob a propriedade. É o lugar mais seguro para eles. Mary e alguns dos criados mais velhos estão ajudando a organizá-los.Eleanor respirou aliviada, mas sabia