Victoria olhava para o celular algumas vezes tentando disfarçar a ansiedade, a verdade era que ela ansiava pela ligação da sua antiga amiga, ela realmente esperava que Nicolle ligasse para ela novamente. No fundo, Victoria só queria poder ouvir a voz da melhor amiga por alguns segundos antes de desligar o telefone em sua cara, sabia que não era o certo, mas não estava totalmente preparada para falar com ela ainda.
Um suspiro pesado escapou de seus lábios, o que não passou despercebido para Ryan. Ele a encarou por alguns instantes antes de tomar coragem e perguntar o que tanto o deixava preocupado.
— Você está suspirando a manhã toda e não para de olhar o telefone, aconteceu algo na sua família? — Queria perguntar se havia acontecido algo relacionado a garota da ligação, mas não podia contar que tinha atendido a ligação dela e depois apagado a ligação porque ela havia pedido.
— Não, não exatamente. — Riu nasalado e olhou para Ryan franzindo o cenho. — Na verdade, tem algo que me incomoda muito. A minha mãe tinha uma melhor amiga — começou e logo balançou a cabeça, ficando ainda mais pensativa enquanto franzia o cenho. — Quanto mais eu penso, mais eu acho que algo ruim aconteceu. — Murmurou consigo mesma.
— O que está estranho? Talvez eu possa ajudar. — Sorriu acolhedor enquanto via os ombros da mesma caindo.
— Esquece. — Sorriu balançando a cabeça em negação. — Se algo tivesse acontecido, eu teria ficado sabendo, não esconderiam de mim.
No fundo, ela esperava que fosse daquele jeito, realmente esperava que nada tivesse acontecido, e mesmo perguntando para sua mãe, ela sempre dizia que a tia Charlotte estava bem, juntamente com Nicolle, mas sua voz carregava peso e dor, como se elas não estivessem mais naquele mundo. Victoria esperava que fosse somente saudade da sua amiga e da garota que ela chamava de sobrinha. Realmente rezava para que nada tivesse acontecido. Não aguentaria o baque de ser a última a saber da verdade.
…
Três dias haviam se passado quando Ryan tomou a iniciativa de ligar para a garota a fim de sanar suas inúmeras dúvidas. Havia salvado o número dela em seu celular por impulso, se conhecia e sabia que uma hora acabaria ligando para ela por curiosidade.
— Pois não? — A voz doce do outro lado fez o coração de Ryan palpitar, não sabia se era de ansiedade ou excitação por ouvir a voz dela novamente. — Alô?
— P-perdão. — Gaguejou, mas logo se recompôs. — Sou o Ryan, conversei com você alguns dias atrás quando ligou para a Victoria a noite.
— Ah… como? — Nicolle franziu o cenho do outro lado, mas seu coração acelerou. — Aconteceu algo com a Vic?!
— Não aconteceu nada com ela, não precisa se preocupar. — Mais um silêncio desconfortável antes de Ryan voltar a falar. — Eu sei que não é da minha conta, mas poderia me dizer o que aconteceu entre vocês? Victoria não tem o seu número salvo, talvez… vocês tenham brigado, não seria melhor conversarem sobre isso?
— Ah… sim e não. — Disse Nicolle do outro lado soltando uma risada triste ao lembrar de tudo. — Acho que não seria certo da minha parte contar sobre isso para estranhos, digo… você é um estranho para mim, não sei qual a relação entre vocês, mas a Victoria odeia que espalhe coisas sobre ela sem o consentimento dela, acho que o mais correto seria perguntar diretamente a ela sobre isso.
— Entendo sua visão e acho que você está certa, acho que me precipitei muito ao perguntar isso para você. — Suspirou. — Poderia me dizer o seu nome?
— Nicolle. Uma amiga antiga de Victoria. — Sorriu do outro lado ao lembrar da amiga, mas logo respirou fundo, voltando a realidade ao ouvir o vidro quebrando, sentiu o tremor tomar conta do seu corpo. — Desculpe, estou um pouco ocupada no momento. Tenho que ir.
— Nicolle? — Ryan arregalou os olhos com medo do que poderia ser, a voz da garota se tornou trêmula, como se estivesse apavorada com algo, tentou ligar algumas vezes, mas sem sucesso, não sabia se era certo contar a amiga sobre a ligação, mas logo recebeu uma mensagem de Nicolle.
“Estou bem, só estou ocupada, podemos conversar em outro momento.”
Mas aquilo não o convenceu, ele ficou a tarde ansioso, preocupado que pudesse ter acontecido algo sério, teve suas aulas normais, almoçou com os amigos, teve as aulas como de costume a tarde e quando pisou os pés no quarto tornou a ligar incansavelmente para Nicolle.
— Nicolle? — Ryan se sentiu levemente aliviado quando a garota finalmente atendeu a ligação.
— Oi Ryan, está tudo bem? — Disse com a voz baixa, fazendo a preocupação voltar a tona.
— Você está bem? — Pigarreou tentando não parecer muito evasivo, mas a verdade é que queria perguntar “ouvi coisas quebrando, você precisa de alguma ajuda?”.
— Estou bem, cansada, mas relativamente bem. — Disse Nicolle com um leve humor sombrio na voz. Do outro lado estava a garota, encarando o pulso que estava avermelhado por ser apertado durante horas, provavelmente ficaria roxo nos próximos dias, mas não ligava muito, hematomas assim não a assustavam mais. — Precisa de algo?
— Sobre isso… — Ryan começou a pensar em alguma desculpa que pudesse dar como desculpa pela ligação durante a noite, não podia simplesmente dizer “me preocupei de que pudesse ter acontecido algo”. —
Não querendo magoar seus sentimentos, mas se você for a mesma Nicolle da qual a Vic vive falando. — Fez uma pausa formulando a frase da melhor forma possível. — Acho que ela está realmente magoada com você. Eu não sei o porquê de vocês estarem brigados, e provavelmente não irei perguntar sobre isso mais, pois isso é sobre vocês e não sobre mim. Mas desde que a Vic se mudou para Londres, ela se tornou uma ótima amiga para mim. Ela aparenta estar muito magoada contigo, ao menos era bem evidente nos olhos dela, quando falava sobre você. Eu diria que pedir desculpas por mensagem ou ligação seria burrice e um ato de covardia da sua parte. Acho melhor você falar diretamente com ela, cara a cara. Pelo amor de Deus, não ache que eu estou me intrometendo no assunto de vocês, não é isso.Ryan ouviu o suspiro do outro lado e não soube como continuar, mas já tinha começado a falar, seria melhor no fim das contas, melhor para ambos. Talvez conseguisse ajudar as duas.
— Na primeira vez que a Victoria falou de você, ela literalmente chorou até não ter mais forças, eu entrei em desespero e não consegui ajudar muito naquela situação. — Ryan esperou alguns minutos para que Nicolle pudesse processar, mas não teve resposta. — Nicolle? Está aí?
Ela havia desligado sem falar nada e lá estava Ryan encarando a tela do celular novamente, sem uma resposta. Não tinha dito aquelas coisas propositalmente, havia mostrado apenas o seu ponto de vista sobre o que estava acontecendo. Talvez devesse ter mantido a boca fechada e não ter se intrometido na história delas. Estava preocupado com Nicolle e tinha medo de que o que tinha dito a tivesse magoado de alguma forma.
Mas não a conhecia de qualquer forma e se fosse ter que ficar de um lado, ficaria ao lado de Victoria, que já conhecia, mas toda história possui dois lados, e quando contada por um dos lados, o outro sempre se torna o vilão.
3 semanas depois: — Vai mesmo ficar deitada o dia todo como se estivesse aguardando a morte de braços abertos? — Ethan tentou puxar as cobertas das quais Victoria tentava se esconder a todo custo. — Anda Victoria, vamos sair para comer! Pare de agir como uma criança birrenta. Se não levantar, eu vou te arrastar nem que seja pelos cabelos, garota, escuta o que estou dizendo e não me obrigue a usar a força bruta contra você. — Você está jogada desse jeito desde ontem e até agora não saiu para comer. — Reclamei e ponderei na possibilidade de lhe contar sobre as várias vezes que fiquei em ligação com Nicolle nas últimas semanas apenas para deixá-la mais alerta, mas não era hora. — Ethan foi até o meu dormitório, preocupado com você, dizendo que a madame não havia comido ainda. Você não come direito desde semana passada, quando trocou de número. Vamos em uma lanchonete aproveitar nossa sexta-feira livre. Finalmente temos um tempo livre. — Não estou com fome no momento. — Disse com a voz
No dia seguinte, Ryan jogava em seu celular e ouvia música, completamente entediado. Novamente o nome de Nicolle apareceu nas notificações de mensagens perguntando se podia ligar para ele, fazendo o coração do moreno dar uma leve saltada. O mesmo pigarreou e esperou alguns segundos passarem antes de enfim criar coragem para atender, não queria parecer muito desesperado e nem parecer pouco interessado. — White? — Nicolle chamou pelo seu sobrenome após não receber uma resposta imediata. — Eu atrapalhei você? Peço desculpas. — Huh? Não, claro que não. Eu estava jogando. — Pigarreou dando um leve suspiro. — Aconteceu alguma coisa? — Na verdade, não. Eu te liguei para poder te agradecer de forma sincera. — Em seu quarto de hotel, Nicolle respirou fundo. — Obrigado por fazer esse favor para mim, eu nunca teria pensado na ideia de aparecer do nada na frente dela. — Riu sem graça ao lembrar da forma como apareceu na lanchonete. — Acho que, na verdade, eu não teria essa coragem, foi você qu
— Nicolle nos chamou para sair. — Comentei com Ethan enquanto respondia algumas mensagens aleatórias e ignorava as da senhora White. — Eu acho que é uma boa para nos distrair um pouco. — Sério? Nicolle mal nos conhece e já nos chamou para sair? — Ethan estava visivelmente surpreso e na defensiva. — Eu acho que não vou poder, eu até queria, mas não dá. Tenho prova essa semana e meus pais sabem, dificilmente eles vão deixar eu sair do colégio. — Eu sei, mas e se eu falar com eles? Seus pais me amam! — Sorri tentando o convencer, porém, falhei terrivelmente. — Desculpa Ryan, mas esse ano está difícil para mim. Logo vem as provas finais e eu não me sinto preparado. — Suspirei derrotado e Ethan me olhou dando um sorriso fraco e cansado. — E acho que a Victoria também não vai, visto que ela está na mesma sala que eu e além de ter tirado notas ruins nas últimas provas, ainda tem essas por vir. O segundo ano está difícil, logo vem o terceiro e aí vem as provas para admissão na faculdade.
— E então? O que achou do filme? — Perguntou Nicolle enquanto colocava os refrigerantes à nossa frente. — Gostei, mas confesso que esperava um terror um pouco mais pesado. Esse filme não fez nem cócegas, o único susto que levei foi no começo que a música veio repentinamente depois de um completo silêncio na sala de cinema. Mas foi legalzinho o frio na barriga que o suspense deu. — Nicolle riu e concordou sentando-se logo à minha frente. — Ainda são seis horas, já vimos um filme, estamos comendo agora… hum… tem algo em mente? Podemos fazer mais algumas coisas antes de dar o horário de voltar para a escola. — A observei e corri os olhos pela praça de alimentação tentando pensar em alguma coisa que pudéssemos fazer e que não levasse muito do nosso tempo. — E se fossemos jogar? Ali tem um espaço somente com jogos, acho que seria legal distrair um pouco. — Perguntei apontando para o espaço de jogos que tinha no andar de baixo. — Claro, vamos! — Respondeu empolgada já começando a se leva
— Ah — Nicolle ficou sem graça pela resposta direta e ríspida de Victoria, mas deu um sorriso tentando entender o lado da mesma, ela ainda não conseguia confiar na sua amiga como confiava antes. — Certo, você tem razão. Não adianta fazer rodeios. Acho melhor irmos direto ao ponto e depois dessa conversa eu não irei mais incomodá-la. Se a partir de hoje você quiser me odiar, estará no seu direito e eu vou me afastar, mas ao menos preciso contar tudo. Victoria observou a amiga ficar tensa e sentiu medo pelas palavras que a mesma havia dito. Dificilmente Nicolle ficava tão séria e tensa com algo. Ela levava basicamente tudo na esportiva e sempre com um sorriso, ver aquela expressão em seu rosto era algo novo e amedrontador, só então se deu conta de que algo teria realmente acontecido na época em que a julgou. — Hum... na época em que toda aquela confusão com o Petter aconteceu, eu não gostava dele, nunca gostei, na verdade. — Nicolle suspirou e Victoria mordeu o interior da bochecha te
— Como eu disse, não foi exatamente um beijo, não teve língua nem nada, muito menos malícia. — Ryan ficava cada vez mais vermelho contando sobre o que tinha acontecido enquanto Ethan ria da situação em que o amigo estava. — Foi um selinho demorado e isso só aconteceu porque aquele ex namorado da Nicolle apareceu e a deixou desesperada, não faço ideia do que aconteceu entre eles, mas a Nicolle parecia ter bastante medo daquele tal Alec. — Certo, acredito em você. Foi apenas um selinho, mas e aí? Sentiu alguma coisa? — Ryan deu de ombros fazendo Ethan o encarar seriamente. — E deveria sentir alguma coisa? — Ao ver o olhar que o amigo direcionava para ele, foi impossível não revirar os olhos. — Ah, corta essa Ethan. Nem vem com a história de amor à primeira vista, isso é impossível, eu a conheço há pouco tempo. — Ethan ficou sério e encarou o Ryan. Ao perceber o olhar do mais novo, encolheu os ombros e encarou as mãos. — A boca dela é macia e a sua cintura é bem modelada, mas o que tem
— Poderia me dizer o porquê de estarmos no seu quarto esperando o tal "momento certo"? — Victoria perguntou assim que se sentou. — Você não está exagerando um pouco demais? — Não é exagero, estamos aqui, pois precisamos saber o porquê daquela gracinha ter nos escondido uma crush, ou melhor, uma possível namorada. — Ryan estava magoado pelo fato de ter sido esquecido. Por que Ethan havia escondido um suposto namoro? A amizade de anos não significava nada? Victoria estava se divertindo com a situação toda e Nicolle apenas observava o garoto caminhar de um lado para o outro a mais de dez minutos. Os três se encontravam no quarto de Ryan (as meninas haviam entrado escondidas, aproveitaram que nunca entravam no quarto de Ryan por ele ser filho da senhora White). Victoria e Nicolle estavam sentadas uma ao lado do outro na cama perfeitamente arrumada e com um cheiro inebriante de coco. A tensão criada pelo próprio Ryan era tão pesada que uma tesoura a cortaria sem dificuldade. Céus como aq
No quarto, assim que Nicolle saiu, Victoria se levantou e empurrou Ethan, fazendo-o se desequilibrar. O show havia passado dos limites. Victoria estava muito irritada, e pela primeira vez fechou seu punho e desferiu um soco no rosto de Ethan. — QUAL É A PORRA DO SEU PROBLEMA, ETHAN?! — Victoria odiava se irritar. Odiava violência, mas não iria deixar Nicolle ser tratada daquela forma, não iria deixar alguém magoar sua melhor amiga, não deixaria que mais nada acontecesse com ela. Sabia muito bem que Nicolle tinha provavelmente corrido o mais longe possível para poder chorar sem que ninguém visse, tinha medo de que ela pudesse ter até mesmo pensado em outra coisa. Victoria não esperou uma resposta do mais alto. Apenas saiu do quarto batendo a porta com força. — Qual o seu problema, Ethan? — Ryan repetiu a frase da amiga e encarou o mais alto. — Por quê? O que a Nicolle te fez?! Ela só me disse que você e sua namorada estavam brigando. Eu fiquei confuso e eu fui ver o que estava aconte