Capítulo 5

— Nicolle nos chamou para sair. — Comentei com Ethan enquanto respondia algumas mensagens aleatórias e ignorava as da senhora White. — Eu acho que é uma boa para nos distrair um pouco.

— Sério? Nicolle mal nos conhece e já nos chamou para sair? — Ethan estava visivelmente surpreso e na defensiva. — Eu acho que não vou poder, eu até queria, mas não dá. Tenho prova essa semana e meus pais sabem, dificilmente eles vão deixar eu sair do colégio.

— Eu sei, mas e se eu falar com eles? Seus pais me amam! — Sorri tentando o convencer, porém, falhei terrivelmente.

— Desculpa Ryan, mas esse ano está difícil para mim. Logo vem as provas finais e eu não me sinto preparado. — Suspirei derrotado e Ethan me olhou dando um sorriso fraco e cansado. — E acho que a Victoria também não vai, visto que ela está na mesma sala que eu e além de ter tirado notas ruins nas últimas provas, ainda tem essas por vir. O segundo ano está difícil, logo vem o terceiro e aí vem as provas para admissão na faculdade.

— Já entendi, então vamos só eu e a Nicolle mesmo? Poxa, em um ano não teremos tempo de nos ver direito! Vamos entrar na faculdade em menos de dois anos. — Eu estava quase morrendo de preocupação, não queria me separar dos meus amigos, mas conhecendo minha mãe, isso seria impossível, por isso tentava aproveitar todas as oportunidades possíveis para me divertir com meus amigos.

— Mas, se conseguirmos, podemos ir para a mesma faculdade. Vamos Ryan, não desanime, vamos conseguir entrar em uma boa faculdade juntos!    

— Não estou desanimado, acredito que iremos entrar! — Deito na cama dele e o olho já me sentindo desanimado. — Victoria vai fazer qualquer coisa que esteja relacionado a comida, você vai à faculdade de letras, eu farei gestão comercial porque é o que minha mãe deseja, a Nicolle eu não faço ideia do que ela quer. Não iremos nos encontrar, vamos nos separar e o nosso tempo junto vai ser quase inexistente!

— Não vamos nos separar nunca, eu vou dar um jeito, eu prometo. — Sorri desanimado, não tendo muita certeza daquilo e fechei os olhos. — Anda Ryan, não fica triste, sabe que eu levo o estudo muito a sério.

— Eu sei e não o julgo por isso, mas poxa... — Suspiro não querendo prolongar o assunto. — Vamos marcar outro dia, então, irei falar com a Nicolle e ver se mesmo assim ela vai querer ir.

— Oi... — Caminhei lentamente até a garota que estava sentada olhando para baixo.

— Ah! — Ela se levantou e esticou a mão por um momento, mas logo a recolheu e a colocou dentro do bolso do moletom, me fazendo lembrar de quando Victoria chegou ao colégio, sorri ao lembrar. — Olá — disse ela tímida.

— Não precisa ter medo, nem precisa ser tão formal, afinal somos amigos. — Sorri, deixando a outra meio vermelha. Um rostinho lindo era um elogio fraco para a verdadeira beleza dela, naquele momento ela realmente parecia inocente e bobinha como Victoria havia dito.

— Cadê os outros? — Seus olhos brilhavam tanto em ansiedade que me deu uma dor no peito por ser o único ali. — Não consegui falar com a Victoria ontem, então achei que você pudesse ter conseguido. Acho que ela não me perdoou por completo ainda. — Disse em um tom mais baixo, tocando o pescoço um pouco desconfortável.

— Eles estão estudando para as provas que vai ter na próxima semana. — Ela suspirou quase como se estivesse decepcionada. — Se quiser, podemos ir embora e marcamos outro dia, não sei quanto tempo ficará em Londres ainda.

— Não! Não. — Nicolle sorriu fraco. — Vamos só nós dois mesmo. Quero aproveitar hoje, amanhã tem aula e eu continuo meio perdida com o que fazer, até me adaptar a tudo isso vai ser estranho.

— Sim, temos. Calma, quê? — A olho de forma confusa. — Amanhã você já tem aula? O que está fazendo em Londres? Vai chegar cansada amanhã, não deveríamos sair. Aliás, você não deveria estar voltando para Cambridge ainda hoje?

— Não, eu não vou voltar para Cambridge. — Nicolle riu me deixando mais confuso. — Eu vou morar aqui a partir de agora, não posso mais ficar longe da minha melhor amiga e agora que minha mãe —sua fala morreu e eu mordi o interior da bochecha — faleceu, apesar de ter meus avós vivos, sinto que minha presença só os deixa desconfortáveis porque eles nunca foram próximos de mim ou de minha mãe. De certa forma eu não tenho com quem ficar, tenho medo de ficar louca se ficar sozinha.

A olhei de forma triste e ela sorriu. Apesar de estar tão machucada, seu sorriso ainda era radiante, o que me deixava admirado.

— Certo, vamos aproveitar esse dia! — A voz de Nicolle chamou a atenção de muitos que estavam na rua, alguns mais velhos nos olharam de forma estranha, porém não dei muita atenção a isso.

— E então? Quais são os planos para essa noite? Estou curioso para saber o que faremos. — Caminhamos lentamente um ao lado do outro.

— Então... — Nicolle me olhou com uma expressão travessa no rosto. — Vamos ao cinema, depois no parque e por último iremos jantar. Vi que tem um filme de terror novo ainda em exibição, podemos ver esse, ou prefere outra coisa?

— Não, por mim, tudo bem, eu gosto de filmes de terror. Apesar de eu ser mais apaixonado por ação, qualquer filme está bom para mim. — Paramos no ponto de ônibus e esperamos cerca de dez minutos até chegar o nosso.

— Me diga Senhor Ryan White. — Nicolle chamou minha atenção que até um segundo atrás estava na paisagem que passava como um vulto pela janela do ônibus.

— Uh? Perdão, o que disse? — Nicolle riu.

— Estava perguntando se a Victoria deu muito trabalho quando chegou.

— Como? Ah! Não, ela aguentou bastante até, só foi demonstrar o que realmente estava acontecendo quando eu insisti para ela contar. — Nicolle se calou olhando para o chão e eu decidi não dizer nada, dez minutos depois nós chegamos ao cinema.

— Certo, eu pago as entradas. — Nicolle se pronunciou assim que entramos.

— Ok, irei pagar a comida. — Ela assentiu. — Pipoca doce ou salgada? Alguma preferência?

— Não sei. — Ela fez um biquinho indecisa e eu sorri achando aquilo fofo.

— Certo, irei pegar uma de cada, dois refrigerantes e alguns doces. — Seus olhos brilharam e eu me vi preso naquele olhar.

Se eu soubesse o rumo que nosso futuro iria tomar, eu teria me afastado quanto antes daquele brilho inocente em seu olhar, teria evitado cada lágrima de cair, teria evitado o maior desastre e o meu maior arrependimento. Se eu soubesse, ah, Nick, se eu soubesse, eu nunca teria te magoado daquela forma.

Assim que peguei a comida, fui ao encontro de Nicolle, que assim que me viu sorriu levantando a mão e balançando os ingressos do filme de forma animada.

— Temos pipoca salgada, chocolate, balas de caramelo e dois refrigerantes bem gelados.

— Exagerado. Isso é muita coisa para só um filme. — Nicolle riu pegando os doces e os refrigerantes da minha mão para ajudar a carregar tudo. — Só hoje vou engordar dez quilos.

— Acho que a exagerada agora foi você. — Dei risada e observei a Nicolle arregalar os olhos gradualmente e dar um passo para o lado como se estivesse se escondendo e meu corpo fosse seu escudo.

— Ryan, sei que pode soar estranho, mas não sai da minha frente, por favor. — Sua voz tinha um tom de desespero, vi seu corpo tremer me deixando preocupado.

— Mas por —minha fala foi interrompida pela voz grossa de outro cara.

— Ora, Nick! Faz quanto tempo que não nos vemos, umas três ou quatro semanas, uh? Mas o que devo a honra da sua presença em Londres? — Me virei e observei um garoto alto e de cabelos negros olhando Nicolle com uma expressão de diversão, uma diversão claramente doentia e assustadora.

— Clark. — A voz de Nicolle estava falha e eu não sabia o que fazer ou falar. Eu não sabia o que estava acontecendo, então não tinha ideia do que poderia fazer para ajudar no que quer que fosse preciso. — O que você quer aqui? Como me encontrou aqui? — Aquela voz baixa e rouca continha medo e isso parecia divertir ainda mais o garoto à nossa frente.

Eu não sabia o que estava acontecendo, mas aquela voz baixa e trêmula de medo era a mesma que eu havia escutado na ligação da outra vez. Algo pareceu se ligar e se encaixar quando vi a perversão nos olhos do garoto e de canto de olho vi Nicolle esfregando os pulsos nervosa.

— Ah! — O tal Clark me olhou e sorriu irônico esticando a mão como se estivesse me cumprimentando formalmente. — Sou o Alec Clark, acho que a minha querida Nick não lhe contou sobre mim. Isso me incomoda um pouquinho, me sentirei enciumado desse jeito. Está querendo me apagar da sua vida, meu pequeno pêssego? Não esqueça o que já passamos. Me senti chateado quando me ignorou. — Alec passou a língua pelos lábios se deliciando com a cena de Nicolle encolhida enquanto tremia cada vez mais, coloquei meu corpo na frente dela dando um sorriso ladino ao cortar o contato visual de Alec com Nicolle. — Sou o ex namorado dela. O cara que ela não conseguiu esquecer e um dos responsáveis pela briguinha entre ela e a amiguinha. Foi um pouco excitante vê-las se afastando.

— Seu filho da puta! — Nicolle tentou avançar no garoto que estava à nossa frente, mas segurei sua cintura magra e bem definida e sorri divertido olhando Alec, eu entraria no jogo de provocação dele. Nicolle me olhou confusa e eu apenas sorri para ela como se pedisse para ela confiar em mim. Céus onde eu estava me metendo? Eu mal a conhecia, não sabia porque estava querendo ajudá-la, mas era mais forte do que eu.

Então algo que nunca tinha passado pela minha cabeça até aquele instante aconteceu. Meus lábios encostados nos de Nicolle para um selinho não tão rápido.

— Perdão, já que se apresentou mesmo eu não me importando muito com a sua insignificante existência, vou me apresentar também. — Me afastei um pouco de Nicolle e fingi estar distraído e desinteressado. — Sou Ryan White, e bom, lamento em lhe dizer, mas a minha querida Nick já lhe esqueceu há muito tempo. — Disse assim que voltei a olhar Alec, o mesmo nos encarava com raiva, algo em seu olhar me dizia que aquilo significava perigo. A verdade é que eu estava morrendo de medo da pipoca cair, ou simplesmente apanhar daquele garoto no meio do cinema, ou talvez medo de desmaiar por beijar Nicolle sem antes pedir permissão. Tinha sido um selinho, mas tinha sido sem autorização! Querendo ou não, ainda não era amigo o suficiente da garota para simplesmente a beijar. A nossa sorte era que não tinha quase ninguém ali no momento, então caso ela me desse um tapa, ninguém perceberia. Mesmo tremendo, tentei passar confiança na voz. — Se nos dá licença, temos um filme para ver. Hoje é um dia importante e especial para nós, completamos um ano juntos e não quero que um babaca como você estrague o clima dessa noite tão importante.

Arrastei Nicolle que estava em choque ainda para dentro da sala de cinema, só lá dentro pude enfim respirar e me encostar na parede. Tinha medo que minhas pernas trêmulas não aguentassem e eu fosse direto de cara no chão.

— Meu Deus. — Disse em tom de desespero. — Nicolle me desculpa, me desculpa por me intrometer, me perdoa. Eu só entrei em desespero e não consegui raciocinar direito naquele momento, e assim que ele disse aquela coisa de ser o culpado por você e a Victoria terem se afastado eu me desesperei mais ainda e… Eu sei que não conheço você direito e sei que… 

— Tudo bem. — Nicolle riu me interrompendo e me deixando menos tenso, porém ainda com vergonha do que eu tinha acabado de fazer. — Acho que agora ele para de pegar no meu pé. Ah, e desculpe por fazer você passar por isso. Eu não devia ter permitido que você fingisse ser meu namorado e é um pouco constrangedor você descobrir o caos que é minha vida dessa forma. E tem a situação do beijo...

— Ah, tudo bem. — Dei risada. — Na verdade, está tudo bem.

— Tem certeza? Eu não sei o que você e a Victoria tem, mas se for preciso, eu tento me explicar para ela. Não deixarei que ela te entenda mal. — Nicolle parecia um pouco angustiada e agitada. — Eu sei que ela já tem uma imagem horrível de mim em sua cabeça, mas não quero que ela sinta esse mesmo ódio por você.

— Não, não é nada disso. Eu e a Vic somos só amigos. — Comecei a caminhar até o meu lugar. — Eu sou solteiro e a Victoria não gosta de mim, nós já conversamos sobre isso diversas vezes e se ela ou eu sentisse algo pelo outro, teríamos conversado. — Nicolle me encarou com uma cara surpresa, me fazendo rir e receber olhares irritados de algumas pessoas na sala do cinema. — Eu sei, não parece que somos só amigos, mas a Victoria é como uma irmã para mim. — Sussurrei.

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